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segunda-feira, 23 de setembro de 2019

A Geografia como Descoberta

 Venho aqui trazer um pequeno texto sobre algo grande, algo que não terminará a disciplina geográfica, porém, se apresenta como a redução atualizada de meus pensamentos sobre a mesma, depois de uma graduação e da aplicação da visão-geográfica pelo mundo a fora. Só nesta frase inicial, apresento o à-fora e a visão-geográfica, dois aspectos de minha estrutura, aos quais, porém, talvez um dia exemplifique de forma mais condizente.
  A Geografia enquanto um gradiente re-ordenado de operações realizadas para se transmitir um certo aspecto do De Fora, isto é, sempre tem algum fundo de linguagem tensionada ao real concreto: quando estou sobre uma paisagem que conheço, quando desejo ir a um lugar, mesmo que nunca irei no mesmo (mesmo em romances), ou quando não há desejo, mas, obrigação social de estar presente em dado momento (o que chamo de obrigação cronológica, ou cronotropia). Para este aspecto do que sei, ou do que sabemos, posso chamar e dou o seu primeiro nome de Radical e de Mapa-cenário
No primeiro, e o uso de forma a lembrar certamente Ortega y Gasset, existe algo de incontornável, e esta característica é fundamental: existe uma pedra, todo o meu sistema sensível e minha intuição e razão o fazem vê-la, não poderei atravessar aquela pedra, aquela coisa-objeto (e aqui me distancio do espanhol e fico confortável em ser coisista grego, pois foi deste coisismo que advém todo a Ciência Natural, curiosa sobre as coisas mortas). Porém, para fora daquilo que meu corpo não contorna, tem de enfrentar - logo, viver radicalmente é batalha -, existe a demanda de minha vontade, do desejo ou opinião, ao qual projeto ou tomo como projeto sobre o aspecto de um cenário. Este cenário me é dado e pode ser exemplificado em um mapa, logo, chamo de Mapa-cenário para diferenciar a ideia, pois não me surgiu par ordenado e a língua me limita, nestas horas da noite, a diferenciar melhor. Para um cenário, entendo como o desejo de que algo concreto possa ser conformado em linhas, polígonos, planos de metas, estatísticas ou nomes técnico-científicos bonitos e acachapantes, isto é, quero - logo, vontade de querer e ser querido, seja, assim, esta definição de "volanté" oriunda através do neotomismo de Gustavo Corção, seja sob o coração dos homens, com a vontade de poder, obediência, de um De Jouvenel, Nietzsche e afins. A expressão da vontade de domínio e organização e gestão é aspecto segundo, tirando momentos muito específicos da vida humana, como em guerras ou comércio, na maioria dos casos não me preocupo com o como chegar, tirando obstáculos - como a violência urbana, o trânsito, etc. - ou até aspectos belos - como um jardim que leve minha amada, um museu com meus pais, um parque com meus filhos (logo, a beleza é sempre total, uma presença total de Lavelle, a feiura, particular) - que afetem os meus passos imediatamente. Aquele aspecto segundo do mapear, logo, não é imediato, não é da vida humana, mas, de certa ação social, com efeitos históricos alardeantes por algum historiador, e que se traduzem na representação, cartográfica, estatística e mesmo literária (àquela mais próxima da vida concreta - e nisto, de certa forma me aproximo da fala de Olavo de Carvalho e do livro de Éric Dardel da importância da literatura -, devido à tragédia, comédia, drama, ou seja, seu meio de escrita, que é bem melhor que a esgrima do papel milimetrado do técnico); assim o ato de representar algo geograficamente demanda uma tradução para o futuro, do passado em vista de nossa limitada área condicional e ativa do presente, sempre tomado aqui como primordial, radical, seja com minha influência de Gasset ou de Lavelle. Tal tradução se dá, em vistas de minha leitura de Vilém Flusser, sobre certa demanda dos sistemas de necessidades sociais e da vontade do sujeito, sua organização, ao que chamo de "formação do mapa", demandaria outro texto meu (se é que voltarei no assunto geográfico).
