sábado, 28 de abril de 2012

Parágrafo Decepção

Realmente, em cada Decepção ou Memória Ruim (cabe ainda entender cada uma das duas) tem em si não só o caminho da Vingança, mas, de um Auto-Conhecimento, ou seja, de certa forma, crescemos conforme sofremos. Evidente, a vida não é só sofrer por algo e alguém - em algum tempo e lugar que pessoa e coisa nos fez ou fizemos -, também o viver tem igualmente estes "momentos", estas "vivências", as quais chamamos de Alegrias.
Cabe a cada um encontrar algum mecanismo ou interpretação do que fazer com cada uma destas coisas, destes verbos: sofrer e viver. Mas, então, passemos a discussão de quanto de Eu existe no mundo, daí, um post é pequeno para isto.

domingo, 8 de abril de 2012

Númeno #Agentes do Caos

 MUSIQUETA DA POSTAGEM
http://www.youtube.com/watch?v=VXa9tXcMhXQ



-Estou dormindo melhor hoje dia, talvez sejam os remédios...
 Nosso herói toma uma cápsula de comprimido azul, numa metade, vermelho, noutra pequena parte. Segue escapando pelas trilhas das ruas sujas que o levaram a acontecer o que aconteceu...
 Neste verão chuvoso de 1807, o céu é cinza e a manhã logo nos brindará com teu beijo, porém, nada disto importa para aquele apaixonado... Amante das coisas da cabeça e do corpo em curvas de uma tal Senhora Marié, ele corre por alguns lugares em busca de alguém que queira seus conhecimentos sobre as ciências nascentes da Engenharia dos Vapores e para plantações de tomates, realmente, isto em um lugar como a Batávia é realmente difícil, afinal, aqui já há um excesso de construtores, desde daqueles que fazem gigantescos moinhos até aqueles que inventaram chapéus capazes de suportar as chuvas, que ali, são constantemente responsáveis por encharcar as botas e capas...
 De repente, o jovem que está pensando nestas coisas da vida vê um anúncio numa parece suja e molhada, é um papel velho, mas, dá pra ler, mesmo ele sendo germânico e muitas vezes não entendendo nada desta língua das holandas...
 “Precisa-se de jovem que queira voar”
 Em um momento de luz de sua mente, ríspido como um fósforo que naquela época não existia, ele toma de assalto aquele folheto e sonha com tempos lindos, de campos de tulipas azuis e beijos apaixonados como nos romances que ele lia na juventude e que, sem sentido muito prático naquela época – como talvez, toda a nostalgia é quando estamos a realiza-la -, hoje se tornava sua “tábua de salvação”, seu motivo pra sonhar, até de viver, em certo ponto do desespero provocado pela sincera e confiada taça de vinho vienense...
-Agora, veja só, nada mais me faz dormir... – E ele, com dificuldade, se levanta... Agarra vosso braço de metal, amarelado pelo tempo, encaixando em seguida no ponto entre o osso do ombro e um vão... O lampião funciona bem, acesso, pode-se ver a pá enorme do Moinho Vertical Nº3, da nave direita, enquanto ele gira, gira e rodando, leva mais uma vez que ele se lembre das coisas de algum tempo...
 Era um lugar fantástico! Realmente para ele... Um lugar cheio de vida e pessoinhas caminhando de um lado para o outro...
 Era em 30 distintos cavaleiros, entre jovens, velhos, militares derrotados em guerra, sonhadores, uma mulher gorda, todos ali chamados pelo cartaz ou amigos, que o leram ou estavam ali... Recepcionados por um senhor de roupas sóbrias e bigode, além de um monóculo, todos se maravilharam e acharam o lugar fantástico (como se pode ver no parágrafo anterior) que era aquele local, as Oficinas Münchensen. Seguiram uns dez minutos com a narração entusiasmadas do senhor de roupas sóbrias até que um servente de carpinteiro, um funcionário realmente longe da personalidade que estava ali, mas, que nenhum dos visitantes que estavam ali sabiam ou queriam saber quem era, o chama-se:
 -Bom dia, senhor Almirante Münchensen!
 Imediatamente, o distinto senhor chamou um homem que os acompanhava, um sujeito mal-encarado e com uma mala nas costas, o disse, em francês:
 -Mostre a saída a este senhor de língua que não cabe na boca, por favor...  –Virou-se para o grupo- Vejam só! Ele estragou minha surpresa! Sim, eu sou o líder deste projeto magnífico de engenharia e arte, coisas que talvez se confundam... Muito prazer, senhores, meu nome é Münchensen, o décimo Conde da Ordem Hospitalar da Espada Azul!
