Numa linda manhã em Barbek Cold, descendo do apartamento, minha missão seria comprar pão. Encontrei o Seu Jão, ele estava com seu carrinho de verduras, como todo o dia.
-Bom dia, Dona Maria! -Comprei e peguei o pacote da velha senhora portuguesa da padaria. Sai e me preparava pra descer a rua.
Luzes coloridas, uma loira black-power de branco. Fiquei com medo, na minha mão uma escopeta.
Seu Jão, meu querido vendedor de verduras, retirou do meio dos alfaces um 38. Acabei com ele. A velha da padaria, que por vinte anos me serviu seu pão francês -muito bem feito por sinal-, retirou uma peixeira e vinha com ela (a velha estava rápida, mas fui mais), bum!, na cara, ela se foi.
Meu mundo parecia terrível novamente, a manhã azul ficou cinzenta. Só sentia o cheiro de fumaça enquanto passava pelas vielas; consegui chegar no meu beco sorrateiramente e subi as escadas externas para minha janela.
Deixando minha escopeta na mesa da sala, fui rápido para o quarto arrumar minha mala (como meu mestre dizia: "-Coloque um par de cuecas, uma calça e três camisetas -duas pra semana e uma pro domingo-, e, se necessário, uma jaqueta"); terminei e estava pensando por onde sair, talvez eles já tivessem tomado o prédio...
-Olá!
"-Sempre mantenha um 38 perto do travesseiro", como dizia meu mestre, eu tinha um até na almofada da sala! Apontei para a figura que estava sentada na cômoda da sala; ela já me apontava a escopeta.
-Nunca largue suas armas, principalmente uma escopeta!
-Olá! -Abaixei minha arma, ele desceu da cômoda, um pequeno ser de pelos vermelhos com um círculo preto na cara -nunca soube se ele era um guaxinim ou uma raposa atrofiada, sei lá!
Ah, ele era, ou é, meu mestre.
-Por que a roupa? -Ele estava de terno.
-Adquiri do seu antigo patrão, aquele que te explorava na infância.
-Mestre, o senhor roubou?
-Adquiri.
Eu estava esquentando água para um chá: ligava o fogão, pegava a chaleira, etc.
-Então, o Anão Edgar foi visitado por você? -Sorri.
-Eu o matei, e todos os 88 igualmente. -Fiquei sério, meu mestre retirou da bainha que tinha nas costas sua inseparável flauta.
-O que...
-Também foram pegos, a casa inteira estava infestada.
-Você a queimou? -Meu mestre se preparava pra tocar a flauta, parou; eu parei: alguém bateu na porta.
O pequeno ser pulou, ficou grudado na parede com sua técnica agravidade, eu peguei o 38. Fizemos tudo como fomos treinado a fazer, sem barulho.
-Olá! -Atendi carinhosamente com minha pistola escondida pela outra mão.
Entrou rápido, não atirei nele, meu amigo Josias. Ele estava assustado, seu óculos embaçados.
-Preciso de... -Meu mestre caiu sobre ele, com a flauta de bambu o derrubou no sofá, atirei na parte de encosto do móvel.
-Calma, calma! -Disse o cara.
-Eu vi a alergia no pescoço dele, por isto a gola olímpica que ele usa! -Contra-atacou meu mestre.
-Espera, espera! -Eu já ia dar o tiro de misericórdia.
-Faz duas semanas que ela está aí! -Eu parei, meu mestre, em minha honra, foi investigar Josias, mas foi com uma faca na mão.
-Aaaaaaaaaaaaaaaaa! -Meu mestre arrancou um pedaço da pele do meu amigo, a do pescoço, que parecia uma casca de árvore avermelhada; "-Não, não é nada" -disse ele ao expor o pedaço contra luz da cozinha, mais clara que a escura sala (não havia luz no apartamento).
Tomamos café, pão recém comprado com mortadela. Feitas as conversas enquanto meu mestre tocava um rock com sua flauta.
-Tudo bem? -Perguntou minha vizinha, Dona Cotina, uma quarentona, ela estava armada com uma panela e seu elmo era uma toca de banho. Eu ri e mandei ela ficar em seu apartamento, tentar juntar o máximo de comida e água e não sair a noite, como eu sei que ela gostava, para ir a casas de shows para mulheres.
-Por que você... -Me perguntou Josias enquanto ela sai pelo corredor.
-Eu sei que ela não está possuída. Pus sal na entrada. -Respondi antes que meu amigo terminasse.
-E se fosse um Anjou, eles não são afetados pelo sal?- Fiquei surpreso, "-Você mudou Josias, andou estudando os livros que te passei no verão?"
-Anjous seriam percebidos. -Disse meu mestre.
-Mas, só por Anciões, e eles estão a muito tempo extintos, eu procurei na internet.
-Eles seriam percebidos. -Sorriu meu mestre, eu também.
Partimos pelo prédio vazio. Descendo as escadas até o térreo vimos o porteiro caído perto do elevador, um taco de bets quebrado perto dele.
-Fui eu. -Respondeu Josias.
-Tudo bem. -Respondi a todas as vezes que ele tentava, com remorso, falar sobre o assunto.
Seguimos pela rua deserta.
-A partir de agora, vocês vão sozinhos. -Disse meu mestre, ele me entregou um bilhete, disse para abri-lo somente quando já tivesse passado da Estação Norte de ônibus.
-Mas, ele vai ficar bem? -Perguntou Josias enquanto eu via aquela maldita luz de novo.
-Sim, é claro! -Respondi com dificuldade. Josias, não acreditando, olhou para o outro rumo da rua e viu meu mestre entrar um ônibus amarelo de dois andares; "-Como..." -pensou, "-Por que ele pode, droga!" -respondi pra ele, eu estava com uma maldita dor de cabeça.
Quebramos um vidro de carro, eu abri a porta e perguntei ao meu amigo assustado se ele já sabia fazer ligação direta; ele fez uma recusa com a cabeça, eu sentei e fiz.
Seguimos por ruas cheias. Pra não pegar trânsito, peguei um monte de atalhos que aprendi quando fiz um trabalho de campo pra faculdade -acho que a matéria era de Planejamento Urbano, ou Redes Urbanas, não sei.
Josias ficou calado enquanto olhava para as pessoas passando pela janela do carro (todas vivendo suas vidas comuns). Ele tirou do bolso um relógio de bolso de cobre e olhou.
-47 horas e 23 minutos para o próximo ataque, será que chegamos a tempo?
-Sim, a cidade é caótica, mas nem tanto... Um ser vivo... -olhei pro meu amigo- Literalmente, não?
Sorrimos, ele ainda assustado.
Passamos por uma banca de jornais, compramos três coisas. Josias um jornal e um periódico mensal de economia e eu a revista de mulher pelada do mês, este que acabara de começar: 9 de setembro de 2019.
MUSIQUETA DA POSTAGEM
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