segunda-feira, 24 de março de 2014

Namoro Campeão

 A pequena Aquila amava Sumô dos Reis.
Andava desde pequena, com seu pai fracassado e sua mãe indolente pelas vielas da cidade, vendo  algumas lutas e amando a potência dos corpulentos corpos se batendo.
Porém, chegou a adolescência e Aquila quis namorar, pois, não gostava de ficar andando sozinha, já que ninguém mais ia com ela as lutas. Encontrou um namorado, Rufo: magro, falante e mais tolo. Nesta época ela pintou o cabelo de rosa - a cor do Sumô dos Reis - e começou a sentir algo que subia do meio das pernas até a altura da barriga, suando-lhe a cabeça, pôs uma ideia nela: -Quero meu namorado campeão de sumô!
Tentou, então, pôr ele numa academia, haviam várias naquela época áurea em que projetávamos carros voadores. Mas, bem, Rufo saiu no primeiro ou segundo dia, disse o treinador de testa longa: - Muito magro para qualquer coisa, sangue ruim mesmo, voa que nem papel.
 Então, ela tentou engordá-lo: em redes de junk mais do food. Rufo comia, passava mal, mas, não engordava... E já estava lá pela sexta semana de namoro, nem um beijinho, só abraço e mão dada, sonho na cama dele. Em um dia, quando comiam comida árabe com fritas americanizadas, pôs-os-bofes indo correr pro banheiro.
 Aquila, apenas com raiva ficava, queria uma namorado campeão, mas, passou a querer Rufo também, com o calor da barriga: "Rufo Campeão" via nas faixas dentro de sua cabeça.
 Foi na casa do garoto, pois, como dizia sua vó Varia: Vaso Ruim é culpa de Artesão de Mão Ruim. Jantaram um rico peru com salmão que ela comprou de surpresa, junto com fritada que a família já prometera: nada, nada de nada fazia no pai, mãe, irmã de Rufo, todos magros, imensamente magros - via-lhes no branco dos olhos, o outro lado. Desesperou-se.
 Buscou em sites e e-mails perversos para professores de biologia até que, em um pequeno banner que sempre se repetia em suas procuras, resolveu clicar: "RESOLVEMOS SEUS PROBLEMAS! TODOS" e, embaixo, letras miúdas: "Mera Empreendimentos: Sua Rede de Resolver Tudo". Clicou e pegou umas pá de vírus, mas, pôde arranjar, lá pela terceira ou quarta página, o endereço de uma filial perto de sua casa, em sua média-cidade de interior.
 Chegou numa pequena porta, dois cômodos, a secretária pediu para que ela entrasse, já dizendo saber-lhe o problema. Tinha óculos de aros negros e cabelos escuros, era visivelmente ocidental, talvez italiana? Aquila entrou pela porta de rede e viu uma velha cigana, lá, com badulaques e ouros, pediu logo:
-Me dê o cartão que passo aqui, pagamento antecipado!
Fez isto, desconfiada da proposta da resolução de tudo, ao qual a velha, que era muito parecida com uma versão velha da secretária, respondeu:
 -Olha, tudo bem, uma vez pago e feito o contrato, nós realizamos o ato!
Sorriu a moça dos cabelos rosas que já descoloriam, contou-lhe o causo.
 A velha abriu uma gaveta e disse-lhe:
 -Aqui está, pega esta jujuba.
 -Por quê?
 -Ela pode resolver seus problemas, porém, já lhe digo: não é possível amar aquilo que você quer, ou você quer algo, ou o ama. Os dois, é apenas e só impossível, lembre-se disso.
 Quando a moça pegou a bala, a velha disse, com face triste:
 -Você tem calor demais em você, tenho algo pra isto...
 A face de Aquila negou aquilo e, a velha cigana, abaixando a cabeça e prostrando-se ao chão, disse, caminhando de costas:
 -Se teu cartão não aceitar a transação, Morte baterá em sua casa! Ciao!
  A alegria cobriu a face de Aquila e, ligando para Rufo, disse: -Pode ir na Luta Regional de hoje? - Negativo, prova amanhã, de biogeografia. Tudo bem, amanhã foram nas semifinais.
 Estava lotado, como sempre, até eu estava lá, sentado numa fileira a observar a história dos dois. Logo, depois do primeiro combate, Rufo lhe disse:
