sábado, 13 de abril de 2013

Crise Solaris

 Na madrugada depois de 13 de abril de 2013, os jornais deram a notícia de que haveria uma tempestade solar, com descarga energética que nos atingiria e afetaria nossas comunicações e dados. Porém, isto foi desmentido às 00:01, do dia 14 de abril, quando a Grande Rede de Notícias Norte-Americana deu a notícia vinda dos principais órgãos de Estudos Astronômicos: A Tempestade seria mortal em algumas porções do globo, afetando as espécies em nível atômico, matando as células, consumindo tudo... O fim do mundo foi noticiado faltando algumas horas para ocorrer. Não havia chance de sair, não havia chance de deixar qualquer carta ou texto
Eu, em desespero inicial, gritei com meus pais e até cheguei a chorar, para a minha namorada que apenas via virtualmente, através da Rede Social Azul. Tive medo, porém, isto foi até faltar meia hora para tudo acontecer, quando os cientistas disseram que as últimas transmissões telefônicas poderiam ser feitas, temi por poucos minutos, quando resolvi sair do computador, com suas notícias e choros, ironias e lástimas, resolvi abandonar a minha família, que rezava no quarto, e mesmo para a minha irmã eu não dei "tchau". Fiquei fora de casa, com meus cães, enquanto falava com minha namorada virtual, e pedia para que ela fizesse o mesmo: olhasse as estrelas.
Ela, dizendo já sem lágrimas, perguntou se eu via o que ela via, e disse: "sim". E lá estava a gigantesca nuvem amarela e vermelha no céu, quando, às 23:58, nada mais se ouviu... O sinal caiu, e senti o peso do coração de Jeva para mim, senti aquele calor estranho... Estranho porque a morte deveria ser fria, mas, não era, não era...
Então, veio, um minuto depois, depois depois de muito angústia do pior dos monstros: o Silêncio. Veio calor e senti uma alucinação enorme e intensa, senti que meu sangue torrava por dentro, supus ser meu ferro, minhas hemácias. Depois, foi a zonzeira e como se meu cérebro entrasse em colapso e torna-se pesado, curvo-me e o osso parece líquido, sinto e... De repente, escuto gritos. Mas, não são meus.
Levanto-me, olho o celular num impulso: Acordei cerca de dois dias depois, em um enorme campo de luz, a Terra estava ainda com céu brilhante, porém, eram seis da noite, o que não correspondia àquela luz de meio dia... Fui para dentro de casa e percebi que meu cão mais velho morrera, Tomtom. Já Mefisto, estava dormindo, acordei-o, ele abanava o rabo e estava bem.
Dentro do quarto de minha família, pai e mãe estavam bem, na mesma situação de Mefisto, o cão de pastorio, porém, minha irmã Hanna estava com a pele fria, tentamos acordá-la por cerca de meia hora, mas, nada ocorria... Minha mãe chorou, meu pai, em silêncio, derramou lágrimas por dentro, apenas - homem antigo. Como eu, que fora para fora, quando, estranhamente, Tomtom me tocou com seu focinho! Ele estava vivo, porém, quando abracei-o, estava frio...
Corri para dentro, num lampejo, abracei Hanna, ela, acordou. E, fria, nos deu bom dia.
Não conseguimos ligar nada antes do dia terminar, parece que apenas algumas pessoas desapareceram, a Ciência errou? Parecia que sim. Apesar disto, várias pessoas pelo mundo estavam "frias", outras, não acordavam, apesar de estarem vivas.
Liguei para a minha namorada já era madrugada do domingo Pós-Acontecimento, quando ouvi sua voz, senti uma enorme dor de cabeça, gigantesca. Aguentei-a até que ela contasse sobre a situação de todos os seus gatos estarem dormindo, sua família, bem, ninguém "frio", desmaiei quando ela perguntou sobre mim...
Passaram-se cerca de duas semanas, acordei num hospital. Fiquei em estado catatônico, com olhos abertos, não podendo ser fechados sem medicamentos, nem dormia, nem comia nada que não fosse líquido posto em minha boca. Jeva, estava ali, com seus cabelos mais arruivados do que nunca, com camisa de flanela florida, feliz, só com olheiras, ela falou em meus ouvidos, um "eu te amo".
Só que sua voz estava diferente, mais do que nunca... Então, eles me contaram: algumas pessoas pelo mundo estavam tendo sintomas estranhos, crises sérias de liberarem energia e loucura por ouvirem vozes. Jeva disse que o governo estava levando os que tinham estes sintomas para um tratamento especial... Quando ela disse estas palavras, ouvi uma voz dizendo que iriam nos perguntar em breve sobre isto ali, no Hospital das Clínicas. Dito, e feito, logo o médico veio e eu disse aos meus pais que deixassem eu falar, disse estar com crises da minha doença do estômago, por fraqueza e a tempestade, desmaiara. Minha namorada pensou em dizer algo, porém, eu não quis, e ela não disse nada, porém, não precisei falar nada para ela.
Começamos a caminhar para casa, que ficava perto, já que meus pais alugaram um apartamento, como eu sempre sonhei em viver. Durante o caminho, senti que podia ouvir os corações com medo deles, menos o de Hanna, que não parecia bater, eu não ouvi nada dela, porém, ela parecia tremer toda a vez que eu pensava nela. Deixei meus pais voltarem para a casa com minha irmã e eu e Jeva ficamos no apartamento, ouvindo a tv e em sites, que diziam ser milhares "tratados" pelos governos e exércitos. De repente, na tv aparece o representante das Nações Unidas para a chamada Questão da Crise Solaris, Miguel de Torquemada, olhei para a notícia, e, de súbito, ouvi algum sussurro dentro de mim, em espanhol, porém, entendi.
Disse para Jeva que precisávamos de dinheiro, que eles iriam pegar a todos e matar, ela não cria. Eu toquei em sua testa e lhe dei um beijo, senti uma piedade estranha para com ela, depois disto, entendeu, dizendo que ouviu algo terrível em espanhol, o mesmo que eu?
Vi um jornal matutino sobre os Cassinos Ilegais de Curitiba, então, pensei e vi um velho negro vendendo as entradas, na Rua do Ouvidor. Sabia aonde era e como chegar. Me vesti o melhor que as roupas podiam e entrei no cassino, sem contar para Jeva; girei todas as caça-niqueis em uma ordem que calculei, depois de um tempo, os seguranças tentaram me bater: ganhei em vinte máquinas, dando cerca de vinte mil reais da época. Quando vieram me levar para um beco, eu não tive medo, parecia que ele havia sido apagado de mim, disse em voz calma para que eles se casassem e esquecessem de mim, eles se beijaram e eu peguei meu saco de fichas, mandei trocarem as moedas, firmemente olhando para a mulher que lá cuidava.
Quando, a noite, a desesperada amada veio me perguntar o que eu fizera e como consegui o dinheiro, lhe dei um beijo e disse que tínhamos que sair dali, da cidade. Quanto aos meus pais e cães, não lembrariam de me ver mais, nem os parentes dela.
Eu estava com algo crescendo em mim, podia sentir. Só que, ao contrário do que vocês poderiam supor, não me sentia divino ou no comando de tudo, sentia apenas uma dificuldade em sentir algo, parecia que fui reduzido à algo menor, que apesar de tudo, tinha a Consciência Maior, sabia o que acontecia.
Só que algo competiu comigo, só não sabia o que. Fomos com o dinheiro até São Paulo, um caos como sempre, fui para a bolsa e contratei com uma boa parte do dinheiro um corretor. Depois de dois dias de investimentos em dinheiro quente, estava com duas vezes mais do que ganhara com o cassino.
Jeva, por minhas instruções, foi buscar novos nomes, ela fazia Filosofia, escolheu Arthur para mim, de Schopenhauer, e como sobrenome, Bergman. Dei a ela Jeva Ekerot, por razões que não lembro mais. Em um mês, estávamos com cerca de cem mil e de carteiras de RG novas.
Disse para ela que em cinco meses deveríamos ficar em silêncio, porque estava ouvindo coisas da cabeça dos líderes que apareciam na tv, fora uma forte interferência.
No nosso apê na Baixo Augusta, víamos vários seres estranhos, entre eles, alguém que parecia ser outro dos Frios, um Pastor que ficava falando para as Prostitutas e Travecos largarem a vida de pecado e irem para a "Salvação"; chamava-se a si mesmo de Bournie, o homem negro de quase dois metros de altura, que sempre nos olhava com cara fechada, quando íamos comprar pão pela manhã.

