segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Cappello Nero procura #Agentes do Caos

 MUSIQUETA DA POSTAGEM
http://www.youtube.com/watch?v=lwHpLDgWonM


 "Procura-se Cappello Nero"
 Escrito no cartaz amarelado preso na venda do Seu Noel, na velha e triste Acapulco. O cheiro de praia trazia o deserto do interior, o velho Oeste que trazia apenas a areia e o cansaço. Era isto que eu queria, queria ser velho de novo, não imortal, queria poder ter vivido uma vida que não tinha mais, uma coisa que perdera há séculos...
                                Agora, eu era a Vingança. Um senhor dentro da mortalidade
E o cartaz ainda me intrigava, nunca vira ele assim - um dos meus nomes, meus vários -, estava preso naquela porta; logo, uma triste memória, enquanto pegava o navio para ir à Londres. Era perto do Natal, as guirlandas nas portas me deixavam um pouco triste, eu realmente devo ser um cara triste...
 Uma parte do cansaço vinha do fato de que há muito tempo eu procuro por alguém que me substitua. Sou membro de uma organização antiga, ou melhor, sou um dos fundadores desta organização. Podem chamá-la de Agentes, os Agentes do Caos. Tenho um nome perdido, em algum deserto do Velho Mundo eu perdi como meus pais haviam me chamado quando o sopro da vida tocou meus lábios - porém, isto não importa mais.
       Sou Cappello Nero agora, fui o primeiro Líder dos Agentes (nós não temos um chefe na verdade, mas, antigamente, isto foi necessário, as guerras foram sangrentas, aprendi muito, desde manejar uma arma à deixar a mulher amada...); me conhecem como o 1º Aluno, fui aluno do Fundador, posso aniquila-lo com apenas uma mão, porém, não tenho vontade de fazê-lo... Não tenho mais vontade de nada...
 Deprimido? Não, só cansado...
 Dizem que agora é o ano de 1889, não estou me importando a mínima com isto, já passei tantos calendários que não ligo mais pra nada... Apenas tenho uma missão agora: encontra um certo Lancester, ele será o meu substituto. Por quê? Quem liga... Agora eu não ligo mais pra nada... Ligamos quando temos uma vida, eu tinha uma, faz alguns milhares de anos... Hoje, sou apenas Vingança, perdi o que tinha, ganhei uma Missão
 ...
 Descendo do navio, um guarda da alfandega me sonda, eu não ligo, entrego os meus bilhetes e vou em direção à um bairro suburbano... As casas estão coladas umas as outras, colado está o fedor das indústrias e das crianças que morrem de tifo em minhas narinas... No coldre, escondido por um casaco, minha pistola, na cabeça, um chapéu negro - "o chapéu", ele é importante... Guardem ele na sua memória, assim poderão me reconhecer na rua -, levo apenas uma valise e um contrato dizendo:
 Existe apenas um único suspiro entre o Grande e o Pequeno, todos estão no mesmo ar, aquecessem no mesmo fogo, tomam da mesma água e andam na mesma terra. Não me importa o que haja entre os dois, pois agora, o que há entre mim e o deus é apenas uma assinatura.
 Ass.: ___________
 Desculpe, nunca fui poeta, então, inventei estas baboseiras... O tal Lancester tinha que admitir querer ser um Agente, depois, eu lhe daria meu chapéu... Estaria tudo acabado, pronto, era só isto que eu precisava fazer... Ele ficaria como meu substituto e eu me vingaria, teria alguns meses pra isto, mas, pra quem já viajou tanto pela Terra, alguns meses se tornam anos, quando se sabe o caminho.
 Estava num bonde, que nesta terra eles chamam de ônibus. Vi que a rua estava próxima, estavam morando na casa 20, na rua 5 com 78, logo, falaria com Eleven, o novo Primeiro Aluno...
 E então, algo é visto
 Como uma pequena centelha divina, um fogo azul se expande da janela do segundo andar
 Típico, era na casa 20
 Chutei o peito do menino que com jornais estava na minha frente, desci furioso a rua, as pessoas gritavam assustadas. Abria a porta com um soco, derrubei a velha senhora que tentava abrir, desesperada pelo que viu acima, nas escadas; todos se reuniam na porta, com medo - algo que eu perdera há algum tempo...
