Realmente, em cada Decepção ou Memória Ruim (cabe ainda entender cada uma das duas) tem em si não só o caminho da Vingança, mas, de um Auto-Conhecimento, ou seja, de certa forma, crescemos conforme sofremos. Evidente, a vida não é só sofrer por algo e alguém - em algum tempo e lugar que pessoa e coisa nos fez ou fizemos -, também o viver tem igualmente estes "momentos", estas "vivências", as quais chamamos de Alegrias.
Cabe a cada um encontrar algum mecanismo ou interpretação do que fazer com cada uma destas coisas, destes verbos: sofrer e viver. Mas, então, passemos a discussão de quanto de Eu existe no mundo, daí, um post é pequeno para isto.
sábado, 28 de abril de 2012
Parágrafo Decepção
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domingo, 8 de abril de 2012
Númeno #Agentes do Caos
MUSIQUETA DA POSTAGEM
http://www.youtube.com/watch?v=VXa9tXcMhXQ
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-Estou dormindo melhor hoje dia, talvez sejam os remédios...
Nosso herói toma uma cápsula de comprimido azul, numa metade, vermelho, noutra pequena parte. Segue escapando pelas trilhas das ruas sujas que o levaram a acontecer o que aconteceu...
Neste verão chuvoso de 1807, o céu é cinza e a manhã logo nos brindará com teu beijo, porém, nada disto importa para aquele apaixonado... Amante das coisas da cabeça e do corpo em curvas de uma tal Senhora Marié, ele corre por alguns lugares em busca de alguém que queira seus conhecimentos sobre as ciências nascentes da Engenharia dos Vapores e para plantações de tomates, realmente, isto em um lugar como a Batávia é realmente difícil, afinal, aqui já há um excesso de construtores, desde daqueles que fazem gigantescos moinhos até aqueles que inventaram chapéus capazes de suportar as chuvas, que ali, são constantemente responsáveis por encharcar as botas e capas...
De repente, o jovem que está pensando nestas coisas da vida vê um anúncio numa parece suja e molhada, é um papel velho, mas, dá pra ler, mesmo ele sendo germânico e muitas vezes não entendendo nada desta língua das holandas...
“Precisa-se de jovem que queira voar”
Em um momento de luz de sua mente, ríspido como um fósforo que naquela época não existia, ele toma de assalto aquele folheto e sonha com tempos lindos, de campos de tulipas azuis e beijos apaixonados como nos romances que ele lia na juventude e que, sem sentido muito prático naquela época – como talvez, toda a nostalgia é quando estamos a realiza-la -, hoje se tornava sua “tábua de salvação”, seu motivo pra sonhar, até de viver, em certo ponto do desespero provocado pela sincera e confiada taça de vinho vienense...
-Agora, veja só, nada mais me faz dormir... – E ele, com dificuldade, se levanta... Agarra vosso braço de metal, amarelado pelo tempo, encaixando em seguida no ponto entre o osso do ombro e um vão... O lampião funciona bem, acesso, pode-se ver a pá enorme do Moinho Vertical Nº3, da nave direita, enquanto ele gira, gira e rodando, leva mais uma vez que ele se lembre das coisas de algum tempo...
Era um lugar fantástico! Realmente para ele... Um lugar cheio de vida e pessoinhas caminhando de um lado para o outro...
Era em 30 distintos cavaleiros, entre jovens, velhos, militares derrotados em guerra, sonhadores, uma mulher gorda, todos ali chamados pelo cartaz ou amigos, que o leram ou estavam ali... Recepcionados por um senhor de roupas sóbrias e bigode, além de um monóculo, todos se maravilharam e acharam o lugar fantástico (como se pode ver no parágrafo anterior) que era aquele local, as Oficinas Münchensen. Seguiram uns dez minutos com a narração entusiasmadas do senhor de roupas sóbrias até que um servente de carpinteiro, um funcionário realmente longe da personalidade que estava ali, mas, que nenhum dos visitantes que estavam ali sabiam ou queriam saber quem era, o chama-se:
-Bom dia, senhor Almirante Münchensen!
Imediatamente, o distinto senhor chamou um homem que os acompanhava, um sujeito mal-encarado e com uma mala nas costas, o disse, em francês:
-Mostre a saída a este senhor de língua que não cabe na boca, por favor... –Virou-se para o grupo- Vejam só! Ele estragou minha surpresa! Sim, eu sou o líder deste projeto magnífico de engenharia e arte, coisas que talvez se confundam... Muito prazer, senhores, meu nome é Münchensen, o décimo Conde da Ordem Hospitalar da Espada Azul!
Todos os presentes o aplaudiram, menos o mal-encarado que levaram o aprendiz educado para um canto afastado, dentro da floresta negra, e mexia na sua bolsa tranquilamente com uma mão, enquanto agarrava o moço com a outra pelo braço. Nosso jovem herói estava maravilhado pela desenvoltura e vivacidade do Conde, que achava ser um ser muito velho e chato... Como todos os nobres de sua terra... No entanto, era este senhor de roupas sóbrias muito vivo e explicava com entusiasmo, as vigas que se levantavam do chão daquele enorme descampado e era acompanhado com estranhas pedras encrustadas nelas, fazendo um mosaico de formas grotescas para os olhos daqueles ferrados que não lhes deixava nem mesmo ouvir um tiro... Ou, podem ter sido os martelos e maretas... O que importa, é que nosso herói estava maravilhado e a história é dele, não do educado servente de carpintaria que acabara de ser baleado na floresta e iria ser deixado para os lobos e corvos, por ter em sua boca de trabalhador, ter proferido o nome do distinto Conde sem a sua autorização.
E a empatia entre o velho Münchensen e o jovem era tamanha, que ele conseguiu apertar sua mão, porém, antes disto, ele teve de passar mais de duas semanas, carregando de um lado para o outro, as estranhas pedras negras que chegavam de caixas com símbolos indecifráveis para as línguas civilizadas – chamadas na época-, ou seja, de algum lugar do Oriente. O aperto foi rápido e sincero, pois, o jovem, com seus conhecimentos da novíssima Engenharia do Vapor, havia indicado uma falha estrutural numa caldeira indicada, no projeto do 2º chefe da sessão, como da nave direita, d’algo nomeado como Moinho Nº 3, seja lá o que isto seja... O responsável, claro, foi levado para o bosque de árvores negras e lhe foi mostrada a saída, como o servente; nosso herói, promovido ao seu cargo no dia seguinte, teve felicidade por ter seu trabalho reconhecido...
-Hoje, não vou conseguir dormir mesmo! –Disse, enquanto andava de um lado para o outro dentro da cabine... As nuvens passavam no lado de fora, estava frio e as caldeiras pareciam com problemas, pois, oras se é uma caldeira, por que não esquenta o resto da estrutura?! Tendo estes pensamentos, até quis colocar a faixa que o dava o título de Vice-chefe Geral da Ala Direita, mas, não, sentou-se na cama novamente... Olhou o relógio e viu que já eram três e sete da manhã e ainda não estava dormindo... E dormir bem era algo que não fazia há tempos...
Passaram-se três meses... As obras não andavam e o Conde cada vez mais vinha até os trabalhadores fiscalizar e promover promoções para gratificar os que mais se esforçavam... Nosso herói estava progredindo bem, porém, não compreendia como os Engenheiros eram tolos, usando materiais tão banais quanto pedras negras e madeiras moles pra montar aquelas estupendas estruturas de trinta metros... Já estavam feitas quatro das seis quando houve o tal atraso... Alguma guerra sobre uma pedra fumável ou algo assim, uma planta, não se sabia direito, só que era por um cachimbo que se fumava, estava atrasando o envio do Oriente das rochas, além disto, o povo Libelungo, donos das terras distantes d’onde vinham as madeiras, começava uma revolta furiosa contra sua Metrópole; ou seja, tudo era caos no projeto original e o Conde ficava cada vez mais pálido e raivoso...
