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segunda-feira, 23 de setembro de 2019

A Geografia como Descoberta

 Venho aqui trazer um pequeno texto sobre algo grande, algo que não terminará a disciplina geográfica, porém, se apresenta como a redução atualizada de meus pensamentos sobre a mesma, depois de uma graduação e da aplicação da visão-geográfica pelo mundo a fora. Só nesta frase inicial, apresento o à-fora e a visão-geográfica, dois aspectos de minha estrutura, aos quais, porém, talvez um dia exemplifique de forma mais condizente.
  A Geografia enquanto um gradiente re-ordenado de operações realizadas para se transmitir um certo aspecto do De Fora, isto é, sempre tem algum fundo de linguagem tensionada ao real concreto: quando estou sobre uma paisagem que conheço, quando desejo ir a um lugar, mesmo que nunca irei no mesmo (mesmo em romances), ou quando não há desejo, mas, obrigação social de estar presente em dado momento (o que chamo de obrigação cronológica, ou cronotropia). Para este aspecto do que sei, ou do que sabemos, posso chamar e dou o seu primeiro nome de Radical e de Mapa-cenário
No primeiro, e o uso de forma a lembrar certamente Ortega y Gasset, existe algo de incontornável, e esta característica é fundamental: existe uma pedra, todo o meu sistema sensível e minha intuição e razão o fazem vê-la, não poderei atravessar aquela pedra, aquela coisa-objeto (e aqui me distancio do espanhol e fico confortável em ser coisista grego, pois foi deste coisismo que advém todo a Ciência Natural, curiosa sobre as coisas mortas). Porém, para fora daquilo que meu corpo não contorna, tem de enfrentar - logo, viver radicalmente é batalha -, existe a demanda de minha vontade, do desejo ou opinião, ao qual projeto ou tomo como projeto sobre o aspecto de um cenário. Este cenário me é dado e pode ser exemplificado em um mapa, logo, chamo de Mapa-cenário para diferenciar a ideia, pois não me surgiu par ordenado e a língua me limita, nestas horas da noite, a diferenciar melhor. Para um cenário, entendo como o desejo de que algo concreto possa ser conformado em linhas, polígonos, planos de metas, estatísticas ou nomes técnico-científicos bonitos e acachapantes, isto é, quero - logo, vontade de querer e ser querido, seja, assim, esta definição de "volanté" oriunda através do neotomismo de Gustavo Corção, seja sob o coração dos homens, com a vontade de poder, obediência, de um De Jouvenel, Nietzsche e afins. A expressão da vontade de domínio e organização e gestão é aspecto segundo, tirando momentos muito específicos da vida humana, como em guerras ou comércio, na maioria dos casos não me preocupo com o como chegar, tirando obstáculos - como a violência urbana, o trânsito, etc. - ou até aspectos belos - como um jardim que leve minha amada, um museu com meus pais, um parque com meus filhos (logo, a beleza é sempre total, uma presença total de Lavelle, a feiura, particular) - que afetem os meus passos imediatamente. Aquele aspecto segundo do mapear, logo, não é imediato, não é da vida humana, mas, de certa ação social, com efeitos históricos alardeantes por algum historiador, e que se traduzem na representação, cartográfica, estatística e mesmo literária (àquela mais próxima da vida concreta - e nisto, de certa forma me aproximo da fala de Olavo de Carvalho e do livro de Éric Dardel da importância da literatura -, devido à tragédia, comédia, drama, ou seja, seu meio de escrita, que é bem melhor que a esgrima do papel milimetrado do técnico); assim o ato de representar algo geograficamente demanda uma tradução para o futuro, do passado em vista de nossa limitada área condicional e ativa do presente, sempre tomado aqui como primordial, radical, seja com minha influência de Gasset ou de Lavelle. Tal tradução se dá, em vistas de minha leitura de Vilém Flusser, sobre certa demanda dos sistemas de necessidades sociais e da vontade do sujeito, sua organização, ao que chamo de "formação do mapa", demandaria outro texto meu (se é que voltarei no assunto geográfico).
  Deste longo parágrafo, uma tormenta para todos, já que não me limito a ter piedade de leitores (sou um "jovem-velho"), advém certas questões e palavras que são incontornável, querer e representação, para isto eu chamo do primeiro aspecto, do que sei ou virei a saber, do Cogito. Porém, existem mais dois aspectos que refleti, agora, nesta madrugada, que a Geografia se preocuparia: o ignóbil e o incógnito.
 Sobre o ignóbil, é todo aquilo inarticulado, presente no mundo, logo, a Geografia é sempre referente à um mundo - mesmo imaginário, ainda terá ligação com o incontornável, como uma representação -, que é possível de ser apreendido, porém, não possui o domínio da vontade humana, o é irreparável. Trata-se de tudo que nos chega, pelas leituras ou sentidos, que vai se perdendo, é, de fato, o esquecimento do que não importa no presente, o que passa, o trajeto - geralmente, se não encaixado naquilo que achamos Belo, raiz do fixar, do ruim, raiz do evitar, ou Útil, aspecto de fixação para o econômico. E fora do jogo de fixações e evitamentos está certamente o mundo de monstros - e esta coisa-criatura será agora importante -, mas também daquilo que vai nos ocorrendo e não guardamos, daquela série operativa que simplesmente não florescerá em nada, certamente, aí está nossa sustentação física que nos exerce o alimentar, o beber, o dormir, talvez em seu limite em ser representado, o prazer. Logo, o ignóbil é verbo, mas, apenas verbo, o que já é tudo, porém, não é percebido - ele o pode, com certeza -, mas, passa, logo, se usarmos as lentes do Tempo, o aspecto geográfico do ignóbil é passado (você passará por tudo aquilo, ao inarticulado e esquecido, mas, passará). Uma boa parte do pensar geograficamente, logo, fluindo por toda aquilo que chamam de Ciência Humana, busca erradicar o ignóbil, a Arte, busca