 -O vaqueiro subiu ali! -Gritaram, mandavam eu sair, não liguei.
 A porta do lugar estava intacta, nada havia ali, apenas um cheiro forte de gordura queimada. Com um chute, a entrada foi feita, olhei para o cubículo, olhei fixamente, mas não acreditava muito bem...
 Era aquela sensação, aquele impacto que se sente, estava perplexo... Eleven, menina de 13 anos, tinha uma faca na mão, deixou ela cair... Nos meus pés...
 Havia fogo ali, muito fogo, azul anil
 Não queimava nada, apenas uma cadeira de balanço e
 O corpo que lá ficava em descanso
 Mortal, silencioso
 Via apenas os chinelos nos pés do homem - parecia um homem, enfim
 Levei ela para fora, enquanto o corpo era consumido...
 ...39 nove minutos depois, olhei no relógio de bolso, estávamos na delegacia, estávamos perto de uma, o que explica a rapidez. Aqui os delegados não usavam estrelas, estranho.
 Eleven seria levada para internato para moças, me disse um jovem guarda, fiz cara de paisagem e olhei para a menina.
 -Tão jovem? Apenas 13 anos? - Falei no meu mau inglês
 -Senhor, deve haver um engano, ela tem 18 anos...
 Olhei pro meu papel no bolso do casaco, estranho... Não havia isto na ficha que peguei aleatoriamente no orfanato de Santa Cruz... A data não estava borrada, eu sabia disto...
 -Ela só é um pouco pequena para a idade, enfim... - Continuou o rapaz - D'onde o senhor conhece a jovem?
 -Eu?
 -Sim, o senhor... - O garoto segurou no seu coldre, pois vira o meu objeto de brilho metálico, um erro
 Senti que não sairia dali, não queria isto... Um bigodudo estava querendo me cercar, dei-lhe um golpe no pescoço, ele caiu; o jovem, tentando usar seu apito, foi recebido com um soco que o fez engolir o objeto de metal, corri pela rua. A suja via me fez desaparecer sem usar um pingo de mágica que está no meu chapéu...
 Por alguma razão, agora estava ali, ligado à moça, Eleven. Eu precisava ajudá-la para que eu fosse libertado para minha Vingança, esta era a hora.
 ...
 O Internato de Santa Joana D'Arc, escuro lugar, lugar fétido. Tudo fedia para mim, que permaneci anos no deserto, na Marcha para o Oeste, apenas algumas flores no jardim me eram caras, mas, isto não importavam...
 -Onde esta a nova moça que chegou aqui?
 -No quarto 22! -Respondeu a freira com medo, ela viu também a minha arma... Deveria escondê-la melhor!
 Sabia que não tinha muito tempo, tinha que ir logo, segui pelos corredores... Ouvi ainda a freira - uma boa mulher - dizer:
 -Ela está com alguém! Um homem negro!
 O temor em dizer a cor do homem me demonstrou seu racismo, coisa estranha desta época, algo bem condizente com os humanos... Eu já fora um deles, ainda era, na verdade... Um pouco mais... "Vivido", isto é fato...
 Abri a porta devagar, 38 em punho
 Olhei o homem, era um padre... Não um da Igreja Cristã, mas, alguma Batista, usavam roupas diferentes... A dele era negra, e não vermelha, como a dos outros...
 -Vire-se! -Disse
 Um foco luminoso tomou conta da sala, não atirei por impulso, nunca faria isto.
 -AAAAAAAAAAHHHHHHHHHH!!!!
 O grito da menina me fez atirar no pé do homem que tentava correr... Tudo ficara iluminado pelas velas novamente, olhei para sua face, me transmitia paz, porém, a paz dos mortos...
 -Calma amigo! Calma! - Me fez ver seu "livro santo", era preto, as páginas também... Muito estranho... Apenas a forca - o símbolo do martírio para as duas religiões - era amarelado e destacava-se com brilho incomum.
 Olhei a menina, estava babando, estava com os olhos virados e em choque...
 Sem me alterar no porte da arma, disse:
 -O que fez com ela?
 -Senhor, eu não fiz nada... Eu apenas...
 Senti ele tentar me acertar com o livro, atirei
 Uma, duas
 Ele pulou para um canto, caindo, levantando-se depois
 Estranho, não acertei, eu nunca erro, nunca.