 Todos os presentes o aplaudiram, menos o mal-encarado que levaram o aprendiz educado para um canto afastado, dentro da floresta negra, e mexia na sua bolsa tranquilamente com uma mão, enquanto agarrava o moço com a outra pelo braço. Nosso jovem herói estava maravilhado pela desenvoltura e vivacidade do Conde, que achava ser um ser muito velho e chato... Como todos os nobres de sua terra... No entanto, era este senhor de roupas sóbrias muito vivo e explicava com entusiasmo, as vigas que se levantavam do chão daquele enorme descampado e era acompanhado com estranhas pedras encrustadas nelas, fazendo um mosaico de formas grotescas para os olhos daqueles ferrados que não lhes deixava nem mesmo ouvir um tiro... Ou, podem ter sido os martelos e maretas... O que importa, é que nosso herói estava maravilhado e a história é dele, não do educado servente de carpintaria que acabara de ser baleado na floresta e iria ser deixado para os lobos e corvos, por ter em sua boca de trabalhador, ter proferido o nome do distinto Conde sem a sua autorização.
 E a empatia entre o velho Münchensen e o jovem era tamanha, que ele conseguiu apertar sua mão, porém, antes disto, ele teve de passar mais de duas semanas, carregando de um lado para o outro, as estranhas pedras negras que chegavam de caixas com símbolos indecifráveis para as línguas civilizadas – chamadas na época-, ou seja, de algum lugar do Oriente. O aperto foi rápido e sincero, pois, o jovem, com seus conhecimentos da novíssima Engenharia do Vapor, havia indicado uma falha estrutural numa caldeira indicada, no projeto do 2º chefe da sessão, como da nave direita, d’algo nomeado como Moinho Nº 3, seja lá o que isto seja... O responsável, claro, foi levado para o bosque de árvores negras e lhe foi mostrada a saída, como o servente; nosso herói, promovido ao seu cargo no dia seguinte, teve felicidade por ter seu trabalho reconhecido...
 -Hoje, não vou conseguir dormir mesmo! –Disse, enquanto andava de um lado para o outro dentro da cabine... As nuvens passavam no lado de fora, estava frio e as caldeiras pareciam com problemas, pois, oras se é uma caldeira, por que não esquenta o resto da estrutura?! Tendo estes pensamentos, até quis colocar a faixa que o dava o título de Vice-chefe Geral da Ala Direita, mas, não, sentou-se na cama novamente... Olhou o relógio e viu que já eram três e sete da manhã e ainda não estava dormindo... E dormir bem era algo que não fazia há tempos...
 Passaram-se três meses... As obras não andavam e o Conde cada vez mais vinha até os trabalhadores fiscalizar e promover promoções para gratificar os que mais se esforçavam... Nosso herói estava progredindo bem, porém, não compreendia como os Engenheiros eram tolos, usando materiais tão banais quanto pedras negras e madeiras moles pra montar aquelas estupendas estruturas de trinta metros... Já estavam feitas quatro das seis quando houve o tal atraso... Alguma guerra sobre uma pedra fumável ou algo assim, uma planta, não se sabia direito, só que era por um cachimbo que se fumava, estava atrasando o envio do Oriente das rochas, além disto, o povo Libelungo, donos das terras distantes d’onde vinham as madeiras, começava uma revolta furiosa contra sua Metrópole; ou seja, tudo era caos no projeto original e o Conde ficava cada vez mais pálido e raivoso...
 -Então, houve aquele dia... –Lembrou o jovem, enquanto desmontava o braço que acabara de colocar, deixando um buraco seco no lugar...
 -Posso fazer uma sugestão? – Disse o herói de pouca idade, uns 18 ou vinte, não me lembro agora, enquanto o Conde passava perto dele, nervoso com um papel na mão – uma carta de oficiais ingleses amigos dele - neste, dizia que a guerra no Oriente tomava proporções catastróficas e que, se não tinha feito antes, fazer agora, o nobre encontrasse outra fonte da Pedra Negra -, ou seja, não era um momento bom... Mesmo na Festa de Anos de Münchensen.
 -O que foi moço? – Perguntou o velho olhando de cima a baixo o jovem corado com caneca de cerveja e de braços dados com a amada Marie, uma jovem loira de olhos castanhos como avelãs e decote de peras.
 -O senhor tem problemas com as pedras de nossa obra, não é, meu senhor? Pois, eu tenho a solução!
 -Em primeiro lugar, esta obra não é nossa, é minha, e escute mais, meu rapaz...
 -Os eslavos, principalmente os russos, nós podemos conseguir as pedras que precisamos deles! Ouça... Eu vivi numa terra distante daqui... Quando eles guerreavam com o povo tcheco, e meu pai era um destes bravos, na verdade, estavam em busca de um bem precioso, algo que a lendária Horda de Ouro dos Bárbaros Orientais havia deixado por ali, naquelas terras, algo que crescia como árvore, mas era rocha e...
 -Espere! – O Conde até esquecera-se de repreender o mancebo, rapaz, por tê-lo cortado a fala, porém, pensou e ouviu bem, pois, “algo que crescia como árvore, mas era rocha e...” o havia interessado. Detalho que, naquele tempo da obra, todos já haviam ficado impressionados com a rocha negra trazida do Oriente que, depois de dias exposta á chuva, crescia em ramos vertiginosos para e entre as vigas enormes de madeira, criando bases para as caldeiras, berço para os homens e pequenas pontas estranhas, que – naquela época chamaram de naves- mas, que hoje, chamaríamos pela palavra “asas”.