-Então, houve aquele dia... –Lembrou o jovem, enquanto desmontava o braço que acabara de colocar, deixando um buraco seco no lugar...
-Posso fazer uma sugestão? – Disse o herói de pouca idade, uns 18 ou vinte, não me lembro agora, enquanto o Conde passava perto dele, nervoso com um papel na mão – uma carta de oficiais ingleses amigos dele - neste, dizia que a guerra no Oriente tomava proporções catastróficas e que, se não tinha feito antes, fazer agora, o nobre encontrasse outra fonte da Pedra Negra -, ou seja, não era um momento bom... Mesmo na Festa de Anos de Münchensen.
-O que foi moço? – Perguntou o velho olhando de cima a baixo o jovem corado com caneca de cerveja e de braços dados com a amada Marie, uma jovem loira de olhos castanhos como avelãs e decote de peras.
-O senhor tem problemas com as pedras de nossa obra, não é, meu senhor? Pois, eu tenho a solução!
-Em primeiro lugar, esta obra não é nossa, é minha, e escute mais, meu rapaz...
-Os eslavos, principalmente os russos, nós podemos conseguir as pedras que precisamos deles! Ouça... Eu vivi numa terra distante daqui... Quando eles guerreavam com o povo tcheco, e meu pai era um destes bravos, na verdade, estavam em busca de um bem precioso, algo que a lendária Horda de Ouro dos Bárbaros Orientais havia deixado por ali, naquelas terras, algo que crescia como árvore, mas era rocha e...
-Espere! – O Conde até esquecera-se de repreender o mancebo, rapaz, por tê-lo cortado a fala, porém, pensou e ouviu bem, pois, “algo que crescia como árvore, mas era rocha e...” o havia interessado. Detalho que, naquele tempo da obra, todos já haviam ficado impressionados com a rocha negra trazida do Oriente que, depois de dias exposta á chuva, crescia em ramos vertiginosos para e entre as vigas enormes de madeira, criando bases para as caldeiras, berço para os homens e pequenas pontas estranhas, que – naquela época chamaram de naves- mas, que hoje, chamaríamos pela palavra “asas”.
E o jovem herói trouxe para todos a sua ideia, todos os engenheiros e chefes ficaram impressionados com a rapidez do rapaz, até mesmo o Conde, surpreso, sabia que aquele rapaz tinha futuro, até mesmo na nobreza... Nobres ao qual ele servia e era servido, aos quais deveria mostrar a “tal máquina fênix” que poderia voar destruir coisas, como já previra o padre De Gusmão, o cavaleiro da Ordem da Cruzeta Da Vinci e tantos outros Renascentistas, que hoje, mais que sonhadores, nos pareciam visionários, mas, como todo “aquele que vê”, fora queimado na fogueira de alguma igreja ou rei por estas terras ásperas que eram o mundo naqueles dias de escuridão. Algo, verdadeiramente, deveria ser feito sobre ele...
-Deveria ter deixado que tudo se explodisse... Sim, deveria... –Disse o jovem triste, olhado para a pequena pintura de Marie, já amarelada pelo tempo. Ele abre a gaveta, acha um convite do casamento dela com o Conde, também atingido pelo tempo, amassa, joga fora... Olhando para a janelinha entre as nuvens, lembra-se:
-Bom dia, Pierre! – O nosso jovem herói cometeu dois erros, o 1º, foi virar-se de costas para o malvado Pierre, o homem mal-encarado da nossa história, enquanto este pegava um porrete e o desacordava, já o 2º, foi ter tido uma ideia que salvou a construção da Nave-Transmundo Fênix, a maior coisa a levantar voo até a criação dos cargueiros, nos anos 40 e 50... A criatividade, às vezes, dá apenas aos seus donos uma glória pós-mortem e, até em alguns casos, como este, até pra outro autor... Ou seja, o nosso amado Conde.
Aí, só luzes e pequenos fragmentos ocorrem na mente do jovem, enquanto este corre pelos corredores da Nave, silencioso, porém, vai de pés descalços...
O malvado Pierre o leva para a floresta, lhe dá dois tiros, um nas costelas e outro no ombro, as duas pistolas estraçalham seu membro, ele começa a morrer rapidamente... Porém, algo ocorre pra que não...
Gritos de Münchensen... A cara de um homem pálido à sua frente, muito pálido e assustador... Sente que coisas o atravessam, enquanto é carregado para algo semelhante a uma carroça, mas, não é o homem pálido... Vê de relance o que é. Algum ser amarelo, um anão, algo assim, algo estranho...
Depois, só dor, ouve-se algumas coisas entrando pelas costelas e, finalmente, seu braço não dói mais, nada mais dói... Sente formigamentos na face, talvez, por acidente, uma parte dela se perdeu, nunca se soube...
Silêncio, muito silêncio e... Bem, depois, só história de como um sujeito foi se virando para arrumar as peças da sala de máquinas da “Maior Maravilha do Mundo Moderno”, a Nave-Transmundo de Münchensen... Depois de vinte anos, casado e pai de uma filha chamada Sicília, o distinto Conde era um endividado em fuga num mundo de guerras entre seu país e os faladores de francês... Até o malvado Pierre, desertara e caçava seu antigo senhor... Resumido a dono de um circo voador, a gigantesca construção de cerca de 40 centípetas (aprox. 400 metros), era um alvo fácil, mesmo para um girador de alavancas e engrenagens, como era nosso jovem... E ele caminhava em direção ao velho...
Sua face não mudara, sua face tinha uma chapa de ferro e cobre no lugar da bochecha direita, um braço de metal e uma couraça pesada... Havia ficado forte, mas, mesmo assim, abrira a gaveta e pegara a pistola que roubara de um bandido na última parada do “circo”, só por precaução, levava aquilo, pois, sabia que o velho Münchensen sempre teve uma língua mais poderosa que seus punhos...
Nosso herói esperara por tanto tempo que esquecera de muitas coisas que viveu... Ele lembrava apenas destes dias de peão de obra, ele lembrara disto agora pouco, pois mesmo com pílulas azuis e vermelhas não conseguira dormir... Pensava até o dia de ontem, um sábado, que era um órfão da Bavária, resgatado pelo Conde e “reconstruído”, melhor e mais forte que qualquer um... Porém, não...
Não era ele isto...
Ele nem sabia que era mais... Ele se esquecera até mesmo de que a foto de Marie que sempre guardara era da amada, não de sua mãe... Enfim, sem nome também estava...
Disto, no entanto, não poderia ficar sem! Matar e vingar sem nome não é “matar e vingar”, pois, como nas Artes, sem um nome para ser lembrado, de nada adianta a caminha e pincelada...
E, durante a andança no corredor estreito de pedra negra, olhou para a arma e viu escrito nela “Númeno”, pois o “n” estava riscado devido ao desgaste da arma, já que ela era numerada, e havia uma sequência logo após...
Então, nosso jovem herói tinha um nome para vingar, seu nome era Númeno.
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Mirroir é a última que morre #Agentes do Caos
“-E daí que você não consegue viver consigo mesmo?
Sou obrigado a ficar assim também?
Sou?
Miserável, pequeno ser desprezível!”
...De todos os seres do mundo deles, este era o último que ele esperava que fizesse isto, pois, com vontade, corto-te a face esquerda com uma lâmina cega de fazer a barba; sigo com golpes certeiros no braço direito e, logo após, mais dois nas costas...