 Dois pesos caíram no chão, o homem estava perto da porta, imóvel - suava de temor.
 Vi um par de sombras, parecidas com cães, logo, sumiram... Eu deveria achar estranho, mas, isto ficou comum pra mim...
 -Você... Você é um "deles"?
 -"Deles"?
 -... -Ele engoliu seco, jogou o livro no chão, uma fumaça danada saiu de dentro das páginas. Me mantive firme, olhando entre a fumaça, ouvi a porta bater, não atirei, seria fácil, afinal, a única saída seria meu único alvo para acertá-lo, porém, se o fizesse, acertaria uma área vital, não podia matá-lo, não ainda...
 As freiras vieram em seguida, olhavam desoladas a menina, como pedra, ela me fitava. Parecia morta, talvez estivesse; não liguei, senti que não precisava dela ali, o corpo apenas haviam, sua mente não estava sendo sentida por mim...
 -Qual o nome daquele homem?
 -O quê?! -Perguntou a madre que berrava para as outras por um pouco de água
 -O nome... Qual é?
 -... É... É Bournie, ele é pastor... -Ela segurou no meu braço, ainda disse, vendo minha pistola na mão - Senhor, espere a polícia! Digo que o senhor tentou ajudar a pegar aquele... Aquele feiticeiro! Espere a justiça, por favor!
 -Senhora, -eu a respondi - numa situação destas, eu sou a Justiça
 Sai, desci a rua, nada achei... Precisava achar aquele homem...
 A menina, a moça, Eleven Lancester, acabava de morrer no hospital, soube pelos jornais que tentavam relacionar isto com o caso de combustão instantânea ao qual viram no começo desta estória. É fato que eu vi o que aconteceu com ela... Havia fotos de mulheres nuas em volta do dono do lugar... Um homem que se vestia e portava como mendigo, pelo que disseram... Ele entrou em chamas antes de consumar o fato... Porém, não sei se por "alegria demais" ou se algo tinha ver os jovens olhos azuis de Eleven...
 Fato é que Bournie sabia, e se sabia, eu também saberia...
 Havia vindo para esta viagem sem uma vida, apenas com uma missão
 Agora, tinha uma, tinha que conseguir uma novamente
 A de Eleven, a menina de 13 ou 18 anos...
 Mesmo que para isto, a do tal Pastor, fosse tragada por meu 38!

sábado, 10 de dezembro de 2011

Sam, o que matou a mãe #Agentes do Caos

MUSIQUETA DA POSTAGEM

http://www.youtube.com/watch?v=5AqeqAQ1ILI

 Nas florestas frias e tristes da Eurásia, há anos muito, muito no passado, viviam quatro pessoas: Mãe, Sam, o pequeno Sam, Ilía e Marie.
 -Vá comer! Larga isto!
 Foi numa manhã do segundo dia da semana, me lembro até hoje.
 -... -O menino em silêncio... Apenas ouvia, não a Mãe, uma mulher seca e de cabelo a muito loiro, hoje, grisalho, mas seu dinossauro de borracha, -na verdade, um soldadinho de chumbo que teve uma cabeça de dinossauro "implantada" nele- seu nome era Geoge.
 -Menino, amigo meu, vai comer, te fortaleces e preparastes para a guerra... -Falou o ser de dois palmos, com voz macia. "Sim, vou meu amigo", respondeu em pensamento o menino.
 Foi comer, passou o dia calejando as mãos na lavoura podre de batata-doce, ele, sua irmã mais velha Ilía, que parava muitas vezes, ia pra mata e chorava... Talvez sonhasse com Alvo, um menino da quermesse que uma vez deu-lhe um beijo na bochecha e outro, no pescoço, também Marie -a mais nova- estava com ele, uma doida, costumava se cortar com bonecas e gritava as vezes... A noite, quando o pai estava em casa, sempre a noite, sempre com ele; o pai, um lenhador bruto, fora caçar ursos no Oeste, voltaria há três dias, e de novo a pequena irmã choraria de noitinha, baixinho, mas, agora menos.
