Alquimata III – Visita na Tabacaria
Pegaram o metrô em
direção ao Ponto Sudeste, no Sistema Radial de transporte de Campos Gerais,
tudo saía da cidade ou entrava deste jeito. E lá iam o jovem Onório, sentado
apenas olhando a espada ao qual ganhara, embainhada e acorrentada, Rita, que
estava fumando em lugar proibido, e o Velho Dimas, lendo um livro de Nelson
Rodrigues.
-Velho...
-Sim, Mestre Onório?
-Mestre? – Perguntou Rita,
assustada em sua cara.
-Sim, – respondeu o senhor quase careca e pequeno – agora ele
é o Rei do Mundo dos Luparinos, e como nós o somos, devemos chamá-lo assim.
-Ah... Sim...
-Hey, Rita, cale a boca! –Gritou o jovem de mullets e camisa
listrada verde – Os humanos estão conversando aqui, ok?
-Oras... Seu...
-Tome, Rita, leia um pouco... – E Dimas deu para Rita um
livrinho, se bem lembro, Jerusalém
Libertada, acho que uma ópera antiga – Vai saber muito mais lendo do que
berrando.
Ela obedeceu e o
jovem continuou:
-Os Altos de laranja que estavam com a gente... Se eu sou o
chefe, por que deixaram a gente depois de me anunciar?!
O Velho se aproximou de Escapuleri e disse, segurando seus
ombros como que para um segredo:
-Nunca confie nos caras de laranja! É uma cor que dá azar...
-Como assim? Eu não sou O CHEFE?
-Não. Você é apenas o Portador da Espada de Salomão, esta,
que você tem nas mãos... Cada um dos Três Clãs de alquimistas tem uma arma: a
Espada dos Luparinos, a Javelin dos Be-Strokers e o Escudo dos Montemartinos.
Estas armas são importantes, não os Portadores... Elas contém todo o segredo
das principais magias e selos que cada um dos nossos povos possui, em
quinhentos anos de guerra entre os Alquimistas, nunca perdemos esta arma porque
sempre há alguém para protegê-la, se não forem os Altos Alquimistas, o próprio
Portador deve ser de todo o modo proteger a arma!
-Ok... Os Três Clãs dependem disto? E nós nunca soubemos? –
Onório olhou para Rita, ela nem estava ali para a conversa, apenas lia seu
livrinho, devorando-o enquanto o mesmo dava vermes em seu cérebro de Djanho. –Enfim,
e agora?! Eu não posso nem tirar esta espada da bainha! Como vou proteger
alguma coisa?
-Bem, garoto, estamos indo pra um ponto da Metrópole visitar
um velho amigo meu...Dono de Tabacaria.
-Por quê? Isto é hora de fumar um begue?
-Não, vamos lá porque ele é alguém que pode explicar sua
situação para você.
Desceram na Estação
Central da Lapa, uma antiga cidade daqui. Tiveram ainda que tomar um ônibus
para uma região perto do Aeroporto 125, deserto e degradado, um bairro surgia
do mato verde que ainda se via ali. Em uma casa de dois andares e estilo
polaco, com teto pra neve apesar de estarmos nos trópicos, lá estava escrito na
plaquinha:
Tabacaria Xavier
Cinquenta anos servindo o melhor tabaco legal para sua família
Entraram e já estava
noite, foram recebidos por um velhinho mais velho que o Velho Dimas, só que
mais alto, apesar de ser oriental, acho que japonês. Ele abraçou o companheiro
idoso e logo todos foram tomar um pouco de chá, enquanto ele fumava um enorme
cachimbo fedorento.
Ao entrarem na Sala
de Chá, dentro da loja, uma enorme biblioteca. Olhando para o chão, Onório
disse para Rita:
-Tome cuidado, este velho é esperto...
-Sim, entendi! –Disse ela fingindo agora ler seu livro e com
uma faca próxima da mão, mas por baixo do casaco.
-Não precisam se
preocupar, ele é confiável, meus jovens. –Disse Dimas – Xavier não possui
nenhum vínculo, ele é um Sem-Clã.
