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sexta-feira, 23 de março de 2018

No vale da sombra



Olhei fundo dentro dele e vi
Todo o homem, humano, mulher, que seja
Agiu sobre a ponta
Pensou sobre a fagulha dentro de si, buscando iluminar-se
Mas, o que não agiu, o que manteve
O que imaginou
O que estava lá e já não mais estará
O sonho não-expresso
O amor não relatado, a conversa não dita, a obra não-criada
Mas, lá estrada
Lá, na sombra
Pensamento da sombra
Oculto no resto, naquele iceberg
Ou como naquelas vil montanhas
Ou naquilo que olha agora, naquele mundo de floresta tropical
Naquela grande cidade de mil rostos desconhecidos
Lá é aonde está o ser
Oculto
Oculto do mundo
Mas, existente na alma de
Existir


Grande ou pequeno nos livros e relatos
Viajante das nuvens ou além delas e mesmo nas cavernas
A sombra daquilo que não está
No código do vento, a palavra
Na pintura dos olhos e gestos
No sono perdido nas segundas, sábados ou quem sabe domingos
Estaremos lá, te olhando
Estarei lá, vendo a mim mesmo
Vivo lá, dentro desta sombra de cada um
De mim

E pelos vales ocultos daquilo que imagino
Às vezes sinto, as vezes como uma espada lâmina-fel
Por hora como abraço fiel
Ou naquele último papo, que não sabemos ou mantemos em segredo que será o derradeiro
No oculto da existência
Na sombra da existência
Tudo se mostra, tudo se cai em véu de uma imensidão
Sou imenso enquanto existo
Sou menor enquanto vejo
Sou enquanto estou

Sou enquanto estou?
Jamais da sombra eu poderia fazer a montanha revelar sua dimensão
Jamais o iceberg levanta os pés sobre os mares
Ou da floresta densa, da cidade imensa
Olha e me diz:
-Calma, eu existo, você está aqui
É na falta que existiremos
Nesta existência que busca
Que busca
Aventura
Por si mesmo
Existe enquanto sombra do não-ditos
Fingindo valer-se de vários mitos
Sobre seus grandes feitos
Grandes e pequenos, Napoleões e pó

Não, não ajo apenas
Não, não penso apenas
Nem na atuação dos tagarelas, nem na injustiça das querelas, nem dos abraços carinhosos
Não, eu sou.
Sou na sombra
Sou naquilo que não esteve e jamais saberá
Existo
Mesmo no que não existiu

Apenas enquanto eu estou aqui, te peço
Olha na janela do seu lugar,
Acha a paisagem que lhe agradar
E veja a imensidão de tudo que está

Lá estará, estaremos todos, um pouco de muito de nós
Na imensidão do não dito


quarta-feira, 28 de junho de 2017

Fragmento n3

"Aquela moça que você conheceu
Numa pequena paisagem noturna
Não representa vida alguma
Apenas a lembrança que vem
Quando olho pela janela do ônibus
Toda vez que vem aquela memória
A dor é aquilo que foge o poeta
Ela engana realmente
É o único ser que vem junto com a vida
Talvez de alegrias
Talvez de algumas poucas carícias
Talvez de muitos ensinamentos não-prestados de atenção
Mas, estou ali
Eu, minha dor, minha memória
Minha vida.
Te tirem tudo, não pode escapar do que é
Não pode fugir da tua sombra assim como de tua história
Gasset disse: eu e minhas circunstância
Digo algo como: aquilo que tu vê
No canto do olho
Do espelho
É você espiando sua própria estória
No futuro
O que conta pra ele?"
(Emil Hadaward)