Quando o Mundo estiver à beira do Caos
E a Representação se demonstrar falha, pois, varia conforme a
Ignorância
Quando nenhum homem for inventado como Salvador de uma Pátria
Ou, as ideias serem muito distantes para serem cultivadas na mente dos
comuns
Quando os comuns não se sentirem
mais aqui ou ali e não tiverem mais auto-saber
No dia em que o filhote for pela mãe devorado
Quando cão morder o dono por sua virtude
Nós, nós passaremos a existir
E nós, nós passamos a existir
Pois, o único caminho, quando a Palavra não mais representar mero gurnido
O Caminho é a ULTRAVIOLÊNCIA
(Livro Uno do Kanti
Ibizio)
Foram ditas as palavras de início da Conferência, e nós
vimos aquelas três criaturas em capuzes negros entrarem na cerimônia, não
expressavam nenhuma reação, mesmo com fêmeas e machos a tirar as partes púdicas
das roupas, para querer deitar-se com um deles, em histeria de furor dos
jovens. Sim, assim são os Jovens, hormonais.
O orador mostrou respeitos para os três, indo sentar-se
atrás deles, que ficaram em pé, em silêncio. Começaram as chatas apresentações
de textos e teatros daquele Colégio, no Centro de Fass, a maior metrópole de
nosso planeta.
Em um dado momento, quando uma fêmea dançava com uma série
de potes de barro cozido, o Kanti Jabizio se mexeu em sua capa e um silêncio
sepulcral se fez... Ele tirou um braço para fora e lá estava a sua Pistola
Atomizadora. Todos se ajoelharam, prestando respeito:
-Menos um! Fila 45, linha 20! – Gritou o Kanti com elmo de pássaro,
Amo
O rapaz se levantou, em sua camiseta, estava a figura da
rebeldia:
Então, o Kanti Jabizio disparou a Pistola e um
feixe estourou em luz azulada, o rapaz gritou:
-Não, não Greta!!
A Jovem caiu, virando poeira, lentamente... Eu... Eu amei
Greta uma vez... Segurei as lágrimas, prostrei-me com o rosto no chão, só que
levantei um pouco o olhar e vi, olhando para minha face, o Kanti Fano. Eu me
assustei, e me abaixei novamente, ouvi o segundo tiro e luz foi percebida por
mim, de canto de olho.
...
Na sala do Diretor, eu estava insólito, com a morte de
Greta... Ela escolheu o Amor ao invés da Ultraviolência... Não deveria ter
feito isto e...
Abriu a porta e o Kanti Fano entrou, o Diretor saiu, em
silêncio, como eu nunca tinha visto. Fiz reverência e me sentei de costas para
ele, entretanto, ele mandou que se vira-se para mim e me perguntou:
-Rapaz... Quem sou eu?
-Você é o Kanti Fano, o mais velho dos Três Santificados...
Representa o Estado dos Cães, a servidão para a Ultraviolência é sua Segurança,
você deve recitar os poemas antigos e guardar as versões do Livro Uno e...
-Certo, agora, quem é você?
-... – Não entendi a pergunta, mas, de repente, senti como
se algo me olhasse por de trás do elmo de Fano... Algo “maior”
-Eu posso ver a mente, rapaz... Todo o nosso povo podia
antes, no Caos, antes de nós entrarmos e salvarmos nossa existência... Sabe
disto, não?
-Sim... Sei...
-Você, garoto, você quando viu aquela infeliz apaixonada
morrer... Sabe o que aconteceu?
-Eu... Eu... – Com vergonha, confessei – CHOREI! – Gritei e
abracei a capa negra
-Não me importo, menino... Eu sou uma Ultraviolência,
emoções são meu alimento, não as tenho...
-O que... Que é então? – Eu era jovem e apenas chorava...
-Quando a moça morreu, você transmitiu o seu amor para a
existência dela, eu senti isto, é algo normal, porém, você conseguiu enviar esta
carga emocional para outro lugar...
-O que?
-Você criou, meu rapaz... Você criou ela em algum outro
lugar...
O choque foi enorme e, quando vi, adormeci.
VINTE ANOS DEPOIS
Minhas pernas não existiam... Eu estava preso em um par
biônico que funcionava a Urânio, como toda a nossa Sociedade Atômica, era moda
usar jaquetas com neon e eu usava logo um sobretudo, para disfarçar o que havia
acontecido comigo; também meus olho esquerdo era um globo vidro, uma câmera,
além das minhas palmas das mãos, serem apenas sintéticas. Tudo devo ao meu
protetor: Kanti Fano.
Vinte anos atrás, me levou e me estudou, em todas as partes
e sensações, peles e ossos. Algumas partes se perderam... Mas, eu estava feliz,
eu sempre fui um dedicado Agente da Causa da Ultraviolência. Pena que meu mestre, Kanti Fano, fora
substituído, pois, teve de ser internado em um Manicômio, pois, talvez ele
tivesse chegado a um nível irracional do que que fazia.