esquematizá-lo, matizá-lo em cores e passos de dança, o aspecto ignóbil tem algo de passagem, algo de buscar o lúdico - no sentido que me traz Corção, do mito de Campbell, da sofisticação lúdica de Huizinga, do simbolismo de Eric Voegelin, presente fortemente na tensionalidade que trago neste texto -, assim, busca ser transformado em algo com sentido (palavra que tomo de Viktor Frankl) pela própria natureza humana (seja lá o que isto for, como diria um Isaiah Berlin), sendo o possível, porém, também o passado, que desemboca em nosso vazio existencial. E no par possível-passado, se dá o trajeto, o caminho, mas como um trajeto cego-surdo-mudo é a própria fonte permanente do ser humano em sua expressão no mundo, porém, é inarticulada, não está na categoria da razão ou por ser de difícil tradução, contém neste espaço a lenda, o causo, o costume, mesmo o sentimento, um lugar limítrofe. Porém, mesmo estas ferramentas me são incapazes de expressar o passado, são sempre deficientes por sua natureza, elas precisam ser deficientes, pois é a "geografização" do ignóbil, daquilo que mesmo esforçados, seremos ignorantes, porém, abertos para saber e expressar.
  Confesso que este parágrafo do aspecto geográfico do ignóbil é difícil, trata-se de texto recente, trata-se do meu agora escrito, porém, coletemos que o que temos: a Geografia do par Mapa-cenário e Radical, aquilo que chamo de Cogito (em uma piada séria com Descartes) e a Geografia do Ignóbil, do possível-passado em nossos trajetos cegos-surdos-mudos deficientes, porém, possíveis de serem fixados, evitados, mesmo que muito nos seja irreparável, poderia parar aí. Eu simplesmente poderia terminar meu texto e seria um Moderno, ser um definidor, organizador de palavas. Mas, busquei além, busque o Além. Estamos que o limite entre o ignóbil e alguma outra coisa é onde vivem os Mitos, os monólitos do tempo humano, aquilo que não se sabe a fonte, porém, que são mais fortes sendo sutis que a espada de qualquer rei - eu poderia dizer que são condições da espécie biológica, da estrutura ou da forma, se eu fosse um ateu ou do designer inteligente -, aqui não há possibilidade de história, nem mesmo há possibilidade nenhuma para o limitado humano. Na Geografia do Incógnito, tenho registros ignóbeis em contos ou grandes catedrais das religiões, ou mesmo nas limitações sociais mais básicas, em toda a fundação (e me lembro de Asimov), do instinto gregário; e é apenas pelas falas mais silenciosas que posso registrar o geográfico disto, posso fazer esquemas arqueológicos e antropológicos, posso imprimir o meu eu em canções ou simplesmente me impelir por certas atitudes morais, porém, nada é possível aqui.
 No Incógnito, não há apenas humanos, não é apenas o Cogito nem Ignóbil, mas, o jogo (sendo o lúdico disto já uma tradução) de sombras, cores, luzes, mas profundidade. A taxa de silêncio cresce ao ilimitado nesta região se comparado com Ignóbil, logo, lá é sem fronteiras, pois entende-se que teremos ali o infinito, algo parte de nossa imbecilidade em tentar conceber o infinito, claro. Lovercraft, Robert Howard me vem a mente, quando ali coloco, como limítrofe entre o possível de ser conhecido, análogo ao lúdico, o mundo dos monstros, da destruição primal, do temor, daquilo não apenas desconhecido, mas da tormenta em si dos elementos naturais, daquilo que habita nas sombras - com certa taxa de caos e entropia. A morte habita ali, morrer habita o incógnito, logo, um "espaço da morte" é mero slogan literário, pois, em si e este habitante do Incógnito é um bom exemplo de uma das características-chave desta região: é incompreensível, sempre o será, não há repetição, não existe em nós enquanto humanos, enquanto potência humana, logo, sem auxílio do ilimitado de Deus, uma transcendência pessoal do incógnito. Poderia chamá-lo de mistério, mas o próprio mistério já nos é a mensagem, já é a única voz que advém dali, ou melhor, de lá, do Altíssimo, isto é, Alguém que é mais que o incógnito, que o impossível de saber. Se neste ponto do texto, o leitor vir com ranger de dentes e choros sobre religiosidade, ou sobre como um cristão é limitado - apesar de considerar que os islâmicos, budistas e hinduístas me compreendam -, ou qualquer coisa do gênero, recomendo que aqui me responda o quanto possível que a própria estrutura de realidade do leitor não se limite apenas ao ignóbil e o que ele diria dos monstros em sua vida, pois, eles podem até não terem presas ou qualquer característica ficcional, podem apenas ser um julgamento de que as coisas dão errado na vida ou qualquer bobagem limitada de psicologia, porém, prefiro pensar na profundidade e na minha própria limitação, não só não minha, como sua e de toda a humanidade, seja lá o que isto for, no que se refere que todo este "pode" sobre o incógnito já seja este escritor tentando expressar o inexpressável. Se o milagre existe, se o monstro existe e se Alguém está conosco, cabe a cada um sua língua e responsabilidade por ela. O que não poderíamos saber, aquilo que nos está posto e será misterioso para o sempre, ainda está.
 Se algo está, pode ter sua Geografia, mesmo que esta se limite as fronteiras do Incógnito e do Ignóbil, mesmo que eu só a possa lhe mostrar como Cogito, em representações, o fundamento da ação geográfica é a Descoberta do estar, dos vários "estares". Fundamentos de palavras, gradiente re-ordenado de símbolos, impressões ideológicas, patológicas, literárias ou intuitivas, a descoberta no sentido de desbravar a efetividade dos símbolos registrados para a minha vontade, pela potência do outro afim de descobrir no ignóbil nossos trajetos passados e passos futuros. E neste salto, digo que a Geografia, é descoberta, se continuarei este texto, isto já não é mais meu, mas parte do incógnito.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Amadurecimento materialista