 -Aki-aki, sabe... Estamos já a quase dois meses, quero meu direito de homem... E sei que você também quer um...
 Ela pôs o dedo em sua boca, levou-o pela mão até uma parte atrás das arquibancadas e deu-lhe um tremendo beijo - o primeiro deles, de verdade, você sabe, daqueles.
 Tremendo a mãozinha, pôs na boca de Rufo uma balinha:
-Muito bafo, meu... Amor...
 Com esta palavra banida, deu outro beijo no rapaz que ficou corado. Voltaram para seus lugares, o rapaz suava constantemente com face esquentada e avermelhada, não parava de pensar em Aki-aki. Enquanto andavam, ele engordou dez quilos, quando sentou, vinte.
 No segundo round da segunda luta, ele berrou:
 -TE AMO AKI-AKI!
 Em pés largos chegou na plataforma de combate, lá, tirou a camisa do corpo setenta quilos mais gordo. O lutador da Zona Sul da Região se irritou com ele, pois estava ganhando: quando tentou empurrá-lo, sua mão foi quebrada, ao seu grito outro veio a sua ajuda, seu inimigo de ringue. Rufo deu-lhe um golpe e arrebentou-lhe a cabeça em dois.
 Aquila, sorriu e chorou, foi até o ringue, levantou o braço e gritou para o mundo:
 -TEMOS UM CAMPEÃO!
 Ainda não, pois, com os dois presos, ainda dois haviam para fazer a final no outro dia.
 Luto na tv on-line nacional, fogos de artifício foram jogados em cor rosa-púrpura das casas com seus canhões particulares. Foi tudo muito bonito, mas, Aki-aki não aceitava aquilo, e, vendo seu namorado na delegacia em única visita pedida por ele, vigiado por dez homens e a espera do juiz com julgamento (possivelmente capital), apenas lhe disse palavras de conforto:
 -Luta por mim? Seja meu campeão?
 E os músculos de mais de cem quilos daquele brutamontes colossal eram fracos para seu coração, que brilhava vermelho como se ofuscasse os olhos. Dez policiais de cabeças arrasadas e uma moça de cabelos rosas sequestrados. Com a parede da delegacia arrebentada, corriam os dois amantes para o Estádio de Sumô dos Reis.
 Em um cenário todo de preto em luto, entra o brutamontes de trezentos quilos a mais de seus mínimo peso. Aos gritos de justiça, vários ex-campeões e os dois combatentes da noite se unem contra o amante - ele põe a amante na beira da plataforma e se lança de barriga.
 No estrondo, pequeno pulo para cima da cadeira. Os campeões vão se rendendo a golpes esmagadores de um Rufo apaixonado que apenas sorri para sua amada, enquanto se banha de sangue e ossos quebrados. Ela, Aquila, vê tudo e... Em uma rápida fagulha, lembra do que a velha cigana disse, então, a própria Aki-Aki grita, desesperada:
 -EU TE AMO, RUFO! - Ela vê o namorado olhar para ela, já estava com mais de trocentos quilos, a plataforma quebrou e ele estava vermelho de chamas
 Sorriu, cochichou algo baixinho pela garganta fechada pela gordura e massa atômicas...
 Rufo explodiu.
"Voa que nem papel" - lembrou-se Aki-Aki agora toda vermelha


Disco Inferno http://www.youtube.com/watch?v=dewzOxQ52kg

sábado, 22 de março de 2014

Pra que escrever ou pensar?

Extremamente ficciocionalizado dentro de uma ampulheta que conta os traços das opiniões sobre a baixa dramaticidade das histórias.
Entretanto, até quanto as pessoas admitem a ficção? Até qual o limite pretende-se ser enganado com mundos de autores? E quando os literários dizem que você não criou mundo algum, mas, que sim, desenvolveu-se apenas dentro de um prospecto de dada época e lugar? Seria nossa vida e existência um mínimo pó de estrela e devemos nos contentar com isto? Qual o limite do Sistema e do Eu? Não acredito mais nos filósofos, nem nos cientistas, nem nos sacerdotes, elas já estão muito seguros de si para pensarem para mim algo que eu realmente acredite.