Mostrando postagens com marcador poemas. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador poemas. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 15 de maio de 2019

Moro no bosque, Domingo furioso

Eu moro naquele bosque
Perto da serra
Onde um riacho se esconde
Entre o meio de meu peito
Silenciosa, melancolia
Alimenta meu espírito
Com aquilo que não tive
Obtendo
Alguma ou outra alegria
Mas, apatia
Tudo apatia

---
Na fúria, de um domingo
Qualquer
Famílias voltam com sua criançada escandalosa
Em pais mais escandalosos
Tudo, um bravio de bestas
Mecânicas, ônibus, parques moldados
Tudo, um qualquer
Sol de outono coroa a cabeça com calor
A gritaria das máquinas e crianças permanece
A serra de minha casa está longe
O lar do meu peito, desbastado de novas
Árvores está
No mundo
Máquinas e crianças-pais, tagarelam
Tagarelar pra não deixar-se o silêncio
Tomar de si
A voz mecânica
E num coro preso, sem tom ou som
As vozes se abafam, na barulheira
De domingo

---

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Quinta escrita




Nunca poderia escrever um romance
O tempo das palavras
Sua distância em períodos distantes
Bem, meu amigo, já se deixaram em mim
Recuou-se
Revolto
O mar das frases, dos capítulos perdidos
Sobre náufragos e astronautas, de algum planeta Terra
Escondido sobre minhas pálpebras
Sobre sua boca, que repete o que escrevo agora
Em sua mente, ou em voz alta
As letras de um poeta sem rima
Um romance abortado nos confins de um berço
Vazio
Nunca poderia escrever um romance
Me falta o tempo da palavra
Me falta o tempo
Tempo da alma
Alma em pedaços


De algum terraço
Uma moça me espia na janela
Eu sorrio pra ela
Nunca poderia escrever um romance
Pois, não tenho você
Poeta que está dentro de mim
Você se perdeu
N'algum de meus oceanos mentais
E agora, fiquei com as frases sem rima
Dissabores do mesmo tempero
Fagulha apagada da mesma vela
A iluminar seus ruivos cabelos
Em alguma lua de prata
Ou apenas ilusão
De um terraço que em que vejo
Pássaros na revoada

Voa, voa palavra
Escreve o poema sem rima
Avisa o náufrago de sua sina
Alerta o astronauta os perigos do vazio
Que dali, em meus períodos distantes
Dali escrevo meu romance
Já não mais sabendo entre eu, e a biografia
Recua
Recuo
Volta
Volto
Mar de oceanos de mim
Céu de você, que me lê

---
E na severidade, o místico entrou sobre os palácios da Terra, onde os doutores diziam serem a própria Lei. No seu lado sombrio, todo o oceano das amarguras das infindáveis rotinas, dos velhos amigos aos poucos abraços, um pouco de si, ainda aluminado, caminhava, em solo de fúria, por um vale de ois e tchaus nas lágrimas dispersas na chuva. Voa, pássaro, voa e tenta, pois é o que lhe resta

---
Sendo
Um lágrima na chuva
Adeus, eu mesmo.

sábado, 11 de agosto de 2018

Sábado mais um Tomás o gato e raposa

O gato
Bichano, rabo pelúcia
Entre minhas pernas
Sumiu
Entrou em alguma dimensão
Escondida embaixo da mesa

O segui
E lá vi, entre aquela cadeira e papéis velhos
Um mundo inteiro de coisas, uma corrente inteira de minérios
Prontos a serem lapidados
Como jóias escondidas na pedra da mina:
Uma carta minha de quando criança
Uma velha foto que caíra da escrivaninha
Uma lapiseira buscada faz tempo
Pequenas coisas, pequeno universo
Da carta, havia apenas algo, entre os erros de português
"Deus, me dê força imaginar pro mundo inteiro ver"
Assinava uma criança cheia de sonhos
Dentro de algum adulto que agora, passados os 20 anos
Via na foto caída da escrivaninha, outra pessoa
Que também fizera promessa
Porém, entre a nostalgia salgada de mar e a fotografia
Timbrada de nó na garganta
Uma lapiseira, olha ela
Escrevia e tinha ainda ponta!
Ponta de uma lança, ao qual o papel há de respeitar
E nela, andante cavaleiro
De cavalo ou navio, veleja no mar da frase
Numa tarde, noite, de sexta-feira, dos 20 anos depois

E de um gato por inteiro, memórias que trouxe
Pensei ser ele mágico ou feiticeiro
Apenas queria comida, aquele fuleiro
Tomás, meu caro amigo Tómas
O gato que viaja minhas memórias em passeio

