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domingo, 26 de janeiro de 2014

Soco

 Retirou levemente as bandagens que cobriam suas mãos feridas, enquanto via os seus colegas, mortos em sua frente, abraçados com suas baionetas cravadas nos enormes robôs de brilho pálido e amarelado do Imperador.
as forças rebeldes estavam liquidadas e aquela moça, que lutava boxe e fora famosa um dia, não mais dizia nenhuma palavra, passava levemente a mão no cabelo rosa que crescia de novo... Não havia muita coisa além de olhar levemente para a poça que a chuva fazia, olhar sua cara careca.
 -Sou uma estranha aqui... - Disse, para os mortos, levantou-se e arrastou enormes luvas com caveiras desenhadas.
 -Se não temos nada pelo que lutar, talvez não seja preciso mais viver. - Falou para o abismo que aparecia na sua frente, era uma vala aberta por um bombardeio de Bomba Nadsat que transformou o céu em um grande espaço laranja, como o macacão dela, Varia Mari
Lá embaixo, alguns caídos pelo ataque posterior, e posterior, e posterior, não sei mais. Apenas vi que Varia andava em círculos, pensando qual seria o melhor momento para pular, quando, de repente, veio uma memória e a li:
 Espelho de cristal dado por seu namorado que era um gato refletia seu sorriso cômico cheio de dentes, pegava grandes luvas com caveiras desenhadas e colocava, firmemente sobre as mãos, aquela arma para seu Coliseu seguia com intensidade batia, lá estava ele, Rudolfo Pentaleão, o último campeão de boxe do Império...
 Um, dois, três assaltos e não havia mais Pentaleão, apenas seus dentes no chão deste fluxo de consciência que a memória final de Varia...
 Um belo cinto de alumínio e aclamação, correu para o quartinho aonde trocavam de roupa e a tirou, lá estava seu namorado, taciturno e olhando-a com olhos de sereia, olhando como se quisesse algo mais dela. E ela tirou a roupa e o beijou. O sol da manhã seguinte entrando pela claraboia foi o que os acordou, ela estava preguiçosa, mas, em pelo levantou enquanto ele segurava sua mão, sem soltar:
 -Esta guerra... Está chegando em nós, não? - Disse, soltando a mão dele e penteando os cabelos
 -Sim, está... Mas, nós venceremos ela antes... - Respondeu o namorado, pondo sua máscara de felino, que era moda naquela época daquele povo.
 -Somos vinte contra cem, o que podemos fazer?
 -Ter motivos para lutar, oras...
 - E qual é o seu?
 -Depor o Imperador...
 Ela permaneceu em silêncio, pôs um colete azul, bufou cansada por estar cedo e ter compromissos logo. Não disse adeus direito para ele, tomou café verde e beijou levemente a mão dele.
 Foi o dia do Grande Ataque, aonde as forças do Império arrasaram com Bombas Nadsat a capital dos rebeldes. Varia pegou um trem algumas horas antes, para promover sua vitória, aquele que ela não deu adeus direito, não.
...
 Olhou firmemente para os corpos lá embaixo, estavam cinzas ora laranjas.
 Deixou o corpo cair
 Todo o peso de tudo que tinha parecia enorme.



 Abracei-a com meu enorme braço, continua bela quando assustada, esta Varia. Com seu grito, revelei quem eu era dizendo algumas palavras:
 -Olá, Varia! Como está a minha campeã?
 A surpresa dela ao ver que eu, Rudolfo Pentaleão estava vivo fora enorme.
 Passado o susto, voltamos a andar, não havia muita coisa em pé, mas, achamos uma venda aonde deram água e suquinho para a moça. Seguimos pela cidade até encontrarmos uma patrulha de homens com cara de máquina, eles falavam com sotaque da Capital do Império e olhou Varia de perto...
 Passamos por eles, Varia estava exausta, queria descansar... Começou a clarear uma luz solar branca, que cortava as faces, ordenaram para que nós fossemos de volta para nossas casas, entramos em qualquer uma ainda em pé
 -Sabe... - disse-me ao achar uma cadeira - queria meu cabelo de volta, mas, com as bombas não dá... Passei um bom tempo da Guerra olhando-me em espelhos depois que perdi os cabelos, é fútil, não?
 -Por quê? Eu era barbudo e cabeludo e agora sou um ovo avermelhado... - Rimos, mas, não muito
 -Porque era por isto que lutava... Não era por alguém... Pensei nisto hoje, antes de... Bem, de você aparecer...
 -Mas, qual o problema de lutar pelo seu cabelo?
 -Mas... Quando minha terra natal explodiu... Bem... O que eu amava morreu em mim para virar isto: cerrou os punhos e me mostrou
 -Eu sempre li em livros e diziam pra nós na escola que, bem, deveríamos ter coisas grandes e honrosas para nos preocuparem... Depois de um tempo... Não sei... Não sei se isto realmente é real e de verdade
 -Então, se não lutarmos por grandes coisas, lutar pelo que?
 Olhei para o chão, era cinza como tudo, mas, ainda tinha manchas de laranja.
 -Pelo que lutou pela primeira vez? - perguntei
 Vi um fluxo vindo e entrei nele, lendo-o:
 Estava jovem a dona Varia Mari quando seu pai, numa cama, olhava-a a dizia, vestido de uma máscara de urso:
 -Filha, teu irmão é doente, tua mãe morta, o que fará para sustentar suas pernas?
 -Não sei, pai - Chorava, parou e falou: - Você me ensinou a lutar!
 Como se já soubesse a resposta, falou:
 -Olhe minha face
 Ela tirou sua máscara e viu a cara desfigurada do pai
 -Isto é pelo Boxe que lutei minha vida inteira, ele pôs comida para vocês por muito tempo e agora me matou...
 -Eu sei...
 -E quando meu pai morreu, do mesmo jeito que eu, também era assim...
 -Mas, o que vou fazer mais do que lutar?
 -... - o pai ficou em silêncio, apenas apontou para uma caixa enorme aonde as luvas que eram mais gigantes para ela naquela época estavam num baú no pé da cama
 Começou assim, de liga em liga, até o pai morrer por seus ferimentos, nunca mais disse uma palavra.
...
 No fim das contas, entendi, quando olhava para o corpo curvado de Varia naquela cadeira, a luz do branca do nosso sol cai-a-lhe nos olhos, acordou, me olhou e fixou enquanto eu dizia:
 -Esta na hora de irmos, Varia... Esta na hora de morrer
 Ela tocou na barriga e lá havia sangue, laranja, ainda brotando. A dor voltou e ela cuspiu em cima de mim...
 -Você me lembra ele... Pantaleão...
 -...
 -Nunca pude dar um adeus direito pra ele... Quando, a cidade explodiu e... E...
 -... Eu sei.
 E minha mão tornou-se cara crapulosa e curva, arranhava a parede, fendia pouco a pouco ela e tomava a sua energia, sentia que deixava ela mais e mais cansada... Estava tocando sua face, cortando a sua vida, quando ouvi ela dizer:
 -Lutei por você, lutei pelo meu pai... Lutei por rebeldes, lutei mesmo contra robôs... E...
 Minhas caras tornavam-la mais e mais pálida, o sopro ia vindo e eu começava a me sentir enlouquecido com aquele tom de rosa e laranja, aquela pequena era ótima... Senti quando ela me tocou na face, olhei-a nos olhos, os meus vermelhos e os dela verdinhos
 Disse qualquer coisa, ouvi apenas, em meu inebriante ato:
 -... mim
 Cai para trás a seguir, o soco foi tão forte, que eu não enxergava nada, ela corria pela porta iluminada, eu tentei me levantar, mas, cai novamente, estava morrendo... Com um soco estava morrendo...
 Minhas garras apontavam para a porta, quando vi o corpo de Varia iluminado pela luz, vi então ela como quando ganhou do seu amor Pantaleão o campeonato, vi ela rosa, laranja e dando porrada...
 Cuspi laranja, entrei em coma e morri, não sei se por sorte ou esperança







