terça-feira, 20 de março de 2018

Autoembuste

Autoembuste
Caminhando na estrada dum véu da noite sai do meu peito, caça
Minha sombra
cai sobre mim
A espada das não-realizações, não necessárias de serem grandes
Apenas aquelas pequenas, apenas aquele pequeno abraço
Não, sem mais abraços, sem mais constelações
A sombra cai sobre mim
Com seu peso não gélido, sem dos fogos do inferno
Não, não sinto esta cacofonia
Sinto apenas a liberdade do tédio que vem de vocês
De você, homem-palavra,
Verbo-incompleto, você é apenas uma ideia
Não, ainda que a fosse seria melhor


Autoembusteiro que sou
Saboto-me naquele precipício, naquela faca que corta minha veia, naquela corda que me suspende no ar
Naquilo tudo, ainda não escapo
Desejo a Morte, da solidão, de meus inimigos e de minhas não-realizações
Armado dos arrependimentos
Guardado algum sorriso, não, ele é falso agora
Saboto-me entre os campos de trigo
Sou o joio
Precipito o filho pródigo, mas apenas sinto que dei
Pérolas aos porcos
"Sou eu o suíno", diz minha própria sombra

E a noite cai, meu guarda-chuva faz de sua ponta
Som rítmico na noite
Jamais fria, jamais quente, não mais tediosa
Apenas, nada, o nada de nada
E a Fúria
Apenas ela, me segura nas bases das pernas
Precipício da Terra

Desejo a morte e a cumpro
A morte da poesia
Das estrofes
Dos versos
Mortificação da poesia
Abraço o autoembuste
Limpo o cuspe dos gentis da face
E fingo que escrevo estas linhas que você lê
Saboto-me naquele precipício que são as palavras
E a sombra sorri

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