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quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Peregrino

Não, não havia mais sentido entre nossos olhares
Nada ali havia, mais que simples poeira, memórias
Pois, é de pó que somos feitos, nisto estão nossos reflexos
Perdidos no tempo, em algum tempo
Isto, uma pequena vela trêmula, a vida.
A vela se apaga, fica um cheio de pavio queimado no ar, por poucos minutos
Não mais, não menos
Porém, o ar permanecerá, o fogo iluminou a sombra
O ato perpetuará pra eternidade
A vela se apagará
A luz iluminará em outras sombras
Em outros quartos escuros
Entre outros olhares


Nós, minha querida, aqui estamos
Como velas no amanhecer sendo apagadas
Para que com o grande sol, sejamos todos iluminados.
E, mais além, para que uma luz muito maior nos transpasse o peito
Corte a sombra interior que é condição humana
Sombra ignorada pelos fracos, festejada pelos demoníacos, temida, pelos sinceros.
A vela se apaga, meu amor, como em nossos anos que passaram
Como todos os problemas enfrentados, filhos criados, casa ajeitada
Bens materiais, envelhecidos ou envernizados, também o são nossos ossos e músculos
Mas, a música permanece
O cheiro do pavio apagado
A manhã chega
O ato perpetuará em insondáveis caminhos
De mistérios sutis, ouvidos por quem possa
Abrir o coração
Ser mais que aquela vela
Apagada
Apagar-se
Peregrino no deserto, escuro e solitário
Vendo apenas outras velas
Pequeninas estrelas
Iluminar o caminho
Com o cheio da parafina
E as estrelas distantes

A vela se apagará
A luz, permanecerá.


sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

Poucos lerão

Um bom leitor, com sua experiência acadêmica e mesmo sua elevação filosófica, pode não ter nada de bom escritor. Saber como dizer algo, como um elaborado passo de dança, ou um rocambolesco verso, um filme arrastado pode, ao final do julgamento do tempo, passar como uma mera febre.
Há algo na humanidade de febril, a novidade, vence nos primeiros rounds, passando a ser uma certa ressaca, azeda e trintona, cheia de ressentimentos pelo que nunca foi, cega sobre o que é. Porém, existem escritos, que com a sorte de bons editores e que suas bibliotecas não fossem queimadas - o que dá a verdadeira Arte e Literatura certo grau de Fortuna -, que atingem algum ponto do entremeio humano, naquele ponto em que a consciência está nos passos de certa eternidade, ou mesmo que um grande monstro está se criando... É ali que reside a atemporalidade de uma obra, em captar, muitas vezes contemplativamente em biografias (mesmo de personagens), 'panfletariamente' para algum fim específico que é distorcido ou mesmo, pelo puro ato do acaso, do acidente.
Ler bem não garante a celebridade da obra, garante a libertação do leitor, são dois atos diferentes do espírito, um que se abre, outro que esculpe. Às vezes, uma imagem singela, outras, um grande palavrório rebuscado e que se torna um belo elefante de louça. Logo, sinto que existem muitos que escutam, poucos que poderão falar mais do que a sua vida ativa e madura, uns vinte anos no máximo, permitir, cabe aceitar o silêncio. A boa leitura é uma das tecnologias do silenciar-se.
E, no Silêncio, lutamos o mistério.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Amadurecimento materialista