---

Entre tantos leões faceiros
Digníssimos de seu próprio cabelo
Entre as tartarugas refugiadas em seus próprios canteiros
Munidas de sua caça ao próprio dinheiro
Até alguns ratos, sentindo o que podem de todo cheiro
Ou serpentes a engolir veneno fofoqueiro
Uma raposa, uma raposa ruiva de rabo cumprido
Não tão boa quanto outra
Não de barriga cheia de galinha como aqueles
Está lá, espreitando as montanhas, sondando os vales nebulosos
E perguntando, perguntando sempre
Com um faro, ora falho, de lá pra cá
Toda a alma, meu senhor, não é pequena?

terça-feira, 5 de junho de 2018

Terça de 26 um terço

Não lute com o seu passado, ele sempre vence. Tente conversar, o quanto a aguentar o seu espírito

---
Tristeza
De ser quem tu és, de estar onde não está
De nada ver em seus anos que
Punhados de areia perdidos
Entre atos e omissões
Nada a mais
Tudo a menos
Contudo algo, entre símbolos e poemas loucos
Reside, resiste
Neste corpo de vinte e tantos
Tão poucos, tão tantos
Anos.
Parabéns, poeta perdido em seu tempo.

---
Alguns lutam e ficam nas sombras, para outros brilharem

sábado, 28 de abril de 2018

Sábado Solidão

"Te amo, meu amigo
Mas, eu não me amo"

---
Cada vez mais, meus passos me perseguem pelas ruas
Perguntando quem sou
Respondo que eu era
E eles apenas aceitam, com o eco do passado


Os passos que já não tocam o solo
Mas, cantam melodia d'outrora
Som da memória

Me caçam pelas ruas,
Me toca em cada solo
Em rostos que procuro na multidão
Cheiros que contaram outros perfumes
Noites em que já não era mais tão frio

É a caçada eterna
Da memória
Perseguindo meus passos, que me perseguem
Cada
Passo

----
É pela lança de alguns heróis que realizo a aventura moderna
De dormir em confortável cama,
alimentar daquilo que nem crio
Apenas ideias funestas e sonhos perdidos
De um mundo de muito possível, pouco real
Mas, nas armas da fantasia existe algum sono
Algum momento de sonho
Algum caminhar sem se mexer
A tela apaga
A música termina
E teus olhos voltam ao normal


No final, todos somos estranhos em sermos tão normais
E patéticos

---
Compreender cada passo
Como o último
Que coisa estranha, ele sempre é
Pois, é perdido
Andando errante pela cidade
Vendo a paisagem do campo
Minha janela de espaçonave
É da condição humana demandar, perder
Perder-se


Encontrar-se, as vezes, em algum ato misterioso de outro
É nele que vejo o que posso ser
E por inveja ou carinho, o que quer sejam
Ah, me perco!
Mais um pouco
Entre cada um daqueles pequenos passos
Guardado em algum canto do Universo
Vazio, sem ânimo e furioso
Mas, único verso
Passo.

---m

domingo, 15 de abril de 2018

esfinge

O poema se perdeu na rua 
ele se perdeu enquanto olhava para a cara da esfinge
ela me gritava e me puxava pelos olhos, cada pálpebra
pequenos riscos de fogo
o som que saia da minha boa, já não mais voz
meu coração batia, não era sangue
líquido frio
estava frio e zonzo, estava ali
mas, não estava 
Pro inferno, podia dizer
mas, meu espírito já não aguentava
já não estava
e cada penhasco que é cada rua movimentada
via apenas o ônibus pra se lançar
os olhos da esfinge me equilibravam
entre tortuosos de tontura 
a lembrança de si 
a escravidão de si 
o poeta se perdeu em alguma rua 
entre versos ridículos, de métrica falida e aquele beijo engasgado 
ele estava lá, lhe dei a mão 
ele não me vira 
era fantasma que arranhava

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Fragmentos 4



O que tenho é pouco. O que ofereço é muito
Não tenho nada que valha a pena
Pois, a alma não é pequena;
Não a tenho
Não tenho alma
Tenho espírito.

Move o real, não a ideia, não o verbo.