Porém, a ira ainda não é suficiente... Saio da casa de madeira afastada da cidade em que nós nos escondemos depois de roubar o Tesouro, perto do caro, apoiada sobre as rodas, a escopeta...
BUM! – Para o alto, o medo em sua face é terrível, mesmo pra mim... Mas, continuo firme em meus passos de volta pra casinha... Uma pequena caseta que um dia chamei de lar...
Beijo a sua face com o cano quente da arma, há um grunhido e tentativa de correr... Porém, havia amarrado a sua perna com as algemas que usava nas minhas amigas prostitutas... Ela não podia se livrar de mim...
Havia gritos e correria no Quartel Generalé, podia ouvir dali os carros do Exército de Rosas vindo para me pegar, no entanto, não estou nem aí pras estas “pirações de doido” – como disse minha filha uma vez.
Olhei pros teus olhos, temerosos, cara com marca vermelha da queimadura em bolha, a ira aumentava... Aumentava e aumentava... Apenas o peito cheio de costelas aguentava e segurava meu coração de pular em cima dela e se transformar em bicho estranho, escroto, cheio de dentes e veias, tomando teu pescoço branco e certamente sem sangue e sim algum elixir gelado que faz este tipo de criatura sobreviver em nosso amado mundo sombrio e sujo... Aliás, eu tava sujo de pó de brita, desde que correra como um louco daquela maldita padaria, aonde, atrás de um quadro, achei o meu Tesouro...
Aquele que ela roubou...
Ela vai morrer por isto, pois, com seus cabelos loiros e olhos verdes me seduziu a fazer coisas terríveis, como foi se casar, ter filhos, casa e trabalho bucólico como funcionário público de uma fabriqueta do governo das mulheres que dominavam este país hoje em dia... Maldita! Dei uma coronhada na mandíbula...
Mirei, estava na hora...
-Adeus, Madeimoiselle Mirroir...
...Corro pro caro... O sangue escorre no assoalho da casa, não escuto nada mais que os meus passos no volante em uma corrida alucinante pelo lodo do ato que fiz... No entanto, tudo tem um motivo aqui neste mundo, o meu não é nenhuma filosofia... O meu não está no sorriso de Sofia – a Sabedoria -, só está ali, dentro do porta-luvas...
Eu o abro, lá está ele... Meu Tesouro.
Um lindo reflexo sai dele, junto, a voz que me guia e me respeita, meu deus... Meu Deus!
-Muito bem, agora me encontra, fez tudo certo e bem, me encontra agora, vem...
Sigo a voz, mas, antes, com vontade estranha, coloco na minha face uma máscara de gás... Pelo meu pensamento, o tiro final da shotgun não me atormenta mais, mas sim, encontrar tal de deus Númeno, ele é ao qual devo entregar algo... Não sei, sinto que é algo que amo, talvez, pode ser... Não, não pode ser isto... O que amo...
Viro pra trás enquanto levanto pedras e corro com o veloz carro de corrida...
O sangue escorre e penso, num minuto rápido e já esquecido, no que fiz:
-Adeus, minha Esperança, este meu Tesouro que pra todos um simples Espelho me mostrou o que és... Mesmo que exista apenas como parte, de mim
Só uma coisa que morre, mesmo que por último...
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segunda-feira, 12 de março de 2012
Sessão de cinema esquecida na película #Agentes do Caos
MUSIQUETA DA POSTAGEM
Olhos-de-Espelho com touca negra vigia aquele que não lhe ajudou nunca, o grande Gumb. O homem acariciava seus bigodes de gato, mas, não estava planejando nada, a questão é que ele nunca planejava... Nem para a pequena Olhos, nem pra ninguém, ele não ligava... Este homem tinha perdido seu amor no Vietnã, com uma bala na cabeça que chocou em seu coração um ovo de serpente - sentimento de desgosto -, frio com o mundo, foi dada a ele a tutela da pequena Lúcia, que tinha olhos brilhantes como dois diamantes, mas, que não lhe desperatava carinho algum... Apenas não aguentava a sua existência, preferia os filmes, prefiria morrer ali, naquela sala de cinema
Os dois, aliás, estavam ali, na sala de cinema, e o filme, noir, na tela
Havia uma última cena e tanto a menina de 13 anos, Lúcia, escondida na última fileira e com óculos grossos pra que seus olhos-de-espelho não refletisse tudo por ali (ou melhor, o canhão de luz que projetava os sonhos dos outros e até os dela, como já ocorrera quando tinha 6 anos e quase foi linchada, sem que Gumb nada lhe ajudasse), quanto Gumb, que parara de acariciar o bigode, ficaram estáticos, segurando a respiração, seus olhos estavam quase secos naquela cena, ela durou apenas alguns momentos, alguns instantes apenas, porém, tão grandes e absurdos que nenhum dos dois iria esquecer por suas curtas e degradantes vidas...
O homem de chapéu e terno ao qual não lembro o nome do artista diz:
-Então, é isto... Não?
-Sim, é isto... Eu não posso aguentar mais... - Fala a moça de franja e vestido tubinho, comum nas épocas antigas, infelizmente não lembro o nome dela, mas, chamemos de Gi Paola, desculpem, mas escolho pelo nome de minha família porque... Bem, por que quero ser famoso uma vez na vida, oras! E todos não querem? - Você perseguiu seus sonhos até aqui, até a Suécia, eu vim contigo... - Fez a mãozinha da já famosa atriz Gi Paola um movimento engraçado, caricato até já, de tristeza e desolação
-Eu tinha que fazer este doutorado era... Era... Meu sonho. - Silêncio.
-... ... Seus sonhos eram diferentes dos meus, - ela olha para o espelho e a câmara também, continua - sou uma contadora, tinha um cachorro e queria uma vida tranquila... Queria ter uma vida... Com você...
-Mas, eu te levei a outros mundos, eu te resgatei de se perder naqueles remédios que você se afundava, eu...
-Com você... - Ela se vira e o fita - ...Eu não tenho uma vida...
Uma triste melodia de violinos corta a sala de cinema, eu continuo a observar a tela e me esqueci de Gumb e Olhos-de-Espelho, ou Lúcia, se preferir, enfim...
-Marie, você quer...
-Sim?
-Quer casar comigo?
- ! - Todos na sala fazem isto, eu quase caio da cadeira
-Mas, Ferdinand, iremos nos separar... E...
-Sim, eu sei... Por isto mesmo... Eu não sou bom com as palavras e minha memória é fraca... Porém, você não pode passar por mim como se fosse apenas mais uma, você já foi pra mim, uma vida inteira, então, se eu tenho que te deixar, que te deixe sorindo por ter um anel na minha mão que sempre me lembrará de você...
-Ferdinand...
-Sim, Marie...
-Por que você tenta ser perfeito numa hora destas? Por que sempre consegue fazer isto... - Ela o abraça, ele a tira de seus braços e olha para ela, a afasta e segue para a porta, a câmara registra sua face enquanto ele diz:
-Ser perfeito não é tão bom assim, ao menos, eu sendo chamado disto, mesmo não me reconhecendo assim... A perfeição só nos traz uma única coisa, a solidão... E a solidão por ser considerado um homem perfeito é uma das que mais dói...
Fecha-se a porta, ninguém se mexe
-Ninguém se mexe! - Grita a jovem Lúcia... Sem os óculos, todos nós somos cegados pela luz que seus olhos refletem do projeto, tudo está claro e vejo que ela aponta uma arma para a cabeça de Gumb, enquanto está em cima da poltrona atrás dele
Ele a vê, esta com os olhos cheios de lágrimas...
-Não poderia nunca ser perfeito pra você... Não é, Lúcia?