Amadurecer me aparenta, ou talvez seja efeito de nossos dias, perder a capacidade de chorar ou sorrir por qualquer coisa. E como coisa, digo que este efeito de empedramento do deslumbre se foca nas pessoas - e até em alguns casos, saudáveis, nas instituições -, mas, geralmente no círculo íntimo: vamos ficando com poucos amigos, vamos nos fechando na família, para aquelas que tem a felicidade de encontrar uma companhia amorosa, e não mais rimos ou choramos por qualquer coisa que alguém faça, não o ato em si da pessoa, mas sim o que nós pensamos deste ato.
Amadurecer é ficar mais íntimo de si, ver seus erros e, na maioria dos casos, lembrar mais destes do que dos acertos - ao qual, geralmente nos pensamentos religiosos pregam um agradecimento, no entanto, como não é chique hoje falar de religião (ou em uma dimensão espiritual), é considerado tolice -, transformando-nos em um efeito reflexivo gigantesco. Poucos passos não são dados sem as dores do passado, ou, minimamente as feridas do mesmo, se quando jovens não formos apresentados à aventura, a capacidade de batalhar - não o que hoje se chama de resiliência, ou, teimosia e falta de educação, na maioria dos casos -, tendemos a uma inércia.
Amadurecer, é emocionar-se com si mesmo, com o efeito do mundo externo que é produzido em nós: já não escutamos uma música, lembramos de algo com ela, já não rimos de uma piada (menos as de gags físicas), correlacionamos com uma situação que aconteceu em nossas vidas, não buscamos outros pontos de vista ou entender o outro, buscamos ver o outro pelo nosso prisma. Não nos movemos nem para imaginar que a outra pessoa existe, ela nos parece algo produzido, quando não achamos que o problema é nosso, apenas colocamos o outro em uma cápsula de raiva, ou é apenas um filho-da-puta.
Amadurecer é ser mais rígido, principalmente consigo, pensar mais em si, lembrar de si. Porém, não me aparenta isto ser um efeito contra a bondade ou a caridade, não, é um efeito da vida, de nossas feridas. Não poderia reduzir os efeitos da idade ou das vivências apenas à palavra amadurecer, porém, posso dizer que cada vez mais vejo esta amadurecimento se tornar, para além do pensamento em si, algo que chamo de um "projeto materialista". Tudo se compõe de acumular ou objetos, ou "vivências" (turisticamente falando) ou contas.
A isto se trata viver sendo "realista" como dizem, se fechar em si, nos efeitos que me produz algo, e dentro deste espaço diminuto em que eu existo, apenas me focar nas obrigações (familiares, de saúde, de trabalho, de administração do lar), ou seja, restritivas, naquelas das vivências, ou seja, àquelas ou socialmente aceitas como que agregam na memória, seja uma viagem, um namoro não usual, um desafio esportivo, etc., dadas como agregadoras ou cumulativas, e, finalmente, a acumulação de objetos, relatados aqui de forma larga, sejam pessoas, sejam coisas inanimadas, seja mesmo dinheiro, seja, finalmente, o status (a "coisa de ser alguém", "ser o fulano de tal", "doutor nisto e aquilo"), resultando em um efeito "possibilista", ou permutativo - emprestando um termo que ouvi na contabilidade -, isto é´, estes objetos se prestam a serem trocados externamente a nós, para que possamos nos "realizar", mais e mais, porém, sempre de uma forma temporal, sempre nesta vida.
Assim, a maturidade também traz, contraditoriamente, um grau de incerteza, ao qual, me parece, vai diminuindo com o tempo, talvez, na velhice e senilidade, períodos aos quais preciso ainda meditar. Se esta curva de incerteza aumenta até o momento de nossas doenças de ansiedade e depressão, não posso dizer, o vazio psicodinâmico é poderoso hoje e isto talvez tenha efeito nesta questão. Me restrinjo, neste comentário-ensaio, a dizer sobre o amadurecimento (dado hoje) como pensar-em-si, após os sofrimentos, um endurecimento do coração, e um acúmulo de restrições, agregados positivos e de meios, ou permutas, tudo em uma perspectiva que me faz muito lembrar da meta utilitária, da felicidade.
Queiram me perdoar a delonga, bom dia.

