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domingo, 25 de agosto de 2013

Tapião

-É, horrível toda esta montanha de água... Dizem ainda que ela é doce!
-Horrível, meu vereador, horrível mesmo... Preciso confessar que gostaria de voltar para o nosso planeta logo, sinto falta das chuvas de amônia que banhavam as nossas faces...
-Tudo bem, Polarim, logo voltaremos... Temos de continuar a nossa exploração para colonização – O vereador passou a mão para tirar a poeira que os seixos arredondados criaram em sua calça boca de sino, levantou-se da rocha em que estava e pôs seu casaco longo e negro, assim como seu capacete-com-abas (eu diria que parecia um chapéu, e assim vou chamá-lo).
-Aonde vamos agora, meu senhor? – Disse Polarim, que é o diminutivo na língua daquela raça para Polaris, seu nome era Dola Polaris e ela era concubina do Vereador, servia para a sua diversão e reprodução.
-Vamos para uma cripta no centro desta terra rochosa e negra, os viajantes de nossos cruzadores-espaciais Nyxk nunca enviaram ninguém para lá e é necessário que alguém veja do que se trata...
Enquanto os dois passavam pela praia para subir um monte rochoso, que apenas tinha alguns poucos líquens vermelhos, a nave em forma de triângulo usada para a descida dos dois, fora desligando as luzes e, aos poucos, a atmosfera nebulosa do planeta foi tomando todo o lugar. Polaris e o Vereador tinha variadas formas, ambos tinha narizes que pareciam de gatos, dada que eram pouco pontudos e pintados em baixo de preto, só que o corpo de Dola era loira, menor e o tronco mais acentuado, já o Vereador, careca, tinha longas pernas. Também tinham os dois um tipo de sobre-pele cinzenta, d’onde saiam canos que se curvavam retangularmente, voltando para a manta, apareciam só nas partes descobertas da roupa e, no pescoço, viravam uma coleira aonde saía um capacete; isto existia, pois, a espécie deles, os Eupalinos, viviam em um planeta aonde a amônia era líquida e coisas como a água, para eles, não existia em abundância, para esta espécie, esta coisa era até mesmo algo de mal-agouro: o lugar aonde o “demônio” vivia era chamado de “Lugar aonde a água molha os pés” (Ouriuris) e o seu nome era mesmo “Senhor dos Aguados” (Ouraror). Mas, fora toda esta mitologia antiga dos Eupalinos, eles tinham problemas com a água, que não os matava, mas, uma vez em atmosferas como a deste planeta e de outros com muita água, passavam a desenvolver doenças pelo nível de toxidade, por isto, criaram roupas em que saiam tubos que retiravam toda a água absorvida pelos seus corpos, as Eupavestes.
A água tomava tudo ali, o próprio planeta em que estavam não tinha quase nenhum vulcão, pois, o seu núcleo era praticamente frio: o planeta girava vagarosamente e só não ficava estático e congelado porque a estrela branca em que ele transladava enviava tanta energia para ele, que o fazia girar e ter dias e noites. Porém, quando os Conquistadores aos quais o casal de Eupalinos estava trabalhando passaram por ali, fazia  décadas, passaram por este planeta, nada encontraram, a não ser alguns líquens vermelhos e o oceano de água doce que era tão profundo que chegava até o núcleo do planeta. Tamanho era o silêncio que só era quebrado pelas ondas intermináveis em uma costa rochosa que eles chamaram este lugar de Goostomu, “aonde tudo dorme”.
Ao tempo de que contei as questões sobre a aparência de um Eupalino e sobre o planeta Goostomu, o casal chegara até a enorme cripta, lá havia um gigantesco túnel para baixo, aonde várias ramificações tomavam para o centro de uma lagoa.
-Olhe aquilo! – Disse o Vereador, apontando para as paredes – A rocha é polida, tem algumas coisas nela...
-Sim, meu senhor... São escritos?
O Vereador pegou um aparelho redondo que liberava um escâner de luz, acertou várias marcas menores, até que elas falaram bem assim:
“Nós deixamos – nosso senhor – nosso último líder – nosso salvador – nosso que dorme aqui – manteremos ele para sempre – tapião”
-A língua deles... Estranha, só fala relaciando tudo para “eles” – disse Dola
-Sim, ela é uma língua sem objetos, parece que eles só ligavam para o seu povo... Entretanto,  o nome do que quer que exista aqui é algo como “Tapião”...
Olharam os dois para aonde se acabavam as pedras dispostas circularmente pela cratera, e lá havia uma outra pequena gruta. Seguiram até um salão no centro, o Vereador a frente e Polaris atrás. O pequeno lugar arredondado tinha um vulto, e do vulto gordo saíram olhos verdes que olharam os dois...
O corpo do Vereador voou para bater no teto do túnel, enquanto Dola era jogada para trás. O pernudo eupalino quando caiu, ainda desorientado, mas, nem tanto, sacou sua pistola de ácido e jogou um jato para a criatura, que diminuiu de tamanho e fitou a dupla...