 Sua rotina, do menino e seu inseparável dinossauro só terminava a noitinha, quando terminava de recolher a lenha e voltava com a irmã Ilía socando manteiga, e sua Mãe olhando ela -com olho estranho-, e com copo de vinho amargo; de madrugada, a noitinha, enquanto o menino sonhava acordado com seu dinossauro -seu amigo- os dois em aventuras, a pilhar castelos e consumir reinos inteiros, com garrucha e sabre na mão, escutava, baixinho a irmã mais velha chorar... Sussurrar... Enquanto a Mãe usava um chicote (pelo menos ao que parecia), e falava coisas estranhas "-Minha cabrinha!", "Meu amor", "Meu docinho de coco"
 Então, algo que apenas iria virar uma nota na mente de todos, menos na minha, pois eu me lembro bem, me lembro do que fiz.
 ...Foi em dezembro, neve pálida na janela infecta, madeira podre, podres pessoas.
 "-Olhas o leite, meu amigo, olhas o leite!", a irmã Marie sempre ia pegar o leite que o vizinho deixava em um balde, perto da Estrada da Floresta. Ele era pago com minha linda irmã mais velha, mas, isto não vem ao caso... O leite deveria seguir um método, pois a Mãe gostava de tudo certinho, ela gostava de tudo limpinho - leite crú não, fervido com lenha que eu trouxera no dia anterior... Quem trazia o leite devia fervê-lo, sempre fora assim, todos seguiam o Método
 Dei o meu amigo Geoge pra Marie, a pequena e doce gritante menininha... Ela se divertiu com a conversa de meu colega, nunca deixara ela pegar nele, pois babava demais. Isto, foi de manhanzinha, enquanto a Mãe dormia, o leite que ela trouxe ficou lá... A minha lenha, também...
 A Mãe, imperadora quando o Pai não estava em casa, pega minha irmã pelos cabelos - sem antes me dar uma porrada e jogar Geoge longe, quase na lareira -, a matriarca têm a boca com bigode de leite, leite crú que ela odeia, porém, seu ódio maior é por nós, especialmente, por minha querida irmã Marie. Ela faz com minha irmã como faz com todos - tranca em um quarto, com uma portinha na porta de onde se coloca a comida e a água, apenas broa e água choca.
 ...Meu amigo, eu o catei e de tarde, ele disse "- É hora mexer na Preciosidade...". Digo, " -Tudo bem, esta mesmo na hora, só que não sofra".
 Minha irmã chega às duas da tarde, era pra "estar no leiteiro", sei que não estava, ela "ama" Alvo... Estava com ele fazendo coisas que minha mãe faz com meu pai toda a vez que ele volta, forte e de tremer a casa; só que minha irmã Ilía fez isto na floresta, eu sei, eu já vi da primeira vez...
 Não sei se era a idade, mas, minha linda irmã de cabelos loiros e com partes de carne bem distribuída brigara com minha mãe. A Imperatriz, surrou-a, já era a segunda vez que ela tentava intervir na sua forma de nos educar, a primeira fora quando ela queimou minha perna com uma labareda, afim de me deixar mais quieto, e me deixou. A face de minha irmã era de fúria, eu guardei esta face, guardei pra mim e a Mãe pra ela... Queria quebrar a face de uma garota tão jovial e linda, o que ela nunca fora... Foi atrás do chicote... Mas, desistiu...
 Guardado estava também um colar, um colar de vovó, único ser que me fez um carinho... Ela era dona de tudo, de toda a região... Morreu e não deixou nada pra filha, apenas dinheiro que não poderia tocar, senão quando todos os filhos se casassem... Porém, a Mãe vendeu todas as jóias, todas menos uma... O Colar, verde, como a esperança que minha irmã tinha no beijo de Alvo, ou minha mãe, quando eu me casasse.
 Lá na gaveta, tinha o Colar da esperança... Peguei o vestido de minha irmã, que se banhava, a chave da gaveta - que perto do chicote da Mãe estava - e fui de finhinho, passaria pela porta do lavatório... Chamei "- Ilía!", minha irmã me viu e sorriu, nunca esqueceria o sorriso dela ter me visto falar... Não fazia isto há anos... Porém, quando ela correu nua para me abraçar, corri com seu vestido e o Colar... Não entendendo, e bêbada de alegria, chamou minha mãe e foi atrás de mim...
 Em pelo, pisou na neve... Me seguiu até lá, até seu fim...