domingo, 13 de outubro de 2013

Os múltiplos dragões Zarr

Então, o grande Sábio Diezarr uniu todo um grupo de cinquenta tons de dracônicos negros, e todos os Zarr se viram em enorme paz interior. Seus corpos, naquele momento, eram mais curtos e possuíam apenas quatro pernas, mediam apenas cinco braças (mais ou menos 5 m) e suas pelagens estavam escuras, devido ao grande tempo em que o chão ficou em permafrost, um gigantesco mundo gelado na superfície que fez com que os seres Zarr aprendessem a Arte de Minoritar.

Como dizia o próprio Diezarr: minoretar é esquecer-se de si como algo importante e focar-se nas grandes entidades que existem dentro de si, deixando que seus pés movam-se em nado para cima e carreguem os ares para trás de si... O resultado disto é o minoreta, o voo pelo inflamento de nossos ossos e bolsas internas, nós, com isto, nos tornamos os Senhores do Celeste, com isto, atingimos às alturas.

Após os duzentos anos de Era Mundial Glacial, os Zarr começaram a desenvolver enormes canhões que usavam a energia dos grandes vulcões cinzentos para causar um Aquecimento Global. Os vapores iam subindo e revelando os velhos continentes, nesta era, foi fundada pelo Senado das Tribos uma enorme base, feita com cinco grandes canhões como base, Minorito – a “estrela em cima das nuvens”.
Neste período, tomaram contato com Niniel, um Serafim que conduzia um grande cruzador interdimensões, um Nyxk. Com ele, o povo Zarr tomou conhecimento do Mundo Exterior ao seu e começou a desejar a sua total compreensão... Porém, algo grave aconteceu... Com seus enormes canhões de degelo, os Zarr tiravam o calor interior do planeta Zarr e lançavam-o sobre a superfície, como enormes jatos energéticos. Até aí estaria tudo bem, entretanto, o planeta Zarr era na verdade uma enorme entidade viva, aonde uma enorme parte de seu continente era na verdade uma estrutura bacteriana, o Mumio.
Niniel sabia disto e deixou tudo acontecer, pois, quando o Mumio acordou, arrebentou toda a enorme civilização Zarr, matando milhões, inclusive os líderes globais. O Serafim roxo iluminava-se com o saber de tudo aquilo, porém, foi descoberto que ele e seus apaixonados, outros Zarr, haviam deixado tudo aquilo acontecer...
Com ele estava a Serafim Oganiel, que tomou parte em providenciar peças Nyxk para construir as primeiras Naves daquele povo, chamadas de Arcas. Entretanto, Niniel se achava no direito de impedir isto e matou Oganiel, fulminando a primeira nave de fuga com seu cruzador.
Neste período, havia um geógrafo chamado Boarazarr, ele era o principal representante de uma Escola de Pensamento, o da Honra Guerreira, que dizia que apenas o ensino e paz do minoritar não era o bastante, apenas considerando que em nós existe um eterno conflito e que pelo acaso devemos viver, não apenas na busca do equilíbrio, é que este grupo formou cerca de um continente inteiro de outras cidades Zarr. A conta fora de duzentos mil Zarr que impuseram um regime ao qual Boarazarr implementou: a Cura pela Conservação da Espécie Zarr.
Amplificando seus canhões ao máximo, os Zarr atraíram Niniel e suas tropas para Minorito com a promessa de submissão da Escola de Boazarr pela rendição do próprio. O serafim roxo desceu do espaço para a enorme cidadela dourada e, enquanto tomava as honras, viu que as naves dos Zarr partiam das outras cidades, ao qual ele respondeu para que destruíssem a todas o seu Cruzador Galático.
Entretanto, da terra saíram as enormes garras e tentáculos disformes de Mumio, que chegara na massa crítica...
A própria Minorito, começou a ser devastada, os quadrúpedes Zarr morriam, e o desesperado Niniel vira que não podia lutar com tal entidade... Neste momento, a própria cidade de Minorito ascendeu, atingindo o espaço, atingindo... O Cruzador de Niniel!
Disparando seus enormes feixes de laser vermelho, a nave matou o próprio Niniel, porém, a proximidade da bactéria Mumio fez com que seus enormes tentáculos atingissem a estabilidade da nave...
Enquanto isto, Boarazarr nas poucas naves que saíam da atmosfera, ligou o último presente da Serafim Oganiel, Globos de Viagem Interdimensional (GVI, ou Gevi) que, mesmo instáveis, puderam lançar as naves no hiperespaço velozmente, escapando do que acontecia na atmosfera do planeta.
Então, o Cruzador Nyxk caiu sobre o enorme Mumio, que, já exausto de tudo aquilo, apenas emitiu um ruído na língua dos Zarr que captaram em suas naves (ou pensaram ter ouvido) algo como: - Chega! (Afuunziur!)
E enterrou-se no interior do planeta, causando um cataclisma de fogo azulado, explodindo, Zarr.

