Algoro prometeu para si mesmo que nunca mais entraria numa fria como aquela de novo, não acabaria por se ferrar como se ferrara daquela vez. Entrou e saiu, e era isto, em um pequeno ponto do espaço da superfície terrestre, ao qual se ocupa a Geografia, se juntara com um ponto da abóboda celeste, ao qual os astrólogos rendem homenagens noturnas em seus telescópios.
Algoro tentara, em vão, abrir a porta daquele seu quarto imundo, dando de frente para uma parede, a janela, sempre com a mesma paisagem, congelada, também não lhe era permitida pular: era um fundo de papel, atrás, mais parede.
Sempre era fim de tarde, uma hora do dia que Algoro gostava, porém, que agora lhe rendia o ódio eterno, pois, nunca deixava de ter o quarto do apartamento aquela cor laranja sonolenta - não mais renovadora.
Tudo tremeu.
Então, o homem de terno riscado abriu a porta e por ela uma luz saiu, cobriu todo o seu corpo.
Lá estava ele, no Mundo novamente, uma linda moça de olhos verdes, de roupas antigas de arqueóloga o olhava:
-Minha nossa! -disse ela - Então, é verdade! Vocês existem mesmo!
-Sim... - Respondeu Algoro, enfadado - "Quais são os teus desejos mais profundos, teus amores mais secretos e tuas vontades mais aberta?"
-...
-Diga logo, quero acabar logo com isto - Algoro não aguentava mais a luz do Mundo, ele vivia sempre na mesma tarde de 2014...
-... Meu Alex, ele morreu para nós chegarmos aqui... Foram os caingangues e seu maldito pajé e...
-Não me importa! O que quer com isto?
-... TRAGA ELE DE VOLTA!
-... - Algoro pegou algo que ele, com seus olhos doloridos, pensou ser um galho, suas unhas cortaram a madeira até deixá-la na forma de uma hominídeo. Disse: - Está feito! - E o boneco pegou fogo.
Então, como um flash e sem dizer adeus, Algoro voltou para seu lugar, a sua tarde.
...
Acho que não se passaram nem alguns dias, ou séculos, tudo tremeu novamente.
-"Quais são os teus desejos mais profundos, teus amores mais secretos e tuas vontades mais aberta?"
Havia ali um homem, ele estava vestido como um explorador, como aquela dos olhos verdes, só apenas de camisa... A última que vira. Ele olhou para ele com uma cara de fúria, em suas mãos, uma navalha ensanguentada, chorando, disse o homem:
-... Eu tive de fazer isto... Sei que Aline nunca usou o seu poder corretamente... Mas, enfim... Ela era alguém que... - E lacrimejou - Eu amava... - E chorou.
-Fale logo o que quer!
O homem o olhou com uma cara de louco, pegou sua navalha e cortou o peito de Algoro. Não saiu sangue, mas, gás verde:
-Não pode matar algo que não é deste mundo... - Sorriu Algoro, deu um safanão no homem, que desmaiou na hora.
Ficou naquele lugar iluminado demais por cerca de uma ou duas horas, até o homem acordar. Nisto, como não conseguia andar muito pelo cômodo em que estava, apenas viu algumas coisas, como, a casa bagunçada, uma carta na mesa, a foto do homem com a moça de olhos verdes que vira antes... Tudo desinteressante para Algoro, queria sair dali...
O homem, que Algoro colocara em um sofá, acordou, assustado por ainda estar vivo:
-Você tem de pedir primeiro. - disse o homem de terno riscado para o desesperado.
-... Eu, eu quero...
-Diga
-Eu quero nunca ter conhecido Aline... Quero ter ficado com Paula, ter virado um professor de escola, como queria nos meus quinze anos!!!
-... -Algoro observou aquilo... Era algo grande. Mas, o fez: ficou de frente para o homem, meteu a mão em sua carne, arrancando-lhe o fígado, aonde estavam todos os sentimentos. O pedinte caiu aos seus pés, gritando de susto, não de dor.
-Agora, se você não conheceu aquela moça, ela não deve morrer... - Algoro puxou um pequeno fio de cabelo seu e sobrou ao vento.
-Esta feito - disse e voltou para seu mundo.
...
Finalmente, passou-se vários séculos, talvez, pois, ninguém tinha mexido com Algoro ainda. Tudo calmo e quieto, ele pode contar pela enésima vez a quantidade de tábuas no teto, quantas baratas misteriosas moravam ali e ouvir o lamurio de suas próprias lembranças.
Tudo tremeu, então, como sempre acaba acontecendo, Algoro tinha uma vida rotineira, como se vê.
-"Quais são os teus desejos mais profundos, teus amores..."
Um dedo feminino pintadinho de roxo nas unhas o interrompeu, por um instante, pode ver o rosto que fizera aquilo: a mulher que ele amava, com seus olhos de tão negros que são azuis e cabelo de caramelo...
-Oi, Gogo!
-... Você...
-Sim, sou eu... Finalmente, finalmente te achei! - As lágrimas corriam o rosto da jovem, logo, ela abraçou-a e começou a ter algo estranho, algo, talvez, sentimentos? De novo? Esta coisa ruim que pesa no peito e no pé do olho esquerdo.
-O que você... O que vai pedir? - Disse o homem de terno riscado.
-... Te amo, meu Gogo... Mas, você naquela tarde pediu para libertar aquele homem... E, nunca mais voltou... Então, meu Gogo... Me perdoe...
A moça chorou, então, saiu de uma quarto um homem com tipo... Tipo explorador; pegou no ombro da moça de olhos negros e disse:
-Paula! O que você fez, Paula? Você mexeu com isto??
-... Alex? - Perguntou o homem de terno riscado.
-... Si.. Sim... Mas, o que vai fazer agora?
Algoro apenas olhou para a cena.
-Qual é o seu desejo... Paula?
-... Que seja feliz... Apenas isto - a moça com lágrimas, deu um beijo na testa do gênio. Tudo sumiu num clarão.
Algoro, acordou em seu quarto de apartamento, levantou-se, contando as baratas no chão e as tábuas no teto. Então, tudo tremeu novamente, porém, agora era de manhã.
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