O Vereador perguntou se Dola estava bem, e ela disse que apenas estava espirando, talvez por conta de estar no período fértil da espécie (o órgão reprodutor da eupalina fêmea é na boca), e não precisava que o seu senhor se preocupasse, em pouco tempo, ela já retirou sua pistola de ácido também, assim, ambos miravam no vulto. Perguntou o Vereador:
-O que é você? – Ele falou para o objeto redondo, que era um transcriptador Nyxk que usava o banco de dados do planeta biblioteca Rudedeon-3, e apontou para a criatura. Esta, nada disse, apenas apontou um de seus olhos para eles e os dois passaram a levitar, temendo um ataque, Polaris atirou próximo aonde a criatura parecia brotar do chão e eles caíram:
-POR QUE ISTO, POLARIM? – Gritou o Vereador.
-Ele ia atacar a gente, meu senhor!
-Como podíamos saber? Talvez ele nem saiba falar alguma coisa e...
-Ela estava certa, pernudo... – Saiu uma voz rouca do vulto, que tomou forma, como se levantasse por estar sentado: era de pelos castanhos tão escuros, que negros quando não vistos contra a luz.
-Quem é você? – Apontaram os dois para o ser suas pistolas de ácido
-Eu sou Tapião, senhor desta terra e último Gore vivo...
-E o que quer?
-Eu? Eu sou o último de meu povo... Dei a eles a liberdade e eles quiseram me compensar aqui, me deixando como uma estátua para lembrá-los de seus grandes feitos... – Tapião olhou para os dois e eles puderam ver que ele tinha um focinho, d’onde saiu uma pequena língua que emitia a sua voz, fixando seus olhos no Vereador, ele viu:
-Ahhhhh sim, Vereador... Você e seu povo, Eu... Eupalinos... Vivem em um mundo infernal, digo, para mim...
Então, ele entrou na mente do Vereador e descobriu, enquanto ouvia a atenta Dola Polaris tudo aquilo:
Em Eupalina, lar de ambos, estava Mégara, um Comandante que se apoiava sobre braços maiores que o corpo disse para o Vereador:
-Você levará ela para longe, pois, ela logo terá o ovo que é seu e logo este deverá tomar o seu lugar como Vereador, como é a Lei... Quando isto o fizer, você não poderá concorrer a vaga de se tornar um Comandante, como eu sou, meu camarada... Largue esta miserável em algum lugar da Galáxia, chame os Nyxk e viaje até lá, como é o nosso acordo como eles e deixe ela lá... Mas, cuidado, escolha um lugar... Um lugar aonde ela não atrapalhe...
-Mas, mas ela terá um ovo meu... – Disse o Vereador
-E você teve sempre as melhores notas nos nossos testes, será um ótimo Comandante... Agora, você prefere ser bom para todos e com sua meta, ou com algo que você nem conheceu? Sabe que matar a fêmea não é uma opção! Os detetives descobririam o corpo! (o aborto, na espécie do Eupalinos, não era possível sem o risco de vida da mãe)
-... – Sobre o silêncio do Vereador, sobreveio uma imagem a mente de Tapião, e ele disse:
-Então, o Comandante Mégara apertou um botão da nave que trouxe vocês dois para o cruzador que os traria para cá... Interessante...
Com lágrimas no rosto, que eram brancas, por serem de amônia, Dola olhou para o alto e pernudo Vereador. Não dizia nenhuma palavra.
-Polarim... Isto é mentira... Minha pequena Pola...
FISSSHHH
Disparou a pistola de ácido dela no peito do eupalino, enquanto este caia no chão do salão e morria, com o ferimento infeccionando devido a umidade da atmosfera.
-E agora... E agora... Pequena Dola Polaris? – Perguntou Tapião
-Você... – disse ela, limpando as lágrimas – você não sabe?
A criatura sorriu e dobrou seu corpo como um gigantesco fluído escuro, que entrou no ferimento do Vereador, até fazer sua pele tornar-se viva novamente, o corpo levantou-se e perguntou, ainda com voz rouca:
-Em meu mundo, há a figura do casamento... Gostaria de se casar comigo, Dola Polaris?
-E... E o que você me oferece?
-Toda a Eupalina para nós, como os Comandantes Supremos e seus filhos saidos deste ovo que gesta, vivos, assim como você...
-... – Dola sorriu, abaixou a pistola e comentou – Você também olhou para mim, não? Viu sobre... Mégara?
-Sim. – Tapião vira, Mégara enganar o morto Vereador e beijar em cantos dos castelos, a boca de Dola, porém, além de beijá-la, também a acorrentava por dias e batia, ela fora a sua maior criação para derrotar o seu maior rival – Quando encontrarmos com este Mégara, será preso por tentar nos matar, nos mandando para um planeta habitado por um monstro antigo que dizimou toda a sua sociedade...
Nisto, os dois estavam já embarcados na nave triangular, voltando para o cruzador, para irem para casa. Mas, a dúvida daquilo que ouvira surgiu na cabeça de Polaris:
-Como assim, um monstro antigo? Como vamos provar isto?
-Sabe, minha cara Dola – sorriu Tapião, na pele do Vereador – quando a minha espécie morria, ela se decompõe em água
A moça, lentamente, chegou a mão até o cinto, porém, seu coldre estava vazio e no cinto de Tapião, havia duas pistolas, agora, apenas ele tinha as armas.