Amadurecer me aparenta, ou talvez seja efeito de nossos dias, perder a capacidade de chorar ou sorrir por qualquer coisa. E como coisa, digo que este efeito de empedramento do deslumbre se foca nas pessoas - e até em alguns casos, saudáveis, nas instituições -, mas, geralmente no círculo íntimo: vamos ficando com poucos amigos, vamos nos fechando na família, para aquelas que tem a felicidade de encontrar uma companhia amorosa, e não mais rimos ou choramos por qualquer coisa que alguém faça, não o ato em si da pessoa, mas sim o que nós pensamos deste ato.
Amadurecer é ficar mais íntimo de si, ver seus erros e, na maioria dos casos, lembrar mais destes do que dos acertos - ao qual, geralmente nos pensamentos religiosos pregam um agradecimento, no entanto, como não é chique hoje falar de religião (ou em uma dimensão espiritual), é considerado tolice -, transformando-nos em um efeito reflexivo gigantesco. Poucos passos não são dados sem as dores do passado, ou, minimamente as feridas do mesmo, se quando jovens não formos apresentados à aventura, a capacidade de batalhar - não o que hoje se chama de resiliência, ou, teimosia e falta de educação, na maioria dos casos -, tendemos a uma inércia.
Amadurecer, é emocionar-se com si mesmo, com o efeito do mundo externo que é produzido em nós: já não escutamos uma música, lembramos de algo com ela, já não rimos de uma piada (menos as de gags físicas), correlacionamos com uma situação que aconteceu em nossas vidas, não buscamos outros pontos de vista ou entender o outro, buscamos ver o outro pelo nosso prisma. Não nos movemos nem para imaginar que a outra pessoa existe, ela nos parece algo produzido, quando não achamos que o problema é nosso, apenas colocamos o outro em uma cápsula de raiva, ou é apenas um filho-da-puta.
Amadurecer é ser mais rígido, principalmente consigo, pensar mais em si, lembrar de si. Porém, não me aparenta isto ser um efeito contra a bondade ou a caridade, não, é um efeito da vida, de nossas feridas. Não poderia reduzir os efeitos da idade ou das vivências apenas à palavra amadurecer, porém, posso dizer que cada vez mais vejo esta amadurecimento se tornar, para além do pensamento em si, algo que chamo de um "projeto materialista". Tudo se compõe de acumular ou objetos, ou "vivências" (turisticamente falando) ou contas.
A isto se trata viver sendo "realista" como dizem, se fechar em si, nos efeitos que me produz algo, e dentro deste espaço diminuto em que eu existo, apenas me focar nas obrigações (familiares, de saúde, de trabalho, de administração do lar), ou seja, restritivas, naquelas das vivências, ou seja, àquelas ou socialmente aceitas como que agregam na memória, seja uma viagem, um namoro não usual, um desafio esportivo, etc., dadas como agregadoras ou cumulativas, e, finalmente, a acumulação de objetos, relatados aqui de forma larga, sejam pessoas, sejam coisas inanimadas, seja mesmo dinheiro, seja, finalmente, o status (a "coisa de ser alguém", "ser o fulano de tal", "doutor nisto e aquilo"), resultando em um efeito "possibilista", ou permutativo - emprestando um termo que ouvi na contabilidade -, isto é´, estes objetos se prestam a serem trocados externamente a nós, para que possamos nos "realizar", mais e mais, porém, sempre de uma forma temporal, sempre nesta vida.
Assim, a maturidade também traz, contraditoriamente, um grau de incerteza, ao qual, me parece, vai diminuindo com o tempo, talvez, na velhice e senilidade, períodos aos quais preciso ainda meditar. Se esta curva de incerteza aumenta até o momento de nossas doenças de ansiedade e depressão, não posso dizer, o vazio psicodinâmico é poderoso hoje e isto talvez tenha efeito nesta questão. Me restrinjo, neste comentário-ensaio, a dizer sobre o amadurecimento (dado hoje) como pensar-em-si, após os sofrimentos, um endurecimento do coração, e um acúmulo de restrições, agregados positivos e de meios, ou permutas, tudo em uma perspectiva que me faz muito lembrar da meta utilitária, da felicidade.
Queiram me perdoar a delonga, bom dia.