-Não, não poderia, jovem pierrot... Você nunca sorriu, nem chorou, apenas me deu ração feito um animal, apenas me tratou como se eu fosse um perdido, uma coisa sobresalente pra você, uma missão dura e áspera...
-Não me chamo pierrot... Me chamo Ferdinand, o Gumb, como o do filme... Lucinha, sejemos razoáveis... Você estava tão lindinha ontem e - sua perna toca a perna com tênis de borracha da menina ... Era agora! A hora de agir!
-PÁ!
O tiro é oco e ele cai, imediatamente, a pequena sai correndo...
Há um problema aí, ela não chega a lembrar que este filme seria transmitido na 7ª Comissão dos Policiais de Rio Bravo, eu sabia, pois era um. Ela sai e dá de cara com alguns, bate com coronhadas e pulos, consegue se desvincilhiar deles... O fato de não atirar me intriga, eu que vejo isto da porta do cinema, volto e toco no pescoço do gordo Gumb, ele vive, inesplicavelmente, ou melhor, por uma simples bala de borracha ao invés das de verdade, das que matam...
Sigo ela até a porta do cinema que se lota de policiais, houve muito barulho de quem saiu da sessão e viu Lúcia, pois, o tiro mesmo, ninguém ouviu...
Três, três homens a agarram, ela é jovem, não sabe largar a arma, não sabe fingir que está tudo bem, não sabe ser uma Marie que viveu com seu Ferdinand por quatro anos num país frio e nórdico apenas por... Não sei, amor? Ou qualquer coisa como é isto...
Não a chance, nós a pegamos, finalmente...
Porém, não pode ser agora, não, não pode ainda Ferdinand fechar a porta e deixa Marie com seu peito na mão de uma tela em preto e branco! Meu braço desce firme na cara de um, de outro, Olhos-de-Espelho está livre e eles brilham como nunca, eu sorrio com isto.
Mas, o que a horda de guardas não faz por ela, eles surgem de moitas e a agarram, sinto que também farão isto comigo, sinto seus bafos quentes a me torturar nas explicações de quem é o meu chefe, de quem é Serj Gógol... Eu sei que estes bafos são na verdade maçaricos, mas, não sabem que eu também sou um...
Levanto a mão, dela brilha arco de luz, disto os olhos da menina se cegam, só há silêncio, eu estou em silêncio
Espero a última fala, a última cena derradeira
Talvez só esteja esperando outra coisa, talvez um passo em falso ou uma vida que borbulha... No mínimo, um pedido de casamento...
*
-Bom dia, Lúcia...
-Bom dia, Homem que me ajuda sempre...
-Esta bem?
-Por que estou num banco de praça? O que é isto? Cadê meu gorro?
-Aqui... - O homem chamado Rámon Gi Paola lhe dá o gorro encardido, diz com isto:
-Você escapou duma bela enrascada, pelo que fez, poderia ir até pra fria GrindPunch...
-Uma prisão de elfos das historinhas de Esopo? KSDKLKSLSDKSLDKSDL
-Bem, até a próxima...
-Hein, Homem-Estranho...
-Sim, Olhos-de-Espelho...
-Pode não me deixar mais num banco de praça imundo como este? Minhas costas doem e...
-Então, a senhora, antes de tentar matar seus tutores, não me faça perder o final do filme!
A menina sorriu com os dentes a mostra, pôs seu gorro e ficou ali, olhando os patos na lagoa, que se chama inteligentemente Lagoa dos Patos... Fui saindo sorrindo, daquele lugar, aquele sol matutino na mesma direção em que eu me dirigia parecia um final de filme, talvez fosse...
Talvez o final feliz estivesse em continuar ali, sobrevivendo pelos olhos daquela menina...
E a película em preto e branco que me perdi há muito tempo...
Olhos-de-Espelho com touca negra vigia aquele que não lhe ajudou nunca, o grande Gumb. O homem acariciava seus bigodes de gato, mas, não estava planejando nada, a questão é que ele nunca planejava... Nem para a pequena Olhos, nem pra ninguém, ele não ligava... Este homem tinha perdido seu amor no Vietnã, com uma bala na cabeça que chocou em seu coração um ovo de serpente - sentimento de desgosto -, frio com o mundo, foi dada a ele a tutela da pequena Lúcia, que tinha olhos brilhantes como dois diamantes, mas, que não lhe desperatava carinho algum... Apenas não aguentava a sua existência, preferia os filmes, prefiria morrer ali, naquela sala de cinema
Os dois, aliás, estavam ali, na sala de cinema, e o filme, noir, na tela
Havia uma última cena e tanto a menina de 13 anos, Lúcia, escondida na última fileira e com óculos grossos pra que seus olhos-de-espelho não refletisse tudo por ali (ou melhor, o canhão de luz que projetava os sonhos dos outros e até os dela, como já ocorrera quando tinha 6 anos e quase foi linchada, sem que Gumb nada lhe ajudasse), quanto Gumb, que parara de acariciar o bigode, ficaram estáticos, segurando a respiração, seus olhos estavam quase secos naquela cena, ela durou apenas alguns momentos, alguns instantes apenas, porém, tão grandes e absurdos que nenhum dos dois iria esquecer por suas curtas e degradantes vidas...
O homem de chapéu e terno ao qual não lembro o nome do artista diz:
-Então, é isto... Não?
-Sim, é isto... Eu não posso aguentar mais... - Fala a moça de franja e vestido tubinho, comum nas épocas antigas, infelizmente não lembro o nome dela, mas, chamemos de Gi Paola, desculpem, mas escolho pelo nome de minha família porque... Bem, por que quero ser famoso uma vez na vida, oras! E todos não querem? - Você perseguiu seus sonhos até aqui, até a Suécia, eu vim contigo... - Fez a mãozinha da já famosa atriz Gi Paola um movimento engraçado, caricato até já, de tristeza e desolação
-Eu tinha que fazer este doutorado era... Era... Meu sonho. - Silêncio.
-... ... Seus sonhos eram diferentes dos meus, - ela olha para o espelho e a câmara também, continua - sou uma contadora, tinha um cachorro e queria uma vida tranquila... Queria ter uma vida... Com você...
-Mas, eu te levei a outros mundos, eu te resgatei de se perder naqueles remédios que você se afundava, eu...
-Com você... - Ela se vira e o fita - ...Eu não tenho uma vida...
Uma triste melodia de violinos corta a sala de cinema, eu continuo a observar a tela e me esqueci de Gumb e Olhos-de-Espelho, ou Lúcia, se preferir, enfim...
-Marie, você quer...
-Sim?
-Quer casar comigo?
- ! - Todos na sala fazem isto, eu quase caio da cadeira
-Mas, Ferdinand, iremos nos separar... E...
-Sim, eu sei... Por isto mesmo... Eu não sou bom com as palavras e minha memória é fraca... Porém, você não pode passar por mim como se fosse apenas mais uma, você já foi pra mim, uma vida inteira, então, se eu tenho que te deixar, que te deixe sorindo por ter um anel na minha mão que sempre me lembrará de você...
-Ferdinand...
-Sim, Marie...
-Por que você tenta ser perfeito numa hora destas? Por que sempre consegue fazer isto... - Ela o abraça, ele a tira de seus braços e olha para ela, a afasta e segue para a porta, a câmara registra sua face enquanto ele diz:
-Ser perfeito não é tão bom assim, ao menos, eu sendo chamado disto, mesmo não me reconhecendo assim... A perfeição só nos traz uma única coisa, a solidão... E a solidão por ser considerado um homem perfeito é uma das que mais dói...