-----
O que o gato Tobias mais desejava era beijar a luz da lua. Pena a luz não ser dela, mas emprestado de outra. Ah, vis astronomias! Pobre Tobias, este poeta empobrecido de amor


-----

Astronauta de prata, escondeu o coração de ouro
Entre seus cachos
E voa entre as galáxias, cheias de medo, esperança
E estrelas

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Fragmentos 5

O que é um amigo pra você? Uma mão caridosa? Uma espada justa que usa das palavras pra te mostrar a Verdade das coisas? O que é um verdadeiro amigo, além daquela companhia que te faz ver um pouco mais com clareza as treva do mundo, mostrando que, as vezes, é apenas uma noite esperando pelo sol nascente

====
Existem tesouros que não estão escondidos em ilhas, mas, no coração das pessoas. Quando encontro com eles, posso chamá-los de amigos, amores ou mesmo, de colegas de uma conversa na hora certa. Não perca a oportunidade de amá-los na medida que precisam, não deixe de cantar sons para eles ou admirar suas pinturas, pois, uma vida vendo a beleza neles já vale a pena


====


A alegria maior do mundo é estar contigo, pequena
Gigante é o mundo escondido entre
Você e eu
Porém, nele cabe apenas a distância de um abraço
De um olá
De um tudo o mais que está
entre aqui e lá
Pois, se um espírito está perdido
Cabe algum guia ajudar


Pode se perder mais, podemos
Pode terminar por completo, é o que acontece com o que começa
Pode queimar o sol e apagar as estrelas? Talvez, isto a Física explica
Mas, não fique na potência do quase
Pois, do quase a vida está cheia de pequenas coisas
E desculpas, e restos de nós mesmos
Com 30 anos você olha pra trás
Com 60 você olha pra trás
Com 18 você olha pra trás
Finge olhar pra frente?
Pra que, olhe para o lado.
Faça das montanhas de pedras no caminho
Seu castelo

Se os bárbaros vierem, lute
===

A paz está naquilo que se está fazendo
No que completa, não repleta
Nem repete
Naquilo que está, que firma meus pés no chão
E me deixa navegar pelas Universos dos outros



quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Escrevendo e 'poemizando'

Escrever e fazer poemas não te torna romântico ou alienado, apenas diz que você gosta de escrever e se expressar assim. Em um mundo racional, ver o espectro estético, literário ou fantástico do mundo não reduz, apenas é uma visão diferente com forças e fraquezas em algumas áreas; viver é viver com os anos e escolhas em nossas coisas, vê apenas por poucas vistas torna-nos escravos de nós mesmos, presos a utopia do que poderíamos ter sido: não o somos, não seríamos ou fomos, o mundo é concreto e nos esmurra, pode nos forjar apenas no mundo das idéias ou nos músculos do emprego que pegou no dia-a-dia, ou apenas poderíamos contar estórias... Entretanto, quando se vê o brilho de um leitor, de um poema e música criado por você dando sentido ao que quer que seja no outro, forcemos a nos observar aquelas concretudes além delas, sublimar ou pouco a vida cotidiana naquele tenro momento de beleza, busque isto e não se sinta alienado, apenas está combatendo com uma espada de lâmina forjada na alma do mundo.

domingo, 26 de novembro de 2017

Pensamentos de Domingo 2

O segredo dos teus olhos, é a maré que eles me trazem

-------
As pessoas escolhem umas as outras
Mentira e bobagem esta coisa de afeto distribuído, como sorrisos bom dia
Você escolhe amores,amigos, inimigos
O lugar onde estou é o lugar onde caio, já dizia o velho grisalho
Então não venhas com insinceras despedidas desculpas, abraços omissões
Escolhemos com quem choramos e sorrimos
Com os olhos manhã,
O resto, meu amigo, é consequência
O nada, e o tudo.

------
Não posso deixar de amar algumas pessoas
Mas, isto não exclui o ódio, raiva e tédio
Amor não elimina as coisas ruins da vida, isto é paixão
E é uma doença
Amor deixa tolerável

sexta-feira, 20 de outubro de 2017



Poesia é a minha doença mental.
Encontre a sua pra culpar
Se não lhe interessa, não olhe
Se não lhe agrada o ritmo, não escute
Se te cansa, não exista


Tolero minha presença por questão prática
Pratico poemas por receita médica
D'eu mesmo enquanto Doutor
Não é cult, erudito ou escritor
É fuga, sinfonia do silêncio, exprimir no trecho
O que você sente na vida
É parafrasear o infinito
Na minha vida parca e perdida
Poesia é um ato de resistência
Minha amiga se chama Melancolia
Se seus sonhos são felizes
Agradeça a e eles e agradecerei a minha

