Ainda desmaiado,
minha pele esta coberta de fios e catéteres... Sinto que alguém tenta roubar
meu sangue...
Ele ri, então, ri e
ri... Criatura azul e de olhos amarelados, seu nome é Nakagobo, o Bebedor de
Sangue Ruim.
-Você é um tipo de
ser divino? –Diz o ser azulado. – Pois, nunca vi alguém com tanto sangue
assim!! É divino!
A voz dele é
insuportável, mas, não tanto quanto a dor dos cartéteres que vejo levarem meu
sangue para dois tonéis quase cheios... Olho bem para a cara do demônio e digo:
-Você vai morrer
antes de provar meu sangue! Demônio!
-Ora, prove você o
meu! – Ele se corta com uma faca e leva os pingos até a boca de um outro
prisioneiro, que forçado por ele, engole as gotas de líquido escarlate. O homem
começa a espumar pela boca quase que instanteneamente, sua face se cobre de
bolhas e ele vai vomitando líquido amarelo até parar... As convulsões param, em
menos de dois minutos, se foi.
-Olha, - diz Nakagobo
– sou uma entidade imortal! Se tocar em mim com teus golpes, logo sangro e tu
se infecta, bicho esquisito! – E a gargalhada dele se faz absurda de
estranha...
-Ainda não! – E me
movo duas vezes: quebro as correntes, percebo que estava sem meu manto, apenas
com as vestes de baixo. Nakagobo me vê e se assusta, mas, rapidamente, corta
sua língua e quase me acerta com o veneno que lhe dá vida.
Olhando para seus
olhos amarelos e aquele lugar fétido, vejo que meu manto está ao seu lado,
existe apenas uma chance! Cuspo-lhe fogo e ele salta, voando em um leque para
amortecer a queda ao qual vai preparando um enorme cuspe sanguíneo.
Meu manto é pego,
mas, ele cospe: toda a minha roupa está coberta de veneno, mas, antes de
largá-la, eu cuspo um pequeno monte d’água. Encarro o Sangue Ruim, ele canta:
-E agora, Mago? O que
tem pra mim?
Uma sombra surge
atrás dele e chutá-lhe a perna, que quebra. A coisa pula e me engole...
-Eu tenho isto!
Conheça meu servo e amigo: Máquina Bagre, o guardião do 7º Mar terrestre! – Sai
uma pequena bolha de vidro da cabeça do enorme bagre humanóide, coberto de uma
armadura azul, que logo, revela duas metralhadoras Gatling.
-Eu, eu tenho sangue
ruim! – Grune o mostro, ainda com a dor lastimável...
-Sim, e este ser tem
uma couraça formada de sete peles... Logo, seu veneno demorará... Agora,
maldito Nakagobo... – As metralhadoras destroçam o ser, espalhando por todo o
lugar seus restos e veneno.
O Bagre lança um
enorme turbilhão de água que limpa tudo. Posso sair e pegar meu sangue de
volta: abrindo um do barris, toco minha cauda e ele volta ao vermelho de minha
pele. O outro, porém, não coloco em mim, mas, tiro um chumaço de pelo ao qual
uso meu sangue para escrever um texto na parede da caverna em que estava preso,
“Viagem da Memória dos Amigos”, escrevo em língua
baltânica [ de Baltos, antigo lugar de treinamento do Panda Vermelho na
Terra, N. A]; afinal, sinto que precisarei de ajuda...
-Mak sokir altur, je
necessité d’um bagne! – Ouço o Bagre dizer, ele pede para tomar um banho para
tirar o veneno antes que ele entre em seu corpo, eu permito. Nós partimos para
a luz e logo vemos um lago e uma montanha com escadaria.
Então, ali está... A Mansão vazia dos
antes glorioso Suboshi. Lá reside Miboshi, o Silencioso.
Cada passo meu é como
se um assobio frio corresse meu corpo... É estranho. Apenas a minha espada é
minha roupa, ando e ninguém impede a minha passagem: as muralhas estão vazias,
os moinhos, secos, as flores, não mais dadas a ninguém. Por um momento, sinto o
silêncio correr pela minha mente, que nunca para – nunca -, só que agora ficou quieta, estranhamente.
No topo da escada, o
castelo de Suboshi e em sua porta, ali, o último filho legítimo: Miboshi. Com
pele estranhamente cheia de pó de arroz, ele me vê e nada diz, com as mãos
dentro do quimongo dourado, apenas observa... O vento corre, de um lado para o
outro, porém, nada escuto, nem uma palavra. Se nada escuto, corro e ataco: ele
escapa. Tento de novo, mais uma vez, só que o filho de Suboshi salta para longe
do alcance da minha espada katana.
-Homem-Animal, - diz
ele com uma voz calma e lenta – eu sei de todos os selos de meu pai, foi o seu
legado para o Mais Amado Filho... Se você lutar comigo, não mais viverá!
-Oras! – Jogo minha
espada nele, ele desvia e toca o cabo da arma. Com três pulos já estou com ela
próxima de minha mão, ele já está longe. Quando toco minha arma que está presa
numa rocha, ela queima minha mão...
-Desgraçado! – Grito-lhe,
sabendo que ele selara minha arma. Cuspo-lhe fogo e com papéis ele evita que eu
o queime, pois eles apagam antes que meu hálito o toque...
-Maldito! – Grito e
me transformo em craquém, lançando dois tentáculos nele, o qual toca dois selos
neles, viram um tipo de madeira... Madeira petrificada!
-Todo... –Diz Miboshi
– Todo o poder...
Me destransformo e
metade da minha mão está petrificada.
-Droga! Então, é
assim? – Digo-lhe
-Como?