 No Poço, o fim, pendurei o Colar, minha linda irmã falou que eu estava louco, pois ficar perto de cair no Poço... Vestiu-se e abraçou-me, viu a joia, a Mãe berrava atrás, Ilía desesperada, tentou pegar a peça... Esticou-se, esticou-se... Quase pegou... Quase...
 A Esperança acabou... Caindo o Colar no Poço, minha mãe agarrou minha irmã pelos cabelos lindos e loiros, a jogou na pedra que construía o Fim da Esperança, em ódio, o cabelo de minha querida Ilía estava sangrando... Nunca mais o chicotinho estalara a noite
 Eu, corri de novo, me escondi entre as árvores antes de tudo ter ocorrido...
 ..."-Muito bem, amigo meu!", ouvi em minha mente
 Dia seguinte, Ilía estava coberta de neve, apenas um pouco de sangue se via... Passei por ela, fui em direção à Estrada da Floresta, pegar o leite crú... Vi o leiteiro muito bravo, com um pau na mão...
 -Onde está sua ir? 
 -O fim está próximo, já é metade de dezembro, o Período de Caça está terminando, termina hoje... -Ouvi a voz na minha cabeça dizer isto, disse, assim, em resposta ao homem que também nunca me vira falar e até que se parecia fisicamente comigo
 -Minha mãe pagará o que minha irmã não fez com você ontem, vá pra nossa casa, no fim desta estradinha, ela estará lá, preparada...
 Eu sabia que hoje era o dia da Mãe tomar seu banho mensal, o Leiteiro, não. Mas, desceu a via, foi ao encontro da Imperadora, eu sentei, esperei... O dia estava bonito, morto... Eu gosto disto...
 ...
 A velha se encontra com o loiro alto que dava leite para minha irmã, ele a toma saindo em panos mínimos... Ela grita, porém, vai deixando, vai deixando até... Até uma vez, duas vezes... Lá vem a terceira...
 A porta abre, no meio da sala suja em que se faz ato de consumação, encontram-se quatro pessoas - Eu, o Leiteiro, a Mãe e alguém que viera comigo, alguém que pouco conheço e que apenas via algumas vezes ao ano... Seu nome? Era Pai.
 A mão com um tacape derruba o Leiteiro que por cima da Mãe estava, ele é chutado várias vezes... Ela também, a Imperatriz também! Nunca vira aquilo...
 Em alguns minutos, o Pai pega o Leiteiro, a Mãe "dormia" descabelada no chão, eu, agachado, via tudo... O lenhador, caçador de ursos, pega o homem que parecia comigo e crava-lhe um galho, como se fosse um peru de Natal - inclusive, Feliz Natal, algo que nunca tive -, o homem bruto acende a fogueira, ouço grunidos...
 Vejo na mesa uma besta, a arma do Pai... A Mãe acorda, eu a olho, eu sorrio a primeira vez para ela, aponto a mesa... A raiva da Imperatriz é forte, ela cata a lançadora de flechas, sai na porta, um, dois, três... Os dardos atravessam a pele de urso do Pai, o forte homem cai...
 -Arrume-se...... Meu filho, vai!!
 "Meu filho", é a primeira vez que escuto isto... Saio apenas com Geoge, uma camisa e uma meia. A Mãe se veste e pega várias coisas, manda eu carregar... Estranho, enquanto pegava as coisas para ir, percebo que o corpo não está mais lá, apenas a fogueira, um "peru" lá está, a pele de urso, não...
 Saímos em direção a estrada... Eu carrego muito peso... Caio antes de chegarmos perto da ligação, a Imperatriz me bate, diz
 -Sam! Sirva pra algo, eu sempre soube que você fora um erro! Desgraçado! - Com um tapa, saio de perto das grandes trouxas de roupas... Olho pra ela, digo
 -Mãe, adeus...
 E o Pai com um machado a acerta, nas costas, a mulher cai - aquela simples mulher!
 Olhei pro barbudo que, tossindo sangue, levanta o machado... Ele desferirá o golpe em mim... Diz, porém
 -Bastardo!
 Não deveria ter dito aquilo... Muita pressão... Tanta que ele erra o golpe e cai, no corpo da mulher morta por ele alguns minutos antes...
 ...
 Eu subo a rua, na Estrada da Floresta... Algumas horas, frio e vento já não me afetam mais, estou sentado em minha trouxa de roupa...
 Até que passa uma carroça, na carroça, um ser com um grande chapéu e máscara de Corvo. Ele diz
 -Muito bem, amigo meu!
