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sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Curitiba é

Curitiba é...
O silêncio e alguma angústia. Temos aqui um Kierkegaard em Kafka, uma cidade poderosamente que é seu tempo e clima, como muito de nosso vício brasileiro em Geografia, mas que nega o vazio de heróis com uma certa atitude irônica, um certo brejeiro, uma bruma nas estações... Um verão de chão português que cega, uma primavera de maneirismos e flores importadas, um outono louco, um inverno apaixonado e sempre esperado e esperançoso, de neve.
Em fumaça da boquinha, amarelo iluminado. Somos de amarelo, postes amarelos, sorrisos amarelos, uma certa hepatite do tio da esquina, para além da Curitiba Perdida - cada bairro e vila, um mister de rigor.
Linhas rigorosas em cada rua, curvas, morrinhos ao norte, rios ao sul, serra ao leste, campos à oeste.
Curitiba abarca um certo cosmos de nada, mas um nada de tédio, um certo domingo de café. Ela é uma xícara de café coado e vaporzinho de inverno iluminado, pelo poste amarelo e, claro, umas araucárias presas por aí, na cadeia urbana.
Curitiba é tudo que tenho, ou tive, é um lar desesperado, porém disposto a uma diversidade, mesmo e por nós sermos conservadores. Conservamos o blasé, uma certa tecnologia da ironia, um antifolia e utopia que é difícil medir, mas que sempre ali esteve, tirando uns momentos de alardia ou alergia.
Curitiba é minha Königsberg não no coração, mas no passo, este jeito de andar desconfiado, do polaco caboclo enluado.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Teoria Blondiana da Moral

  (veja o filme, não veja o final só!)

Primeiro, isto é um exercício, não é e não será por muitas décadas um exercício de Filosofia, nem de Sociologia, muito menos da Político-economia que se pratica na Humanidade baseada nas Potências dos indivíduos ora perdidos numa coletividade caduca, ora elevados a condição de sábios de um Destino que lhes é aplicado.
 Logo, início meu argumento dizendo que esta teoria se baseará não em um livro, nem em um autor, nem mesmo em um texto de letras, mas, em um filme: Três Homens em Conflito (Il buono, il brutto, il cattivo), de Sérgio Leone, dos anos sessenta do século XX, calendário de Cristo. Não estou inventando a roda ou algo do gênero, pois, não escrevo novidade nem uma interpretação fora do meu contexto caduco, porém, não posso deixar de realizá-la nem dela ser minha, em um sentido de Nietzsche de indivíduo e obra, porém, mais no que posso chamar de "minha condição individual" interpreto a moral humana que fui confrontado até agora em três pontos, condições, categorias (ou não), gêneros, sexos, diferenças.
 Ponto 1: o ser humano cria diferenças, porém, qual é a origem das diferenças? Encontro assim meu primeiro tópico, o Bom. O Bom é o igualmente, o meu, o teu, o nosso. A alteridade é aqui, mesmo que haja o tal respeito antropológico (racista ou racialista, de certa feita), a visão do outro como outro, logo, ele não sou eu, logo, pressuposto, não é do Bom. O Bom não é mérito, mérito origina da Condição de alguém, não do nosso. Logo, o Bom é ecológico, forma sistemas, estruturas, categorias, epistemas (quando já velho), paradigmas (os "cientistas" de hoje gostam desta palavra hoje aqui no Brasil), ou seja, ele Mantém coisas, elementos e ideias. Ele sustenta biologicamente as coisas.
 O Mau, logo, deveria ser o contrário do Bom, não? Ele não mantém, ele é o Caos, ele desordena, é a Quebra do Paradigma, não? Ele é o Outro, o não nós?
 Não.
 O Mau é aquele que é a Mudança, porém, não é a Mudança em si, pois, esta é tão efêmera e dura tão pouco, que é quase irregistável: a História, assim, cai na condição de Falsidade? Não, mas, da ficção ela é irmã, como já dizem muitos pós-caducos hoje em dia. O Mau é uma condição abstrata, ele é virtual, ele não existe de fato, ele se adquire como uma forma determinada com certos discursos, porém, é metamorfa quando o tal objeto que-não-é-Bom modifica-se.
 "-Ora, não entendi"
 Explico: o Mau é aquele dos Olhos-de-Anjo, ele adquire a condição de Pairar sobre o espectro da Moral como em semelhança a Tentação Cristã, porém, ele tem sempre caras e bocas, ele não é para o Inferno, ele não é o que podemos chamar de Ruim, mas, ele é a Condição da Mudança, que, quando muda, passa a ser o Bom, o Novo Bom.
 Isto não é dialético, porém. Não existem expirais malucas pairando nas nossas cabeças que não sejam colocadas lá, por uma tradição Newtoniana, Galiléica, Zaratrusta (não a do alemão bigodudo), o Mau pode ser discernido do Bom porque eu posso dizer que ele não é a nossa ideia, nosso estilo, nossa tribo, nossa economia-modelo, porém, ele de fato não é nada, é uma Condição. Talvez, o Mau seria a Utopia? Não sei, o sonho é por si só ficção, porém, não posso dizer que o Mau seja Utopia, mas, que a Utopia pode estar no Mau.
 O Feio, ponto 3.
 Finalmente, o que condiciono, aquilo que eu doto de alto. Você é baixo, você é um cachorro! Você é bonito, feio, lírico. O Feio condiciona as coisas através de Mecanismos do Bom, porém, sempre com a Presença do Mau: com o Feio, eu entendo os outros dois - pois, logo que o Bom Permanece, o Mau é Presente e, ambos, são condicionados pelo Feio.
 O ato de dar o sentido, não só cognitivo, nem sensitivo, nem biológico, é fruto de várias discussões do hoje em dia deste texto, vários ditos têm sobre isto, porém, nenhum que ainda possa dotar o humano por causa da Condição Individual do Feio: ele é aquilo que dota algo de si mesmo, logo, as coisas não são dotadas por si mesmo de algo. Então, como existe Mau e Bom? Pois, isto nada tem de condição ou funcionamento mecânico. Nós, desde que fazemos coisas com pedras lascadas, bambu e naves espaciais, sempre precisamos da mecânica da "Condição leva a Efeito", não, isto não possui uma Lógica neste argumento que apresento (neste trecho), pois, a questão de se dotar algo pela questão do Feio, não está em ritmo com colocar a letra A leva até a letra B, o Feio é aquele que, de fato, condiciona os elementos, Bom e Mau, a agirem em certa medida, porém, o Mau, o Bom e o Feio existem uma interdimensão dificilmente não intercalada, dificilmente, não categorizante ou divisora que não anule a existência de duas, ou mesmo, das três.