domingo, 7 de outubro de 2018

Nietzsche ou como o niilismo é o romance desgraçado

Imagine-se como um jovem, nascido em um momento da história humana jamais visto, aonde as conquistas do ser humano vão de observar os altos céus e construir aparelhos jamais operados ou imaginados. Porém, a miséria está por toda a parte, a desigual e degradante situação de alguns poucos miseráveis se compara ao interior dos homens, jogados às traças em sua força, condicionados à rotina, enfraquecidos. Sua força vem sendo paulatinamente retirada por instituições, o Estado, as igrejas e mesmo a cultura, copiada de outros países, já não nos responde mais nada... Estamos em estado terminal, gritamos por algum socorro, já ninguém nos escuta, aquilo que podia nos ouvir, já jaz morto.
Matamos Deus, ele não pode mais nos ajudar.
E como forma de compensar esta perda, este motocontinum que já não mais existe, começamos a nos juntar, servilmente, uns aos outros... E esta aglutinação, damos o nome de sociedade. Um enfraquecer as das pernas e músculos cerebrais, um outro nome para a derrota, é precisarmos do coletivo.
Não, ser este ser gregário, fraco e piedoso não era o que os antigos fariam, não. Aqueles que andaram por todos os continentes, exploraram terras que jamais foram vistas, com pouco mais que pedras e lanças, estes não adoravam deuses que podiam ser mortos, não, estes não eram apenas mais um na marcha da História... Havia algo ali, algo que nos foi consumido por esta estoica fé cristã. Algo que nos dava força e norte, nossa própria potência, nossa capacidade de transcender pelo cultivo da festa na amargura, a dança na morte, o combate no inevitável, mesmo que para fim algum.
Não, não há de certo um fim da história, a realização utópica é, no pior dos casos, apenas nossa força interior, nós podemos enquanto Eu. Mas, não apenas um Eu com todos, um SuperEu, que contemple-me enquanto tudo que eu possa realizar para dominar este mundo. Nesta Terra, voltada aos furacões e gélidas montanhas, mesmo em toda a selva de bestas selvagens ou desertos escaldantes, sempre haverá homens dispostos a transpor, a atravessar este Rio Caronte, porém, sem barqueiro, ele será o barqueiro.
Na água da História sem destino, não há estrada, há apenas um círculo, um eterno retorno de tudo isto, minha vida nasce miserável, vivo-a conforme a dança e as tradições, morro-a. Futuros pensadores dirão algum devir inexpugnável.
NÃO!
Supere a sua autofagia da rotina, se supere sendo a Montanha! Seja a própria força, pois, à força de tudo e sempre, em todas as épocas históricas, a minha busca e a sua, se ver honestamente os seus desejos primários, antes de sua educação que o enfraquece com regras de elegância, é o Poder. A potência, a própria superação de si, esta é nossa razão, faça sendo, aja e existirá, pois, não há motivo para isto no final de tudo, apenas agora, apenas neste momento, apenas um ideal morto, porém não mais estéril como o divino, há apenas, o realizar-ser.
O Supremo Senhor de Si, será aquele que transpor-se nesta trágica estrada e governar, tudo. O todo seu.

...
Assim, encontrei este trecho em um pequeno diário de meu avô, Joaquim. Ele não morreu na guerra, como contava sempre. Ele não morreu enquanto andava, na sua viagem rotineira pelas manhãs e fins de tarde, indo e voltando no seu trabalho nas lojas Departamentos no Centro da cidade. Não morreu quando enterrou Alípia, minha avó, nem mesmo quando viu o país perder a Copa e jurou nunca mais torcer por nada.
Joaquim morreu esta semana, em casa, dormindo. Era uma pessoa extraordinária, tinha amor pela vida... Uma força dentro de si, porém, um amor ao seu destino, que ele não me transmitiu, infelizmente... Vejo as coisas escritas aqui, me dão náusea.
Não existiu um caminho tão glorioso, talvez não mais existirá... Como foi com meu avô Joaquim. Tudo é palavra hoje, o homem se fez verbo, não mais existe gente nesta Terra, ao qual o sonho de potência, já se enterrou como pó de alguma estrela. Porém, ainda posso tentar, como ele, viver o melhor que puder, superar-me... É, farei isto.
Amanhã, falarei com Catarina, amanhã, levarei o cão a passear e começarei a ler meus livros da faculdade atrasados... Amanhã serei eu novamente e, quem sabe, poderei ser mais que eu!
Amanhã, serei livre!
E a força dentro de mim se renova, o ciclo da História quebrado, por uma simples busca de superação deste corpo, deste instinto gregário, que ajunta bobos e dançarinos... SIM! Dançarei! Como os servos de Pã, como uma bacanal, dançarei neste meu estado deplorável de ser, eu, mas, caminharei intensamente... Buscarei ser, Joaquim, para além dele, para além de mim.

