segunda-feira, 26 de março de 2018

domingo, 25 de março de 2018

Testamento



Testamento

Se reclamas de minha escrita triste
Me prova a felicidade
Ela está morta, mais do que Deus.
O filósofo estava errado, em sua loucura
Ela morreu no momento em que criaram o espelho
E na melancolia, não acho nada
Não estou pelo desejo, não vivo mais neste maldito mundo
Que me cerca de coisas, pessoas-coisas
Com suas ideias coisas, com seus ideais feitos no plástico
Roubei meu ideal dos tempos antigos, ele ainda era de latão
Ou madeira? Não me lembro
Se reclamas de meus escritos melancólicos
Não digo que saibas a sua terapia
Achas que escapo do mundo, encarando-o em meus olhos
Achas que você saberá do mundo, vivendo-o animalmente?
Achas?
Não acho jamais algo mais
Já não me acho melancólico, blasfemo os românticos
Queimei a juventude primeira, esperançosa por pastéis e mocinhas saltitantes
Das cinzas fiz uma lâmina do melancólico e nela
Formei a minha prisão, que retorno condicional
Algumas vezes
Ainda não total libertado
Desta vaidade que é a juventude


Ah, vil juventude
Pelotões de hipócritas dos soldados de Mudar o Mundo
De governá-lo, de comprá-lo, de vencê-lo
Existem aos montes, nos velhos de idade
Aos estúpidos internéticos intergaláticos
Ah, vil juventude, saudade de você...
É a potência constante na História, é um amor de Hegel
Mas, cai conforme caímos
Conforme a dor nas costas vem, ou a bebida já deixa mais mal do que bem
Ah, vil juventude, agora estou em sua ressaca
Blasfemo-a antes do fim
Antes de passar aos cânions estéreis da maturidade
Antes de poder valorizar cada jardim

Ah, vil maturidade
Sim, gostaria de tê-la valorizando
Achar a flor rocha no deserto cinza, o jardim de delícias escondido e nele dormir uma noite que fosse
Mas, apenas tenho o abraço dos meus cachorros
O olhar de meus gatos
E o desprezo dos amantes ou tolerância de poucos amigos
Tenho momentos reais de alegria
Tenho a ponte entre a potência juvenil e a firmeza do maduro
É tudo pó
Sejais pó
Já não vejo mais estrelas no mundo, pois,
E isto nem sei se esperança débil dos 20 anos o és
Talvez elas estejam em mim
Por um momento
Momento de alegria por você
Para você e em mim
Que você tenha estes momentos guardados ou esqueça-os
Mas, exista-os
Exista na alegria, resista na alegria de ser um pouquinho mais
Que um jovem que não valoriza
Que um velho que guarda demais
Que um poeta que apenas exila
Apenas fique
Firme
Faça mais

Mundo nos arrependimentos

Não me critique pela esperança que não tenho.
Me importo com você, não sigo os aqueles
Que achando que suas vidas valem mais, não ligam mais
Estão anestesiados para quem está perto
Mas, lutando as batalhas por aqueles que estão longe
Eu vi nos mapas, olhei nas estatísticas
Vi pinturas e desenhos animados
Não existe ninguém ao longe
E, se estão, são poucos
Poucos que valem, poucos no vale
Poucos lá pelas causas maiores que si mesmo e um
Pequeno círculo
Defenda o que vê e te faz bem
Pois, seu braço poderá estar tatuado ou levantará baioneta
Por um líder que jamais falou sua língua
Jamais disse algo com seu nome
Mas, que você ama mais que seus pais, seus filhos
Não penses que é egoísmo
Não estou a pensar em mim
Estou a te perguntar:
Fazes o que seus braços ocupam neste espaço infinito?
Ocupa-se dele
Teoriza o mundo
Mas, o culpe-se pelo que não fazes
Antes de julgares o que não fez
Luta pelo pão, pelo outro próximo de ti no ônibus
Aquele bom dia, ou boa tarde


Mas, a esperança, ela já não está mais comigo
Meus braços estão cansados, minha respiração está em silêncio
Teorizo o mundo, já não vivo nele
Não ajudei o suficente
Mas, eu os tenho, ainda estou nele
Sei que no mundo, isto eu vi, algo que é
É o arrependimento
Ali, batendo atrás de cada porta
Tocando em cada janela
Gotejando em cada chuva

Mundo nos arrependimentos

Mofo



Moro num quarto mofado
Durmo num mofo só
2 por 2
Mofado de mim, mofado de outros
O mundo dos fungos
Se alimentam ou fazem fotossíntese, já não me lembro mais
Mofado do mundo estou
E nessa cela do eremita urbano
Inútil de tudo, não representante de nada
Mas, representando todo o esteriótipo
Permaneço
Tento e esqueço
De mim mesmo, pensando em mim
Agindo em mim, reine sobre mim
O mofo
O nada do mofo
Sendo algo
Mas, nada
Na cela, o ermitão encontra a sua morada
No meio da cidade vazia
De sentido, ele nada
Nos mares do ar estático de seu cômodo de casa
Ele está, dormindo
Esperando algo acontecer, que não acontece
Esperando o príncipe que jamais virá, Adormecido
Esperando que volte a ser o príncipe, jamais saíra da Fera
Na profundeza de sua alma
O mofo
Sim, o mofo lá está


