domingo, 4 de agosto de 2013

Entrevista com Dante Alighieri

 Cheguei até aquela casa escura e apenas com um foco fui iluminado enquanto pegava o meu lápis-de-tinta, para começar a entrevista. Nada via, logo, quebrei um dos meus neons da minha jaqueta, para poder ver melhor, inclusive o meu entrevistado, que estava com uma colorida camisa vermelha com triangulhinhos, última moda em Uberlim.
 "Este cara é famoso, com uma roupa destas..." Pensei. Comecei a perguntar para ele, como tudo aconteceu: Dante Pasto Alighieri, o cara que entrou num buraco vermelho causado pela sonda-estelar Virgílio e voltou... Ninguém tinha feito isto, desde quando o astroconomista Erasmo Carlos voltou e ficou falando umas paradas loucas, sobre robôs amarelos dentro das nossas bolinhas de gude, que são o Esporte Nacional, ainda bem que ele foi contido numa prisão pra malucos numa ilha, agora, está de boa lá.
 Evasivo, Dante disse que não podia dizer muita coisa, a Feeba e a PETA impediram ele de falar, só que, claro, secretamente, como era de ação das agências secretas... Por que será?
 -Então, se elas estão te forçando... Você precisa contar antes que elas não quiserem te forçar mais, não? Precisa de algo pra se manter vivo, e a nossa ajuda, da Impressa, vai fazer isto, rapaz!
 O cara coçou o baita nariz, pensou, pensou e coçou de novo:
 -Ok, ok... Posso até te contar por cima...
 -Na paz, só me conta algo, cara... Tá todo mundo querendo ficar contigo
 -Senhor... - Olhou Dante para baixo, fugitivo - Você  tem ideia do que é descobrir como o Mundo funciona?
 -Como assim, Dante? Vai me dizer de robôs amarelos de volta??? Tipo o Erasmo?
 -Não... Não, senhor! Aqueles não eram nada, eram apenas guardas... Apenas seguranças que o Erasmo não sou despistar... Eu soube...
 -Pô - vi o jeito de maluco, devia ser isto que a Matéria Vermelha fazia com os caras: deixava tam tam - continue então...
 Contou Dante:
 Eu cheguei em um enorme desfiladeiro, de pedras cinzentas... Lá estavam os robôs, só que eu me escondi deles e vi que eles ficavam dando voltas, com suas perninhas de anões, sim porque lá os robôs são anões, e não gigantes Tokusatsus como aqui! Que usam pra matar monstros gigantes... Lá eles são pequenos e falam, parecem ter vida! Então, resolvi chegar mais perto do que eles guardavam: uma colina... Lá eu subi, me escondendo nas facas de pedra que surgiam no monte, fui chegando até ver que, na real, tudo levava pra uma cratera!!
 Desci até a imensidão escura de lá, quando ouvi um robô berrar com sua voz de bits e bites: "-Pega aquele lazarento, ara!"
 De repente, quando cheguei no fim do desfiladeiro, começaram a mexer umas sombras em volta de mim, então, os robôs pararam e vi aquela gente estranha, cabelo curto e malhas com formas geométricas, rebolando e dançando:
 -Quem são vocês?
 -Nós, - respondeu uma garota que mascava chiquete provocativamente, com olhos pintados - somos os Dançarinos da Primeira Esfera! Nós é que regulamos o Caos do seu Mundo!