...
E, então, Prometeu acordou de seu sonho.
Ainda estava preso, porém havia levado o fogo ao homem.
A águia lhe comia o fígado, mas, havia iluminado a visão de todos.
Já não havia mais apenas frio, o calor do sangue da tecnologia.
Técnica se tornou romance, e o romântico apertava os parafusos.
Do robô niilista que se tornou.
E, num futuro não muito distante, com um coração de um Replicante.
O caçador de androides se perguntava:
-O que sonham, as ovelhas elétricas?
-Com Joaquim - respondeu Nietzsche.


quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Felicidade pilantra

Estar feliz é momento
É conquistar aquele sorriso
Dentro de você mesmo
Simples existir, já completo
Estar feliz é ser feliz, não há outro caminho
É estar naquela paz, mas, mesmo assim
Aventurar-se entre galáxias, mares, montanhas
Abraços, beijos e doces, ou coxinhas
É você, Proust, com aquela doce história dum infinito
Que logo acaba
Mas, é eterno enquanto dura
E vale mais no próximo e menos que o antigo
Estar feliz
Por simplesmente andar, passear e conversar
É ver a vida enquanto estamos vivos
Não há muito de filosofia dura e rígida de sistemas e estruturas
É filosofar com o que se tem e
É
Estar e ser
Feliz
Conjugado naquele mesmo momento
Em que você, torna-se um pouco de mim
Eu-no-mundo
Eu-estando


sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Não somos importantes

"Não somos importantes, ninguém é de fato no cosmos, porém isto não tira a chance de podermos colocar algum esforço em tratar ao máximo bem algumas pessoas, pois, se no fim só há pó, mesmo se lá não existir nada, pelo menos alguém passou e teve alguma ajuda de nós mesmos. Viver apenas na necessidade de si mesmo não é egoísmo, a vida está nos outros também, pois não temos certeza se ela está em nós, mas a vemos nos outros, nas coisas belas e ações com alguma bondade e generosidade; ao mal a resposta é fácil, simples, da vingança ao que alguns praticam como piedade, é ao bem, a se esforçar pelo outro, mesmo que próximo, o que é justo, que se configura algum nível de potência.
A força em si mesma não importa, porque no final todos não importamos de fatos no Universo, pois, é evidente, o Todo não nos dá valor, é o pouco, o pequeno, o outro que o pode. E se eles não são cuidados, perdem-se no esquecimento, no Vazio entre tudo e todos, entre o ontem e o acumular dos anos, vazios, arrependidos e não mais jovens." (Emil Haddaward)

domingo, 15 de outubro de 2017

Manifesto do Homem-Fragmentado



Verdade Essencial

Busque você a sua Verdade Essencial, já encontrei ela na forma de jovens e impetuosas estrelas, na forma de bruxas da floresta telúricas, na forma de mestres das altas montanhas, de calculistas amáveis e viajantes conquistadores de novas brisas. Eu mesmo estou a forjar a minha, ao que parece, a trilha da batalha de nós contra nós mesmos é a mais sofrida, a mais difícil e aparenta acharmos poucos que compartilham das aparências que temos para nós mesmos nesta forja do auto-conhecer.

Eu sou eu mesmo enquanto fragmento, entre Lobos Solitários, Doutores de série de tv, Supernovas, Sábios e Burros. Várias formas e jeitos, máscaras e atuações me são possíveis porque a mim é revelada esta Verdade, e aqui eu a trilho como Caminho que se faz na Jornada de viver. Sua dupla natureza é tanto cinética, mover-se, andar, aí está o Caminho que eu faço, quanto da Jornada em si, misteriosa, cheia de consequências e impropérios, porém, ainda aqui, permaneço me sustentando mais pela curiosidade do que amor próprio.