Morro num quarto mofado
Durmi num mofo só
2 por 2
Mofado de mim, mofado de outros
O mundo dos fungos
Se alimentam ou fazem fotossíntese, já não me lembro mais

sexta-feira, 23 de março de 2018

No vale da sombra



Olhei fundo dentro dele e vi
Todo o homem, humano, mulher, que seja
Agiu sobre a ponta
Pensou sobre a fagulha dentro de si, buscando iluminar-se
Mas, o que não agiu, o que manteve
O que imaginou
O que estava lá e já não mais estará
O sonho não-expresso
O amor não relatado, a conversa não dita, a obra não-criada
Mas, lá estrada
Lá, na sombra
Pensamento da sombra
Oculto no resto, naquele iceberg
Ou como naquelas vil montanhas
Ou naquilo que olha agora, naquele mundo de floresta tropical
Naquela grande cidade de mil rostos desconhecidos
Lá é aonde está o ser
Oculto
Oculto do mundo
Mas, existente na alma de
Existir


Grande ou pequeno nos livros e relatos
Viajante das nuvens ou além delas e mesmo nas cavernas
A sombra daquilo que não está
No código do vento, a palavra
Na pintura dos olhos e gestos
No sono perdido nas segundas, sábados ou quem sabe domingos
Estaremos lá, te olhando
Estarei lá, vendo a mim mesmo
Vivo lá, dentro desta sombra de cada um
De mim

E pelos vales ocultos daquilo que imagino
Às vezes sinto, as vezes como uma espada lâmina-fel
Por hora como abraço fiel
Ou naquele último papo, que não sabemos ou mantemos em segredo que será o derradeiro
No oculto da existência
Na sombra da existência
Tudo se mostra, tudo se cai em véu de uma imensidão
Sou imenso enquanto existo
Sou menor enquanto vejo
Sou enquanto estou

Sou enquanto estou?
Jamais da sombra eu poderia fazer a montanha revelar sua dimensão
Jamais o iceberg levanta os pés sobre os mares
Ou da floresta densa, da cidade imensa
Olha e me diz:
-Calma, eu existo, você está aqui
É na falta que existiremos
Nesta existência que busca
Que busca
Aventura
Por si mesmo
Existe enquanto sombra do não-ditos
Fingindo valer-se de vários mitos
Sobre seus grandes feitos
Grandes e pequenos, Napoleões e pó

Não, não ajo apenas
Não, não penso apenas
Nem na atuação dos tagarelas, nem na injustiça das querelas, nem dos abraços carinhosos
Não, eu sou.
Sou na sombra
Sou naquilo que não esteve e jamais saberá
Existo
Mesmo no que não existiu

Apenas enquanto eu estou aqui, te peço
Olha na janela do seu lugar,
Acha a paisagem que lhe agradar
E veja a imensidão de tudo que está

Lá estará, estaremos todos, um pouco de muito de nós
Na imensidão do não dito


terça-feira, 20 de março de 2018

Autoembuste

Autoembuste
Caminhando na estrada dum véu da noite sai do meu peito, caça
Minha sombra
cai sobre mim
A espada das não-realizações, não necessárias de serem grandes
Apenas aquelas pequenas, apenas aquele pequeno abraço
Não, sem mais abraços, sem mais constelações
A sombra cai sobre mim
Com seu peso não gélido, sem dos fogos do inferno
Não, não sinto esta cacofonia
Sinto apenas a liberdade do tédio que vem de vocês
De você, homem-palavra,
Verbo-incompleto, você é apenas uma ideia
Não, ainda que a fosse seria melhor


Autoembusteiro que sou
Saboto-me naquele precipício, naquela faca que corta minha veia, naquela corda que me suspende no ar
Naquilo tudo, ainda não escapo
Desejo a Morte, da solidão, de meus inimigos e de minhas não-realizações
Armado dos arrependimentos
Guardado algum sorriso, não, ele é falso agora
Saboto-me entre os campos de trigo
Sou o joio
Precipito o filho pródigo, mas apenas sinto que dei
Pérolas aos porcos
"Sou eu o suíno", diz minha própria sombra

E a noite cai, meu guarda-chuva faz de sua ponta
Som rítmico na noite
Jamais fria, jamais quente, não mais tediosa
Apenas, nada, o nada de nada
E a Fúria
Apenas ela, me segura nas bases das pernas
Precipício da Terra

Desejo a morte e a cumpro
A morte da poesia
Das estrofes
Dos versos
Mortificação da poesia
Abraço o autoembuste
Limpo o cuspe dos gentis da face
E fingo que escrevo estas linhas que você lê
Saboto-me naquele precipício que são as palavras
E a sombra sorri

domingo, 11 de março de 2018

Olhos de Saturno



Não desista.
Enquanto olhas, Saturno continua
Entre anéis, vidros gélidos e pó de estrelas
Continua lá
Galáticos movimentos, formigas no meu sapato
E toda a força de mil-sóis
E todas as palavras entre raposas
Leões parvos e homens-tartarugos
Todas estarão lá
Continua, teu ouvir
Tua palavra, tua força
Não olhas a cara do ímpio e abaixe
Lute, acredite
Lute ensinando, lute reagindo, lute mesmo no silêncio
Luta, luta minha querida
Respira
Sobe e desce
Continua


Que te vejo agora, presa numa cama
Ainda te amarei pra sempre
Aurélia de minha juventude
Pois, a memória de meus passos
É a estrada de meus feitos
Arrependimentos
E do caos insólito, vi você
Camarada naquela rua
Encontrada na barriga de sua mãe
Na chuva
Me dizendo, ah, minha Eduarda:
-Estou grávida

E de Saturno, permanecerei te cuidando
Pois, a memória de meus passos
É a estrada dos meus feitos