  Deste longo parágrafo, uma tormenta para todos, já que não me limito a ter piedade de leitores (sou um "jovem-velho"), advém certas questões e palavras que são incontornável, querer e representação, para isto eu chamo do primeiro aspecto, do que sei ou virei a saber, do Cogito. Porém, existem mais dois aspectos que refleti, agora, nesta madrugada, que a Geografia se preocuparia: o ignóbil e o incógnito.
 Sobre o ignóbil, é todo aquilo inarticulado, presente no mundo, logo, a Geografia é sempre referente à um mundo - mesmo imaginário, ainda terá ligação com o incontornável, como uma representação -, que é possível de ser apreendido, porém, não possui o domínio da vontade humana, o é irreparável. Trata-se de tudo que nos chega, pelas leituras ou sentidos, que vai se perdendo, é, de fato, o esquecimento do que não importa no presente, o que passa, o trajeto - geralmente, se não encaixado naquilo que achamos Belo, raiz do fixar, do ruim, raiz do evitar, ou Útil, aspecto de fixação para o econômico. E fora do jogo de fixações e evitamentos está certamente o mundo de monstros - e esta coisa-criatura será agora importante -, mas também daquilo que vai nos ocorrendo e não guardamos, daquela série operativa que simplesmente não florescerá em nada, certamente, aí está nossa sustentação física que nos exerce o alimentar, o beber, o dormir, talvez em seu limite em ser representado, o prazer. Logo, o ignóbil é verbo, mas, apenas verbo, o que já é tudo, porém, não é percebido - ele o pode, com certeza -, mas, passa, logo, se usarmos as lentes do Tempo, o aspecto geográfico do ignóbil é passado (você passará por tudo aquilo, ao inarticulado e esquecido, mas, passará). Uma boa parte do pensar geograficamente, logo, fluindo por toda aquilo que chamam de Ciência Humana, busca erradicar o ignóbil, a Arte, busca esquematizá-lo, matizá-lo em cores e passos de dança, o aspecto ignóbil tem algo de passagem, algo de buscar o lúdico - no sentido que me traz Corção, do mito de Campbell, da sofisticação lúdica de Huizinga, do simbolismo de Eric Voegelin, presente fortemente na tensionalidade que trago neste texto -, assim, busca ser transformado em algo com sentido (palavra que tomo de Viktor Frankl) pela própria natureza humana (seja lá o que isto for, como diria um Isaiah Berlin), sendo o possível, porém, também o passado, que desemboca em nosso vazio existencial. E no par possível-passado, se dá o trajeto, o caminho, mas como um trajeto cego-surdo-mudo é a própria fonte permanente do ser humano em sua expressão no mundo, porém, é inarticulada, não está na categoria da razão ou por ser de difícil tradução, contém neste espaço a lenda, o causo, o costume, mesmo o sentimento, um lugar limítrofe. Porém, mesmo estas ferramentas me são incapazes de expressar o passado, são sempre deficientes por sua natureza, elas precisam ser deficientes, pois é a "geografização" do ignóbil, daquilo que mesmo esforçados, seremos ignorantes, porém, abertos para saber e expressar.
  Confesso que este parágrafo do aspecto geográfico do ignóbil é difícil, trata-se de texto recente, trata-se do meu agora escrito, porém, coletemos que o que temos: a Geografia do par Mapa-cenário e Radical, aquilo que chamo de Cogito (em uma piada séria com Descartes) e a Geografia do Ignóbil, do possível-passado em nossos trajetos cegos-surdos-mudos deficientes, porém, possíveis de serem fixados, evitados, mesmo que muito nos seja irreparável, poderia parar aí. Eu simplesmente poderia terminar meu texto e seria um Moderno, ser um definidor, organizador de palavas. Mas, busquei além, busque o Além. Estamos que o limite entre o ignóbil e alguma outra coisa é onde vivem os Mitos, os monólitos do tempo humano, aquilo que