Eu sou eu enquanto Homem-Fragmentado, cada peça, atuação, cenário e dia vão se montando e me revelando várias coisas. Sou conta o Superhomem, sou contra a Graça Pia e O Homem Bom por Natureza, somos em conjunto maus e mesquinhos, Patolinos querendo ser Pernalongas, neste Faroeste da Urbanidade, vemos os outros em Bons, Maus e Feios, entre a Ética, Moral e Estética.



Este é o Manifesto do Homem-Fragmentado e fragmentando-se, busque você, filosofi-se, qual é tua Essência, homem, mulher, humano? Finda-se em Aparência?

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Homem Fragmentado

Em um limiar aonde a Esperança
se encontra apenas a Misantropia.

O machado que corta a si mesmo
E dois, em vários
Eu sou um como o Homem Fragmentado.

domingo, 23 de novembro de 2014

Sobre a Nostalgia da Lua

Em um mundo de tantos sonhadores e pragmáticos, é única a certeza de que a visão de que não temos mais tempo de vida se sobrepôs ao que fazer da vida.
A dúvida, percorre todo o corpo do humano moderno. O humano é moderno porque não é contemporâneo, ele não passa pelos olhos nostálgicos que buscam algo mais nem por sua rotina rígida e fixa do nascer e procriar


Meia Noite em Paris (Midnight in Paris) por filmow

A dúvida, logo, é o fato do humano moderno, desde que descobriu que havia vários com a mesma dúvida entre a nostalgia e a rotina, esta última foi a primeira, armada das máquinas e da urbanização dos anos 1900. Ela transformou o espaço e a atividade agrícola em citadinos e organizados para a produção, porém, isto apenas é parte do processo, em geral, você para na questão das indústrias, de como o capital e o social dominaram toda a mente, mas, não é apenas isto, é o contato que me vale a pena.
 Imaginemos a Lua, a Lua é a Mãe da Nostalgia e o Sol é o Pai da Rotina, uso pai e mãe, homem e mulher, mas, isto é pequeno, não é para ser levado como sexista ou algo assim, apenas alegoria, claro. Voltemos a Lua, ela é um Contato forte, parece que nossos eventos passados, que criam Eras Passadas, a infância, aburrecência, o casamento, etc., criam uma Imagem Mental - ou melhor, um Filme Mental - que concorda com vários de nós, mesmo de culturas e tempos diferentes. Ficamos ligados à este contrato espiritual da Lua, da Nostalgia do que passou, mesmo que vivemos estritamente pragmaticamente, pelo Sol (ao qual discuto em outro texto futuro), ainda assim estaremos ligado dentro do aspecto ou de uma das Potências humanas que considero mais importantes: a Memória.
A Memória é muito dita na História e em outras Ciências Sociais, pouco importa as academias, se elas não se valem da busca das verdades de cada um, mas de forjar a sua verdade imperial, porém, a verdade da ciência é para ela a sua Memória, isto que a fez dominar o mundo, imperialmente hoje, diferente da Reflexão que é pontual e casual, da Religião que é excludente do não-fiel, mas confortante, a Ciência bebe da fonte do Método e o Método é definido por sua própria acumulação, ou seja, sua Memória, porém, quem é cientista não é nostálgico, pois a acumulação de sua forma de conhecimento constrói o novo conhecimento, sua rotina é permanentemente ligada ao passado e isto não é nostalgia. Não se pode saborear aquilo no que se está preso, a Liberdade é o primeiro prazer, o segundo é Se prender de novo.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

A Beleza é um momento...

