É o expresso Trans-Siberiano, a neve cai. Silêncio quebrado por um velho de barba longa branca.
-Você tem que voltar! -Me diz o desconhecido de terno cinza e bengala negra com caveira de lobo na ponta.
-Quem é você?... -Não pude terminar minha sentença; eu, barbudo, com terno surrado, fui puxado pelo velho, ele abriu a porta, eu tive a maldita dor de cabeça.
Logo, vieram os demônios; "-Saiam daqui!"-berrou o outro, bateu a bengala no chão, dois voaram para trás.
-Vamos logo! -Berrou e eu obedeci, ia tirar meu enferrujado 38, tinha que fazer algo.
-Não, deixe comigo! -Bateu o cajado, as portas das cabines se fecharam, os monstros não conseguiam abri-las. O velho ainda se virou, vinha um por trás, ele bateu a bengala na janela e ela se partiu, o outro voo arrebatado para fora.
Caminhamos até entramos em um cabine vazia, os demônios apareciam na porta.
-Eles não entrarão aqui, não se preocupe.
-Diga seu nome, seu Pedestre! -Reconheci o ser, esse tipo de coisa não é muito comum.
-Muito bom! Eu sou o que vocês chamam de Pedestre, caminho por aqui a muito tempo...
-Diga! -O velho se levantou: "-Escute aqui! Existo bem antes de você fazer suas estripulias!"
Então, ele pegou sua bengala e bateu no vidro da cabine, esta se espatifou e mandou os demônios que estavam nela para longe. Nisto, minha dor de cabeça voltou, só que desta vez foi tão forte que eu desmaiei por alguns momentos.
-Meu nome é Willian Spellfot. -Ouvi o velho dizer enquanto recebia um chá dum funcionário do trem.
-O meu é Charles e você é daon...
-Sei que seu nome não é Charles, nem Élio, nem David ou outros mais, e isto não me importa; é uma recomendação do seu mestre, a quem tenho muito apreço e o qual já me livrou de muitos problemas no passado.
-Meu mestre? -Perguntei desconfiado, ele foi e me sussurrou o nome de meu mestre, o verdadeiro. Confiei nele.
Seguimos até uma estação, já na Rússia, porém pegamos o sentido contrário, por um voo que o velho Willian pagou. Não tivemos mais problemas, mas percebi que o barbudo não tinha nenhum relógio de cobre, nada, nem digital, fiquei curioso para saber como ele sabia a hora de lutar... Apesar dele ser um Pedestre, um ser que nasce entre as dimensões e que nunca sabe onde está bem num lugar ou noutro, não conhecia um caso que pudesse ter tais poderes sem ser um demônio, um deathlord ou algo assim. Perguntei:
-O quê? -O velho me perguntou, no avião, percebi que ele tirou um fone de MP3 que seus cabelos escondiam. "-O que tem pra ouvir aí?"
-Ah, só umas músicas ciganas, rockabilly, baladas de violão espanhol, essas coisas... Mas, as vezes ele para, na hora que preciso, ele faz o favor de parar.
Assim, eu já sabia como ele via a hora de agir contra os demônios, ele tinha minha confiança, estávamos "quits", como eu falaria se fosse jovem em Kurit.
Chegamos na grande ilha de Bretan, lá fomos pra Madchester; no avião, vi algo que me assustou:
-Está em chamas... Como isto é possível?!
-Calma, ninguém vê, talvez você não conheça, mas é o que chama-se de Evento Catástrofe, (eu conhecia, li isto em uns livros do meu mestre, mas deixei o velho falar) isto acontece sempre que há uma batalha enorme demais para durar apenas um momento nos olhos dos que podem ver... Sempre que há guerras muito grandes, corresse este risco, episódios como o do rio Tânis, em 1640, são um exemplo disto...
-Você leu o mesmo livro que eu? (Este trecho realmente me parecia muito familiar) "As grandes ordas de Bretan", este era o nome, era de... -Fiz uma cara de surpreso.
-É, fui eu que escrevi, mas não sou tão velho! -Riu o velho.