 Respondo
 -Obrigado! Sou digno de me libertar agora...
 -Se você o diz, - fala o ser mascarado - o é.
 A carroça sai pela neve, ela cai... Cobriu minha irmã linda, apagou a fogueira do Leiteiro, o casal que é meu Pai e minha Mãe... Minha irmanzinha, bem, ela está protegida do frio... Espero que abra a porta da casa...
 Eu, porém, não ligo pra nada
 A carroça segue pela neve, ela cai como cai o meu passado
 Passado de Sam

sábado, 3 de dezembro de 2011

O Legado do Vestido Vermelho #Agentes do Caos

 MUSIQUETA DA POSTAGEM

 -Olá!
 -Olá! -Me diz a moça de vestido vermelho belíssimo, belo corte e belo porte, era muito equilibrado o corpo dela... Apesar disto, sabia que embaixo do vestido estava algo que teria de tomar cuidado... É, aquilo...
 Ela puxou duas cadeiras, em uma sentou e na outra pôs os pés com tênis de borracha e pano, pude ver suas pernas mais ou menos brancas... Dependia da onde olhava...
 Concentre-se. Isto não faz parte do negócio.
 -Então, por que me chamou? -Ela pergunta
 -Você sabe, esta na hora de fazer alguma coisa... O Panda Vermelho vai embora, eu, devo Continuar o Legado...
 -Se acha capaz? É um garoto apenas um homem...
 -Um homem com uma coisa de atitude suficiente no meio das pernas e que não vai deixar de fazer o que tem de fazer...
  -Ora, não me faça rir... -Ela ri, alto e grave, posso ver os movimentos que seu peito faz... Puxa pra dentro e pra fora, pra dentro e pra fora... Aquele ar... No vestido vermelho
 Chega então, o primeiro drinque
 .........
 Estava quase chegando à uma da manhã, nada mais falávamos sobre nada... Apenas via a face daquela linda mulher de cabelos castanhos e enrolados... Imaginava coisas, ela, imaginava me morder; sou leitor de mentes... Fazia alguns anos que tinha perdido alguém especial, não estava a fim de nada, mas, a gravidade da cama daquele hotel era mais forte que eu, ela me puxava... Ela me puxava...
                                 Dentro do campo daquilo que havia feito, ela ali, descabelada, lembrava de meus antigos demônios, mas, não tinha mais o que fazer a não ser, esperar o sol chegar...
 ...Um momento pequeno, algo sem importância, no entanto, sempre lembrei daquilo... Era quando eu era um amigo do Panda Vermelho, um velho engraçado... Porém, era agora um simples funcionário do Instituto de Mapeamento da Rede de Saneamento Municipal, ou seja, eu mexia pra onde deveria ir os excrementos de uma cidade inteira, UMA CIDADE INTEIRA...
 Até que, estranhamente, no ônibus em que estava me aparece uma mulher quarentona, ela já fora bonita um dia... Parecia, ao menos, diz ela com voz rouca de quem já engoliu muita coisa por aí;
 -Lembra de mim?
 -...Hm... Olá! Desculpe? -Ela sorriu amarelo com a resposta que dei e respondeu
 -Você deveria saber... Um dia, ia ser chamado... Preciso de você, precisamos de você...
 -Desculpe, ainda não lembro quem é você...
 -Ora! -Ela virou-se e olhei estranhado pra ela, vi o que ela me mostrava, lembrei... 
 -Ahhhhh! Sim!
 .......
 Era o mesmo hotel em que estive com ela uns quatro anos atrás, estava todo destruído, ou melhor, só virara um muquifo maior do que era antes, seu barzinho, no hall, mais ainda... Me contou a quarentona que precisava tirar um cara da sua cola, era um Agente do Caos, isto realmente seria difícil... 
 -Como é o nome dele?
 -Barbatos, Yamamoto Barbatos... -Sorri e até arrisquei uma risada com minha cara amarela de tédio da vida  diária, este era uma lenda; praticamente, todos os Agentes com quem lutei e que valeram a luta comentaram alguma vez dele... Magro, pálido, e cada parte de sua pele era um portal para o Inferno. Ele era um monstro poderosíssimo... Mesmo quando teve sua cabeça decepada, na China, sobreviveu e matou aqueles que o prenderam...