não se sabe a fonte, porém, que são mais fortes sendo sutis que a espada de qualquer rei - eu poderia dizer que são condições da espécie biológica, da estrutura ou da forma, se eu fosse um ateu ou do designer inteligente -, aqui não há possibilidade de história, nem mesmo há possibilidade nenhuma para o limitado humano. Na Geografia do Incógnito, tenho registros ignóbeis em contos ou grandes catedrais das religiões, ou mesmo nas limitações sociais mais básicas, em toda a fundação (e me lembro de Asimov), do instinto gregário; e é apenas pelas falas mais silenciosas que posso registrar o geográfico disto, posso fazer esquemas arqueológicos e antropológicos, posso imprimir o meu eu em canções ou simplesmente me impelir por certas atitudes morais, porém, nada é possível aqui.
 No Incógnito, não há apenas humanos, não é apenas o Cogito nem Ignóbil, mas, o jogo (sendo o lúdico disto já uma tradução) de sombras, cores, luzes, mas profundidade. A taxa de silêncio cresce ao ilimitado nesta região se comparado com Ignóbil, logo, lá é sem fronteiras, pois entende-se que teremos ali o infinito, algo parte de nossa imbecilidade em tentar conceber o infinito, claro. Lovercraft, Robert Howard me vem a mente, quando ali coloco, como limítrofe entre o possível de ser conhecido, análogo ao lúdico, o mundo dos monstros, da destruição primal, do temor, daquilo não apenas desconhecido, mas da tormenta em si dos elementos naturais, daquilo que habita nas sombras - com certa taxa de caos e entropia. A morte habita ali, morrer habita o incógnito, logo, um "espaço da morte" é mero slogan literário, pois, em si e este habitante do Incógnito é um bom exemplo de uma das características-chave desta região: é incompreensível, sempre o será, não há repetição, não existe em nós enquanto humanos, enquanto potência humana, logo, sem auxílio do ilimitado de Deus, uma transcendência pessoal do incógnito. Poderia chamá-lo de mistério, mas o próprio mistério já nos é a mensagem, já é a única voz que advém dali, ou melhor, de lá, do Altíssimo, isto é, Alguém que é mais que o incógnito, que o impossível de saber. Se neste ponto do texto, o leitor vir com ranger de dentes e choros sobre religiosidade, ou sobre como um cristão é limitado - apesar de considerar que os islâmicos, budistas e hinduístas me compreendam -, ou qualquer coisa do gênero, recomendo que aqui me responda o quanto possível que a própria estrutura de realidade do leitor não se limite apenas ao ignóbil e o que ele diria dos monstros em sua vida, pois, eles podem até não terem presas ou qualquer característica ficcional, podem apenas ser um julgamento de que as coisas dão errado na vida ou qualquer bobagem limitada de psicologia, porém, prefiro pensar na profundidade e na minha própria limitação, não só não minha, como sua e de toda a humanidade, seja lá o que isto for, no que se refere que todo este "pode" sobre o incógnito já seja este escritor tentando expressar o inexpressável. Se o milagre existe, se o monstro existe e se Alguém está conosco, cabe a cada um sua língua e responsabilidade por ela. O que não poderíamos saber, aquilo que nos está posto e será misterioso para o sempre, ainda está.
 Se algo está, pode ter sua Geografia, mesmo que esta se limite as fronteiras do Incógnito e do Ignóbil, mesmo que eu só a possa lhe mostrar como Cogito, em representações, o fundamento da ação geográfica é a Descoberta do estar, dos vários "estares". Fundamentos de palavras, gradiente re-ordenado de símbolos, impressões ideológicas, patológicas, literárias ou intuitivas, a descoberta no sentido de desbravar a efetividade dos símbolos registrados para a minha vontade, pela potência do outro afim de descobrir no ignóbil nossos trajetos passados e passos futuros. E neste salto, digo que a Geografia, é descoberta, se continuarei este texto, isto já não é mais meu, mas parte do incógnito.