quarta-feira, 25 de julho de 2018

Quarta feira depressiva nos vales de minha alguma alma

Olho para gente ao meu redor
Vejo montanhas e oceanos
Mas, vejo apenas
Não sinto
Há apenas matéria nessa gente
Essa modernidade evoluída
Foi do fora, pra dentro e diz que dentro
Não há nada
Não mais motivos para ser você
Apenas mais um
Não apenas aceitar ser pequeno
Mas, ficar sendo pequeno
Mínimo, calado. Em seu lugar
Aceitar o que te dizem e revoltar-se
Do jeito correto, naquele ou outro
Caminho
Te chamam de burro, vagabundo
Ou romântico
E deve ficar quieto
Não existe eu, não há fora e dentro é aparente
Tudo um jogo de espelhos, prisão ou depressão
E no vale de lágrimas, a maior parte
Das mesmas coisas, do mais do mesmo
Você se aquieta, você apaga. Morre
No deserto do que os outros dizem ser correto
Errado, injusto ou até mesmo... Real
Mas, o real te bate as tripas
Te aparece nos momentos chave
Em que heróis do cotidiano
Dos feitos de pequena escala, mas de profundo toque
Dependerão de você
Então, o mundo cala
Ele não ajuda, envergonha.
O nada não serve a nada
Apenas a si mesmo
O falatório do meio, dos doutores, televisores
Alguns amores
Nada te ajudará quando o Real te demandar:
-Seja agora, ou cale-se para sempre!




Pois, quanto falatório seu espírito aguenta
Antes de virar um calado
Pó de sapato
De alguma montanha agorenta?


"A sorte favorece os audazes", li uma vez
Enquanto atravessava de navio, um canal
Perdido no tempo dos meus pensamentos.


