sábado, 10 de dezembro de 2011

Sam, o que matou a mãe #Agentes do Caos

MUSIQUETA DA POSTAGEM

http://www.youtube.com/watch?v=5AqeqAQ1ILI

 Nas florestas frias e tristes da Eurásia, há anos muito, muito no passado, viviam quatro pessoas: Mãe, Sam, o pequeno Sam, Ilía e Marie.
 -Vá comer! Larga isto!
 Foi numa manhã do segundo dia da semana, me lembro até hoje.
 -... -O menino em silêncio... Apenas ouvia, não a Mãe, uma mulher seca e de cabelo a muito loiro, hoje, grisalho, mas seu dinossauro de borracha, -na verdade, um soldadinho de chumbo que teve uma cabeça de dinossauro "implantada" nele- seu nome era Geoge.
 -Menino, amigo meu, vai comer, te fortaleces e preparastes para a guerra... -Falou o ser de dois palmos, com voz macia. "Sim, vou meu amigo", respondeu em pensamento o menino.
 Foi comer, passou o dia calejando as mãos na lavoura podre de batata-doce, ele, sua irmã mais velha Ilía, que parava muitas vezes, ia pra mata e chorava... Talvez sonhasse com Alvo, um menino da quermesse que uma vez deu-lhe um beijo na bochecha e outro, no pescoço, também Marie -a mais nova- estava com ele, uma doida, costumava se cortar com bonecas e gritava as vezes... A noite, quando o pai estava em casa, sempre a noite, sempre com ele; o pai, um lenhador bruto, fora caçar ursos no Oeste, voltaria há três dias, e de novo a pequena irmã choraria de noitinha, baixinho, mas, agora menos.
 Sua rotina, do menino e seu inseparável dinossauro só terminava a noitinha, quando terminava de recolher a lenha e voltava com a irmã Ilía socando manteiga, e sua Mãe olhando ela -com olho estranho-, e com copo de vinho amargo; de madrugada, a noitinha, enquanto o menino sonhava acordado com seu dinossauro -seu amigo- os dois em aventuras, a pilhar castelos e consumir reinos inteiros, com garrucha e sabre na mão, escutava, baixinho a irmã mais velha chorar... Sussurrar... Enquanto a Mãe usava um chicote (pelo menos ao que parecia), e falava coisas estranhas "-Minha cabrinha!", "Meu amor", "Meu docinho de coco"
 Então, algo que apenas iria virar uma nota na mente de todos, menos na minha, pois eu me lembro bem, me lembro do que fiz.
 ...Foi em dezembro, neve pálida na janela infecta, madeira podre, podres pessoas.
 "-Olhas o leite, meu amigo, olhas o leite!", a irmã Marie sempre ia pegar o leite que o vizinho deixava em um balde, perto da Estrada da Floresta. Ele era pago com minha linda irmã mais velha, mas, isto não vem ao caso... O leite deveria seguir um método, pois a Mãe gostava de tudo certinho, ela gostava de tudo limpinho - leite crú não, fervido com lenha que eu trouxera no dia anterior... Quem trazia o leite devia fervê-lo, sempre fora assim, todos seguiam o Método
 Dei o meu amigo Geoge pra Marie, a pequena e doce gritante menininha... Ela se divertiu com a conversa de meu colega, nunca deixara ela pegar nele, pois babava demais. Isto, foi de manhanzinha, enquanto a Mãe dormia, o leite que ela trouxe ficou lá... A minha lenha, também...
 A Mãe, imperadora quando o Pai não estava em casa, pega minha irmã pelos cabelos - sem antes me dar uma porrada e jogar Geoge longe, quase na lareira -, a matriarca têm a boca com bigode de leite, leite crú que ela odeia, porém, seu ódio maior é por nós, especialmente, por minha querida irmã Marie. Ela faz com minha irmã como faz com todos - tranca em um quarto, com uma portinha na porta de onde se coloca a comida e a água, apenas broa e água choca.
 ...Meu amigo, eu o catei e de tarde, ele disse "- É hora mexer na Preciosidade...". Digo, " -Tudo bem, esta mesmo na hora, só que não sofra".
 Minha irmã chega às duas da tarde, era pra "estar no leiteiro", sei que não estava, ela "ama" Alvo... Estava com ele fazendo coisas que minha mãe faz com meu pai toda a vez que ele volta, forte e de tremer a casa; só que minha irmã Ilía fez isto na floresta, eu sei, eu já vi da primeira vez...
 Não sei se era a idade, mas, minha linda irmã de cabelos loiros e com partes de carne bem distribuída brigara com minha mãe. A Imperatriz, surrou-a, já era a segunda vez que ela tentava intervir na sua forma de nos educar, a primeira fora quando ela queimou minha perna com uma labareda, afim de me deixar mais quieto, e me deixou. A face de minha irmã era de fúria, eu guardei esta face, guardei pra mim e a Mãe pra ela... Queria quebrar a face de uma garota tão jovial e linda, o que ela nunca fora... Foi atrás do chicote... Mas, desistiu...
 Guardado estava também um colar, um colar de vovó, único ser que me fez um carinho... Ela era dona de tudo, de toda a região... Morreu e não deixou nada pra filha, apenas dinheiro que não poderia tocar, senão quando todos os filhos se casassem... Porém, a Mãe vendeu todas as jóias, todas menos uma... O Colar, verde, como a esperança que minha irmã tinha no beijo de Alvo, ou minha mãe, quando eu me casasse.
