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sexta-feira, 14 de junho de 2019

Segredo da Esfinge, Tarde feliz triste manhã, América Latina

E a honestidade consigo é a verdadeira honra


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Pitágoras me escreveu uma carta
Nela, alheio li, fora de meus
Pensamentos, pelo deserto
Por suas areias, o festim do tempo
Cada passo pesado dado
Voltou a ser leve e aquecida
Memória de um homem
E seu menino
Jogando pinball, num boteco
Numa vila, duma cidade temperada
Ao sul do mundo
Donde já não estou

Me diz a Esfinge, a resposta
(Secreta para Édipo):
-Jamais voltarei a ser menino
Jamais estarei a ser de todo homem
Logo, velho, morrerei nestes passos
Mas, pra sempre deixarei pegadas
A quem as queira contar nas areias

Fechei o livro, com a carta do matemático
Contei as horas: eram 2 da tarde
Não sei de qual domingo
Era o aniversário de meu pai
Já não era mais aqui
Mas, lá que estava
Lá no meu coração
Aonde vaga o deserto que não o alcança?
Pois, solto é o infinito
Dos passos que jamais serão mapeados
Na areia
Do tempo
Da língua da Esfinge
Do vento, no peito
Que vira as páginas do meu livro.

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Dois montes de concreto
Abriram o céu azul
Azul das tristezas melancólicas
Latiam os carros, gritavam guardas e vagabundos
Meu peito estava silencioso
Aos olhos dela
A garota que olhava para o céu
Pintava as estrelas seus pontinhos
Sardinhas no rosto do universo
Recheios das nuvens de algodão
Que sopradas pelo tingir
De brancos ossos
Levaram a preocupação do marinheiro
De oceano profundo, mas que secou
Olhava a garota nele e ele nela
Algum ponto cardeal secreto
Escondido, incerto
Na vida presa nos novelos
De um céu azul
Vazio de nuvens, estrelas
Porém, como o mar, posso navegar?

Te amo, naquele dia.
A chave caiu, a porta escancarou
O José não pergunta do agora, mas de ontem
E meus olhos de Capitu, ressacam
O mar seco do marinheiro
A muse olhar ao céu
Pesca a chave, dos Argonautas
Abre o tesouro e firma
Como o bem que pode ter

O abraço do instante, do Eterno Presente
Que não nos prende, nos dignifica
Envio a você, moça que olha o céu
Azul como a tristeza, terminada
Em toda a aventura que poderás ter
O abraço e beijo infinito
No instante, sem mito, poesia ou enseada
Pois, navegar é preciso, e navegando
Sem parar

Olha o céu, pequena, olha
Que brilha todo o teu ser
Obrigado
Pelo porto seguro
No céu do oceano azul, de mim e nós.

Segunda, 10 de junho.


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A gente morre sozinho, ao sol e ao escuro
Aproveite
Abra-se
Pois, fechei-me em casa
Joguei a chave
Esqueci-me


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César, vencido entre as pedras
Foi acorrentado nas caravelas
Foi tomar noutro lado do mar
As terras da Cidade do Sol
Ao Norte, nasceu as 13 Colônias
Ao Sul, um Império Espanhol fragmentário
Em centrípeta força
Vai de reto ao sul ainda
O Gigante de língua portuguesa dorme
Sonhando em acordar
Mestiço, centrífugo e munido de cetro férreo
Um povo que já não crê no esforço de anos
Mas, quer tesouros em dias
Pirataria nacional
Corsários, de favela ao asfalto
Do café até a soja
Planta, mas apenas colhe
Agricultura sem semeadura
Que livros se queimem
Para fazer o carvão em dias frios


César, bêbado de vinho
Não reza mais para cruz
Pois, os meios findaram em fins
E vidas terminam no eu
Eu revolto em si
Oceano tempestuoso
Engole as caravelas
Morre o náufrago que de livros sem páginas
Tem fome.


domingo, 17 de fevereiro de 2019

Três aforismos, Flores de Emma, Trecho de sexo, Fome

Amigos são pilares que sustentam o céu

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Em nossas feridas podem nascer flores de aço

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Triste, porém, vivo

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Apenas sinta, meu amor
Apenas sinta, em seu corpo que adormece
Em seus olhos que se mexem, sonhando em quando éramos jovens
Ou quando éramos um simples corpo
Em busca do infinito?
Descanse, meu pequeno pedaço de céu
Enquanto te vejo aqui, nesta cama fria
De um mundo mais frio
Pois, meu sol está indo embora
Mas, ele está no meu peito
Em busca do infinito?


Apenas sinto, meu amor
Minha pequena Emma, nossos anos acumularam
Nos dedos enrugados selados numa aliança
De uma liga metálica
Que preenche todo o vácuo de nossas vidas
Apenas sinto, meu amor
Por todas as desculpas, por toda aquela palavra que não pude dizer
Mas, que agora é apenas um pequeno nada
Frente a nós, simples poeira, das estrelas
Do universo de tudo que existe
Em busca do infinito estava?
Toda e qualquer estrada, tem suas feridas estancadas
Quando nascem as flores de aço

Durma, que eu sonharei sempre contigo
Até nos vermos
Emma
De seu pequeno, Romeu, aos 78 anos

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O homem que jamais sorriu
Triste, porém vivo
O aço de sua face, festim das chamas
Olhava cinicamente
A mulher a sua frente
Perdida na solidão do desejo
Apenas entregava seu corpo
Queria entregar tudo para ele
Jamais sorrindo
Já não mais ela perde-se
Encontram-se
Furiosamente
No duelo do deserto de seus espíritos


Cai o raio de sol, corta seu rosto, o homem, com o calor
Treme a mulher, pelo fio condutor do suor
Um beijo sela, aquele ato de ferver os mares aos céus
Numa única...
Encaixe cósmico

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FOME
SINTO FOME
Entre as estepes, cacei meus sonhos
De ser o imperador de toda a terra conhecida
Entre meus dois olhos!
Nos mares, cacei os tesouros
Escondidos nas ilhas mais secretas, das brumas
Dos cabelos daquela pessoa mais linda
Nas cidades mais cheias de gente,
Pensei ser eu alguma coisa, quando não era nada!
SINTO FOME
E ela é de vida
Viver em cada momento uma vida, gastar à força meus anos
Consumi-los numa fagulha
Nenhuma vela acendeu
Nenhum foguete se levantará
E a Guerra Mundial cessará
Nas sombras criadas pela luz
Síntese eletrônica de meu coração
SINTO FOME
Já somos máquina, robôs da história
Folias de outros reis
Espíritos que perseguem a si mesmos, exorcizando-se
No baile de máscaras que é o mundo
SINTO FOME
Das vidas que me fizeram querer
Mas, não ter


Assim, vomitou os anos o jovem com fome.