Diante da cara de
espanto dos dois, o japonês completou:
-Exatamente, sir! Francisco Xavier de Oliveira, um orgulhoso
velho Sem-Clã! E não se preocupem – Apontou para chão – este Selo de Estrela de
Cinco Pontas aqui é contra todo o tipo de magia, mas, não é para vocês serem
atacados ou algo assim... Se tentasse atacar alguém que é amigo do Dimas, com
certeza estaria morto hahahahahahaha e olha que sei disto, ele já foi meu
amigo! Hahahahahahaah
Os dois gargalharam
por alguns minutos. Depois disto, sentaram em um sofá velho e Dimas contou a situação
que aconteceu naquela manhã, ao qual o japonês perguntou para Onório:
-Oras, então, você é o Chefe dos Luparinos agora! Que grande
honra! Eu vi tipos como você apenas me perseguindo ou ceifando cabeças alheias
hehehe e já faz uns cem anos?!
-Não vale nada, na real, este título aí... De que vale ser o
“Chefe dos Luparinos” se nem posso ser protegido ou algo assim?!
-... Hm... –E assoprou o velho Xavier seu pito – Acho que Dimas veio aqui porque
tenho algo bem didático para explicar esta situação, ainda mais para jovens
como vocês, que não gostam de ouvir como eu ouvia de meu pai, lá na Terra do
Sol Nascente...
Ele levantou-se e
tirou os panos de um velho maquinário no meio da biblioteca:
-Isto é uma
Maquiladora de Metempsicose, algo velho e antigo... Funciona como um mostrador
de slides de hoje em dia, mas, é melhor...
-Hm... Por que melhor, velho china? – Pergunta a curiosa
engenheira Rita.
-Ele é baseado na Metempsicose, o transporte do que nós
chamamos de aura para outros corpos... Ela faz isto e, assim, pode-se passar um
tipo de “filme” com as antigas histórias do passado, reproduzindo tudo o que
viveram aquelas pessoas e...
-Oras, por favor, comece logo, Xavier! –Fala Dimas – Mostre ao
rapaz de uma vez!
-Ok, sir!... Continua um chato – resmungou o velho japonês,
que pegou alguns ossos e jogou numa rede de tubos que havia para um enorme
triângulo branco. Logo, tudo começou a se encher de fumaça e o velho pitou seu
cachimbo e assoprou, misturando as duas névoas...
-Mas, o que...
-hehehee isto é para o show! –Sorriu o oriental e deixou seu
cachimbo em uma mesa. – Agora, se me permitem, vou ao banheiro que o chá desceu
na bexiga!
Então, apertou o
velho um botão e uma luz encheu a sala...
Começa a narração de uma voz pra dormir, só que como se
fosse a sua voz que falasse para você mesmo. Uma sensação estranha de perder o
controle de si mesmo, ao qual começou dizendo, enquanto cada imagem que ela ia
comentando se mostrava em sensações para nossos sentidos:
Então, no alto da Guerra entre os Alquimistas, Três Clãs vieram à tona
como a espuma da água do mar que invade a terra, vem e lhe rouba a areia, para
os Castelos Submarinos.
No século XV, nos restos da Cidade Romana do Ocidente, se ergue os
Luparinos, poderosos da Pele Vermelha. No sultanato púrpura, amarelo e vermelho
de Solimão, que com seu Sabre baniu todo o Mal sobre seu Clã e numa floresta,
encontrou o Lobo, símbolo de toda a Criação Luparina...
Nos anos de 1000 até 1790, uma enorme batalha se findou, e dela,
surgiram os Cores Azuis, Cinzas e Castanhos, entre dois clãs inimigos surgiu um
vitorioso apenas: os Montemartes. Dotados da defesa de todo o saber e mesmo
sendo de Sicília, seu reino se deu nas florestas insólitas e negras da América
Espanhola, sobre o Signo de Aldovaz, o Andarilho...