---

Um Quixote sem escudeiro
Um homem num deserto de gente
Coberto de poeira, sua preguiça do mundo
Seus mestres, apenas trouxe decepção ou ranger de dentes
É poeta, porém ruim
É artista, porém frustrado em outros caminhos
Nada tem de muito valor
Nada fez de muita coisa
Nada fora do mundo do básico, do discreto e até fácil
Serei nada?
Talvez
Mas, sua obra pode ser apenas estender a mão
Apenas ouvir
Apenas falar o que tem de ser dito
E isto, meu caro, seus diplomas e fariseus não darão
A paciência
O silêncio respeitoso, numa modernidade que apenas
Valoriza o grito, o militar e o reagir
A ajuda é necessária e a estrutura se faz
Resistindo
Resistindo a si mesmo, ao maremoto do mundo
A fúria de si mesmo
Ao abraço que aquieta a dor do outro, mesmo que por segundos
Um cavaleiro não se faz apenas de espadas
Mas, em andar e errar
Aceitar ser errante
Lutar em combate quando mesmo o espírito se fragmenta
Em lágrimas
Em injúrias de si contra si
Continue, continue a viver
Segure mais um pouco
Sustente mais alguém, levante mais um caído
Caia, mas, ajude
Do jeito que for
Se apenas puder escutar, se apenas puder caminhar com outro
Faço-o
E seu existir, fará sentido pra ele
"Abster-se de si, enxergar o outro"
Li em um escudo uma vez, num campo de batalha
Sempre vindouro
----


Se eu pudesse dar um pequeno conselho de escrita, diria: não mate o seu narrador interior. Não permita que coisas como a escola (universalizada, ou em raros casos, em grupos fechados), os amigos ou pseudo-amigos, os jornais e especialistas - falsos ídolos de idoneidade, destruam a sua capacidade de ler e escrever o próprio mundo, seja por imagens ou figurinhas, cantando com a família ou discutindo com humor numa mesa de domingo, nos causos intermináveis. Sua vida será sua, ela pode ser uma prisão ou um castelo, pode viajar ou lutar em cada minuto, mas, é sua e responsabilidade sua, ser capaz de narrar a si mesmo e não escapar e deixar-se levar pelo falatório, demoníaco, de quem não tem nada haver contigo, mas, pensa saber mais ou que tem o direito de ordenar a vida, não te dar conselhos, mas, ordens.
Escrever um texto decente ou minimamente comunicativo, algo que nunca fiz direito, ou que evito reler por sempre achar incompleto - a vida é incompleta, e é bom que seja assim -, passa por esta capacidade de criar o que existe em uma dimensão nova, diferente. Não é pensamento, nem crença ou fé, é transmissão, é palavra, imagem, é agir no papel passivo para criar um despertar em quem lê. É contar a história ou estória viva, lançar das palavras todo o sangue e ossos, arrasar pelas frases sua ideia, suas memórias contidas e trabalhadas. Lutar, escrever é uma épica aventura de si mesmo para o outro.
E se você não observa ou sente o outro, nunca poderá escrever algo decente ou, até mesmo, falar algo que preste. Poderá fazer outra coisa, várias coisas, o mundo é diverso e pleno de várias atividades, porém, narrar algo, não serás capaz de fazer, talvez em outro momento, quem sabe? Quando seus olhos abrem e você vê aquilo que está fora, poderá escrever sobre o que está dentro e narrar a mínima folha caindo entre o Céu de infinitos grãos de estrelas, como a mais fantástica coisa contida do abraço de seus pais até o tempo de abraçar seus filhos, da ida a escola até a ida para o túmulo, do ver aquela pessoa até beijá-la, naquele dia, na chuva.
Escrever é narrar outro, sabendo que é você, o responsável por aquele mundo, de frases, suspiros e, quem sabe, bocejos. Narração sua, guarde-a, lute-a, faça-a.

quarta-feira, 28 de junho de 2017

Fragmento n3

"Aquela moça que você conheceu
Numa pequena paisagem noturna
Não representa vida alguma
Apenas a lembrança que vem
Quando olho pela janela do ônibus
Toda vez que vem aquela memória
A dor é aquilo que foge o poeta
Ela engana realmente
É o único ser que vem junto com a vida
Talvez de alegrias
Talvez de algumas poucas carícias
Talvez de muitos ensinamentos não-prestados de atenção
Mas, estou ali
Eu, minha dor, minha memória
Minha vida.
Te tirem tudo, não pode escapar do que é
Não pode fugir da tua sombra assim como de tua história
Gasset disse: eu e minhas circunstância
Digo algo como: aquilo que tu vê
No canto do olho
Do espelho
É você espiando sua própria estória
No futuro
O que conta pra ele?"
(Emil Hadaward)