Pois, a doença ainda é minha
Única amiga

domingo, 13 de agosto de 2017

Sobre Poetizas

"O amor romântico é, ao que parecem, uma criação masculina. Observo isto na poesia: é muito difícil encontrar uma poetiza ou força artística que se devote eminentemente a ideia de amor romântico, trata-se mais de formas de enxergar o relacionamento; aonde o lugar comum enxerga a mulher como sentimental, talvez ela seja a verdadeira potência racional, fria e calculadamente do amores. As poetizas, focadas em sua maioria no existencialismo, política ou poema-concretos apenas me dão algumas provas disto. Não trata-se do "macho com superior no amor", trata-se de visões diferentes, talvez os poetas tenham apenas uma idealização do amor para o seu gênero mais antiga ou com profundas diferenças daquela feminina, talvez os príncipes tenham sido criados pelos sapos."

sábado, 12 de agosto de 2017

Outros

Outros
São a porta entre o eu e o você, entre aquele
E nós, entre tudo e tudo um pouco
É a visão do outro que tentamos, em vão
Encaixar em nossas cabeças
Entretanto, os olhos são dos outros
O inferno são eles
E eu, por ora, inferno sou
Outro de você mesmo
Olho no espelho e vejo você
Mas, já é outra
Coisa, inferno
Apagado, escrevo na soleira da porta
Esperando que anjo não venha a noite
Levar m'alma
Porém, já não preciso mais olhar no olho d'outro
E se aquele vier me buscar
Pelos de peito aberto poderia, uma pouca e última vez
Imaginar o que teria sido
Ver a mim mesmo
Como outro que nunca fui
As vezes, precisamos ser
O espelho de nós mesmos


quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Caçando rouxinóis


Eu não conheço os rouxinóis
Apenas sei que há várias araras
Em minha mente
Aonde penduro ternos toda a semana
Pavão misterioso
Da madrugada não dita
Não vivida
Da imagem não pintada
Do quadro de aquarelas
Tão vívidas
Que acalentam a lembrança
Freud diria: Achou sua mãe? Está com seu pai?
Fora Ilíadas do Cientista Psicólogo
Até onde vai o seu ato
De escutar os pássaros do mundo
Pensando que você é maior que eles
Que tens domínio sobre o que podem fazer
Um dos vôos da humildade
É saber que o outro é
E nunca tantos livros formaram tantas bibliotecas
Filmes passaram em tantas telas
Séries tocaram tantas músicas
Quanto o fato disto:
Sou a prisão de mim mesmo
O que posso fazer, além de
as vezes, fazer um Castelo?
Enxergarei das nuvens ele... Saberei isto?
Não, estamos presos dentro dos espelhados olhar
D'outra humanidade

domingo, 4 de junho de 2017

Aniversário 2017

Hoje completo 25 anos
Um quarto de século
Uma vida de parábola
Uma volta de Saturno no Sol
Um poema de Camões preso


Hoje completo um quarto de vida
Sem nunca roubar aquele beijo
Sem nunca viver mais de uma vez
Um desejo
Sem dedicar naquilo que já não creio
Sem dar uma volta naquele
Quarteirão desconhecido


Parece-me ruim a ideia disto
?
Das incompletudes de ser
Mas, será que podemos nos completar
Um dia?
Ou a vida seria, misteriosamente,
Realizações de quartos?


Abraços, poemas, beijos. desejos, sistemas, canções, textos, imagens e palavrões]
Na incompletude destas algumas
Vidas in/completas
(25/5/2017)

quarta-feira, 15 de março de 2017

Olhar parede

o mundo é uma macha vazia de tinta
que tinha
nos lábios da palavra não dita
um último affair de humanidade
eu a perdi, quando fiquei a fitar aquela parede
e gritar
morra cientista
morra escritor
morra poeta (...)
mas, a palavra era silenciosa
e seu sonho estava morto
bem-vindo a vida adulta, eles dizem
leia auto-ajuda, tenha filhos
um emprego e dinheiro
rebele-se contra o mundo numa faculdade, na internet
ou qualquer coisa brega destas
-Hm,
disse a voz na minha cabeça
você sabe que eles estão errados e que você tem a força dentro de si, não?
-Sei, mas, também sei que isto pode ser mentira
-E se for?
-Se for, estarei fazendo minha reclamação nas portas do tempo
-Então, lhe mostrarei o caminho amanhã
dormi, acordei e a voz não me deu o endereço
porém, a parede estava lá
e os sonhos perdidos não param de te perseguir
se não tem mais pernas
deixe eles apenas lá, quietos, que se calam
mas, a parede vai permanecer lá
(EE)