"A Beleza é um momento interessante na vida humana, é algo que posso dizer ser o reconhecimento de uma certa felicidade, pois, aquele instante, o justo delírio causado por aquilo que te fez ver o belo, pode ser guardado em sua cabeça por décadas, séculos, anos à fio. Pois, não vemos a idade das coisas que nos atingiram no coração, vimos o nosso sentimento, ali, naquela coisa: uma música que materializa um choro, um filme que representa uma época de nossas vidas, uma foto que guarda um amor, a Beleza é isto, um momento trancafiado. E em nossa era, aonde da Física até toda a história ou conto tem como foco o Tempo, ou melhor, como não temos tempo, o momento proporcionado pelo Belo me parece algo digno... Alguns podem dizer que admirar-se com algo é escapar da tal Realidade, única, indivisível e intensa, porém, não acredito nisto! E recomendo que você desconfie! Se o Tempo e a Realidade fossem as mesmas coisas, se vivêssemos exatamente o que o relógio ou nossa agenda diz, nos sentiríamos completos, como um livro... Não caia, por favor, no erro que a Biologia nos deu: não somos apenas coisas que nascem, crescem, reproduzem e morrem, tente aproveitar algo belo durante o processo, ou tenha certeza que tentou" ("Pisica mea, Diana și Luna", Leona Zori)

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Teoria Blondiana da Moral

  (veja o filme, não veja o final só!)

Primeiro, isto é um exercício, não é e não será por muitas décadas um exercício de Filosofia, nem de Sociologia, muito menos da Político-economia que se pratica na Humanidade baseada nas Potências dos indivíduos ora perdidos numa coletividade caduca, ora elevados a condição de sábios de um Destino que lhes é aplicado.
 Logo, início meu argumento dizendo que esta teoria se baseará não em um livro, nem em um autor, nem mesmo em um texto de letras, mas, em um filme: Três Homens em Conflito (Il buono, il brutto, il cattivo), de Sérgio Leone, dos anos sessenta do século XX, calendário de Cristo. Não estou inventando a roda ou algo do gênero, pois, não escrevo novidade nem uma interpretação fora do meu contexto caduco, porém, não posso deixar de realizá-la nem dela ser minha, em um sentido de Nietzsche de indivíduo e obra, porém, mais no que posso chamar de "minha condição individual" interpreto a moral humana que fui confrontado até agora em três pontos, condições, categorias (ou não), gêneros, sexos, diferenças.
 Ponto 1: o ser humano cria diferenças, porém, qual é a origem das diferenças? Encontro assim meu primeiro tópico, o Bom. O Bom é o igualmente, o meu, o teu, o nosso. A alteridade é aqui, mesmo que haja o tal respeito antropológico (racista ou racialista, de certa feita), a visão do outro como outro, logo, ele não sou eu, logo, pressuposto, não é do Bom. O Bom não é mérito, mérito origina da Condição de alguém, não do nosso. Logo, o Bom é ecológico, forma sistemas, estruturas, categorias, epistemas (quando já velho), paradigmas (os "cientistas" de hoje gostam desta palavra hoje aqui no Brasil), ou seja, ele Mantém coisas, elementos e ideias. Ele sustenta biologicamente as coisas.
 O Mau, logo, deveria ser o contrário do Bom, não? Ele não mantém, ele é o Caos, ele desordena, é a Quebra do Paradigma, não? Ele é o Outro, o não nós?
 Não.
 O Mau é aquele que é a Mudança, porém, não é a Mudança em si, pois, esta é tão efêmera e dura tão pouco, que é quase irregistável: a História, assim, cai na condição de Falsidade? Não, mas, da ficção ela é irmã, como já dizem muitos pós-caducos hoje em dia. O Mau é uma condição abstrata, ele é virtual, ele não existe de fato, ele se adquire como uma forma determinada com certos discursos, porém, é metamorfa quando o tal objeto que-não-é-Bom modifica-se.
 "-Ora, não entendi"
 Explico: o Mau é aquele dos Olhos-de-Anjo, ele adquire a condição de Pairar sobre o espectro da Moral como em semelhança a Tentação Cristã, porém, ele tem sempre caras e bocas, ele não é para o Inferno, ele não é o que podemos chamar de Ruim, mas, ele é a Condição da Mudança, que, quando muda, passa a ser o Bom, o Novo Bom.
 Isto não é dialético, porém. Não existem expirais malucas pairando nas nossas cabeças que não sejam colocadas lá, por uma tradição Newtoniana, Galiléica, Zaratrusta (não a do alemão bigodudo), o Mau pode ser discernido do Bom porque eu posso dizer que ele não é a nossa ideia, nosso estilo, nossa tribo, nossa economia-modelo, porém, ele de fato não é nada, é uma Condição. Talvez, o Mau seria a Utopia? Não sei, o sonho é por si só ficção, porém, não posso dizer que o Mau seja Utopia, mas, que a Utopia pode estar no Mau.
 O Feio, ponto 3.
 Finalmente, o que condiciono, aquilo que eu doto de alto. Você é baixo, você é um cachorro! Você é bonito, feio, lírico. O Feio condiciona as coisas através de Mecanismos do Bom, porém, sempre com a Presença do Mau: com o Feio, eu entendo os outros dois - pois, logo que o Bom Permanece, o Mau é Presente e, ambos, são condicionados pelo Feio.
 O ato de dar o sentido, não só cognitivo, nem sensitivo, nem biológico, é fruto de várias discussões do hoje em dia deste texto, vários ditos têm sobre isto, porém, nenhum que ainda possa dotar o humano por causa da Condição Individual do Feio: ele é aquilo que dota algo de si mesmo, logo, as coisas não são dotadas por si mesmo de algo. Então, como existe Mau e Bom? Pois, isto nada tem de condição ou funcionamento mecânico. Nós, desde que fazemos coisas com pedras lascadas, bambu e naves espaciais, sempre precisamos da mecânica da "Condição leva a Efeito", não, isto não possui uma Lógica neste argumento que apresento (neste trecho), pois, a questão de se dotar algo pela questão do Feio, não está em ritmo com colocar a letra A leva até a letra B, o Feio é aquele que, de fato, condiciona os elementos, Bom e Mau, a agirem em certa medida, porém, o Mau, o Bom e o Feio existem uma interdimensão dificilmente não intercalada, dificilmente, não categorizante ou divisora que não anule a existência de duas, ou mesmo, das três.