Musiqueta

quarta-feira, 10 de abril de 2013

O Breu não existe


... Meia Noite em Paris
Duas da Manhã, na Rua Augusta
Oito da Manhã em NY
Meio dia no outro lado do Japão
Um domingo em Roma
Um sábado qualquer em Ibiza
Invernos em Moscou
Sonos da meia noite em Estocolmo
Nunca dormi melhor
Que quando tomei aquele drinque
Que fora de Aventura
(Jean Pierrot Breu)

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Sombrinha de Buscar Filmes

Aquela menina Sombria
Que fica vendo filmes em casa
Sempre e Sempre
Fica vendo filmes em casa
Quando sai de lá, sai com a Sombrinha
Porque está chovendo em seu coração
Sombrio como a noite, não, como um dia nublado
Que sempre, sempre chove
Mas, não esqueci de contá-la, em quantas estrelas
Existem na imensidão daquele seu escuro
Porque, mesmo na noite, existem estrelas
E mesmo no Espaço, Vácuo, existem pontinhos
De luz
E da luz você passa no rolo, o rolo rola, gira, na engrenagem
Como no coração da menina sombria
E eu, me recobro em minha poltrona e olho
A Luz, passar no rolo, e passar o filme
O filme que passa, sempre e sempre
Vendo aquele filme, na chuva, naquele dia
Sempre sempre, com a menina, sombria e sua sombrinha de buscar filmes.