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Um barco posto na praia

Um barco posto na praia
É assim que ele se vê, é assim que ela se vai
A estrela que brilha última da manhã pra virar novo dia, d'onde o sol nasce
É nisto, que se resume agora: dia que não é mais dia, apenas sol que levanta
Baixa
porém, não para
Porque ainda estamos aqui, ainda estou aqui
Visualizo fotos, vejo imagens, pinturas antigas, nada tenho pra contar aos detetives
Que se tornaram meus amigos e parentes
Apenas que nada existe mais, nem dor
Ela vem numa pontada as vezes, uma agulha, seca e áspera
Algo assim, algo que chamam de saudade
Mentira, ninguém que ter saudade disto
E o barco continua na praia, esperando
E eu aqui, com um nada preenchendo aquele lugar na mesa
No sofá
No cinema
No berço
porém, não para
Os anos passam, a vida passam, hoje tenho Felipa e Manuel, amo todos
Mas, engana-se quem diga: amor é coisa boa
Amamos também as coisas que jamais tivemos, ou aquelas que apenas por um breve
momento, apegamos
Jamais vejo aquele barco no mar novamente, ele pode estragar sua madeira, se dela
Não fosse feita minha memória
Visito o túmulo de meu filho(a) hoje
E pra ti não desejo isto nunca
Virou minha frase cheia de fel, aos desavisados com falso consolo
Pois, aos que entendem, sabem o que dizer:
que aquele barco da praia no dia que nascer não continuou a pescar, não sai.

sábado, 29 de agosto de 2015

Ninguém precisa 1

Inguém precisa de poemas de amor
Ninguém precisa mais de poemas
Apenas você precisa
De motivos para viver
Entre o fim dos sonhos adolescentes tolos
E a juventude contestadora
Entre o sonho da média-idade
E a passividade do vida adulta
Entre os riscos de se ter um infarte de quarentão
E aquela dor nas costas que só aumenta quando as crias vão para a faculdade, o bicho de estimação adoece
Mas... E...
Então você fica velho, dependente e morre
E diz pra mim que o pessimismo é algo errado
Entre não permite que sejamos tristes e sermos realmente tristes, no que diz busca de ser feliz
Estão aquelas bobagens que dizem:
-Vá atrás dos seus sonhos, do que você gosta
Então, quando você está sentado em uma cadeira e tem o momento de lucidez único que as vezes
Repete-se
Ninguém precisa mais de poemas de amor
Pois, os sonhos estão mortos, pois, sempre temos que tê-los para ter algo
Para depois
Quando morrermos?

Pega-pega

As vezes me pego...

Eu sei que você gosta disto

eu sei de você

sobre você
mas, estou atrás da porta

te olhando sobre os olhos
e quando menos pensar que não estou mais lá
estarei, sobre você

mas, você não me deixa terminar um único poema

antes que me pegue e me beije

e cale as palavras

que ainda não disse

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Poema número 5

Ela permanece
Quem?
Ela ficava me olhando ali, enquanto lia a primeira edição de "Origem das Espécies"
Ela permanece ali, me olhando volúpia com os olhos da serpente de cabeça redonda
Ali, permanece olhando quase que em cima da parede, eu me lembro
Ela estava lá, quando passei numa rua de luz da lua
Lá, na esquina, me esperando de vestido verde da esperança
Quando passei pelo sorveteiro e deu nó na garganta
Estava ali, comendo sorvete na cara de outra ou de outro, ali, gulosa como a gargantua
Ela permanece, eu não conseguia achá-la
Acordei, numa manhã bem cedo, busquei ela numa compota de doce
Mas, não, ela não estava lá, porém, permanecia
Não lembrava mais seu nome, mas, a minha barba continuava a crescer e ficar com
Pelos grisalhos
Não olhava mais pra ela, mas, ela permanecia ali, toda a olhada no espelho
Olhar escapava pelo canto em busca dela, no meu ombro
Mas, não, ninguém estava lá, porém, ela permanece
Te odeio consciência, mente e lembrança opaca
Pois, há toda a luz que meu cérebro de macaco dá, vinte e cinco escuridões
Volúpias, risonhas e me olhando com olhos verdes nas paredes
Surgem
E ali, permanecem, ali
Porém, eu não estou mais. Quando passei a fugir delas, me entreguei ao bom combate
Acabou. Ninguém mais permanece
Se foram comigo, me levaram no pé da cama, de mansinho, com beijinho
Agora, eu permaneço em você.



(Escher)