sábado, 11 de maio de 2013

Filosofia em Contos: Ehi amico... c'è Kant, hai chiuso

Enquanto ele punha seu chapéu de três pontas, caminhava entre as árvores da floresta temperada da sua pequenina cidade, ao qual, nunca havia saído, ao qual, o mundo lhe revelava de uma forma mais pura e sensível que todas as coisas.

Então, dentro daquela enorme floresta ao qual se perdeu na busca de morangos para uma torta que sua tia iria lhe fazer, em comemoração pela entrada na Universidade, Emanuel encontrou uma justa dama de seios fartos à chorar num rochedo:

- O que e pelo que chora, bela dama?

-Choro porque sou pura pelo mundo que não é, seus sentimentos poluem-me, não posso mais respirar... Minha pequenina espartilhada mantém meus ares dentro de mim, mas, não posso-lhes mais conter, não posso conter-me mais, não me compreendo mais!

-Calma, jovem dama da pele branca, pelo que precisa? Qual tua graça?

-Sou tudo o que está em volta de você, eu sou aquilo que tudo vê e o é, porém, aquilo que é mister aos olhos dos impuros...

-O Pecado?

-Não... Não existo num mundo em que você reside, existo em outro, sob você, sobre seus pés...

-Como? –Agitou Emanuel em seu chapéu, sentiu algo muito maior atrás de si, virou-se e viu: outra dama, de vestido azul, como Urano, vi com olhos muito azuis que quase eram negros

-O que faz aqui, irmã de tudo?

-Eu? Irmã de eras, eu choro!

-São irmãs? – Perguntou Emanuel

-Sim, eu sou a que era e ela a que estava, - respondeu a de azul que chegara -Mas, porque chora, minha irmã? Este cego lhe fez algo?

-Não, ele é amável, mesmo que isto seja repugnante, mas, amável ele o é...

-Como cego? – Perguntou Emanuel – Eu vejo tudo que está na minha frente!