 -Nem pensar... Não vou me arriscar a lutar contra isto...
 -Eu posso pagar, quanto quiser... O que quiser... Sabe disto, sou um anjo, posso fazer o que quiser...
 -Você é uma bêbada, isto que é! Fui naquele seu papo quando fiquei contigo e nada ganhei!
 -Hey, não ia pedir ajuda pra você se não fosse meu último recurso... Você me ajudou com aquela ficada, sabia? Tive um belo ovo teu, vendi pra Eles, pros Agentes... Só não sabia que eles não iam gostar da sua cria...
 Tive vontade de estourar os miolos daquele monstro, mas, só tinha as mãos, não poderia fazer muita coisa... Ela era poderosa, ao que parecia...
 -Como alguém tão débil como você foi fazer negócios com Eles? E por que foi deixar logo um tipo destes bravo? Estou destreinado... Não posso fazer muito, nem tenho uma arma e...
 Ela me olhou com uma cara de morta, parei de falar, a olhei... Não via nada da linda mulher com que dormi anos atrás... "-E... O que aconteceu com você?", perguntei, "-Barbatos... Eu tive que me virar... Quase morri, mas me salvei... Salvei..."
                                     Tirou da bolsa que tinha um ovo enorme, ao qual nem sabia como ela carregava, ou como não percebi antes... Era um ovo negro, porém, como brilho dourado...
 -Isto, bem, é o seu "segundo filho"... -Fiquei sem reação, tentando articular as palavras caladas pelo susto, perguntei
 -Mas, o quê?
 -Você disse uma vez que podia continuar com o que o Chefe Panda Vermelho fazia... Ele sempre jogou pros dois lados, se é que isto existe... Jogue também, eu, não tenho mais tempo...
 -Como... -Olhei pra ela, me mostrou a agora quarentona e antes linda mulher uma marca, a Marca dos Agentes...
 -Vadia! Você quer é me encurralar e...
 -Não seja idiota... Estou te entregando isto pra que tenha algo pra negociar com Barbatos... Ele vai chegar logo, isto é um Selo... O selo que contém minha morte... Cada vez que respiro, pus cai na minha garganta, cada vez que suo, minha pele fica mais velha... Cada vez que choro, minha visão piora... Cada vez que me lembro de como era, bem, isto acontece com todos, mas... Eu perco meu futuro...
 -...Pare de filosofias!! -Meu berro fez com que todos olhassem para a estranha mesa... Ela me deu o ovo e mandou eu sentar novamente na cadeira, já que tinha me levantado quando berrei... Fiz isto, me deu uma arma por baixo da toalha, pude perceber e pegar...
 -O quê?...
 -Acabou meu tempo, Nolan! Vá logo, mas discretamente... Daqui há alguns minutos, saia da mesa e vá pro banheiro, como o ovo nesta bolsa aqui... Saia e cuide do seu filho...
 Refleti apenas por um tempo, vivera muito tempo negando a mim mesmo o que era, o que queria... Era minha chance de Legado, de não ficar apenas registrando e mapeando excremento...
 A comida chega, era um macarrão vagabundo. Dei algumas garfadas no sacrifício. 
 Esperei, levantei, entrei no toalete... Na mesa 7, se não me engano, um homem de bigode e um de chapéu de coco muito estranhos...
 ...
 Sai da cidade com tudo que tinha e com motor do carro quase quebrando de tanto forçá-lo...
 Descobri um tempo depois; o hotel queimou naquela noite, todos mortos, uma mulher de uns quarenta anos sem registro fora pro hospital... Estranhamente, morreu uns dias depois, uma enfermeira que não lembra o que aconteceu, foi a culpada... No corpo, um chapéu de coco misteriosamente colocado... Enfim, ela fora uma boa mulher
 O ovo demorou pra chocar. Quando chocar, não faço a mínima do que vai sair... Pensei no futuro dele, até em fazer uma omelete dele, ou, não sei... Ir na escola, a faculdade, sei lá... Seu futuro e o meu, ele lá, arrumadinho sempre num paninho no banco da frente do carro - com cinto de segurança!
 Sorria as vezes, pensava que ela, a mãe "por acidente", estava de vermelho. Era meu legado, afinal de contas, aquele vestido sempre me disse algo sobre mim mesmo...