sábado, 11 de maio de 2013

Filosofia em Contos: Ehi amico... c'è Kant, hai chiuso

Enquanto ele punha seu chapéu de três pontas, caminhava entre as árvores da floresta temperada da sua pequenina cidade, ao qual, nunca havia saído, ao qual, o mundo lhe revelava de uma forma mais pura e sensível que todas as coisas.

Então, dentro daquela enorme floresta ao qual se perdeu na busca de morangos para uma torta que sua tia iria lhe fazer, em comemoração pela entrada na Universidade, Emanuel encontrou uma justa dama de seios fartos à chorar num rochedo:

- O que e pelo que chora, bela dama?

-Choro porque sou pura pelo mundo que não é, seus sentimentos poluem-me, não posso mais respirar... Minha pequenina espartilhada mantém meus ares dentro de mim, mas, não posso-lhes mais conter, não posso conter-me mais, não me compreendo mais!

-Calma, jovem dama da pele branca, pelo que precisa? Qual tua graça?

-Sou tudo o que está em volta de você, eu sou aquilo que tudo vê e o é, porém, aquilo que é mister aos olhos dos impuros...

-O Pecado?

-Não... Não existo num mundo em que você reside, existo em outro, sob você, sobre seus pés...

-Como? –Agitou Emanuel em seu chapéu, sentiu algo muito maior atrás de si, virou-se e viu: outra dama, de vestido azul, como Urano, vi com olhos muito azuis que quase eram negros

-O que faz aqui, irmã de tudo?

-Eu? Irmã de eras, eu choro!

-São irmãs? – Perguntou Emanuel

-Sim, eu sou a que era e ela a que estava, - respondeu a de azul que chegara -Mas, porque chora, minha irmã? Este cego lhe fez algo?

-Não, ele é amável, mesmo que isto seja repugnante, mas, amável ele o é...

-Como cego? – Perguntou Emanuel – Eu vejo tudo que está na minha frente!

-E é por isto, - disse a de Azul – que você é cego, confiando na sua própria visão, ela é parca e pequenina, sem poder captar minúcias, sem o Verdadeiro Sensível

-Como??