quinta-feira, 6 de junho de 2019

Lápide ao Sol, 27 anos

Me enterrem com o rosto
Virado ao sol
Que banhado sobre aquelas tardes
Refletiu a vida

Das estrelas que jamais morreram
Mesmo tendo sido, há tempos
Desaparecidas no espaço frio e negro
Aonde busca os homens?
Sua própria divindade
Nesta mortalidade?
Nesta múltipla estrada, de uns poucos caminhos
Mas, que será sempre feita
Das tuas pegadas
Dos teus passos, alguns dos mais dolorosos
Serão os jamais dados


Me deitem finalmente
No alto daquela montanha
Ao qual estive preso na minha filosofia
De voar por aí, nas palavras ao vento
Escutadas de seus espíritos
Num peito vazio, de mil ventos
Mil montanhas a correr atento
O lar que carrego comigo

Me deixem naquela tarde
Onde o sol aquece o rosto
Já calvo e antigo em 27 anos
Mas, eterno
Na transcendência da comunhão
Dos laços e do amor
Que tentou escutar
Mesmo pequeno
Mesmo fraco
Este homem que agora é d'outrora
Agora jaz em uma caveira, que mesmo ela
Jaz ao sol
Mesmo a lembrança dos amigos e amores que se vão
Que te esquecem
Permanecerão

Pois, no além navegam apenas os fortes
Que deste mundo sabem não se contentar
E, banhado ao sol
Daquela tarde nos mares de montanhas
Aceitam que a estrada só termina
Quando o sol deixa de brilhar

Me enterrem, sem epitáfio que não seja
"Banhado ao sol"


---

Hoje, conto mais um ano em minha linha

De passos frente ao abismo
Na borda desta
corrente de desespero
Equilibrista do nada interior
Com alguma coisa pro Outro
A estrela brilha e alumina, dizem
O espaço de matéria negra dentro
de si
A Terra gira, ela nunca para,
esperança de um porvir
Numa pólvora acesa de fúria,
Numa cama deitado em pavor
Nada reflete-me no espelho
Que não o vento
Frio, neste primeiro dia de sol
Numa semana insólita de chuvas
Busco a pessoa que fui numa imagem
Na frase amiga de verdadeiras companhias
Mesmo instantâneas, como a vida o é.

Somos instantes, preenchidos de infinito
E não queiramos percorrer à beira
Sem antes ver o mar do mundo
Navegar é preciso
Resistir-se, mais um dia, também
Mesmo niilista de mim, meu mundo é platônico
Mesmo emotivo, sou gélido como aço
Mesmo místico, severo comigo
A tensão, tensionar-se sem morrer
Sem matar-se
Pois, você está aberto
Se fechado, abra-se, abrace
Aquele amigo, aquela mãe, aquela amante
Ou ninguém, como eu sempre estarei
Navegando nos oceanos profundos
Aguardando e vendo o mundo
Mostrar, pandórico
O infinito a quem busca humilde
Não ser nada mais que superar-se
E ver a unidade
A consciência
A minha presença
Te abraçando agora, se sofres leitor
Compartilho contigo as lágrimas
E com elas, façamos mar de Camões
Pois, o desterro é a ordem
Dos que tem o lar no coração.


Aquieto-me nas palavras
O poema está se fechando
Completo 27 anos de Fernando Pessoa ou Augusto dos Anjos
Completo, estou vazio
O vento gélido curitibano trespassa
Cristo, em minha praça
Deus, à Ágora, calou-se
Pois, o seu reino não é deste mundo
E agradeço a Ele, nesta oração poemada

A caneta descansa, pois no peito
Um poema se lê.


domingo, 28 de abril de 2019

Tagarelice, Testamento, Escrita dentro

Cada vez mais acredito na auto educação. Exige mais disciplina e a pressão social do meio - amigos, colegas e professores - do é difusa ou diluída pelo contexto das obras de referência.

Não é apenas estudar e ler, é saber quando calar a boca e refletir, silenciosamente e consigo (se bem que as vezes parece que se topa com gente de interior vácuo), porque coisas como este mural são como amplificadores de vozes: milhões de vozes, esperneando em busca da atenção que não dispendem consigo, repetindo chavões e slogans.
Talvez esta seja apenas uma voz mal-educada, verdade, assim como isto não vai ser lido e talvez seja só esta "tara pós-moderna" com opinião, mas em alguns momentos quero ver uns vídeos de gatos ou memes normais, usar as redes sociais pra rir... Porém, realmente eu deveria ficar no silêncio, assim se ouve, mas tente aguentar a tagarelice infernal.


