Bichano, rabo pelúcia
Entre minhas pernas
Sumiu
Entrou em alguma dimensão
Escondida embaixo da mesa
O segui
E lá vi, entre aquela cadeira e papéis velhos
Um mundo inteiro de coisas, uma corrente inteira de minérios
Prontos a serem lapidados
Como jóias escondidas na pedra da mina:
Uma carta minha de quando criança
Uma velha foto que caíra da escrivaninha
Uma lapiseira buscada faz tempo
Pequenas coisas, pequeno universo
Da carta, havia apenas algo, entre os erros de português
"Deus, me dê força imaginar pro mundo inteiro ver"
Assinava uma criança cheia de sonhos
Dentro de algum adulto que agora, passados os 20 anos
Via na foto caída da escrivaninha, outra pessoa
Que também fizera promessa
Porém, entre a nostalgia salgada de mar e a fotografia
Timbrada de nó na garganta
Uma lapiseira, olha ela
Escrevia e tinha ainda ponta!
Ponta de uma lança, ao qual o papel há de respeitar
E nela, andante cavaleiro
De cavalo ou navio, veleja no mar da frase
Numa tarde, noite, de sexta-feira, dos 20 anos depois
E de um gato por inteiro, memórias que trouxe
Pensei ser ele mágico ou feiticeiro
Apenas queria comida, aquele fuleiro
Tomás, meu caro amigo Tómas
O gato que viaja minhas memórias em passeio
---
Digníssimos de seu próprio cabelo
Entre as tartarugas refugiadas em seus próprios canteiros
Munidas de sua caça ao próprio dinheiro
Até alguns ratos, sentindo o que podem de todo cheiro
Ou serpentes a engolir veneno fofoqueiro
Uma raposa, uma raposa ruiva de rabo cumprido
Não tão boa quanto outra
Não de barriga cheia de galinha como aqueles
Está lá, espreitando as montanhas, sondando os vales nebulosos
E perguntando, perguntando sempre
Com um faro, ora falho, de lá pra cá
Toda a alma, meu senhor, não é pequena?
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