MUSIQUETA - Eyes Wide Open – Gotye 




Os dracônicos Zarr e suas Torres de Guerra

Viajaram assim por um século e meio, Boarazarr ficou preso por genocídio até a sua morte; apenas dois milhões se salvaram, dos duzentos que haviam antes. Porém, o Governo da Nave manteve a Filosofia da Honra pela Espécie e puderam sobreviver, modificando seus corpos e treinando em primazia o minoretar.
Agora, consistiam os Zarr em gigantescos dragões-serpentes com pelos e face lupina ou canídea (pela tradução dos Crisociom, repito, NT) e toda a arquitetura se converteu em formas geométricas notórias. Neste período, eles foram abordados por diversas naves Nyxk, buscando algumas justiça, outras, amizade. Os Zarr, então, transformaram-se em Piratas Espaciais e viajavam de asteróide em asteróide, de lua em lua, até encontrarem um Novo Mundo.
Muitos morreram de fome e pelas instabilidades do Gevi (os Globos de Viagem Interdimensional), pois eram muito instavéis as viagens e podiam durar vários anos, sem uma única fonte de proteína ou fibras, alimento, sequer.
Porém, no novo país, institui-se plenamente a Honra da Espécie, e pelas mãos de um Novo Senado de Tribos, os Zarr decidiram por uma Guerra contra os Serafins, que passaram a ser inimigos dos Zarr.
Sua geométrica tecnologia e seus corpos dracônicos foram úteis na construação de enormes Torres de Guerra, retangulares e retirando a energia de sistemas atômicos semelhantes aos velhos canhões de descongelamento do planeta original, um único indiovíduo controlava mais de vinte alavancas simultaneamente. Cada par de alavancas dava para um andar d’onde saíam quatro canhões com capacidade atômicas. Entretanto, esta unidade de combate era apenas para as batalhas dentro de planetas, não sendo boa para a viagem extraterrestre... Mesmo assim, com esta tecnologia, os Zarr dominaram o Novo Mundo.
Novo Mundo que era meu, dos pequeninos seres Crisociom, acho que éramos agrícolas naquela época... Os Zarr transformaram a atmosfera em um enorme massa de nuvens, a terra tornou-se úmida pelas enormes chuvas, oceanos aumentaram, nós não podíamos comer mais. Com as Torres de Guerra e nossos vulcões dominados pelos Zarr, eles nos conduziram para o grande extermínio... Nós nos tornamos o que eles eram antes, nosso planeta, antes apenas um enorme aglomerado de nossa espécie de um metro, reconheceu as estrelas... Só que rápido demais, nós deixamos de existir, governando as terras mortas do agora Novo Mundo Zarr, o chamado Minorito.
As vezes, enquanto olhava para o céu escuro de nuvens eternamente nubladas, via uma nava Zarr, uma Ouroboras (eternidade), como chamava meu clã, aprendemos com os Zarr – que não nos matavam diretamente, mas, pelas suas ações no nosso planeta – estava escrito um dos mais famosos e repetidos provérbios destes seres voadores serpeantes, se para nós existiu o Olho por Olho, para eles existe:

Honra sobre Honra, honrai seu corpo e sobre o corpo inimigo, como fonte de Memória, serás Eterno enquanto as batalhas durarem – e como para os Zarrs, a Batalha pela vida era eterna, sempre haveria a necessidade de Honrar algo.

domingo, 15 de setembro de 2013

Organização Secreta dos Eletrônicos – OSE

A OSE foi desenvolvida a partir dos partidários contrários a expulsão dos Barfos do Continente de Waum, medida criada pelo ainda partido da Ultraviolência. Como eram pouquíssimos que se opunham a tais medidas, Ortoniel, um serafim que vivia naquelas terras, resolveu apoiá-los e perguntou o que eles gostariam de ter para poderem derrotar e implementar um golpe de estado contra o Partido da Ultraviolência, que cada vez mais tinha votos maiores na Confederação das Tribos de Waum.
Formou-se então o Instituto Elétrico, nomeado assim pois seus partidários eram a favor de energia hidroelétrica ou heólica e não de fontes das ricas minas de rochas radiotivas, as quais as companhias de Sar, chamado de “Kanti” (que viria a ser tutor do Kanti Ibizio, escritor do Livro Uno, elemento principal da doutrina da Ultraviolência), faziam posição de exploração máxima.
Ortoniel, o Serafim Branco, decidiu que eles seriam mortos ali e resolveu, em sua vontade de observar a criação das mentes inteligentes, levá-los para um Planeta que não havia ainda sido contactado pelos Nyxk, porém, que fazia parte do Pensamento. Levou-os lá e deu a eles uma mala de tecnologia avançada e chaves sônicas, para que eles entrassem em contato com os Raquitas, seres reptilianos que tinham uma tecnologia biológica a partir de plantas e frutas.
Entretanto, o primeiro Grão-Mestre do Instituto, Filito, observou que nada podia fazer com diplomacia com os Raquitas e que suas tribos, com medo e temor por aquilo tudo, fugiam  e se armavam com enormes armadas feitas de samambaias e tanques de frutas de caldo ácido. Empregou em convencer todos os membros que estavam com ele para empregarem a fusão das plantas-olhos-quartzo (que eram como gigantes lupas estrelares) junto com toda a mala de tecnologia Nyxk para que, em fusão, criassem a Arma Suprema do Instituto. Os sessenta membros assim acordaram e criaram aquilo que veio a ser chamado de Caçador Cobaias, enganando os Raquitas que observaram as estrelas para o outro lado e viram as extensões da Galáxia, mas, não os Nyxk, que estavam do outro lado, não sabiam a forma destes e Filito disse ser um, disse ser um Deus e com a caixa ele provou isto, criando máquinas de metal e pedra.