E na Era do Vapor, dentro de um povo sueco com fome e sede, todos os
que se dão nome de Clãs do Norte Austral se unem, sobre um signo Bispal e de
cores Celeste, Branca e Rósea, sobre uma única Justa e para uma única Guilda,
dão-se o nome de Be-Stroker, os “Para Limpeza”. E em todo o navio vitoriano se
vão, conquistando e colonizando, sobre a efígie da Santa Javelin usada pelo
descendente do Santo Aurélio, Romano devotado ao único senhor dos Be-Stroker...
Com os três nomes dos Grandes Clãs do Ocidente o mundo se assombra,
tamanha é a força e expansão de suas pronúncias e força... Porém, anos negro se
vêem
Se vão... E chegam.
A Guerra contra os Inimigos de Todos os Bruxos se dá, e todos se unem!
Porém, a Vitória parece não vir sem o Ego, ao qual consumiu todos os Líderes
dos Três Clãs... Na Batalha Quase perdida, apenas os Antigos poderiam ajudar
E das tumbas eles se erguem, Vencendo, todos e tudo!
Selam as armas para que apenas aqueles dignos pudessem usar...
Dignidade conseguida apenas no brilho prateado da guerra contra coisas
bestiais, como os terríveis...
...PLAFT!
Neste momento, o Velho Dimas sai de sua
cadeira e corre em direção ao banheiro, sacando sua pistola. Levanto-me e ainda
com bolinhas brilhantes, faço o mesmo, enquanto seguimos pelo corredor, pergunto:
-O que há
Dimas?
-Você não
ouviu? É barulho de passos!
Ele abre a porta,
nisto, Rita já está atrás de mim, portando sua faca. Todos nós paramos, sem nos
mexermos... A cena é bizarra: o velho Xavier está com a cabeça decepada, com o
corpo ajoelhado em frente ao vaso sanitário. Olho o espelho e há inscrições, na
boca da patente, o mesmo.
-Velho, isto
é uma Maria Sangrenta?
-Sim, é sim
garoto... Mas, parece que ela já terminou, era apenas para o velho Xavier... Se
você olhar o espelho, já está queimado e a água da patente, limpa... O feitiço
terminou...
Me aproximei devagar e tirei o corpo decapitado parecia que o japonês tinha sido acertado no peito e jogado na
patente, aonde a Maria Sangrenta foi escrita. Um dos feitiços mais macabros,
faz com que toda a massa de água tornar-se uma Devoradora de Membros (em geral,
apenas um), - no caso, se escolhem privadas por serem as mais fáceis de se encontrar... O que deu a superstição humana de um “fantasma”.
-Estranho,
-diz Rita- teríamos percebido algo como uma Maria Sangrenta... Não ouvi nada!
-Mesmo um ouvido
de Djanho, Rita, está prejudicado pelo Selo de Estrela 5 Pontas da
biblioteca... Não daria pra ouvir... Na verdade, nenhum humano poderia sequer
fazer uma magia com aquilo escrito no chão, usando ferro fundido...
-Mas,
velho... Como você? ...
-Espera! –Grita
Dimas, ao qual corremos de volta para a sala.
-O cachimbo
do Xavier! – Diz o velho. – Sumiu!
-O que tem
aquele pito fedorento? Nem se pode fumar mais em local público! – Diz Rita.
-Aquilo era
uma arma mágica, Rita –Digo eu para ela. Olho em volta e vejo que os desenhos
no chão derreteram, algo poderoso havia passado por ali.
De repente, sirenes tocam. Dimas grita para
tentarmos achar uma saída, mas, a biblioteca não possui nenhuma.
Então, entram Policiais Militares com
metralhadoras Tommy Gun e na frente deles um gordinho que diz:
-Capitão Torquemada! Vocês estão todos presos
pela Polícia do Estado Paranaense!
MUSIQUETA
http://pt.wikipedia.org/wiki/Solim%C3%A3o_o_Magn%C3%ADfico http://pt.wikipedia.org/wiki/Jerusal%C3%A9m_libertada
http://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Xavier_de_Oliveira
http://pt.wikipedia.org/wiki/Tom%C3%A1s_de_Torquemada
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