-Sim, belo rapaz – disse a moça que chorara – Seus olhos apenas apreendem aquela parca luz que emitem do sol e das estrelas, apenas com isto, não pode fazer nada mais que uma onda batendo no grande oceano das coisas

-Mas... Eu passei nos Altos Estudos, vocês são apenas mulheres e...

A Dama de Azul apontou o dedo e, em um piscar, a barba branca brotou e as peles e membros antes rígidos, de Emanuel, decaíram por terra, ele se tornou uma massa de pele e ossos idosa. Em dois momentos, voltou, assustado, disse:

-O que é isto???

-É o que sou, o que pode ver e sentir, sou o que era! Tudo que foi! – Disse a dama de azul

-... – Assustado e sem palavras, Emanuel sabia que aquilo não era nada de divino, apenas algo que não poderia compreender com seus sentidos normais...

-Meu jovem belo, entende que você pode me ajudar??? Tenho medo...

-Como? Eu? Um homem?

-Sim, ele é um homem, não cabe a ele, doce irmã – disse a moça de azul

-Mas, minha jovem dama... Como, como eu poderia ajudar vocês... Coisas, vocês... Que não entendo pelo que vejo e sinto...

-Se tu não pode, infectada por aquilo eu estarei...

Então, mesmo a empáfia da moça de azul não resistiu, ela tomou-se de terror e temor, ao ver aquele gigantesco Lobo, que fumava um charuto e tinha botas de espora. Sorria impiedosamente, enquanto, em pé e perto de uma árvore, observava as moças, com patas no seu cinto de couro.

As duas moças ficaram coladas com seus belos, voluptosos e perfeitos corpos, coladas em si, viam apenas Emanuel, junto em temor, gritar:

-Besta furiosa, quem és tu?

-Aquilo que sente, homem pequenino e meu... Dono de você, dono de tudo, não me deixe entre mim e minhas consortes... Prostitutas que me alimento de todas as formas, toda a noite, desde o início de tudo, antes mesmo de você...

Emmanuel, então, pegou um pedaço de madeira, um fino galho e tentou fazer com que estivesse armado. O Monstro riu e disse:

-O que contra eu, tudo que Sente, pode fazer? – E com uma baforada do charuto do Lobo, toda a violência de Emanuel se tornou puro temor, depois, puro amor, depois, fome, tudo misturou-se e o jovem, colorido na pele, estava nauseado pelo movimento dos sentimentos que não parava dentro dele...

Então, ela veio... E algo brotou de Emanuel, algo luminoso, algo que ele teve e gritou:

-NÃO! Besta selvagem!

A luz do seu peito se conduziu a uma lanterna e, o jovem do chapéu de três pontas, iluminou a face da besta enquanto dizia:

-Se desde o início de tudo e todos, você açoitava moças ruidosamente, se tudo o que sinto é do seu domínio, logo, tudo que Penso é Meu... E como Meu, posso iluminar teus dentes, vil criatura, iluminar tua face estúpida do Sentir pelo Sentir, e do Medo pelo Medo, Amor pelo Amor, provar que nada disto supera aquilo que digo dentro do que calculo e raciocino!

O Lobo então disse: “-Você tem Razão, jovem, agora tem a Razão que sempre teve e terá”, e sumiu entre as árvores, para sempre ferido.

Guardou a lanterna em seu casaco, e sorriu histericamente, pois, parecia ter de Toda a Vida roubado um segredo. Então, as duas moças se aproximaram dele e teceram nele um beijo em sua boca, primeiro a que Era e, depois, a que Estava:

-Como se chamam as jovens damas que para mim são perfeitas? – Disse com a face ruborizada

-Eu, a que chorava, sou o Espaço

-Eu, a que ruidava, sou o Tempo

-Nós – disseram as duas -, que agora estamos e somos, pela tua Razão, Eterna e límpida do que se Percebe, nos entregamos a ti, por toda a sua existência seremos tuas consortes.

E sumiram nas brumas da floresta.

Então, Emanuel pôs o charuto do fugido Lobo na boca, sorriu e caminhou para casa, já não mais precisava de morangos, pois, as doces frutas que a Razão lhe iluminou, mais saborosa era.