Fecha-se a porta, ninguém se mexe
-Ninguém se mexe! - Grita a jovem Lúcia... Sem os óculos, todos nós somos cegados pela luz que seus olhos refletem do projeto, tudo está claro e vejo que ela aponta uma arma para a cabeça de Gumb, enquanto está em cima da poltrona atrás dele
Ele a vê, esta com os olhos cheios de lágrimas...
-Não poderia nunca ser perfeito pra você... Não é, Lúcia?
-Não, não poderia, jovem pierrot... Você nunca sorriu, nem chorou, apenas me deu ração feito um animal, apenas me tratou como se eu fosse um perdido, uma coisa sobresalente pra você, uma missão dura e áspera...
-Não me chamo pierrot... Me chamo Ferdinand, o Gumb, como o do filme... Lucinha, sejemos razoáveis... Você estava tão lindinha ontem e - sua perna toca a perna com tênis de borracha da menina ... Era agora! A hora de agir!
-PÁ!
O tiro é oco e ele cai, imediatamente, a pequena sai correndo...
Há um problema aí, ela não chega a lembrar que este filme seria transmitido na 7ª Comissão dos Policiais de Rio Bravo, eu sabia, pois era um. Ela sai e dá de cara com alguns, bate com coronhadas e pulos, consegue se desvincilhiar deles... O fato de não atirar me intriga, eu que vejo isto da porta do cinema, volto e toco no pescoço do gordo Gumb, ele vive, inesplicavelmente, ou melhor, por uma simples bala de borracha ao invés das de verdade, das que matam...
Sigo ela até a porta do cinema que se lota de policiais, houve muito barulho de quem saiu da sessão e viu Lúcia, pois, o tiro mesmo, ninguém ouviu...
Três, três homens a agarram, ela é jovem, não sabe largar a arma, não sabe fingir que está tudo bem, não sabe ser uma Marie que viveu com seu Ferdinand por quatro anos num país frio e nórdico apenas por... Não sei, amor? Ou qualquer coisa como é isto...
Não a chance, nós a pegamos, finalmente...
Porém, não pode ser agora, não, não pode ainda Ferdinand fechar a porta e deixa Marie com seu peito na mão de uma tela em preto e branco! Meu braço desce firme na cara de um, de outro, Olhos-de-Espelho está livre e eles brilham como nunca, eu sorrio com isto.
Mas, o que a horda de guardas não faz por ela, eles surgem de moitas e a agarram, sinto que também farão isto comigo, sinto seus bafos quentes a me torturar nas explicações de quem é o meu chefe, de quem é Serj Gógol... Eu sei que estes bafos são na verdade maçaricos, mas, não sabem que eu também sou um...
Levanto a mão, dela brilha arco de luz, disto os olhos da menina se cegam, só há silêncio, eu estou em silêncio
Espero a última fala, a última cena derradeira
Talvez só esteja esperando outra coisa, talvez um passo em falso ou uma vida que borbulha... No mínimo, um pedido de casamento...
*
-Bom dia, Lúcia...
-Bom dia, Homem que me ajuda sempre...
-Esta bem?
-Por que estou num banco de praça? O que é isto? Cadê meu gorro?
-Aqui... - O homem chamado Rámon Gi Paola lhe dá o gorro encardido, diz com isto:
-Você escapou duma bela enrascada, pelo que fez, poderia ir até pra fria GrindPunch...
-Uma prisão de elfos das historinhas de Esopo? KSDKLKSLSDKSLDKSDL
-Bem, até a próxima...
-Hein, Homem-Estranho...
-Sim, Olhos-de-Espelho...
-Pode não me deixar mais num banco de praça imundo como este? Minhas costas doem e...
-Então, a senhora, antes de tentar matar seus tutores, não me faça perder o final do filme!
A menina sorriu com os dentes a mostra, pôs seu gorro e ficou ali, olhando os patos na lagoa, que se chama inteligentemente Lagoa dos Patos... Fui saindo sorrindo, daquele lugar, aquele sol matutino na mesma direção em que eu me dirigia parecia um final de filme, talvez fosse...
Talvez o final feliz estivesse em continuar ali, sobrevivendo pelos olhos daquela menina...
E a película em preto e branco que me perdi há muito tempo...
quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012
O conto que diz quem Nós Éramos... #Agentes do Caos
MUSIQUETA DA POSTAGEM
O conto que diz quem Nós éramos, nós, os que hoje chamam de Agentes do Caos.
Minha mais longínqua lembrança que escrevo neste diário, enquanto sou professor nesta escola de bairro – ou seja, me disfarço -, é quando olhava minha irmã colocar seus prendedores de cabelo feito de osso. Ela se olhava num poço, numa água que era coisa rara naquela terra... Lugar seco e áspero, duro e cheio de seres estranhos... Nós éramos estranhos pr’aquela terra, talvez continuássemos a ser, ainda agora, ainda hoje, quando já nos chamamos Agentes do Caos.
Meus pais morreram nas mãos de nômades, nós, morávamos ali, num pequeno vilarejo no meio da terra seca. Ficamos por alguns poucos anos até que ela colocasse aqueles prendedores de ossos nos cabelos e fosse conversar com um ser estranho, tinha túnica e a voz nunca me foi certa... Não lembro de sua face, nem o que era; sei que viajava, sei que viajou muito e já estava na casa dos quarenta, talvez, pois uma vez me contou que por quarenta luas percorreu de uma ponta a outra do Grande Deserto, vendo pedras, demônios, gênios e anjos.
Estava convencido de algo aquele ser, e ele convenceu minha irmã e a mim... Prometida pra alguém ela estava, um simples carpinteiro imigrante das terras do sul, seu nome era Órgenes, um homem silencioso, quieto, pensativo... E que sempre desconfiei... Enfim, ele era forte e também se juntou a nós, éramos em quatro agora. Porém, eu ainda não sabia os mistérios que aquele ser sempre encapuzado dizia a minha irmã e seu noivo, só sabia que começamos a caminhar, andávamos e corríamos o mundo, buscávamos mais alguém que em nós acreditasse. Recebidos com paus e pedras, retribuíamos destruindo templos e virando ídolos de cabeça para baixo.
Porém, houve um tempo em que chegamos muito ao sul e depois seguimos à Leste. Foi neste momento que vimos pela primeira vez o mar. Meus olhos, mesmo depois de séculos e até alguns milênios nunca mais se esqueceram daqui, daquele azul... Daquela imensidão, era semelhante o mar ao que eu sentia ali, estava feliz, eu era feliz... Talvez o mais próximo do que alguém poderia estar. Um garoto de doze anos que sorria...
Mas, por que eu sorria? O que eu fazia ali?
Éramos uns poucos, talvez uns dez, no entanto, ninguém via muito o chefe, ao qual chamávamos de Mestre, ao menos, durante a noite e momentos de descanso. Eu o vi uma vez indo dormir perto de algumas pedras, ao sopé de uma montanha... Lembro de tê-lo visto tirar a túnica e cobrir-se, porém, não lembro de seu corpo e se era mulher ou homem, isto nunca me importou, gostava dele, era bom comigo, não me fazia arriscar nas missões e não permitia que ninguém me batesse... Mas, ainda assim, Órgenes me batia as vezes, ele me treinava, junto com a minha irmã, nas artes de portas uma espada, de conversar com as coisas vivas, de ver o invisível e não acreditar nele...
Finalmente, um dia perguntei ao Mestre:
-Por que estamos aqui? – Ele respondeu:
-Nenhum destes homens e seres acredita, eles desconfiam... É isto e nisto que acreditamos, cada um destes seres têm uma coisa pra se guardar, um pequeno segredo, uma coisa pra amar... Outra pra odiar... Não há deuses nem forças, nós temos dentro de nós mesmos o que precisamos, talvez seja isto que buscamos aqui... Entende, jovem Ulle?