 E o jovem herói trouxe para todos a sua ideia, todos os engenheiros e chefes ficaram impressionados com a rapidez do rapaz, até mesmo o Conde, surpreso, sabia que aquele rapaz tinha futuro, até mesmo na nobreza... Nobres ao qual ele servia e era servido, aos quais deveria mostrar a “tal máquina fênix” que poderia voar destruir coisas, como já previra o padre De Gusmão, o cavaleiro da Ordem da Cruzeta Da Vinci e tantos outros Renascentistas, que hoje, mais que sonhadores, nos pareciam visionários, mas, como todo “aquele que vê”, fora queimado na fogueira de alguma igreja ou rei por estas terras ásperas que eram o mundo naqueles dias de escuridão. Algo, verdadeiramente, deveria ser feito sobre ele...
 -Deveria ter deixado que tudo se explodisse... Sim, deveria... –Disse o jovem triste, olhado para a pequena pintura de Marie, já amarelada pelo tempo. Ele abre a gaveta, acha um convite do casamento dela com o Conde, também atingido pelo tempo, amassa, joga fora... Olhando para a janelinha entre as nuvens, lembra-se:
 -Bom dia, Pierre! – O nosso jovem herói cometeu dois erros, o 1º, foi virar-se de costas para o malvado Pierre, o homem mal-encarado da nossa história, enquanto este pegava um porrete e o desacordava, já o 2º, foi ter tido uma ideia que salvou a construção da Nave-Transmundo Fênix, a maior coisa a levantar voo até a criação dos cargueiros, nos anos 40 e 50... A criatividade, às vezes, dá apenas aos seus donos uma glória pós-mortem e, até em alguns casos, como este, até pra outro autor... Ou seja, o nosso amado Conde.
 Aí, só luzes e pequenos fragmentos ocorrem na mente do jovem, enquanto este corre pelos corredores da Nave, silencioso, porém, vai de pés descalços...
 O malvado Pierre o leva para a floresta, lhe dá dois tiros, um nas costelas e outro no ombro, as duas pistolas estraçalham seu membro, ele começa a morrer rapidamente... Porém, algo ocorre pra que não...
 Gritos de Münchensen... A cara de um homem pálido à sua frente, muito pálido e assustador... Sente que coisas o atravessam, enquanto é carregado para algo semelhante a uma carroça, mas, não é o homem pálido... Vê de relance o que é. Algum ser amarelo, um anão, algo assim, algo estranho...
                      Depois, só dor, ouve-se algumas coisas entrando pelas costelas e, finalmente, seu braço não dói mais, nada mais dói... Sente formigamentos na face, talvez, por acidente, uma parte dela se perdeu, nunca se soube...
 Silêncio, muito silêncio e... Bem, depois, só história de como um sujeito foi se virando para arrumar as peças da sala de máquinas da “Maior Maravilha do Mundo Moderno”, a Nave-Transmundo de Münchensen... Depois de vinte anos, casado e pai de uma filha chamada Sicília, o distinto Conde era um endividado em fuga num mundo de guerras entre seu país e os faladores de francês... Até o malvado Pierre, desertara e caçava seu antigo senhor... Resumido a dono de um circo voador, a gigantesca construção de cerca de 40 centípetas (aprox. 400 metros), era um alvo fácil, mesmo para um girador de alavancas e engrenagens, como era nosso jovem... E ele caminhava em direção ao velho...
 Sua face não mudara, sua face tinha uma chapa de ferro e cobre no lugar da bochecha direita, um braço de metal e uma couraça pesada... Havia ficado forte, mas, mesmo assim, abrira a gaveta e pegara a pistola que roubara de um bandido na última parada do “circo”, só por precaução, levava aquilo, pois, sabia que o velho Münchensen sempre teve uma língua mais poderosa que seus punhos...
 Nosso herói esperara por tanto tempo que esquecera de muitas coisas que viveu... Ele lembrava apenas destes dias de peão de obra, ele lembrara disto agora pouco, pois mesmo com pílulas azuis e vermelhas não conseguira dormir... Pensava até o dia de ontem, um sábado, que era um órfão da Bavária, resgatado pelo Conde e “reconstruído”, melhor e mais forte que qualquer um... Porém, não...
              Não era ele isto...
 Ele nem sabia que era mais... Ele se esquecera até mesmo de que a foto de Marie que sempre guardara era da amada, não de sua mãe... Enfim, sem nome também estava...
            Disto, no entanto, não poderia ficar sem! Matar e vingar sem nome não é “matar e vingar”, pois, como nas Artes, sem um nome para ser lembrado, de nada adianta a caminha e pincelada...
 E, durante a andança no corredor estreito de pedra negra, olhou para a arma e viu escrito nela “Númeno”, pois o “n” estava riscado devido ao desgaste da arma, já que ela era numerada, e havia uma sequência logo após...
 Então, nosso jovem herói tinha um nome para vingar, seu nome era Númeno. 