-E é por isto, - disse a de Azul – que você é cego, confiando na sua própria visão, ela é parca e pequenina, sem poder captar minúcias, sem o Verdadeiro Sensível

-Como??

-Sim, belo rapaz – disse a moça que chorara – Seus olhos apenas apreendem aquela parca luz que emitem do sol e das estrelas, apenas com isto, não pode fazer nada mais que uma onda batendo no grande oceano das coisas

-Mas... Eu passei nos Altos Estudos, vocês são apenas mulheres e...

A Dama de Azul apontou o dedo e, em um piscar, a barba branca brotou e as peles e membros antes rígidos, de Emanuel, decaíram por terra, ele se tornou uma massa de pele e ossos idosa. Em dois momentos, voltou, assustado, disse:

-O que é isto???

-É o que sou, o que pode ver e sentir, sou o que era! Tudo que foi! – Disse a dama de azul

-... – Assustado e sem palavras, Emanuel sabia que aquilo não era nada de divino, apenas algo que não poderia compreender com seus sentidos normais...

-Meu jovem belo, entende que você pode me ajudar??? Tenho medo...

-Como? Eu? Um homem?

-Sim, ele é um homem, não cabe a ele, doce irmã – disse a moça de azul

-Mas, minha jovem dama... Como, como eu poderia ajudar vocês... Coisas, vocês... Que não entendo pelo que vejo e sinto...

-Se tu não pode, infectada por aquilo eu estarei...

Então, mesmo a empáfia da moça de azul não resistiu, ela tomou-se de terror e temor, ao ver aquele gigantesco Lobo, que fumava um charuto e tinha botas de espora. Sorria impiedosamente, enquanto, em pé e perto de uma árvore, observava as moças, com patas no seu cinto de couro.

As duas moças ficaram coladas com seus belos, voluptosos e perfeitos corpos, coladas em si, viam apenas Emanuel, junto em temor, gritar:

-Besta furiosa, quem és tu?

-Aquilo que sente, homem pequenino e meu... Dono de você, dono de tudo, não me deixe entre mim e minhas consortes... Prostitutas que me alimento de todas as formas, toda a noite, desde o início de tudo, antes mesmo de você...

Emmanuel, então, pegou um pedaço de madeira, um fino galho e tentou fazer com que estivesse armado. O Monstro riu e disse:

-O que contra eu, tudo que Sente, pode fazer? – E com uma baforada do charuto do Lobo, toda a violência de Emanuel se tornou puro temor, depois, puro amor, depois, fome, tudo misturou-se e o jovem, colorido na pele, estava nauseado pelo movimento dos sentimentos que não parava dentro dele...

Então, ela veio... E algo brotou de Emanuel, algo luminoso, algo que ele teve e gritou:

-NÃO! Besta selvagem!

A luz do seu peito se conduziu a uma lanterna e, o jovem do chapéu de três pontas, iluminou a face da besta enquanto dizia:

-Se desde o início de tudo e todos, você açoitava moças ruidosamente, se tudo o que sinto é do seu domínio, logo, tudo que Penso é Meu... E como Meu, posso iluminar teus dentes, vil criatura, iluminar tua face estúpida do Sentir pelo Sentir, e do Medo pelo Medo, Amor pelo Amor, provar que nada disto supera aquilo que digo dentro do que calculo e raciocino!

O Lobo então disse: “-Você tem Razão, jovem, agora tem a Razão que sempre teve e terá”, e sumiu entre as árvores, para sempre ferido.

Guardou a lanterna em seu casaco, e sorriu histericamente, pois, parecia ter de Toda a Vida roubado um segredo. Então, as duas moças se aproximaram dele e teceram nele um beijo em sua boca, primeiro a que Era e, depois, a que Estava:

-Como se chamam as jovens damas que para mim são perfeitas? – Disse com a face ruborizada

-Eu, a que chorava, sou o Espaço

-Eu, a que ruidava, sou o Tempo

-Nós – disseram as duas -, que agora estamos e somos, pela tua Razão, Eterna e límpida do que se Percebe, nos entregamos a ti, por toda a sua existência seremos tuas consortes.

E sumiram nas brumas da floresta.

Então, Emanuel pôs o charuto do fugido Lobo na boca, sorriu e caminhou para casa, já não mais precisava de morangos, pois, as doces frutas que a Razão lhe iluminou, mais saborosa era.