Com o Caçador Cobaias criado, os Raquitas que deram as plantas-olhos-quartzo foram aprisionados em um vale e a maioria teve suas pernas cortadas. Quanto aqueles que eram contra o Instituto, foram aniquilados, tribo por tribo, povo por povo. A gigante máquina em forma de dirigível, com olhos e pontas saindo de sua esfericidade de quatro braços principais e tentáculos auxiliares, era comandada por quinze membros e destruía em minutos centenas de Raquitas. Porém, o Caçador Cobaia não só destruía, também criava, pois Filito falava de suas ideias para Ortoniel, que vivia pálido e vigilante, sobre a maior montanha do planeta Raquita. O líder contava e o serafim, que não era adepto da moral da Descência, aceitou tudo: os cortes começaram, e não eram mais mortais... Os raquitas, em sua antropomorfismo reptóide eram cortados e separados dos membros, armaduras de plantas sendo substituídas por carne metálica e puro aço, engrenagem colocadas em todo e qualquer lugar e o sexo daquela raça, que era apenas um, multiplicado, dividido, leis morais colocadas por choques, novas formas e deformidades espalhadas em aldeias para serem queimados vivos em fogueiras, dentro do temor do povo pelo novo...
Os raquitas, então, foram sumindo, foram sumindo cada vez mais das grandes florestas, dos Grandes Salões do Sol Vermelho. Logo, Raquita inteira foi queimando pelas mãos do Caçador Cobaia e das guerras para aniquilar aquela criatura. Então, e só então, o velho Filito instituiu o nome de Ordem Eletrônica e deu a si mesmo a Diretoria.
Os quatorze que estavam com ele já estavam também todos velhos e entraram novos, um novo time para controlar Cobaia. Então, foi tomado em conhecimento de Filito que na colônia da Ordem ele era chamado de “o Monstro” e ele tomou isto como elogio. Porém, doze dos que estavam ali não aceitavam suas questões e decisões de mutar tantos raquitas para escravidão e criação de bestas mecânicas. Um único que o apoiava era Greto Fano, um nascido em raquita e seu amigo.
Acontece que, temendo alguma revolta, Filito começou a orquestrar suas obras-primas: Engederões, um tipo de ciborgue com mínimas partes raquitas. Sua estrutura seria além do combate, eles seriam soldados invencíveis por terem as chamadas Jóias do Esquecimento, uma rocha psiquenita mesclada com um cálculo de programação que gerava o esquecimento daqueles que vissem o portador do dispositivo. Assim, eles não podiam ser percebidos, assim, eles nunca seriam vistos por suas vítimas. Porém, o velho Filito não podia resolver a equação que dava o cálculo correto da programação, seu desespero era completo.
Só que um jovem, o jovem da Ordem que era amigo de Greto, havia aprendido com raquitas escravos como estes faziam suas operações lógicas e, combinando com a necessária para gerar a Joia  descobriu que ambas eram as mesmas... E descobriu tratar-se da mesma tecnologia, ao qual Filito, há muito tempo, escondera. Contou para seu amigo Greto antes de fugir para a colônia da Ordem, pois não aceitou que suas ideias criassem criaturas tão destruidoras quanto os Engederões. O jovem Fano, em caso de inocência final, contou para seu mestre, temendo que seu amigo tivesse sido convencido pelos outros doze.
Filito então ordenou que não o Caçador Cobaia fosse às colônias, mas que os Engederões o fossem, eram desseseis contra mais de duzentos, que tentaram proteger o menino. Horas depois de tudo feito, a colônia caiu em chamas, todos mortos, o amigo de Greto se matou, antes dos seres pegarem-no.
Os doze então entraram em revolta e pararam o Caçador Cobaia. Filito, desesperado, saiu de sua máquina e encontrou Greto, com a cara inchada de lágrimas. Ele prometeu ao seu mestre que daria a resolução da equação se ele lhe desse o seu cargo, o velho aceitou e assim foi feito: os Engederões invadiram o grande Caçador e prenderam os doze.
Em horas, codificou as jóias com a ajuda de Greto. No fim do dia, ele lhe deu seu brasão de Diretor da Ordem. À meia-noite, com as Jóias colocadas, disse Greto:
-Sobre a Ordem dos Eletrônicos, eu ordeno a mudança desta para os Campos Secretos, por seus crimes contra os Raquitas... Liberto todos os escravos presos pelos transistores e chips e, pela ordem instituída apenas pelo Diretor da Ordem...
E nisto, Filito já gritava com ele e acertara em sua cabeça uma chave de fenda... Antes de matar Greto, sua mão foi esmagada por um dos Engederões, que em uma última vida, fora Quiita, apenas um raquita que perdeu tudo e que agora tinha uma enorme engrenagem no lugar da testa.
Filito foi preso há uma rocha e Caçador Cobaia foi usado nele, abrindo-o e jogando na mistura de entranhas compostos que fizeram ele solidificar em uma estátua medonha.
Greto Fano adquiriu o nome de “Antropo”, o humanitário, traduzindo porcamente, espalhou os quinze membros pela galáxia e formou vários raquitas membros da agora Ordem Secreta dos Eletrônicos. Sua missão era preservar a vida ou pesquisá-la no fundo da capacidade de criação, porém, evitando criar criaturas como os Engedrões, sempre privando pela escolha ou não... Pela total mecânica ou caos.

