-É, horrível toda esta montanha de água...
Dizem ainda que ela é doce!
-Horrível,
meu vereador, horrível mesmo... Preciso confessar que gostaria de voltar para o
nosso planeta logo, sinto falta das chuvas de amônia que banhavam as nossas
faces...
-Tudo bem,
Polarim, logo voltaremos... Temos de continuar a nossa exploração para
colonização – O vereador passou a mão para tirar a poeira que os seixos
arredondados criaram em sua calça boca de sino, levantou-se da rocha em que
estava e pôs seu casaco longo e negro, assim como seu capacete-com-abas (eu
diria que parecia um chapéu, e assim vou chamá-lo).
-Aonde vamos
agora, meu senhor? – Disse Polarim, que é o diminutivo na língua daquela raça
para Polaris, seu nome era Dola Polaris e ela era concubina do Vereador,
servia para a sua diversão e reprodução.
-Vamos para
uma cripta no centro desta terra rochosa e negra, os viajantes de nossos
cruzadores-espaciais Nyxk nunca enviaram ninguém para lá e é necessário que
alguém veja do que se trata...
Enquanto os
dois passavam pela praia para subir um monte rochoso, que apenas tinha alguns
poucos líquens vermelhos, a nave em forma de triângulo usada para a descida dos
dois, fora desligando as luzes e, aos poucos, a atmosfera nebulosa do planeta
foi tomando todo o lugar. Polaris e o Vereador tinha variadas formas, ambos
tinha narizes que pareciam de gatos, dada que eram pouco pontudos e pintados em
baixo de preto, só que o corpo de Dola era loira, menor e o tronco mais
acentuado, já o Vereador, careca, tinha longas pernas. Também tinham os dois um
tipo de sobre-pele cinzenta, d’onde saiam canos que se curvavam
retangularmente, voltando para a manta, apareciam só nas partes descobertas da
roupa e, no pescoço, viravam uma coleira aonde saía um capacete; isto existia, pois,
a espécie deles, os Eupalinos, viviam em um planeta aonde a amônia era líquida
e coisas como a água, para eles, não existia em abundância, para esta espécie,
esta coisa era até mesmo algo de mal-agouro: o lugar aonde o “demônio” vivia
era chamado de “Lugar aonde a água molha os pés” (Ouriuris) e o seu nome era mesmo “Senhor dos Aguados” (Ouraror). Mas, fora toda esta mitologia
antiga dos Eupalinos, eles tinham problemas com a água, que não os matava, mas,
uma vez em atmosferas como a deste planeta e de outros com muita água, passavam
a desenvolver doenças pelo nível de toxidade, por isto, criaram roupas em que
saiam tubos que retiravam toda a água absorvida pelos seus corpos, as
Eupavestes.
A água tomava
tudo ali, o próprio planeta em que estavam não tinha quase nenhum vulcão, pois,
o seu núcleo era praticamente frio: o planeta girava vagarosamente e só não
ficava estático e congelado porque a estrela branca em que ele transladava
enviava tanta energia para ele, que o fazia girar e ter dias e noites. Porém,
quando os Conquistadores aos quais o casal de Eupalinos estava trabalhando
passaram por ali, fazia décadas,
passaram por este planeta, nada encontraram, a não ser alguns líquens vermelhos
e o oceano de água doce que era tão profundo que chegava até o núcleo do
planeta. Tamanho era o silêncio que só era quebrado pelas ondas intermináveis em
uma costa rochosa que eles chamaram este lugar de Goostomu, “aonde tudo dorme”.
Ao tempo de
que contei as questões sobre a aparência de um Eupalino e sobre o planeta
Goostomu, o casal chegara até a enorme cripta, lá havia um gigantesco túnel
para baixo, aonde várias ramificações tomavam para o centro de uma lagoa.
-Olhe aquilo!
– Disse o Vereador, apontando para as paredes – A rocha é polida, tem algumas
coisas nela...
-Sim, meu
senhor... São escritos?
O Vereador
pegou um aparelho redondo que liberava um escâner de luz, acertou várias marcas
menores, até que elas falaram bem assim:
“Nós deixamos
– nosso senhor – nosso último líder – nosso salvador – nosso que dorme aqui –
manteremos ele para sempre – tapião”
-A língua
deles... Estranha, só fala relaciando tudo para “eles” – disse Dola
-Sim, ela é
uma língua sem objetos, parece que eles só ligavam para o seu povo...
Entretanto, o nome do que quer que
exista aqui é algo como “Tapião”...
Olharam os
dois para aonde se acabavam as pedras dispostas circularmente pela cratera, e
lá havia uma outra pequena gruta. Seguiram até um salão no centro, o Vereador a
frente e Polaris atrás. O pequeno lugar arredondado tinha um vulto, e do vulto
gordo saíram olhos verdes que olharam os dois...
O corpo do
Vereador voou para bater no teto do túnel, enquanto Dola era jogada para trás.
O pernudo eupalino quando caiu, ainda desorientado, mas, nem tanto, sacou sua
pistola de ácido e jogou um jato para a criatura, que diminuiu de tamanho e
fitou a dupla...