---

Por dentro tudo, por fora, nada.
Na tensão em ser e parecer
e sendo inútil,
me despeço nestes passos
Perdidos em algum deserto
De prédios
Sem almas abertas
Só portas trancadas
Na janela escancarada
Deste farrapo aqui
Triângulos místicos pitagóricos
Não fazem efeito
Slogans de Marx e Mises
Biografia patife de Nietzsche
Nada surte efeito
Neste rigor consigo
Misericórdia débil com outro
Imbecil coletivo
Estou sempre tido incluído
Enquanto, nenhum fármaco
De mister
Parece reduzir a dúvida
Cartesiana
Sobre onde termina meu eu
Começa o seu
Mas, indo além
Terei eu confessado em Hipona?
Terei eu os cavalos de Vontade Potente?
Terei?
Sem ter tido, sofro em ser
Reduzo à aparência
Coletando evidências
Escrevo esta carta testamento
Pretérita
Que dentro do peito não pare a guerra
Pois, a paz de, me diz Tostói
Nele está
E rogo fortaleza
Rogo por você, leitor em sua mesa
Sê diferente, sendo honesto
Com você.



---
Escrever, sem parar, em busca
Da tensão, linha presente
Numa mera aparência imprimida
Impressão do mundo
Impressa nestas palavras

Achei ser doente uma vez, pela palavra acometido
Mas, não mais
Minha doença nada tem haver com a cura
Que a escrita me traz
Sem parar
A tensão permanecerá
Entre o ser e o buscar o todo
A tensão elétrica das máquinas não irá parar
A abertura do espírito, por alguma música da alma

Posso permanecer azedo
Paralisado
Conformado, estatizado
Libertado estarei aqui
Nesta pena
Nesta pena e café
Ao meu lado, triste gato, ágora cachorro
Pássaros na janela
Sol lá fora
Assim como a lua caminha
Numa natureza
Ou na cidade-fortaleza sob meus pés
Os passos de uma escrita ilimitada
A partir da palavra indizível
Indescritível
Que é viver
Vivo impresso
Impreciso
Na tensão, sem parar
Escrever, é lutar
Dentro de si, pros outros.