Meu nome não era Ulle, mas, agora era... Não sei, simplesmente entendi o que ele queria... Então, comentou comigo:
-Amanhã, quando o sol estiver reto sobre nossas cabeças, fundaremos algo, faremos algo que ninguém fez ainda, que não vi em nenhuma de minhas viagens...
Foi no horário e tempo que ele disse. Chamamos a todos, éramos em uns quinze naquele tempo...
-Hoje, eu fundo com você uma coisa, os crentes nos mistérios invisíveis também o fazem, nós faremos igualmente... Fundamos a nossa Tribo, o Nosso Grupo...
Todos se olhavam, havia tensão no ar...
-Sei que nós estamos sendo perseguidos, que à Oeste os Povos do Olimpo soltam seus tentáculos e matam nosso irmãos próximo ao mar... Também sei que à Leste, as mãos dos Vedas caminhas e definham alguns de nossos amigos, ficamos entre eles nesta guerra contra os Demônios e aquele povo, fora os Anjos que no deserto nos cobram pedágio, a cada fonte de água... Ao sul o Reino dos Djins nos oprime a seguir suas leis de caravanas milenares, mesmo nos dando passagem, porém, eu sei de tudo isto e estamos prestes a dar um passo importante...
-Senhor, deixe-me falar... –Comentou um homem das terras do Leste, seu nome era Kalla e era o mais poderoso de nossos arqueiros – Como iremos sobreviver? Não há aqui forças suficientes para competir com tais casas e clãs, estes seres são em número infinitamente superior a nós... O que faremos? Temos nossas forças, mas apenas dois braços, duas pernas e dez dedos...
-Sim, eu te compreendo Kalla... Você é sábio em sua precisão, como tua flecha... No entanto, ainda não esta convencido da força que temos... É certo, não teríamos tamanha força se não fosse pelo que estou prestes a mostrar a vocês...
O Mestre abriu a tenda, todos ficaram assustados. Era um homem-lagarto, pele esverdeada e olhos amarelados.
-Que aberração é esta, meu Senhor? –Perguntou minha irmã, me colocando junto dela.
-Este, a quem chamam de aberração, é Jaya... – Então, o ser lagarto puxou alguém de traz de sua túnica, uma menina, creio que da minha idade, talvez... Era linda, a pele era doce, só que os olhos amarelados tinham medo, estava assustada... – Ah, sim! Esta é Sinnix, uma companheira de nosso mundo de Jaya...
-Nosso mundo? Como assim? – Perguntou o medroso Órgenes.
-Eu, - falou a criatura, com voz rouca e parca – sou Jaya... Sou um viajante que estava perdido, caí neste mundo enquanto viajava em busca de água e comida... Sou de um povo das estrelas, um povo guerreiro e poderoso... Seu mestre me ajudou e com isto, ajudou toda a minha raça...
-Nós, - disse meu Mestre – temos agora a chance de sobreviver... Jaya dará um aviso para seus companheiros de batalha virem para o nosso mundo... Eles chegarão aqui e nos auxiliarão na batalha contra as diversas casas, quando o caos e a descrença estiverem instalados, finalmente, teremos nossa Missão completa... O Caos vencerá...
-Mas, senhor... – Disse Kalla – Confiar nestes seres? Como podemos fazer isto? Não temos força suficiente para aguentar ao poder dos outros povos e...
-Continuar sobrevivendo? Kalla, tu sabes melhor que eu, as vezes não podemos apenas sobreviver... As vezes temos que ter um sonho... E persegui-lo, pois talvez seja a única coisa que nos reste...
-Sim, um sonho... –Minha irmã e Kalla se entre-olharam, sentia nos dois algo, assim como Órgenes, que puxou com força o braço de minha irmã, ninguém além de nós viu aqueles movimentos, aqueles gestos... Eu não sabia que eles seriam tão importantes, não sabia que aquilo definiria tanta coisa...
-Logo, para que seja dado o Aviso – disse meu Mestre -, três de vocês serão escolhidos para irem para o mais longínquo dos Nortes, atrás da fogueira que o sábio Zaratustra acendeu... Lá devem lançar este pó que Jaya trouxe... Ele contém a centelha de mil estrelas... Quando aceso, os navios que caminha nas estrelas do povo de Jaya virão e nos auxiliarão... Porém, eu deixarei esta missão apenas para quem mais confio, não se sintam mal por isto, mas a missão é perigosa e terá de atravessar muitas terras desconhecidas, apenas estes que eu tocar o ombro serão aqueles que possuem o que estamos buscando, eu gostaria que todos fossemos, mas, será burrice da minha parte arriscar a todos...
Então, meu Mestre fez com que eu me assustasse, ele me fez tremer nas bases, quando sua mão foi tocando os três escolhidos... Tocou primeiro em Kalla, disse:
-Kalla, você veio de longe e conosco aprendeu a dar a suas flechas o tempo destruidor, a força de governar a juventude e a velhice, você, jovem de corpo e velho de coração, Kalla, eu te escolho...
Foi, o Mestre e tocou o noivo queito e parado de minha irmã, Órgenes:
-És o mais resistente, porém o mais vacilante de todos nós, Órgenes, agora tu vai se chamar Órion, o Forte, pois, com muita força você venceu todos os cansaços, agora é praticamente invunerável, tuas mãos carregam a potência de todo um exército, ainda que sua boca não profira mais do que duas palavras por dia...
Todos riram, eu não. A pequena Sinnix via minha cara de medo e eu percebi que ela me fitava, curiosa; por um momento nós nos entendemos, nós nos comunicamos e disse a ela que estava com medo, apenas no olhar...
Medo daquilo que o Mestre fez, o terceiro toque
-Você, mulher de Órion, a mais brilhante de nós todos... Não poderia deixar de te escolher... – Então, ele tocou no ombro de minha irmã e fez meu chão desaparecer sobre meus pés – Você, se chamará agora Astar, minha menina, - beijou a testa de minha irmã como um pai, e talvez, ele fosse isto pra nós, órfãos que não criam no destino... – tu sabes como tecer o caminho dos outros, com magas antigas aprendeu a Tecelagem de Vidas e Caminhos, faça teu caminho e o nosso cheio de glórias e energia...
Então, em silêncio, no outro dia, eles partiram... Havia apreensão entre nós, pois o Mestre se fora com eles, iria até uma parte do caminho, depois de aceso o Aviso, voltaria para nos falar... Eu, encarregado de Sinnix, deveria guardá-la com minha vida, pois, ela era o “Selo” do acordo de Jaya com meu Mestre, ele que não se chamava mais assim, agora ele, nas palavras de minha irmã, era o Fundador, havia fundado algo que nem nós e talvez ele próprio soubesse a extensão que tomaria...
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sábado, 18 de fevereiro de 2012
Pois é bruxo #Agentes do Caos
MUSIQUETA DA POSTAGEM
-Pois é, sou praticante do bruxismo a tempos...
-Como assim, Nick?
O gordo N. Charlie pega um cigarro, abre na lata de cerveja e começa a me contar suas baboseiras...
-Então, eu não acredito no Estado porque sempre vi meus amigos mais legais, quando entraram pra droga da máquina pública, virarem uns belos de uns filhos-da-puta, eu vi isto, eu sei disto. Também não creio que não dá pra confiar muito nas mulheres porque, você sabe melhor do que eu... Elas pisam no teu coração com a porcaria dos saltos agulhas que compram pra impinar a bunda, quando não enchem o saco todo o tempo... Pra mim, quanto mais sacana, mais relacionamentos sérios você consegue ter, entende?
-Sim, entendo, Nick. Mas, sobre o Amor...