O Vereador
perguntou se Dola estava bem, e ela disse que apenas estava espirando, talvez
por conta de estar no período fértil da espécie (o órgão reprodutor da eupalina
fêmea é na boca), e não precisava que o seu senhor se preocupasse, em pouco
tempo, ela já retirou sua pistola de ácido também, assim, ambos miravam no
vulto. Perguntou o Vereador:
-O que é
você? – Ele falou para o objeto redondo, que era um transcriptador Nyxk que
usava o banco de dados do planeta biblioteca Rudedeon-3, e apontou para a
criatura. Esta, nada disse, apenas apontou um de seus olhos para eles e os dois
passaram a levitar, temendo um ataque, Polaris atirou próximo aonde a criatura
parecia brotar do chão e eles caíram:
-POR QUE
ISTO, POLARIM? – Gritou o Vereador.
-Ele ia
atacar a gente, meu senhor!
-Como
podíamos saber? Talvez ele nem saiba falar alguma coisa e...
-Ela estava
certa, pernudo... – Saiu uma voz rouca do vulto, que tomou forma, como se
levantasse por estar sentado: era de pelos castanhos tão escuros, que negros
quando não vistos contra a luz.
-Quem é você?
– Apontaram os dois para o ser suas pistolas de ácido
-Eu sou
Tapião, senhor desta terra e último Gore vivo...
-E o que
quer?
-Eu? Eu sou o
último de meu povo... Dei a eles a liberdade e eles quiseram me compensar aqui,
me deixando como uma estátua para lembrá-los de seus grandes feitos... – Tapião
olhou para os dois e eles puderam ver que ele tinha um focinho, d’onde saiu uma
pequena língua que emitia a sua voz, fixando seus olhos no Vereador, ele viu:
-Ahhhhh sim,
Vereador... Você e seu povo, Eu... Eupalinos... Vivem em um mundo infernal,
digo, para mim...
Então, ele
entrou na mente do Vereador e descobriu, enquanto ouvia a atenta Dola Polaris
tudo aquilo:
Em Eupalina, lar de ambos, estava
Mégara, um Comandante que se apoiava sobre braços maiores que o corpo disse
para o Vereador:
-Você levará ela para longe, pois, ela
logo terá o ovo que é seu e logo este deverá tomar o seu lugar como Vereador,
como é a Lei... Quando isto o fizer, você não poderá concorrer a vaga de se
tornar um Comandante, como eu sou, meu camarada... Largue esta miserável em
algum lugar da Galáxia, chame os Nyxk e viaje até lá, como é o nosso acordo
como eles e deixe ela lá... Mas, cuidado, escolha um lugar... Um lugar aonde
ela não atrapalhe...
-Mas, mas ela terá um ovo meu... –
Disse o Vereador
-E você teve sempre as melhores notas
nos nossos testes, será um ótimo Comandante... Agora, você prefere ser bom para
todos e com sua meta, ou com algo que você nem conheceu? Sabe que matar a fêmea
não é uma opção! Os detetives descobririam o corpo! (o aborto, na espécie do Eupalinos,
não era possível sem o risco de vida da mãe)
-... – Sobre o silêncio do Vereador, sobreveio uma imagem a
mente de Tapião, e ele disse:
-Então, o
Comandante Mégara apertou um botão da nave que trouxe vocês dois para o
cruzador que os traria para cá... Interessante...
Com lágrimas
no rosto, que eram brancas, por serem de amônia, Dola olhou para o alto e
pernudo Vereador. Não dizia nenhuma palavra.
-Polarim...
Isto é mentira... Minha pequena Pola...
FISSSHHH
Disparou a
pistola de ácido dela no peito do eupalino, enquanto este caia no chão do salão
e morria, com o ferimento infeccionando devido a umidade da atmosfera.
-E agora... E
agora... Pequena Dola Polaris? – Perguntou Tapião
-Você... –
disse ela, limpando as lágrimas – você não sabe?
A criatura sorriu
e dobrou seu corpo como um gigantesco fluído escuro, que entrou no ferimento do
Vereador, até fazer sua pele tornar-se viva novamente, o corpo levantou-se e
perguntou, ainda com voz rouca:
-Em meu
mundo, há a figura do casamento... Gostaria de se casar comigo, Dola Polaris?
-E... E o que
você me oferece?
-Toda a
Eupalina para nós, como os Comandantes Supremos e seus filhos saidos deste ovo
que gesta, vivos, assim como você...
-... – Dola sorriu,
abaixou a pistola e comentou – Você também olhou para mim, não? Viu sobre...
Mégara?
-Sim. –
Tapião vira, Mégara enganar o morto Vereador e beijar em cantos dos castelos, a
boca de Dola, porém, além de beijá-la, também a acorrentava por dias e batia,
ela fora a sua maior criação para derrotar o seu maior rival – Quando encontrarmos
com este Mégara, será preso por tentar nos matar, nos mandando para um planeta
habitado por um monstro antigo que dizimou toda a sua sociedade...
Nisto, os dois
estavam já embarcados na nave triangular, voltando para o cruzador, para irem
para casa. Mas, a dúvida daquilo que ouvira surgiu na cabeça de Polaris:
-Como assim,
um monstro antigo? Como vamos provar isto?
-Sabe, minha
cara Dola – sorriu Tapião, na pele do Vereador – quando a minha espécie morria,
ela se decompõe em água
A moça,
lentamente, chegou a mão até o cinto, porém, seu coldre estava vazio e no cinto
de Tapião, havia duas pistolas, agora, apenas ele tinha as armas.
E, no vazio
da saída da atmosfera, os dois se entreolharam, seguindo seu rumo.
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