sábado, 3 de setembro de 2011

Um Homem Comum #Agentes do Caos

 O homem comum caminha pela rua de pavimento escorregadio em passo constante, vivendo cada segundo em respiração ofegante; uma falta de ar de quem nada tem no fazer a não ser uma ou duas coisas interessantes na vida inteira. Ele, Jonas, ou Jorge, acho que talvez até se chamasse Machado, ele não tinha mais este crédito, gastara em uma viagem para o interior em busca de um amor ao qual ele perdeu... Não porque não pode pagar mais o serviço da Rede de Cobre, não porque ela o traiu, nada disto... Ele desistiu no meio da viagem pois esquecera de comprar seu remédio para asma, estava achando que com isto morreria, e morreu, pois nunca para lá fora.
 Eu o vi passeando pelas ruas sujas e baixei em forma constrita, pequeno serzinho verde que pousou sobre seu ombro... Eu sempre estive nele, ele que não percebera... Apenas um ser desafortunado de sonhos -um homem comum-, poderia me abrigar, eu morava nele, meu nome é Voudrais.
 Sobre este dia de folga incomum e ensolarado, ele caminhou para o fundo de uma praça com um grande prédio que parecia com os dos velhos e libidinosos gregos... Sacou um pequeno saco de plástico e... Sem que ninguém lhe desse bola, pois estavam todos descansando ou se atracando em suas casas em uma fornicação de realizarem seus tormentos -ao qual o homem comum pensava ser a Felicidade-, ele pega o coloca na cabeça... Vai respirando, respirando, até que todo o saco se sele em vácuo constante, vácuo de ideias e vida
 Ele cai
 Eu me levanto
 Nada mais é naqueles últimos momentos de vida de um desgraçado pífio de 40 anos que nada fez na vida a não ser passar alguns dias coçando o saco, filosofando na faculdade, cheirando mulheres alheias e bebendo como um porco para esquecer que não fizera na verdade muita coisa a não ser viver nas costas e sonhos de alguns malditos que conseguiram realizar o que queriam
 Realmente, eu surgi para ele, em uma de suas últimas ilusões vivo, eu estava de preto e era de pele verde. Me chamou o cara de Esperança, eu não liguei... Ele deveria espalhar sua vontade por aí... Tentar viver... Mas, o retardado não queria...
 Disse que era um Agente, do tipo especial, que segue e faz por nenhuma companhia... Pareceria até uma de seguros, mas não era... Ele nada compreendeu, eu, em retribuição, levantei seu corpo caído no meio da praça e o coloquei na escadaria do prédio, numa questão de segundos, percebi que ele sentira que seus dedos e pés estavam novamente vivos, "vivos"
 Ele estava de saco plástico na cabeça e olhava pra mim com espanto... Estava com medo, um suicida com medo... É estranho, mas ri dele...
 Por cada polegada de suas juntas saíram alguns fios de nylon, ele estava como uma marionete, sobre meu controle... Lhe disse:
 -Cada fio aqui é um destino teu, meu nome é Flautista, toco uma melodia para cada desesperado que encontro... Você, é meu último retumbar de pratos, estou no fim da sinfonia final de minha vida, a mais bela e triste sobre esta nossa vida...
 -O que quer? -Pergunta o Ensacado
 -Quero que vá até a sua vida e a derrube com as mãos, ela é estranha e frágil, simples e que sempre se olha como um ser complexo e difícil... Pare de chorar, você está isolado nesta trincheira de lobos e ninguém é babá de ninguém!
 -Então... Eu disse que é a Esperança, você é o Verde da Esperança!
 -...
 O sol batia em nossa cara, era um fim de semana de folga para muitos e eu ali, conversando com um detonado, um simples homem...
 -Eu mudarei minha vida... -Falou o cara com voz de plástico, pois ela estava trancada em seu instrumento de tentativa de suicídio... - Poderia conquistar tudo que quisesse! Eu posso! Eu VOU
 -...... -Eu o olhei... A muito tempo, quando não havia sido preso em masmorras, nem matava fadas com o meu ceticismo nos meus filhos pequenos, quando tentei viajar para o interior para conhecer uma conhecida, eu já fui igual a ele... Estranho, um isolamento de anos nos separava, uma questão de vivências nos aproximava...
 Dei-lhe um tapa, enquanto ele sorria para mim... Ele ficou sorrindo, pois peguei os fios que sustentavam sua sobrevida e os rasguei... Todos de uma vez... Todos juntos
 O corpo caiu sozinho, e rindo, na escadaria do velho prédio em estilo de gregos libidinosos...
 "Uma morte bizarra", dizia a Tribuna da Caveira no Domingo de Ramos...
 Andei pela praça e o sol atrás de mim...
 Andei quieto, pensativo
 Eu tentara achar algo que fosse eu, eu falhara como falharia aquele cara
 Aquele zé, aquele homem comum
 Nada mais tinha que fazer a não ser refletir de mim mesmo por aquele tolo
 Ao menos, um tolo que morreu sorrindo
 O homem comum que sorriu.


 MUSIQUETA DA POSTAGEM

http://www.youtube.com/watch?v=sb-4LDMpdp4&feature=fvst

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