-Hey! Não venha com suas historinhas aqui, eu não estou falando nada de Amor, esta coisa fru-fru que ninguém sabe a cara e que todos falam que não é isto, não é aquilo... Amor você tem quando, depois de 50 anos casado, olha pro maracujá ao seu lado e, sei lá o por quê, ainda sente tesão... Bem, aí, o resto é Filosofia, e das piores, já que todo o filósofo é – por si só – um péssimo amante... Se bem que estou filosofando...
-Sim, Nick, você está... Hahahaha –Gargalhei na frente dele, levemente, arrumei minha franja na janela de um carro, enquanto passávamos por uma praça destruída por um bombardeio... O gordo N. Charlie, pegou sua lata de cerveja, pôs de lado, pegando depois um pedaço de ferro retorcido, acho que era parte de alguma máquina de guerra, talvez um robô, não sei...
-Sabe, eu também não acredito em deus, nem no Deus, nem em qualquer outro... – Apontou o pedaço de ferro em volta – Esta droga toda aqui, saca? Uma merda de guerra que estava destinada como uma prova de vida das pessoas? Ora, bolas, uma bela merda... O menino da lupa continua aí, cegando todo mundo, se é que o tal pirralho e a tal lupa existe... Podemos só ser bolhas, corpos com bolhas ao invés de cabeças, que quando morrem, esplodem e...
Um arroto. Perdeu o assunto
-Hein, - disse eu- o que é bruxismo? Tu falou isto e não explicou... –Pedi a lata de cerveja com um gesto, ele não me deu, o sacana sabia que eu era de menor, sei lá, minha cara ainda era muito “de mocinha”, bando de desgraçados... Enfim! Continuou o gordo:
-Ah, isto? Bem, eu não acredito em nada que não possa um dia tocar entre minha mão esquerda e direita, como o seu amigo, ou sei lá o que... O esquilo... Como é o nome?
-Panda, o nome dele é Panda
-É, esta coisa aí... Putz, nunca entendi isto, devo estar muito chapado pra ver bichos conversando entre si, e ainda mais com um serzinho tão bizarro como tu... –Ele tocou na minha franja, segurei seu mão e torci, ele se soltou, rindo... Que bobo é este Nick, um belo bobo...
-Okay, okay! Para, para porra!
-Fala aí!
-Okay... Ah, bruxismo, saca? É você não acreditar em nada além do que exista entre as suas mãos, pensando numa conexão quase, quase... Que mágica, sabe? – Ele não havia derrubado o cigarro em nenhum momento ainda, tragou-o muito devagar... Nós subíamos uma ladeira, soltar a fumaça o fez tossir, continuou:
-Então, você chega num bar, olha pra menina que você quer e pensa: “Nossa, é hoje!”, daí você começa a refletir sobre sua vida e olha pro garçom, ele não te atende, você fica puto, mas, vai chegando perto dela, tem um vestido vermelho e cabelo Channel, pode ser até ruiva! Não na parte de cima, claro... Enfim, é a coisa de ficar fixado num ponto entre a seus braços e pegar aquilo, acreditando que apenas aquilo te salva... Sei lá... Do Amor, de deus, de um alienígena... Bah!
Silêncio de alguns minutos, o caminho era ingrime, a rua era Das Araucárias, mas, nenhuma árvore havia ali, apenas alguns cortiços que sobraram do Bombardeio, pergunto quando já estávamos quase no fim da ladeira:
-Ela ficou com você naquela noite?
-...Não... Me deu um tapa na cara, nunca fui bom com mulheres...
Lhe sorri, ele ficou meio encabulado.
-Bem, é isto que se resume minha vida... Tentar ser um bruxo, um ser que entre seus braços tenta fazer o melhor possível, tentar realizar o que tem de fazer e... As vezes temos que continuar apenas vivendo... Como porcarias de amebas...
-Hm... –Olhei ele nos olhos, o gordo estava suando, o cigarro, acabando, íamos chegando na parte mais alta da cidade... Paramos em frente a uma enorme cratera, gigantes e cheia de lixo; deveria ter quase uma semana, mas, os urubus ali já viviam...
-...Sabe, o seu bruxismo é interessante.
-É... Afinal, -ele suava- este céu está muito bonito, acho que isto é o mais próximo que conseguimos chegar do paraíso, aquele de livros religiosos como o Livro Vermelho, que os padres ficam nos enfiando pela guela...
O céu era azul, tinha umas nuvens brancas embaixo, era o Pôr-do-Sol... Nick Charlie olha para minha cara
-Seus olhos, sabe, são realmente lindos... –Não me tocou desta vez, apenas olhava, fixamente
-Me dá? –Apontei para a coisa que estava na sua mão direita
Ele deu o cigarro, eu traguei, sorri... Joguei o cigarro fora, estava na hora, aquele era o momento
Nick Charlie foi agarrado, beijado, não mexeu muito, ficou até paralisado...
-... –Eu lhe sorri, minha franja loira levantava com o vento.
-Sabe, Olhos-de-Espelho, você teria sido uma bela Agente do Caos, ou sei lá... Uma merda destas... Foda-se, por que fez isto?
-Ora, bruxo? Ao menos agora, você teve a chance de ter alguma coisa concreta e não ficar só esperando que algo dentro dos seus braços apareça... Deveria ter ficado mais calmo, “deveria ter amado, sofrido e procurado mais, pelas coisas pequenas”, como diz a música...
-Sabe, eu sempre busquei... Este foi o problema... –N.Charlie quase me fez despender uma lágrima... Olhei-o fixamente, ele também, porém, não era tempo para mais um beijo...
-... ... ...
-Adeus, menina!
-...Nick, - eu disse – pode ir, se quiser... Vai... Não posso fazer isto com um cara como você... Realmente, você é um bruxo, vai, antes que alguém mais puto do que eu apareça... Nunca mais pise nesta cidade, nunca mais, sei lá... Bombardeie...
-Ora, vá se foder! –Riu o gordo, que saiu correndo em uma velocidade espantosa... Ele tinha gosto de cigarro, como alguns e algumas por aí...
Estava há uns doze passos, sorria.
Tirei minha Luger da jaqueta, mirei, estava fácil
PÁ!
...
Andando para aquele gordo de cabeça despedaçada... Caído de bruços, era o último deles... Com aquele jeito
-É, Nick, você foi um bruxo... Consegui morrer com esperança, mesmo nunca tendo...
Virei-me, segui pra baixo da ladeira, acho que ainda ouvi, no vento, um:
-Foda-se!
E o sol cobriu todos nós com a sua ida, tudo escurece.
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domingo, 12 de fevereiro de 2012
Quando o chapéu se viu no espelho #Agentes do Caos
MUSIQUETA DA POSTAGEM
Ela toca com seus dedos brancos no espelho, ele reaje e tremula, como um líquido, como uma onda
-... ... –Nenhuma resposta
-Você é a Batida?
O som não existe naquele lugar, tudo parece um sonho. Um bad dream em que tudo é sombrio e escuro e, justamente por tudo estar escondido, não-descoberto, sua mente ferve... Nem meditações, nem amigas ou amigos, garotos numa balada, conseguem tirá-la daquele fosso...
Porém, nenhuma ajuda adiantaria, ninguém a auxilia de verdade. Todos fingem não ver e ela finge que não esta sendo vista... Assim como este sombrio sonho, percebe que não é nunca a luz de uma lanterna que ilumina seu caminho para que cada manhã acorde, mas sim, que tudo não passa da luz da lua refletida em sua pele... Seus olhos...