Sobre Greto, esconderam-se os Engedrões, sobre os lugares abandonados de um planeta chamado Rnu, sobre eles, lá foram guardados talvez um dos exércitos mais mortais. Ortoniel, o Serafim Branco, porém, espiava tudo, da mais alta montanha de Raquita e, de lá, de lá engendrou algo com engrenagens monstruosas as quais aqui não irei contar.

domingo, 25 de agosto de 2013

Tapião

-É, horrível toda esta montanha de água... Dizem ainda que ela é doce!
-Horrível, meu vereador, horrível mesmo... Preciso confessar que gostaria de voltar para o nosso planeta logo, sinto falta das chuvas de amônia que banhavam as nossas faces...
-Tudo bem, Polarim, logo voltaremos... Temos de continuar a nossa exploração para colonização – O vereador passou a mão para tirar a poeira que os seixos arredondados criaram em sua calça boca de sino, levantou-se da rocha em que estava e pôs seu casaco longo e negro, assim como seu capacete-com-abas (eu diria que parecia um chapéu, e assim vou chamá-lo).
-Aonde vamos agora, meu senhor? – Disse Polarim, que é o diminutivo na língua daquela raça para Polaris, seu nome era Dola Polaris e ela era concubina do Vereador, servia para a sua diversão e reprodução.
-Vamos para uma cripta no centro desta terra rochosa e negra, os viajantes de nossos cruzadores-espaciais Nyxk nunca enviaram ninguém para lá e é necessário que alguém veja do que se trata...
Enquanto os dois passavam pela praia para subir um monte rochoso, que apenas tinha alguns poucos líquens vermelhos, a nave em forma de triângulo usada para a descida dos dois, fora desligando as luzes e, aos poucos, a atmosfera nebulosa do planeta foi tomando todo o lugar. Polaris e o Vereador tinha variadas formas, ambos tinha narizes que pareciam de gatos, dada que eram pouco pontudos e pintados em baixo de preto, só que o corpo de Dola era loira, menor e o tronco mais acentuado, já o Vereador, careca, tinha longas pernas. Também tinham os dois um tipo de sobre-pele cinzenta, d’onde saiam canos que se curvavam retangularmente, voltando para a manta, apareciam só nas partes descobertas da roupa e, no pescoço, viravam uma coleira aonde saía um capacete; isto existia, pois, a espécie deles, os Eupalinos, viviam em um planeta aonde a amônia era líquida e coisas como a água, para eles, não existia em abundância, para esta espécie, esta coisa era até mesmo algo de mal-agouro: o lugar aonde o “demônio” vivia era chamado de “Lugar aonde a água molha os pés” (Ouriuris) e o seu nome era mesmo “Senhor dos Aguados” (Ouraror). Mas, fora toda esta mitologia antiga dos Eupalinos, eles tinham problemas com a água, que não os matava, mas, uma vez em atmosferas como a deste planeta e de outros com muita água, passavam a desenvolver doenças pelo nível de toxidade, por isto, criaram roupas em que saiam tubos que retiravam toda a água absorvida pelos seus corpos, as Eupavestes.
A água tomava tudo ali, o próprio planeta em que estavam não tinha quase nenhum vulcão, pois, o seu núcleo era praticamente frio: o planeta girava vagarosamente e só não ficava estático e congelado porque a estrela branca em que ele transladava enviava tanta energia para ele, que o fazia girar e ter dias e noites. Porém, quando os Conquistadores aos quais o casal de Eupalinos estava trabalhando passaram por ali, fazia  décadas, passaram por este planeta, nada encontraram, a não ser alguns líquens vermelhos e o oceano de água doce que era tão profundo que chegava até o núcleo do planeta. Tamanho era o silêncio que só era quebrado pelas ondas intermináveis em uma costa rochosa que eles chamaram este lugar de Goostomu, “aonde tudo dorme”.
Ao tempo de que contei as questões sobre a aparência de um Eupalino e sobre o planeta Goostomu, o casal chegara até a enorme cripta, lá havia um gigantesco túnel para baixo, aonde várias ramificações tomavam para o centro de uma lagoa.
-Olhe aquilo! – Disse o Vereador, apontando para as paredes – A rocha é polida, tem algumas coisas nela...
-Sim, meu senhor... São escritos?
O Vereador pegou um aparelho redondo que liberava um escâner de luz, acertou várias marcas menores, até que elas falaram bem assim:
“Nós deixamos – nosso senhor – nosso último líder – nosso salvador – nosso que dorme aqui – manteremos ele para sempre – tapião”
-A língua deles... Estranha, só fala relaciando tudo para “eles” – disse Dola
-Sim, ela é uma língua sem objetos, parece que eles só ligavam para o seu povo... Entretanto,  o nome do que quer que exista aqui é algo como “Tapião”...
Olharam os dois para aonde se acabavam as pedras dispostas circularmente pela cratera, e lá havia uma outra pequena gruta. Seguiram até um salão no centro, o Vereador a frente e Polaris atrás. O pequeno lugar arredondado tinha um vulto, e do vulto gordo saíram olhos verdes que olharam os dois...
O corpo do Vereador voou para bater no teto do túnel, enquanto Dola era jogada para trás. O pernudo eupalino quando caiu, ainda desorientado, mas, nem tanto, sacou sua pistola de ácido e jogou um jato para a criatura, que diminuiu de tamanho e fitou a dupla...
O Vereador perguntou se Dola estava bem, e ela disse que apenas estava espirando, talvez por conta de estar no período fértil da espécie (o órgão reprodutor da eupalina fêmea é na boca), e não precisava que o seu senhor se preocupasse, em pouco tempo, ela já retirou sua pistola de ácido também, assim, ambos miravam no vulto. Perguntou o Vereador:
-O que é você? – Ele falou para o objeto redondo, que era um transcriptador Nyxk que usava o banco de dados do planeta biblioteca Rudedeon-3, e apontou para a criatura. Esta, nada disse, apenas apontou um de seus olhos para eles e os dois passaram a levitar, temendo um ataque, Polaris atirou próximo aonde a criatura parecia brotar do chão e eles caíram:
-POR QUE ISTO, POLARIM? – Gritou o Vereador.
-Ele ia atacar a gente, meu senhor!
-Como podíamos saber? Talvez ele nem saiba falar alguma coisa e...
-Ela estava certa, pernudo... – Saiu uma voz rouca do vulto, que tomou forma, como se levantasse por estar sentado: era de pelos castanhos tão escuros, que negros quando não vistos contra a luz.
-Quem é você? – Apontaram os dois para o ser suas pistolas de ácido
-Eu sou Tapião, senhor desta terra e último Gore vivo...
-E o que quer?
-Eu? Eu sou o último de meu povo... Dei a eles a liberdade e eles quiseram me compensar aqui, me deixando como uma estátua para lembrá-los de seus grandes feitos... – Tapião olhou para os dois e eles puderam ver que ele tinha um focinho, d’onde saiu uma pequena língua que emitia a sua voz, fixando seus olhos no Vereador, ele viu:
-Ahhhhh sim, Vereador... Você e seu povo, Eu... Eupalinos... Vivem em um mundo infernal, digo, para mim...
Então, ele entrou na mente do Vereador e descobriu, enquanto ouvia a atenta Dola Polaris tudo aquilo:
Em Eupalina, lar de ambos, estava Mégara, um Comandante que se apoiava sobre braços maiores que o corpo disse para o Vereador:
-Você levará ela para longe, pois, ela logo terá o ovo que é seu e logo este deverá tomar o seu lugar como Vereador, como é a Lei... Quando isto o fizer, você não poderá concorrer a vaga de se tornar um Comandante, como eu sou, meu camarada... Largue esta miserável em algum lugar da Galáxia, chame os Nyxk e viaje até lá, como é o nosso acordo como eles e deixe ela lá... Mas, cuidado, escolha um lugar... Um lugar aonde ela não atrapalhe...
-Mas, mas ela terá um ovo meu... – Disse o Vereador
-E você teve sempre as melhores notas nos nossos testes, será um ótimo Comandante... Agora, você prefere ser bom para todos e com sua meta, ou com algo que você nem conheceu? Sabe que matar a fêmea não é uma opção! Os detetives descobririam o corpo! (o aborto, na espécie do Eupalinos, não era possível sem o risco de vida da mãe)
-... – Sobre o silêncio do Vereador, sobreveio uma imagem a mente de Tapião, e ele disse:
-Então, o Comandante Mégara apertou um botão da nave que trouxe vocês dois para o cruzador que os traria para cá... Interessante...
Com lágrimas no rosto, que eram brancas, por serem de amônia, Dola olhou para o alto e pernudo Vereador. Não dizia nenhuma palavra.
-Polarim... Isto é mentira... Minha pequena Pola...
FISSSHHH
Disparou a pistola de ácido dela no peito do eupalino, enquanto este caia no chão do salão e morria, com o ferimento infeccionando devido a umidade da atmosfera.
-E agora... E agora... Pequena Dola Polaris? – Perguntou Tapião
-Você... – disse ela, limpando as lágrimas – você não sabe?
A criatura sorriu e dobrou seu corpo como um gigantesco fluído escuro, que entrou no ferimento do Vereador, até fazer sua pele tornar-se viva novamente, o corpo levantou-se e perguntou, ainda com voz rouca:
-Em meu mundo, há a figura do casamento... Gostaria de se casar comigo, Dola Polaris?
-E... E o que você me oferece?
-Toda a Eupalina para nós, como os Comandantes Supremos e seus filhos saidos deste ovo que gesta, vivos, assim como você...
-... – Dola sorriu, abaixou a pistola e comentou – Você também olhou para mim, não? Viu sobre... Mégara?
-Sim. – Tapião vira, Mégara enganar o morto Vereador e beijar em cantos dos castelos, a boca de Dola, porém, além de beijá-la, também a acorrentava por dias e batia, ela fora a sua maior criação para derrotar o seu maior rival – Quando encontrarmos com este Mégara, será preso por tentar nos matar, nos mandando para um planeta habitado por um monstro antigo que dizimou toda a sua sociedade...
Nisto, os dois estavam já embarcados na nave triangular, voltando para o cruzador, para irem para casa. Mas, a dúvida daquilo que ouvira surgiu na cabeça de Polaris:
-Como assim, um monstro antigo? Como vamos provar isto?
-Sabe, minha cara Dola – sorriu Tapião, na pele do Vereador – quando a minha espécie morria, ela se decompõe em água
A moça, lentamente, chegou a mão até o cinto, porém, seu coldre estava vazio e no cinto de Tapião, havia duas pistolas, agora, apenas ele tinha as armas.