Passamos com o táxi, eu via as pessoas andarem para o trabalho, levarem seus cães à passeio, tudo entre cinzas e algumas fogueiras, essa capacidade de ver o outro mundo ainda me surpreende. Fomos até um bairro mais calmo, eu vi barreiras feitas com espadas, homens e mulheres me viam, eles sabiam que eu também enxergava -estavam sujos de fuligem e pareciam muito cansados. Paramos em frente à uma casa amarela, uma grande casa amarela, a mais conservada entre as que eu via.
-Prepare-se! -Me avisou o velho, que tirara seu chapéu; a casa vazia e com as janelas abertas, um vento frio entravam, subindo as escadas, demos com uma porta.
-Emanel! -Foi o velho direto pra outro velho que lhe respondeu: "-Bill!"; se abraçaram, enquanto isto acontecia e, até nas primeiras apresentações, percebia a sala: havia uma espada azul desenhada na parede em cima da mesa, duas espadas em cima da mesa, livros abertos, um mapa caído no chão -percebi que se tratava de uma rede fluvial, só não sabia da onde, pois a data escrita era muito antiga.
Sentamos em poltronas perto duma lareira, a cadeira que o outro velho sentou-se tinha uma escopeta em cima, ele a retirou e começou sua conversa.
-Bem, amigo, não sei se meu amigo Bill te contou, mas estamos mal aqui... -Ah, o nome dele era Emanel Sworblü, sua cara era feia que doía, mas ele chamava todo mundo de amigo e tinha uma voz bem calma.
-Percebi, mas vocês, da Ordem da Lâmina Azul resistiram bem até! -O velho Willian sorriu com minha esperteza.
-Não me interrompa, por favor! -Disse o velho alterando a voz, depois ele, mais calmo, continuou- Você está certo, somos da antiga Ordem da Lâmina Azul, mantemos nossos eventos, aqui na ilha de Bretan, sob controle a mais de 600 anos... Mas, agora não é mais assim...
-Por que? -Interrompi ele mais uma vez, mas foi sem querer.
-Esses macacos do sul... -Sussurrou o velho enquanto colocava um pouco de chá, eram cinco horas.
-Bem, você viu, Madchester foi palco de uma batalha terrível, cinco dias de evento, cinco dias! -O velho me apontava três dedos, o que mostrava sua destreza com contas.
Mas é claro, estava surpreso, havia visto apenas um evento tão longo assim e ele apenas durara um dia... Foi no mesmo evento que aconteceram as coisas que me fizeram querem ser uma pedra de gelo na Sibéria... Enfim.
-Vocês resistiram, não é? Isto é o importante. -O velho estava prestes a me xingar.
-Nós resistimos Élio, sim, nós resistimos. -Interveio Willian. "-Agora é bom descansarmos por algumas horas"; eu estava bem, mas aceitei a ideia.
Em Ville des Lumières, no continente, em um beco escuro, uma figura roxo de terno e quatro chifres se encontrava com outra estranha imagem, um homem alto de barba negra pro fazer.
-Então, estamos combinados, Bal-Arady?
-Qual o pagamento? -Perguntou o "Senhor do Reflexo", Bal-Arady, o chifrudo.
-25 peças de prata, cheias de seus "tabletes" de energia, e mais um bônus... -O outro pôs uma porção de olhos no tablado que tinham posto em cima de uma lata de lixo.
-Mais que maravilha!! -O demônio se alegrou bastante, ele pegou um dos olhos e pôs em sua órbita branca, "seus olhos" choravam.
-Tem muito mais de onde este veio, sei que "seus olhos" nunca ficam por muito tempo... Lembre-se assim do acordo.
-Tudo bem, Nicola, está feito o trato: matarei até o último dos Lâminas Azuis, nem um pupilo, nem um lorde sobreviverá.
-Ótimo! Ótimo! -Disse Nicola Izolovan, virou-se e partiu pela neblina da madrugada, ainda poderia aproveitar alguma balada villense.
Eu tive um sonho estranho, não sei se seria um pressentimento, sabia que algo acontecia, lá, em algum lugar. De novo eu teria que lutar e enfrentar os maus demônios e derrubar muralhas, não consegui dormir naquela sede da Ordem da Lâmina Azul.
MUSIQUETA DA POSTAGEM
Cidades...
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