 "- Putz... Este Dante pirou", pensou eu, o repórter

 Não acreditei no que havia ouvido!! Então, eles pararam por um pouco e comecei a sentir todo o meu mundo girar, eu comecei a compreender um monte de coisa, tudo foi brotando da minha mente... TUDO! Doeu a minha cabeça e tudo fez sentido... Sabia fórmulas e cálculos, datas e localizações, línguas e posições sexuais... Tudo!
 -Voltem a dançar! Por favor!!! - Não aguentava saber tanto!
 Eles voltaram, e eu fui cambaleante até o centro da roda de dançarinos do Caos, que dava em um fosso, e advinha?
 Cai lá.
 A queda demorava, demorou por minutos... Então, comecei a cair pro lado e gritar:
 -PÔ! TEM GENTE QUERENDO CRIAR AQUI!!! - Gritou um voz roncada
 Olhei pro meu lado e tinha um velho de orelhas pontudas voando, ele tocava um órgão pessimamente:
 -Quê? Quem é você???
 -Cala a boca! Cale-se! Eu sou alguém que tenta dar ordem as coisas... Mas, nunca consigo! Por isto estamos sempre caindo... Para sempre!
 Ele arrumava os papéis e partituras naquele túnel de gravidade em que nós estávamos, perguntei:
 -Mas, você já tentou ler as partituras???
 -O QUÊ? CLARO QUE NÃO, IGNÓBIL!!
 Ele me mostrou e, cada vez que eu piscava o olho, as partituras mudavam e as letras pulavam do papel, em pequenos para-quedas
 -Ainda sim, - completou - quero ser um ótimo pianista...
 -Hey... Como saio daqui?
 -Tu não vai nem querer me ajudar???
 -Pô, olha só! Eu consegui ver algumas delas antes dela sair... O que tu precisa é de mais gente contigo, mas, eu não posso, tenho compromisso hoje a tarde...
-Aqui não tem tempo, imbecilis... Aqui é o Centro de tudo, a Zona Core... Tá vendo este piano (era nitidamente um órgão, mas, enfim), ele é o pulmão-do-mundo, com ele alimento o seu Universo com o oxigênio de lá: a música... Só falta eu achar as partituras... Aí libero até você, imbecil!
 -Hey, cara, faz assim, vou te contar o que vi lá... Toca assim: 'ditei e ele começou, ficou tão louco de alegria que mandou eu até repetir'
 Então, quando ele terminou de tocar eu tinha ficando cheio de dúvidas, só que quando pensei em perguntar, ele me abre uma portinhola no chão e eu... Cai (???)
 Estava tudo branco, o chão parecia de neve, mas, eu já vi neve... Ela é lamenta e suja, só é bonita no começo, pra depois te dar depressão... Toquei naquilo e parecia tanto com... Algodão! Fofura de algodão e...
 -ATCHIIIM! 
 Espirou um gordo, ele veio em minha direção... Estava de roupão, com uma toalha, barba respeitável e belos olhos azuis... Parecia que eu via o Universo nele e... Espere! Será???
 -Senhor, - perguntei enquanto ele passava por mim - o senhor é quem?
 -Eu? Ora, eu sou... É...  - ele me mediu de cima abaixo - eu sou Aquele que tudo vê!!!
 E fez uma dancinha com as mãos.
 Fiz uma reverência e comecei a rezar. Ele, solidário e com cara engraçada, realmente, mandou eu levantar e dar três pulos fingindo ser um pato-espacial e depois ficar se contorcendo como uma minhoca tonta. Depois de rir bastante, disse:
 -Cara? Pensa que eu ou alguém aqui é um tipo de deus ou algo assim? Um criador-de-destinos?
 -Ora... E não são?
 -Não, cara, não são não... O Criador-de-destinos do seu Universo é aonde nós tomamos banhos neste calor infernal... Olha só:
 Fomos até um enorme lago, muitas pessoas se divertiam naquelas águas... Era tudo muito escuro naquelas águas:
 -Anda, bebe um pouco... - Me ofereceu o gordão, enquanto molhava os pés
 Eu toquei a água e vi... Eu vi...

 Vi o que???? - Pergunta o repórter, era o furo vindo!!

 Eu vi galáxias, vi estrelas, me fixei e vi civilizações inteiras, morrendo e vivendo... Ali, naquela minha pequena porção de nada... Éramos e somos apenas isto: nada!
 Não bebi, entretanto, sai correndo, o quanto minhas pernas podiam, virei para trás e vi o gordão em algo macabro: tirou um zíper da cabeleira, abriu e era um ser esverdeado, olhos amarelos de ponta vermelha, apenas me gritou:
-Não deveria ter feito isto! Jovem rapaz sumirá em breve!!!
 E falou uma data específica... Que não pude ouvir bem
 Então, corri e corri...

 -Agora estou aqui, de frente pra você, repórter...
 -E, - perguntou eu, o repórter - como você voltou?
 -O buraco vermelho ainda estava aberto
 -Hm... Legal... E, bem, só isto?
 -Não, não... Sei de algumas coisas mais, vi alguns seres iguais o velho andando em tamanduás, outros gansos gigantes conversando com roupas espaciais e...
 -Ok, já ouvi o bastante! Obrigado!
 Cumprimentei o estranhado Dante. A luz estava saindo das bolas do sol quando fui saindo, meu café feito pelo Alighieri, precisava ser rápido pra bomba, tinha de chegar na redação.
 Mas, primeiro, lembrei da data, aquela que o rapaz tinha esquecido quando enfrentou o "papai noel" na praia: tirei um celular-tijolo-contra-assaltantes e liguei:
 -Alô, aí é do Bar Telefônico da Dona Maria? Sim, ok...
    Pode me chamar a Greta Esgrima aí?
     Ok...
       Olá, Greta! Traga por favor a Smith 45, por favor!
          Sim, sim... Sim, meu docinho...
            Achamos Dante e ele fala e sabe demais
             E o "dia dele" chegou, só eramos um dia na data.




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