E, no vazio da saída da atmosfera, os dois se entreolharam, seguindo seu rumo.


domingo, 4 de agosto de 2013

Entrevista com Dante Alighieri

 Cheguei até aquela casa escura e apenas com um foco fui iluminado enquanto pegava o meu lápis-de-tinta, para começar a entrevista. Nada via, logo, quebrei um dos meus neons da minha jaqueta, para poder ver melhor, inclusive o meu entrevistado, que estava com uma colorida camisa vermelha com triangulhinhos, última moda em Uberlim.
 "Este cara é famoso, com uma roupa destas..." Pensei. Comecei a perguntar para ele, como tudo aconteceu: Dante Pasto Alighieri, o cara que entrou num buraco vermelho causado pela sonda-estelar Virgílio e voltou... Ninguém tinha feito isto, desde quando o astroconomista Erasmo Carlos voltou e ficou falando umas paradas loucas, sobre robôs amarelos dentro das nossas bolinhas de gude, que são o Esporte Nacional, ainda bem que ele foi contido numa prisão pra malucos numa ilha, agora, está de boa lá.
 Evasivo, Dante disse que não podia dizer muita coisa, a Feeba e a PETA impediram ele de falar, só que, claro, secretamente, como era de ação das agências secretas... Por que será?
 -Então, se elas estão te forçando... Você precisa contar antes que elas não quiserem te forçar mais, não? Precisa de algo pra se manter vivo, e a nossa ajuda, da Impressa, vai fazer isto, rapaz!
 O cara coçou o baita nariz, pensou, pensou e coçou de novo:
 -Ok, ok... Posso até te contar por cima...
 -Na paz, só me conta algo, cara... Tá todo mundo querendo ficar contigo
 -Senhor... - Olhou Dante para baixo, fugitivo - Você  tem ideia do que é descobrir como o Mundo funciona?
 -Como assim, Dante? Vai me dizer de robôs amarelos de volta??? Tipo o Erasmo?
 -Não... Não, senhor! Aqueles não eram nada, eram apenas guardas... Apenas seguranças que o Erasmo não sou despistar... Eu soube...
 -Pô - vi o jeito de maluco, devia ser isto que a Matéria Vermelha fazia com os caras: deixava tam tam - continue então...
 Contou Dante:
 Eu cheguei em um enorme desfiladeiro, de pedras cinzentas... Lá estavam os robôs, só que eu me escondi deles e vi que eles ficavam dando voltas, com suas perninhas de anões, sim porque lá os robôs são anões, e não gigantes Tokusatsus como aqui! Que usam pra matar monstros gigantes... Lá eles são pequenos e falam, parecem ter vida! Então, resolvi chegar mais perto do que eles guardavam: uma colina... Lá eu subi, me escondendo nas facas de pedra que surgiam no monte, fui chegando até ver que, na real, tudo levava pra uma cratera!!
 Desci até a imensidão escura de lá, quando ouvi um robô berrar com sua voz de bits e bites: "-Pega aquele lazarento, ara!"
 De repente, quando cheguei no fim do desfiladeiro, começaram a mexer umas sombras em volta de mim, então, os robôs pararam e vi aquela gente estranha, cabelo curto e malhas com formas geométricas, rebolando e dançando:
 -Quem são vocês?
 -Nós, - respondeu uma garota que mascava chiquete provocativamente, com olhos pintados - somos os Dançarinos da Primeira Esfera! Nós é que regulamos o Caos do seu Mundo!

 "- Putz... Este Dante pirou", pensou eu, o repórter

 Não acreditei no que havia ouvido!! Então, eles pararam por um pouco e comecei a sentir todo o meu mundo girar, eu comecei a compreender um monte de coisa, tudo foi brotando da minha mente... TUDO! Doeu a minha cabeça e tudo fez sentido... Sabia fórmulas e cálculos, datas e localizações, línguas e posições sexuais... Tudo!
 -Voltem a dançar! Por favor!!! - Não aguentava saber tanto!
 Eles voltaram, e eu fui cambaleante até o centro da roda de dançarinos do Caos, que dava em um fosso, e advinha?
 Cai lá.
 A queda demorava, demorou por minutos... Então, comecei a cair pro lado e gritar:
 -PÔ! TEM GENTE QUERENDO CRIAR AQUI!!! - Gritou um voz roncada
 Olhei pro meu lado e tinha um velho de orelhas pontudas voando, ele tocava um órgão pessimamente:
 -Quê? Quem é você???
 -Cala a boca! Cale-se! Eu sou alguém que tenta dar ordem as coisas... Mas, nunca consigo! Por isto estamos sempre caindo... Para sempre!
 Ele arrumava os papéis e partituras naquele túnel de gravidade em que nós estávamos, perguntei:
 -Mas, você já tentou ler as partituras???
 -O QUÊ? CLARO QUE NÃO, IGNÓBIL!!
 Ele me mostrou e, cada vez que eu piscava o olho, as partituras mudavam e as letras pulavam do papel, em pequenos para-quedas
 -Ainda sim, - completou - quero ser um ótimo pianista...
 -Hey... Como saio daqui?
 -Tu não vai nem querer me ajudar???
 -Pô, olha só! Eu consegui ver algumas delas antes dela sair... O que tu precisa é de mais gente contigo, mas, eu não posso, tenho compromisso hoje a tarde...
-Aqui não tem tempo, imbecilis... Aqui é o Centro de tudo, a Zona Core... Tá vendo este piano (era nitidamente um órgão, mas, enfim), ele é o pulmão-do-mundo, com ele alimento o seu Universo com o oxigênio de lá: a música... Só falta eu achar as partituras... Aí libero até você, imbecil!
 -Hey, cara, faz assim, vou te contar o que vi lá... Toca assim: 'ditei e ele começou, ficou tão louco de alegria que mandou eu até repetir'
 Então, quando ele terminou de tocar eu tinha ficando cheio de dúvidas, só que quando pensei em perguntar, ele me abre uma portinhola no chão e eu... Cai (???)
 Estava tudo branco, o chão parecia de neve, mas, eu já vi neve... Ela é lamenta e suja, só é bonita no começo, pra depois te dar depressão... Toquei naquilo e parecia tanto com... Algodão! Fofura de algodão e...
 -ATCHIIIM! 
 Espirou um gordo, ele veio em minha direção... Estava de roupão, com uma toalha, barba respeitável e belos olhos azuis... Parecia que eu via o Universo nele e... Espere! Será???
 -Senhor, - perguntei enquanto ele passava por mim - o senhor é quem?
 -Eu? Ora, eu sou... É...  - ele me mediu de cima abaixo - eu sou Aquele que tudo vê!!!
 E fez uma dancinha com as mãos.
 Fiz uma reverência e comecei a rezar. Ele, solidário e com cara engraçada, realmente, mandou eu levantar e dar três pulos fingindo ser um pato-espacial e depois ficar se contorcendo como uma minhoca tonta. Depois de rir bastante, disse:
 -Cara? Pensa que eu ou alguém aqui é um tipo de deus ou algo assim? Um criador-de-destinos?
 -Ora... E não são?
 -Não, cara, não são não... O Criador-de-destinos do seu Universo é aonde nós tomamos banhos neste calor infernal... Olha só:
 Fomos até um enorme lago, muitas pessoas se divertiam naquelas águas... Era tudo muito escuro naquelas águas:
 -Anda, bebe um pouco... - Me ofereceu o gordão, enquanto molhava os pés
 Eu toquei a água e vi... Eu vi...