domingo, 7 de outubro de 2018

Nietzsche ou como o niilismo é o romance desgraçado

Imagine-se como um jovem, nascido em um momento da história humana jamais visto, aonde as conquistas do ser humano vão de observar os altos céus e construir aparelhos jamais operados ou imaginados. Porém, a miséria está por toda a parte, a desigual e degradante situação de alguns poucos miseráveis se compara ao interior dos homens, jogados às traças em sua força, condicionados à rotina, enfraquecidos. Sua força vem sendo paulatinamente retirada por instituições, o Estado, as igrejas e mesmo a cultura, copiada de outros países, já não nos responde mais nada... Estamos em estado terminal, gritamos por algum socorro, já ninguém nos escuta, aquilo que podia nos ouvir, já jaz morto.
Matamos Deus, ele não pode mais nos ajudar.
E como forma de compensar esta perda, este motocontinum que já não mais existe, começamos a nos juntar, servilmente, uns aos outros... E esta aglutinação, damos o nome de sociedade. Um enfraquecer as das pernas e músculos cerebrais, um outro nome para a derrota, é precisarmos do coletivo.
Não, ser este ser gregário, fraco e piedoso não era o que os antigos fariam, não. Aqueles que andaram por todos os continentes, exploraram terras que jamais foram vistas, com pouco mais que pedras e lanças, estes não adoravam deuses que podiam ser mortos, não, estes não eram apenas mais um na marcha da História... Havia algo ali, algo que nos foi consumido por esta estoica fé cristã. Algo que nos dava força e norte, nossa própria potência, nossa capacidade de transcender pelo cultivo da festa na amargura, a dança na morte, o combate no inevitável, mesmo que para fim algum.
Não, não há de certo um fim da história, a realização utópica é, no pior dos casos, apenas nossa força interior, nós podemos enquanto Eu. Mas, não apenas um Eu com todos, um SuperEu, que contemple-me enquanto tudo que eu possa realizar para dominar este mundo. Nesta Terra, voltada aos furacões e gélidas montanhas, mesmo em toda a selva de bestas selvagens ou desertos escaldantes, sempre haverá homens dispostos a transpor, a atravessar este Rio Caronte, porém, sem barqueiro, ele será o barqueiro.
Na água da História sem destino, não há estrada, há apenas um círculo, um eterno retorno de tudo isto, minha vida nasce miserável, vivo-a conforme a dança e as tradições, morro-a. Futuros pensadores dirão algum devir inexpugnável.
NÃO!
Supere a sua autofagia da rotina, se supere sendo a Montanha! Seja a própria força, pois, à força de tudo e sempre, em todas as épocas históricas, a minha busca e a sua, se ver honestamente os seus desejos primários, antes de sua educação que o enfraquece com regras de elegância, é o Poder. A potência, a própria superação de si, esta é nossa razão, faça sendo, aja e existirá, pois, não há motivo para isto no final de tudo, apenas agora, apenas neste momento, apenas um ideal morto, porém não mais estéril como o divino, há apenas, o realizar-ser.
O Supremo Senhor de Si, será aquele que transpor-se nesta trágica estrada e governar, tudo. O todo seu.

...
Assim, encontrei este trecho em um pequeno diário de meu avô, Joaquim. Ele não morreu na guerra, como contava sempre. Ele não morreu enquanto andava, na sua viagem rotineira pelas manhãs e fins de tarde, indo e voltando no seu trabalho nas lojas Departamentos no Centro da cidade. Não morreu quando enterrou Alípia, minha avó, nem mesmo quando viu o país perder a Copa e jurou nunca mais torcer por nada.
Joaquim morreu esta semana, em casa, dormindo. Era uma pessoa extraordinária, tinha amor pela vida... Uma força dentro de si, porém, um amor ao seu destino, que ele não me transmitiu, infelizmente... Vejo as coisas escritas aqui, me dão náusea.
Não existiu um caminho tão glorioso, talvez não mais existirá... Como foi com meu avô Joaquim. Tudo é palavra hoje, o homem se fez verbo, não mais existe gente nesta Terra, ao qual o sonho de potência, já se enterrou como pó de alguma estrela. Porém, ainda posso tentar, como ele, viver o melhor que puder, superar-me... É, farei isto.
Amanhã, falarei com Catarina, amanhã, levarei o cão a passear e começarei a ler meus livros da faculdade atrasados... Amanhã serei eu novamente e, quem sabe, poderei ser mais que eu!
Amanhã, serei livre!
E a força dentro de mim se renova, o ciclo da História quebrado, por uma simples busca de superação deste corpo, deste instinto gregário, que ajunta bobos e dançarinos... SIM! Dançarei! Como os servos de Pã, como uma bacanal, dançarei neste meu estado deplorável de ser, eu, mas, caminharei intensamente... Buscarei ser, Joaquim, para além dele, para além de mim.

...
E, então, Prometeu acordou de seu sonho.
Ainda estava preso, porém havia levado o fogo ao homem.
A águia lhe comia o fígado, mas, havia iluminado a visão de todos.
Já não havia mais apenas frio, o calor do sangue da tecnologia.
Técnica se tornou romance, e o romântico apertava os parafusos.
Do robô niilista que se tornou.
E, num futuro não muito distante, com um coração de um Replicante.
O caçador de androides se perguntava:
-O que sonham, as ovelhas elétricas?
-Com Joaquim - respondeu Nietzsche.


domingo, 15 de outubro de 2017

Manifesto do Homem-Fragmentado



Verdade Essencial

Busque você a sua Verdade Essencial, já encontrei ela na forma de jovens e impetuosas estrelas, na forma de bruxas da floresta telúricas, na forma de mestres das altas montanhas, de calculistas amáveis e viajantes conquistadores de novas brisas. Eu mesmo estou a forjar a minha, ao que parece, a trilha da batalha de nós contra nós mesmos é a mais sofrida, a mais difícil e aparenta acharmos poucos que compartilham das aparências que temos para nós mesmos nesta forja do auto-conhecer.