Mirroir é a última que morre #Agentes do Caos

 “-E daí que você não consegue viver consigo mesmo?
 Sou obrigado a ficar assim também?
 Sou?
 Miserável, pequeno ser desprezível!”
...De todos os seres do mundo deles, este era o último que ele esperava que fizesse isto, pois, com vontade, corto-te a face esquerda com uma lâmina cega de fazer a barba; sigo com golpes certeiros no braço direito e, logo após, mais dois nas costas...
 Porém, a ira ainda não é suficiente... Saio da casa de madeira afastada da cidade em que nós nos escondemos depois de roubar o Tesouro, perto do caro, apoiada sobre as rodas, a escopeta...
 BUM! – Para o alto, o medo em sua face é terrível, mesmo pra mim... Mas, continuo firme em meus passos de volta pra casinha... Uma pequena caseta que um dia chamei de lar...
 Beijo a sua face com o cano quente da arma, há um grunhido e tentativa de correr... Porém, havia amarrado a sua perna com as algemas que usava nas minhas amigas prostitutas... Ela não podia se livrar de mim...
 Havia gritos e correria no Quartel Generalé, podia ouvir dali os carros do Exército de Rosas vindo para me pegar, no entanto, não estou nem aí pras estas “pirações de doido” – como disse minha filha uma vez.
 Olhei pros teus olhos, temerosos, cara com marca vermelha da queimadura em bolha, a ira aumentava... Aumentava e aumentava... Apenas o peito cheio de costelas aguentava e segurava meu coração de pular em cima dela e se transformar em bicho estranho, escroto, cheio de dentes e veias, tomando teu pescoço branco e certamente sem sangue e sim algum elixir gelado que faz este tipo de criatura sobreviver em nosso amado mundo sombrio e sujo... Aliás, eu tava sujo de pó de brita, desde que correra como um louco daquela maldita padaria, aonde, atrás de um quadro, achei o meu Tesouro...
                         Aquele que ela roubou...
 Ela vai morrer por isto, pois, com seus cabelos loiros e olhos verdes me seduziu a fazer coisas terríveis, como foi se casar, ter filhos, casa e trabalho bucólico como funcionário público de uma fabriqueta do governo das mulheres que dominavam este país hoje em dia... Maldita! Dei uma coronhada na mandíbula...
 Mirei, estava na hora...
 -Adeus, Madeimoiselle Mirroir...
...Corro pro caro... O sangue escorre no assoalho da casa, não escuto nada mais que os meus passos no volante em uma corrida alucinante pelo lodo do ato que fiz... No entanto, tudo tem um motivo aqui neste mundo, o meu não é nenhuma filosofia... O meu não está no sorriso de Sofia – a Sabedoria -, só está ali, dentro do porta-luvas...
 Eu o abro, lá está ele... Meu Tesouro.
 Um lindo reflexo sai dele, junto, a voz que me guia e me respeita, meu deus... Meu Deus!
 -Muito bem, agora me encontra, fez tudo certo e bem, me encontra agora, vem...
 Sigo a voz, mas, antes, com vontade estranha, coloco na minha face uma máscara de gás... Pelo meu pensamento, o tiro final da shotgun não me atormenta mais, mas sim, encontrar tal de deus Númeno, ele é ao qual devo entregar algo... Não sei, sinto que é algo que amo, talvez, pode ser... Não, não pode ser isto... O que amo...
 Viro pra trás enquanto levanto pedras e corro com o veloz carro de corrida...
 O sangue escorre e penso, num minuto rápido e já esquecido, no que fiz:
 -Adeus, minha Esperança, este meu Tesouro que pra todos um simples Espelho me mostrou o que és... Mesmo que exista apenas como parte, de mim
                                Só uma coisa que morre, mesmo que por último... 

MUSIQUETA DA POSTAGEM