 Vi o que???? - Pergunta o repórter, era o furo vindo!!

 Eu vi galáxias, vi estrelas, me fixei e vi civilizações inteiras, morrendo e vivendo... Ali, naquela minha pequena porção de nada... Éramos e somos apenas isto: nada!
 Não bebi, entretanto, sai correndo, o quanto minhas pernas podiam, virei para trás e vi o gordão em algo macabro: tirou um zíper da cabeleira, abriu e era um ser esverdeado, olhos amarelos de ponta vermelha, apenas me gritou:
-Não deveria ter feito isto! Jovem rapaz sumirá em breve!!!
 E falou uma data específica... Que não pude ouvir bem
 Então, corri e corri...

 -Agora estou aqui, de frente pra você, repórter...
 -E, - perguntou eu, o repórter - como você voltou?
 -O buraco vermelho ainda estava aberto
 -Hm... Legal... E, bem, só isto?
 -Não, não... Sei de algumas coisas mais, vi alguns seres iguais o velho andando em tamanduás, outros gansos gigantes conversando com roupas espaciais e...
 -Ok, já ouvi o bastante! Obrigado!
 Cumprimentei o estranhado Dante. A luz estava saindo das bolas do sol quando fui saindo, meu café feito pelo Alighieri, precisava ser rápido pra bomba, tinha de chegar na redação.
 Mas, primeiro, lembrei da data, aquela que o rapaz tinha esquecido quando enfrentou o "papai noel" na praia: tirei um celular-tijolo-contra-assaltantes e liguei:
 -Alô, aí é do Bar Telefônico da Dona Maria? Sim, ok...
    Pode me chamar a Greta Esgrima aí?
     Ok...
       Olá, Greta! Traga por favor a Smith 45, por favor!
          Sim, sim... Sim, meu docinho...
            Achamos Dante e ele fala e sabe demais
             E o "dia dele" chegou, só eramos um dia na data.




quarta-feira, 31 de julho de 2013

Ultraviolência


Quando o Mundo estiver à beira do Caos
E a Representação se demonstrar falha, pois, varia conforme a Ignorância
Quando nenhum homem for inventado como Salvador de uma Pátria
Ou, as ideias serem muito distantes para serem cultivadas na mente dos comuns
Quando os  comuns não se sentirem mais aqui ou ali e não tiverem mais auto-saber
No dia em que o filhote for pela mãe devorado
Quando cão morder o dono por sua virtude
Nós, nós passaremos a existir
E nós, nós passamos a existir
Pois, o único caminho, quando a Palavra não mais representar mero gurnido
O Caminho é a ULTRAVIOLÊNCIA
(Livro Uno do Kanti Ibizio)
Foram ditas as palavras de início da Conferência, e nós vimos aquelas três criaturas em capuzes negros entrarem na cerimônia, não expressavam nenhuma reação, mesmo com fêmeas e machos a tirar as partes púdicas das roupas, para querer deitar-se com um deles, em histeria de furor dos jovens. Sim, assim são os Jovens, hormonais.
O orador mostrou respeitos para os três, indo sentar-se atrás deles, que ficaram em pé, em silêncio. Começaram as chatas apresentações de textos e teatros daquele Colégio, no Centro de Fass, a maior metrópole de nosso planeta.
Em um dado momento, quando uma fêmea dançava com uma série de potes de barro cozido, o Kanti Jabizio se mexeu em sua capa e um silêncio sepulcral se fez... Ele tirou um braço para fora e lá estava a sua Pistola Atomizadora. Todos se ajoelharam, prestando respeito:
-Menos um! Fila 45, linha 20! – Gritou o Kanti com elmo de pássaro, Amo
O rapaz se levantou, em sua camiseta, estava a figura da rebeldia:






 Então, o Kanti Jabizio disparou a Pistola e um feixe estourou em luz azulada, o rapaz gritou:
-Não, não Greta!!
A Jovem caiu, virando poeira, lentamente... Eu... Eu amei Greta uma vez... Segurei as lágrimas, prostrei-me com o rosto no chão, só que levantei um pouco o olhar e vi, olhando para minha face, o Kanti Fano. Eu me assustei, e me abaixei novamente, ouvi o segundo tiro e luz foi percebida por mim, de canto de olho.
...
Na sala do Diretor, eu estava insólito, com a morte de Greta... Ela escolheu o Amor ao invés da Ultraviolência... Não deveria ter feito isto e...
Abriu a porta e o Kanti Fano entrou, o Diretor saiu, em silêncio, como eu nunca tinha visto. Fiz reverência e me sentei de costas para ele, entretanto, ele mandou que se vira-se para mim e me perguntou:
-Rapaz... Quem sou eu?
-Você é o Kanti Fano, o mais velho dos Três Santificados... Representa o Estado dos Cães, a servidão para a Ultraviolência é sua Segurança, você deve recitar os poemas antigos e guardar as versões do Livro Uno e...
-Certo, agora, quem é você?
-... – Não entendi a pergunta, mas, de repente, senti como se algo me olhasse por de trás do elmo de Fano... Algo “maior”
-Eu posso ver a mente, rapaz... Todo o nosso povo podia antes, no Caos, antes de nós entrarmos e salvarmos nossa existência... Sabe disto, não?
-Sim... Sei...
-Você, garoto, você quando viu aquela infeliz apaixonada morrer... Sabe o que aconteceu?
-Eu... Eu... – Com vergonha, confessei – CHOREI! – Gritei e abracei a capa negra
-Não me importo, menino... Eu sou uma Ultraviolência, emoções são meu alimento, não as tenho...
-O que... Que é então? – Eu era jovem e apenas chorava...
-Quando a moça morreu, você transmitiu o seu amor para a existência dela, eu senti isto, é algo normal, porém, você conseguiu enviar esta carga emocional para outro lugar...
-O que?
-Você criou, meu rapaz... Você criou ela em algum outro lugar...
O choque foi enorme e, quando vi, adormeci.
VINTE ANOS DEPOIS
Minhas pernas não existiam... Eu estava preso em um par biônico que funcionava a Urânio, como toda a nossa Sociedade Atômica, era moda usar jaquetas com neon e eu usava logo um sobretudo, para disfarçar o que havia acontecido comigo; também meus olho esquerdo era um globo vidro, uma câmera, além das minhas palmas das mãos, serem apenas sintéticas. Tudo devo ao meu protetor: Kanti Fano.
Vinte anos atrás, me levou e me estudou, em todas as partes e sensações, peles e ossos. Algumas partes se perderam... Mas, eu estava feliz, eu sempre fui um dedicado Agente da Causa da Ultraviolência.  Pena que meu mestre, Kanti Fano, fora substituído, pois, teve de ser internado em um Manicômio, pois, talvez ele tivesse chegado a um nível irracional do que que fazia.
Porém, eu estranhamente não pude ir para o enterro do grande Kanti Jabizio, que morrera dias antes, promovido por Alizio, seu substituto. dizem que de velho, digo... Claro que foi de velho. Estava em Uberlim, cidade do País dos Pássaros, em missão pelo Ultraviolência de lá, Kanti Amo.
A Cidade era estranha, de forma de fôrma quadrada, de cima parecia uma tábua de hexágonos, W. Cristalerio, um prefeito de lá, tinha feito uma série de reformas que destruíram a velha e eclética cidade, organizando-a racionalmente, como tudo deve ser. Entretanto, puteiros, ou como chamam quem os frequentam, “baladas”, estavam por toda a parte naquele pequeno núcleo central, aonde se mantiveram algumas construções antigas.
Recebi um comunicado do satélite atmosférico: “Alvo a vinte metros, emana vermelho”
Cheguei perto e vi, com corpo esbelto e jaqueta neon, uma fêmea. Abordei e disse:
-Têm cigarrilhas?
-Eu? Eu tenho... Mas, você é estranho...
Ela me deu, eu coloquei na boca e ela acendeu:
-Estranho, parece que eu te conheço... Como se chama?
-Eu? Iano, e tu?
-Greta, Greta Esgrima e...
Dei um golpe com a mão aberta nela, de Uki-doki [um tipo de luta como karatê], caída, esperei com ela num canto, fingindo fazer coisas com ela, relações carnais.
Logo, o apoio chegou e levamos ela para um prédio de delegacia, que para nós significa aonde ficam nossas Câmaras de Gás, Cadeiras Elétricas e Incineradores. Lá, deixaram os outros Agentes a tal da Greta nua, pendurada em um gancho fincado nas mãos, estranho, parecia que eu sentia algo por aquela coisa... Ela tinha duas Pistolas tatuadas na escápula, algo incomum era... Não pelas tatuagens, mas, pelo fato de que eram Pistolas Atômicas...
Chegou em uma cadeira de rodas, o velho Kanti Amo, e com reverência, os Agentes levaram ele para a frente da tal de Greta. Os Agentes quiseram violentá-la, preferi que não, pois, já vi como ficam as fêmeas ou machos todos sujos, isto poderia ser feito, mas, só depois dela ser vista pelo Kanti. De frente para ela, Amo disse:
-Então, você é o Ponto Fixo, o Problema de que tanto Jabizio se queixou... Agora, prostituta – e o Kanti do Pássaro cerrou os dentes, babando – você será morta!
Fiquei por um momento esperando que alguém viesse com uma arma ou algo assim, quando vi que o próprio Kanti tirou sua Pistola Atômica do blusão que estava. Com as mãos tremulas, mirou na moça, eu ajudei ele a segurar a arma:
-TZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZIM
O primeiro tiro, apenas fez o corpo pálido dela brilhar... A pistola falhou, FALHOU!
Mais um e mais outro, nada aconteceu... Era impossível qualquer coisa sobreviver aquela arma, era a coisa mais poderosa no mundo (permita, pois, as bombas atômicas eram controladas pela Ultraviolência).
A garota abriu os olhos, eles estavam mais verdes do que nunca, ela disse:
-A primeira era a Lesma, agora, é o Pássaro que deve MORRER!! – E ela arrancou a mão do gancho, ficando com os buraquinhos nas palmas. A luz apagou, o que é impossível, pois, nossas Usinas de Energia do Urânio são interruptas... Ao menos, eram...
O Impossível aconteceu. Acontecia naquele dia.
O Kanti gritou pelos outros Agentes da Causa, ninguém veio, a luz piscava e eu e ele nos vimos cercados por astronautas de roupas laranjas, Greta, no centro, olhava furiosa para o meu mestre... Me foquei em não demonstrar medo, meus olhos estavam desacostumados com a falta de luz, ao escuro, não podia mostrar a arma que tinha no bolso do meu terno.
-AMO, SUA SENTENÇA CARREGADA DE SEUS ANTEPASSADOS ESTÁ PARA SER CUMPRIDA!!!  - Gritaram em coro, os astronautas, Greta, junto, percebi um Elo Psíquico entre eles.
-Quem está aí???! Quem são vós?!!!
-NÓS, NÓS SOMOS OS COLONOS NYXK, ANTIGOS DONOS DESTE MUNDO CORROMPIDO!
-Quem??? Vocês são Agentes do Caos??? Nós, a Ultraviolência salvamo...
Um feixe de luz acertou a cabeça do Kanti... Eu vi a cabeça desmanchar em fluídos, por dentro do elmo de Pássaro. Por uma vez mais em minha vida, chorei uma lágrima:
-Então, agora sou eu?
Um dos astronautas abriu seu elmo e eu me vi, gritando a seguir:
-FANO! MESTRE FANO?
Ele me abraçou e disse:

-Obrigado, obrigado, meu pequeno experimento! Graças a você... Nós salvamos, salvamos a Ultraviolência!