Eu sou eu mesmo enquanto fragmento, entre Lobos Solitários, Doutores de série de tv, Supernovas, Sábios e Burros. Várias formas e jeitos, máscaras e atuações me são possíveis porque a mim é revelada esta Verdade, e aqui eu a trilho como Caminho que se faz na Jornada de viver. Sua dupla natureza é tanto cinética, mover-se, andar, aí está o Caminho que eu faço, quanto da Jornada em si, misteriosa, cheia de consequências e impropérios, porém, ainda aqui, permaneço me sustentando mais pela curiosidade do que amor próprio.

Eu sou eu enquanto Homem-Fragmentado, cada peça, atuação, cenário e dia vão se montando e me revelando várias coisas. Sou conta o Superhomem, sou contra a Graça Pia e O Homem Bom por Natureza, somos em conjunto maus e mesquinhos, Patolinos querendo ser Pernalongas, neste Faroeste da Urbanidade, vemos os outros em Bons, Maus e Feios, entre a Ética, Moral e Estética.



Este é o Manifesto do Homem-Fragmentado e fragmentando-se, busque você, filosofi-se, qual é tua Essência, homem, mulher, humano? Finda-se em Aparência?

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Ditadura da Ação

Ficar contente com o pouco que sou
É a única estrada que vejo
Na janela do meu ônibus
É caminho seco e áspero de mim mesmo
Busquei por certos anos a chuva e a bonança
Vi que eu mesmo não era digno
Vi que outros ao redor eram menos ainda
Me fechei
Selo-me dentro de mim mesmo
Busco não mais o Eu
Passamos da idade disto
Não busco mais a tranquilidade
Utopia muito grande
Busco, talvez, o silêncio de algumas manhãs
Busco, talvez, a dignidade do trabalho algum dia recompensado
Porém, já não tem mais o Eu ali
Não está em nenhum lugar mais
O busquei por esquinas e perguntei para várias pessoas
Elas só me respondem com perguntas sobre si mesmas
Ou deboche
A única saída, as vezes
É a violência de si contra si
A destruição da Vontade pela Razão
A ilusão pelo "agir"
Vivemos ditadura da Ação
Mas, não vejo ninguém agindo
Apenas olhando seus próprios Narcisos
Como cães de caça por si mesmos
O mundo lhes passa e nada apreendem
Apenas dúvidas e mais dúvidas sobre si
O mundo passa
Não busco mais o Eu
Ele se perdeu totalmente
Dentro da aventura de minha vida
Mesmo rotineira, bucólica e ridícula.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Teoria Blondiana da Moral

  (veja o filme, não veja o final só!)