-O Silêncio... É assim que você ganhou este apelido e por
isto não sinti nada quando te enfrentei?
-Ora, meu caro, estes
selos são antigos demais para que você possa evitá-los: são divinais, sagrados!
– Ele anda em minha direção.
Faço uma posição com
os dedos cruzados e tento evocar as Torres de Pedra, ele joga seus panos como
tentáculos no chão e sela com figuras antes que eu possa completar...
-E agora, mago? – Diz
ele de frente para mim.
Abro minha boca em um
ângulo gigante e o engulo.
... ...
...
Os olhos de Miboshi
abrem e ele está em um lugar apenas branco e listrado de preto, ao olha tudo
aquilo, escuta:
-Agora acabou, filho
de Suboshi...
-Sim, diz ele, acabou
para você, Mago! – E as mãos de Miboshi trazem uma faca ao qual ele corta o ar
que é listrado branco e preto, o corte revela uma luz ao qual o ser esquálido
salta...
O Panda, cai
segurando sua barriga, a sua frente, o filho Mais Amado o olha, diz:
-Você tentou me selar
dentro de você para tentar me matar, um erro, pois, agora, eu te matei... –
Sorri – Veja o que fiz com sua barriga.
O Panda olha e há um
enorme selo em sua barriga. Logo, vai crescendo um enorme vazio e silêncio em
seu corpo, ele vai virando madeira, não viva, mas, de pedra... E vai crescendo
o frio como é aquele do medo, e vai crescendo o momento da morte do Mago...
-Não! –Diz o Panda.
Nisto, de seus olhos se lança uma brilho vermelho que ilumina tudo, uma onda de
choque joga Miboshi para trás... Só que nada acontece, ao menos, ali: o Panda
continua se trasnformando em árvore morta enquanto seu atacante apenas
desmaiou.
Na caverna do morto
Nakagobo, ouvem-se barulhos e passos...
Cuidando de seus
ferimentos, a Máquina Bagre passa sua esponga mágica nos cortes e machucados
provocados por Nakagobo ao lançar seu sangue venenoso, banhando-se no lago
abaixo de toda a batalha lá de cima...
Porém, ele puxa
rapidamente uma metralhadora de um coldre em suas costas... Não é rápido o
bastante e é acertado por uma coisa áspera... Ele choca-se em uma rocha que faz
uma cachoeira. Olha para a fumaça e vê uma criatura enorme, qual uma metade é
mulher e outra peixe, ou serpente – pelo tamanho da cauda... Há uma placa em
seu peito, nela está escrito Ashita. Ela, segundo o documento que o Panda lera,
era uma filha bastarda da Família Imperial daquele mundo - reconhecida no final da vida por Suboshi -,
ao qual tinha uma gêmea perdida Soiboshi.
Máquina-Bagre preparou-se
para o combate, retirando uma enorme faca e já ia pegar balas para a sua
metralhadora quando, de repente, a fumaça do lago de água quente vai discipando
e, aos pés da monstra - para a surpresa dos dois -, uma jovem se encontra. Ela
tem um cabelo meio roxo e de um lado cortado, undercut, seus tênis de tecido e borracha de cor amarela e seus
grandes olhos não combinam com o que carrega: uma espada-bastarda; enorme
lâmina, que, no metal, está com a inscrição “Helter Skelter” – sim, o aprendiz
do Panda, o que surpreende o Máquina-Bagre tanto quanto eu. Ela olha o monstro
peixe e lhe diz:
-Você irá morrer, me
chamaram pra isto...
E cai para cima da
mostra que grita e desvia, batendo com a cauda e jogando a menina numa pedra. M
– Bagre assustado e temendo pela garota, fica irrado e se joga com a faca presa
nos dentes, dando socos na monstra que foge, afundando no lago.
O grande peixe vê a
menina que estava com a cabeça chocada na pedra... Ele estranha a falta de
sangue e, quando a leva entre seus braços, percebe que ela tem engrenagenagens
misturadas a um cérebro esbranquiçado... Ela é uma robô! Uma boneca! Alivia o
Máquina...
Só que, abrindo os olhos
rapidamente, a menina grita:
-Cuidado, Sr. Peixe! –
O Bagre pula e vira-se, escapando de uma investida da mulher-peixe, que afunda
novamente. Há um silêncio no lago... Máquina-Bagre está sobre as águas e
escuta, a menina está em seu ombro, ela diz:
-Eu sei como derrotar
esta coisa... Sr. Bagre, fui chamada pelo Mestre, confia em mim?
-Senti o cheiro do
sangue do Mestre, - escuta a jovem em sua cabeça, sendo uma telepatia do peixe –
se ele confia em tu, confio também!
-Ora, um peixe
precisa de uma isca, não? – E com uma piscadela, ela salta para o meio do lago.
Nisto, salta a monstra e tenta acertá-la: o Máquina-Bagre carregou sua arma e
atira, mas, a monstra é rápida!
A menina salta e
salta, pelas pedras e desviando da monstra que também desvia dos tiros do outro
peixe. Porém, quando o lago acaba e ela tenta se virar para afundar de novo nas
águas a pequena pega sua espada que tinha caído ali e fica-lhe na cauda,
Ashita, presa,
ainda vê de relance o Bagre mirar e descaregar uma carga nela, que explode em
vapor... Lá se vai mais um membro dos Suboshi.
A fumaça se dispersa
enquanto a menina adolescente que nem é uma menina de verdade, talvez só uma
máquina, cumprimenta o Máquina-Bagre dizendo:
- Olá, me chamo GG!
-Olá, me chamo Bagre!
E os dois, por um
momento, breve, veem que poderão ser amigos: amizade natural?
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