-... Sim! Sou. -Respondo após momentos de silêncio. Virando para mim, Lúcia me fita, assustada... No entanto, não demonstra, só com suas grandes pálpebras me cega, pelo que dentro delas guarda. Lembro até hoje, de nossa primeira vez, do primeiro olhar.
As primeiras décadas do novo milênio ditam nosso vestir, o que nós pensamos ser uma expressão de nós mesmos, nossa moda, nada mais é do que vemos no mundo, engolimos, soltamos dos dentes e colocamos no corpo. Ela tinha um grande cabelo loiríssimo, curto, mas armado, algo que me lembro dos anos 80... Mas, nunca liguei pra isto, nunca pra este tipo de coisa, veja só, agora ligo, depois de tudo...
-Você... É a Batida... Do peito?
-Sim... O que sempre estive aí, em você... -Uma mentira, eu era um Agente, não qualquer um Deles, sou o Homem do Chapéu, meu mestre é o Próprio Fundador; porém, com ela, não tinha vontade de lhe falar nada, não agora, aquilo me impelia.
-Tem um grande chapéu, gostei dele... -Sorrindo, tocou neste tecido que enorme, parecia com os antigos "protetores de cabeça" do século XVII, das guerras entre os espanhóis e holandeses, das quais participei, como mercenário... No entanto, isto não é importante, só deve-se saber que era um grande chapéu que tinha três pontas...
Pontos de luz, acho que eram isto. Dois belos olhos sem cor alguma estavam na face de Lúcia; ela percebia quando os notavam:
-Você também os viu? Bem, só não acho mais estranhos do que você... Por que está com uma máscara de gás e este chapéu enorme?
Olhei para ela, eram como dois faróis, não me cegavam, porém, pareciam que me chamavam para algo que há muito tempo não conhecia a minha língua em falar: a verdade, não a dos poetas ou sábios, a minha, a que realmente importa, no fim das contas...
-Não sei... Eu realmente poderia estar ela, a máscara, mas, sou parte do chapéu, ele sou eu... E sou igualmente com ele a Vingan... -Me contive, aquilo era muito estranho, então aquilo que procurei era verdade, olhos que me dizem o Escondido, o sombrio, que próximo aquela torre de água parecia tão enorme, apesar da cidade estar tão próxima... Com suas luzes, no entanto, não eram luzes como dos olhos dela, eram, apenas, lâmpadas, que em seus raios liberados, velavam leituras, tevês e pc's ligados, olhares vidrados, corpos entrelaçados e alguém chorando... Fazia tempo que não me dava a ser sentimental...
Tirei a máscara e revelei uma das minhas faces, a do carrancudo pistoleiro, porém, mais jovem e sem seu poncho, que usei em tempos e estórias passadas.
-Qual o seu nome?
-Não precisa saber, Lúcia...
-Então, você me manda um bilhete depois daquilo... ... Eu não sou palhaça! Não posso ficar aqui, neste escuro e...
De repente, mesmo tendo o 38 na cintura, lhe fiz o que deveria se fazer: um abraço.
Nunca fiz isto, não... Faz muito tempo que abracei alguém... Antes mesmo de que eu fosse a Vingança...
Assim, começou... Antes disto, ainda com lágrimas nos olhos, me perguntou:
-O que você quer?! O que quis dizer naquele bilhete: "Você tem outra chance, basta treinar, pra ser?"... -Continuou o ataque histérico, eu a ouvi, mas, deixei-me ouvir por seu olhar as tristezas de nascer com aquilo... Diziam que ela tinha "olhos de espelho", que cada vez que falava com alguém, fazia-o falar a verdade, já fora espancada por isto, estava sendo no momento em que recebeu o bilhete por Extremistas-feministas que tinha feito parte, "- Não podiam ter aceitado alguém como ela", me disse a jovem de cabelos amarelos. Os seus intermináveis casos de bullying na escola e ainda quando adulta, mesmo sempre tentando pelas ruas desta cidade fria e úmida, que chamam de Curitiba -antiga Gran Pinus -, fazer seu caminho de cavaleiro errante que depois de pensar ter derrotado o moinho-gigante, torna-se trinfante, sempre com a realidade dava de cara, seca, áspera, real...
Falava comigo e depois dizia que da ponte se jogaria. Que eu deveria lhe dar um "tchau"
Deixei isto tudo quieto em mim, lembrando de tempos passados, de cidades muito distantes e já esquecidas, em momentos que eu era daquele jeito, só que sem pontes como aquela...
Consegui salvá-la como salvei muitos outros desta ideia suicida: convidei-a para ir à um parque no outro dia, se não fosse, não saberia - nunca- o por quê de ter vindo me ver... A curiosidade, é algo que nos move, mesmo que, já no fundo, ou talvez seja a vontade de viver de nós, homens animais, mas, não me importo, pois, não sou bom com as palavras mesmo... Porém, sobreviver sei, tanto que me mantive aqui, para cumprir o que tenho de fazer
No outro dia, em frente a um portal, vi alguém chegar... Com a garrafa de vodca, mas lá
* * *
* * *
Ventilador...
Suas pás giram e libertam os corpos do calor infernal que aqui faz...
Era num verão. Sentado num muro, perto de um ponto de ônibus deserto, um ser de estatura humana, de sapatos pretos e meias listradas coloridas, não posso ver seu rosto. Eu paro e converso com ele... Com roupas normais, de motoqueiro, seguro meu capacete - na verdade, meu chapéu que agora era aquela forma protetora de cabeças
-Olá!
-Olá, mestre! -Lhe respondo, virado pro outro lado, pra fingir que ninguém está ali, pois ninguém poderia vê-lo...
-Você está feliz, "1º Aluno"? -As vezes não me acostumava com sua voz, ela estava dupla, como de um homem e uma mulher, algo estranho, mas, é compreensível.
-Sim... Eu estou, Mestre...
-Me conte, então...
-Eu não sou mais a Vingança, meu senhor... Desde que há muito tempo, tudo aquilo aconteceu... Desde que minha irmã morreu e...
-Eu sei, eu estava lá... Mas, e esta moça, esta Lúcia?
-Ela... Bem, ela tinha uma missão... Eu estive treinando ela por todos estes meses, como segurar uma espada, atirar, saltar como o vento e bailar como as folhas...
-... Além de beijar como as fúrias dos mares? Veja só... Conheço este poema também, o autor foi nosso amigo, há muito tempo... -Falou meu mestre. Eu fiquei calado, olhando para baixo, eu não podia lhe responder que não para com a última parte do verso
-Ela sabe o quê ela deveria fazer? Acha que ainda pode cumprir com isto?
-...Sam não vai existir mais... Ele foi longe quando quis apenas nos usar... Ela já sabe quem e o que ele fez... Ela será a Nossa Mão sobre ele
-Ele é forte, você o treinou
-Sim, mas apenas um aluno do mestre pode derrotar outro que aprendeu com o mesmo a sobreviver...
Ele, o Fundador, olhou para o longe, dava para ver um parque ali... Era o Parque de Chien, que eu levara Lúcia - isto fazia alguns meses... De repente, ele sentiu algo, viu algo... Desceu do muro, começou a seguir a direção contrária da rua
-Aluno, você está livre...
-O quê? Senhor?!
-Você agora tem escolha, 1º Aluno... Você mereceu isto... -Virou-se para trás, vi com espanto, enquanto -como chegou- ele se foi... Virou uma folha verde e plainou com o vento, para outro lugarApertei um comando num controle, um sinal de som saiu e localizei minha moto: modelo antigo. Subi, estranhando tudo... Tinha de vê-la em um Jardim na frente do Quartel Central. Pus o capacete, fui...
Talvez nunca precisasse ter visto o que vi lá, a Vingança renasceu
Cresceu
E dois quarteirões daquela cidade desaparecem
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