Primeiro, isto é um exercício, não é e não será por muitas décadas um exercício de Filosofia, nem de Sociologia, muito menos da Político-economia que se pratica na Humanidade baseada nas Potências dos indivíduos ora perdidos numa coletividade caduca, ora elevados a condição de sábios de um Destino que lhes é aplicado.
 Logo, início meu argumento dizendo que esta teoria se baseará não em um livro, nem em um autor, nem mesmo em um texto de letras, mas, em um filme: Três Homens em Conflito (Il buono, il brutto, il cattivo), de Sérgio Leone, dos anos sessenta do século XX, calendário de Cristo. Não estou inventando a roda ou algo do gênero, pois, não escrevo novidade nem uma interpretação fora do meu contexto caduco, porém, não posso deixar de realizá-la nem dela ser minha, em um sentido de Nietzsche de indivíduo e obra, porém, mais no que posso chamar de "minha condição individual" interpreto a moral humana que fui confrontado até agora em três pontos, condições, categorias (ou não), gêneros, sexos, diferenças.
 Ponto 1: o ser humano cria diferenças, porém, qual é a origem das diferenças? Encontro assim meu primeiro tópico, o Bom. O Bom é o igualmente, o meu, o teu, o nosso. A alteridade é aqui, mesmo que haja o tal respeito antropológico (racista ou racialista, de certa feita), a visão do outro como outro, logo, ele não sou eu, logo, pressuposto, não é do Bom. O Bom não é mérito, mérito origina da Condição de alguém, não do nosso. Logo, o Bom é ecológico, forma sistemas, estruturas, categorias, epistemas (quando já velho), paradigmas (os "cientistas" de hoje gostam desta palavra hoje aqui no Brasil), ou seja, ele Mantém coisas, elementos e ideias. Ele sustenta biologicamente as coisas.
 O Mau, logo, deveria ser o contrário do Bom, não? Ele não mantém, ele é o Caos, ele desordena, é a Quebra do Paradigma, não? Ele é o Outro, o não nós?
 Não.
 O Mau é aquele que é a Mudança, porém, não é a Mudança em si, pois, esta é tão efêmera e dura tão pouco, que é quase irregistável: a História, assim, cai na condição de Falsidade? Não, mas, da ficção ela é irmã, como já dizem muitos pós-caducos hoje em dia. O Mau é uma condição abstrata, ele é virtual, ele não existe de fato, ele se adquire como uma forma determinada com certos discursos, porém, é metamorfa quando o tal objeto que-não-é-Bom modifica-se.
 "-Ora, não entendi"
 Explico: o Mau é aquele dos Olhos-de-Anjo, ele adquire a condição de Pairar sobre o espectro da Moral como em semelhança a Tentação Cristã, porém, ele tem sempre caras e bocas, ele não é para o Inferno, ele não é o que podemos chamar de Ruim, mas, ele é a Condição da Mudança, que, quando muda, passa a ser o Bom, o Novo Bom.
 Isto não é dialético, porém. Não existem expirais malucas pairando nas nossas cabeças que não sejam colocadas lá, por uma tradição Newtoniana, Galiléica, Zaratrusta (não a do alemão bigodudo), o Mau pode ser discernido do Bom porque eu posso dizer que ele não é a nossa ideia, nosso estilo, nossa tribo, nossa economia-modelo, porém, ele de fato não é nada, é uma Condição. Talvez, o Mau seria a Utopia? Não sei, o sonho é por si só ficção, porém, não posso dizer que o Mau seja Utopia, mas, que a Utopia pode estar no Mau.
 O Feio, ponto 3.
 Finalmente, o que condiciono, aquilo que eu doto de alto. Você é baixo, você é um cachorro! Você é bonito, feio, lírico. O Feio condiciona as coisas através de Mecanismos do Bom, porém, sempre com a Presença do Mau: com o Feio, eu entendo os outros dois - pois, logo que o Bom Permanece, o Mau é Presente e, ambos, são condicionados pelo Feio.
 O ato de dar o sentido, não só cognitivo, nem sensitivo, nem biológico, é fruto de várias discussões do hoje em dia deste texto, vários ditos têm sobre isto, porém, nenhum que ainda possa dotar o humano por causa da Condição Individual do Feio: ele é aquilo que dota algo de si mesmo, logo, as coisas não são dotadas por si mesmo de algo. Então, como existe Mau e Bom? Pois, isto nada tem de condição ou funcionamento mecânico. Nós, desde que fazemos coisas com pedras lascadas, bambu e naves espaciais, sempre precisamos da mecânica da "Condição leva a Efeito", não, isto não possui uma Lógica neste argumento que apresento (neste trecho), pois, a questão de se dotar algo pela questão do Feio, não está em ritmo com colocar a letra A leva até a letra B, o Feio é aquele que, de fato, condiciona os elementos, Bom e Mau, a agirem em certa medida, porém, o Mau, o Bom e o Feio existem uma interdimensão dificilmente não intercalada, dificilmente, não categorizante ou divisora que não anule a existência de duas, ou mesmo, das três.