Porém, eu estranhamente não pude ir para o enterro do grande
Kanti Jabizio, que morrera dias antes, promovido por Alizio, seu substituto. dizem
que de velho, digo... Claro que foi de velho. Estava em Uberlim, cidade do País
dos Pássaros, em missão pelo Ultraviolência de lá, Kanti Amo.
A Cidade era estranha, de forma de fôrma quadrada, de cima
parecia uma tábua de hexágonos, W. Cristalerio, um prefeito de lá, tinha feito
uma série de reformas que destruíram a velha e eclética cidade, organizando-a
racionalmente, como tudo deve ser. Entretanto, puteiros, ou como chamam quem os
frequentam, “baladas”, estavam por toda a parte naquele pequeno núcleo central,
aonde se mantiveram algumas construções antigas.
Recebi um comunicado do satélite atmosférico: “Alvo a vinte
metros, emana vermelho”
Cheguei perto e vi, com corpo esbelto e jaqueta neon, uma
fêmea. Abordei e disse:
-Têm cigarrilhas?
-Eu? Eu tenho... Mas, você é estranho...
Ela me deu, eu coloquei na boca e ela acendeu:
-Estranho, parece que eu te conheço... Como se chama?
-Eu? Iano, e tu?
-Greta, Greta Esgrima e...
Dei um golpe com a mão aberta nela, de Uki-doki [um tipo de
luta como karatê], caída, esperei com ela num canto, fingindo fazer coisas com
ela, relações carnais.
Logo, o apoio chegou e levamos ela para um prédio de
delegacia, que para nós significa aonde ficam nossas Câmaras de Gás, Cadeiras
Elétricas e Incineradores. Lá, deixaram os outros Agentes a tal da Greta nua,
pendurada em um gancho fincado nas mãos, estranho, parecia que eu sentia algo
por aquela coisa... Ela tinha duas Pistolas tatuadas na escápula, algo incomum
era... Não pelas tatuagens, mas, pelo fato de que eram Pistolas Atômicas...
Chegou em uma cadeira de rodas, o velho Kanti Amo, e com
reverência, os Agentes levaram ele para a frente da tal de Greta. Os Agentes
quiseram violentá-la, preferi que não, pois, já vi como ficam as fêmeas ou
machos todos sujos, isto poderia ser feito, mas, só depois dela ser vista pelo
Kanti. De frente para ela, Amo disse:
-Então, você é o Ponto Fixo, o Problema de que tanto Jabizio
se queixou... Agora, prostituta – e o Kanti do Pássaro cerrou os dentes,
babando – você será morta!
Fiquei por um momento esperando que alguém viesse com uma
arma ou algo assim, quando vi que o próprio Kanti tirou sua Pistola Atômica do
blusão que estava. Com as mãos tremulas, mirou na moça, eu ajudei ele a segurar
a arma:
-TZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZIM
O primeiro tiro, apenas fez o corpo pálido dela brilhar... A
pistola falhou, FALHOU!
Mais um e mais outro, nada aconteceu... Era impossível
qualquer coisa sobreviver aquela arma, era a coisa mais poderosa no mundo
(permita, pois, as bombas atômicas eram controladas pela Ultraviolência).
A garota abriu os olhos, eles estavam mais verdes do que
nunca, ela disse:
-A primeira era a Lesma, agora, é o Pássaro que deve
MORRER!! – E ela arrancou a mão do gancho, ficando com os buraquinhos nas
palmas. A luz apagou, o que é impossível, pois, nossas Usinas de Energia do
Urânio são interruptas... Ao menos, eram...
O Impossível aconteceu. Acontecia naquele dia.
O Kanti gritou pelos outros Agentes da Causa, ninguém veio,
a luz piscava e eu e ele nos vimos cercados por astronautas de roupas laranjas,
Greta, no centro, olhava furiosa para o meu mestre... Me foquei em não demonstrar
medo, meus olhos estavam desacostumados com a falta de luz, ao escuro, não
podia mostrar a arma que tinha no bolso do meu terno.
-AMO, SUA SENTENÇA CARREGADA DE SEUS ANTEPASSADOS ESTÁ PARA
SER CUMPRIDA!!! - Gritaram em coro, os
astronautas, Greta, junto, percebi um Elo Psíquico entre eles.
-Quem está aí???! Quem são vós?!!!
-NÓS, NÓS SOMOS OS COLONOS NYXK, ANTIGOS DONOS DESTE MUNDO
CORROMPIDO!
-Quem??? Vocês são Agentes do Caos??? Nós, a Ultraviolência
salvamo...
Um feixe de luz acertou a cabeça do Kanti... Eu vi a cabeça
desmanchar em fluídos, por dentro do elmo de Pássaro. Por uma vez mais em minha
vida, chorei uma lágrima:
-Então, agora sou eu?
Um dos astronautas abriu seu elmo e eu me vi, gritando a
seguir:
-FANO! MESTRE FANO?
Ele me abraçou e disse:
-Obrigado, obrigado, meu pequeno experimento! Graças a
você... Nós salvamos, salvamos a Ultraviolência!
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