 Lá na gaveta, tinha o Colar da esperança... Peguei o vestido de minha irmã, que se banhava, a chave da gaveta - que perto do chicote da Mãe estava - e fui de finhinho, passaria pela porta do lavatório... Chamei "- Ilía!", minha irmã me viu e sorriu, nunca esqueceria o sorriso dela ter me visto falar... Não fazia isto há anos... Porém, quando ela correu nua para me abraçar, corri com seu vestido e o Colar... Não entendendo, e bêbada de alegria, chamou minha mãe e foi atrás de mim...
 Em pelo, pisou na neve... Me seguiu até lá, até seu fim...
 No Poço, o fim, pendurei o Colar, minha linda irmã falou que eu estava louco, pois ficar perto de cair no Poço... Vestiu-se e abraçou-me, viu a joia, a Mãe berrava atrás, Ilía desesperada, tentou pegar a peça... Esticou-se, esticou-se... Quase pegou... Quase...
 A Esperança acabou... Caindo o Colar no Poço, minha mãe agarrou minha irmã pelos cabelos lindos e loiros, a jogou na pedra que construía o Fim da Esperança, em ódio, o cabelo de minha querida Ilía estava sangrando... Nunca mais o chicotinho estalara a noite
 Eu, corri de novo, me escondi entre as árvores antes de tudo ter ocorrido...
 ..."-Muito bem, amigo meu!", ouvi em minha mente
 Dia seguinte, Ilía estava coberta de neve, apenas um pouco de sangue se via... Passei por ela, fui em direção à Estrada da Floresta, pegar o leite crú... Vi o leiteiro muito bravo, com um pau na mão...
 -Onde está sua ir? 
 -O fim está próximo, já é metade de dezembro, o Período de Caça está terminando, termina hoje... -Ouvi a voz na minha cabeça dizer isto, disse, assim, em resposta ao homem que também nunca me vira falar e até que se parecia fisicamente comigo
 -Minha mãe pagará o que minha irmã não fez com você ontem, vá pra nossa casa, no fim desta estradinha, ela estará lá, preparada...
 Eu sabia que hoje era o dia da Mãe tomar seu banho mensal, o Leiteiro, não. Mas, desceu a via, foi ao encontro da Imperadora, eu sentei, esperei... O dia estava bonito, morto... Eu gosto disto...
 ...
 A velha se encontra com o loiro alto que dava leite para minha irmã, ele a toma saindo em panos mínimos... Ela grita, porém, vai deixando, vai deixando até... Até uma vez, duas vezes... Lá vem a terceira...
 A porta abre, no meio da sala suja em que se faz ato de consumação, encontram-se quatro pessoas - Eu, o Leiteiro, a Mãe e alguém que viera comigo, alguém que pouco conheço e que apenas via algumas vezes ao ano... Seu nome? Era Pai.
 A mão com um tacape derruba o Leiteiro que por cima da Mãe estava, ele é chutado várias vezes... Ela também, a Imperatriz também! Nunca vira aquilo...
 Em alguns minutos, o Pai pega o Leiteiro, a Mãe "dormia" descabelada no chão, eu, agachado, via tudo... O lenhador, caçador de ursos, pega o homem que parecia comigo e crava-lhe um galho, como se fosse um peru de Natal - inclusive, Feliz Natal, algo que nunca tive -, o homem bruto acende a fogueira, ouço grunidos...
 Vejo na mesa uma besta, a arma do Pai... A Mãe acorda, eu a olho, eu sorrio a primeira vez para ela, aponto a mesa... A raiva da Imperatriz é forte, ela cata a lançadora de flechas, sai na porta, um, dois, três... Os dardos atravessam a pele de urso do Pai, o forte homem cai...
 -Arrume-se...... Meu filho, vai!!
 "Meu filho", é a primeira vez que escuto isto... Saio apenas com Geoge, uma camisa e uma meia. A Mãe se veste e pega várias coisas, manda eu carregar... Estranho, enquanto pegava as coisas para ir, percebo que o corpo não está mais lá, apenas a fogueira, um "peru" lá está, a pele de urso, não...
 Saímos em direção a estrada... Eu carrego muito peso... Caio antes de chegarmos perto da ligação, a Imperatriz me bate, diz
 -Sam! Sirva pra algo, eu sempre soube que você fora um erro! Desgraçado! - Com um tapa, saio de perto das grandes trouxas de roupas... Olho pra ela, digo
 -Mãe, adeus...
 E o Pai com um machado a acerta, nas costas, a mulher cai - aquela simples mulher!
 Olhei pro barbudo que, tossindo sangue, levanta o machado... Ele desferirá o golpe em mim... Diz, porém
 -Bastardo!
 Não deveria ter dito aquilo... Muita pressão... Tanta que ele erra o golpe e cai, no corpo da mulher morta por ele alguns minutos antes...
 ...
 Eu subo a rua, na Estrada da Floresta... Algumas horas, frio e vento já não me afetam mais, estou sentado em minha trouxa de roupa...
 Até que passa uma carroça, na carroça, um ser com um grande chapéu e máscara de Corvo. Ele diz
 -Muito bem, amigo meu!
 Respondo
 -Obrigado! Sou digno de me libertar agora...
 -Se você o diz, - fala o ser mascarado - o é.
 A carroça sai pela neve, ela cai... Cobriu minha irmã linda, apagou a fogueira do Leiteiro, o casal que é meu Pai e minha Mãe... Minha irmanzinha, bem, ela está protegida do frio... Espero que abra a porta da casa...
 Eu, porém, não ligo pra nada
 A carroça segue pela neve, ela cai como cai o meu passado
 Passado de Sam

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