E, no vazio da saída da atmosfera, os dois se entreolharam, seguindo seu rumo.


domingo, 4 de agosto de 2013

Entrevista com Dante Alighieri

 Cheguei até aquela casa escura e apenas com um foco fui iluminado enquanto pegava o meu lápis-de-tinta, para começar a entrevista. Nada via, logo, quebrei um dos meus neons da minha jaqueta, para poder ver melhor, inclusive o meu entrevistado, que estava com uma colorida camisa vermelha com triangulhinhos, última moda em Uberlim.
 "Este cara é famoso, com uma roupa destas..." Pensei. Comecei a perguntar para ele, como tudo aconteceu: Dante Pasto Alighieri, o cara que entrou num buraco vermelho causado pela sonda-estelar Virgílio e voltou... Ninguém tinha feito isto, desde quando o astroconomista Erasmo Carlos voltou e ficou falando umas paradas loucas, sobre robôs amarelos dentro das nossas bolinhas de gude, que são o Esporte Nacional, ainda bem que ele foi contido numa prisão pra malucos numa ilha, agora, está de boa lá.
 Evasivo, Dante disse que não podia dizer muita coisa, a Feeba e a PETA impediram ele de falar, só que, claro, secretamente, como era de ação das agências secretas... Por que será?
 -Então, se elas estão te forçando... Você precisa contar antes que elas não quiserem te forçar mais, não? Precisa de algo pra se manter vivo, e a nossa ajuda, da Impressa, vai fazer isto, rapaz!
 O cara coçou o baita nariz, pensou, pensou e coçou de novo:
 -Ok, ok... Posso até te contar por cima...
 -Na paz, só me conta algo, cara... Tá todo mundo querendo ficar contigo
 -Senhor... - Olhou Dante para baixo, fugitivo - Você  tem ideia do que é descobrir como o Mundo funciona?
 -Como assim, Dante? Vai me dizer de robôs amarelos de volta??? Tipo o Erasmo?
 -Não... Não, senhor! Aqueles não eram nada, eram apenas guardas... Apenas seguranças que o Erasmo não sou despistar... Eu soube...
 -Pô - vi o jeito de maluco, devia ser isto que a Matéria Vermelha fazia com os caras: deixava tam tam - continue então...
 Contou Dante:
 Eu cheguei em um enorme desfiladeiro, de pedras cinzentas... Lá estavam os robôs, só que eu me escondi deles e vi que eles ficavam dando voltas, com suas perninhas de anões, sim porque lá os robôs são anões, e não gigantes Tokusatsus como aqui! Que usam pra matar monstros gigantes... Lá eles são pequenos e falam, parecem ter vida! Então, resolvi chegar mais perto do que eles guardavam: uma colina... Lá eu subi, me escondendo nas facas de pedra que surgiam no monte, fui chegando até ver que, na real, tudo levava pra uma cratera!!
 Desci até a imensidão escura de lá, quando ouvi um robô berrar com sua voz de bits e bites: "-Pega aquele lazarento, ara!"
 De repente, quando cheguei no fim do desfiladeiro, começaram a mexer umas sombras em volta de mim, então, os robôs pararam e vi aquela gente estranha, cabelo curto e malhas com formas geométricas, rebolando e dançando:
 -Quem são vocês?
 -Nós, - respondeu uma garota que mascava chiquete provocativamente, com olhos pintados - somos os Dançarinos da Primeira Esfera! Nós é que regulamos o Caos do seu Mundo!

 "- Putz... Este Dante pirou", pensou eu, o repórter

 Não acreditei no que havia ouvido!! Então, eles pararam por um pouco e comecei a sentir todo o meu mundo girar, eu comecei a compreender um monte de coisa, tudo foi brotando da minha mente... TUDO! Doeu a minha cabeça e tudo fez sentido... Sabia fórmulas e cálculos, datas e localizações, línguas e posições sexuais... Tudo!
 -Voltem a dançar! Por favor!!! - Não aguentava saber tanto!
 Eles voltaram, e eu fui cambaleante até o centro da roda de dançarinos do Caos, que dava em um fosso, e advinha?
 Cai lá.
 A queda demorava, demorou por minutos... Então, comecei a cair pro lado e gritar:
 -PÔ! TEM GENTE QUERENDO CRIAR AQUI!!! - Gritou um voz roncada
 Olhei pro meu lado e tinha um velho de orelhas pontudas voando, ele tocava um órgão pessimamente:
 -Quê? Quem é você???
 -Cala a boca! Cale-se! Eu sou alguém que tenta dar ordem as coisas... Mas, nunca consigo! Por isto estamos sempre caindo... Para sempre!
 Ele arrumava os papéis e partituras naquele túnel de gravidade em que nós estávamos, perguntei:
 -Mas, você já tentou ler as partituras???
 -O QUÊ? CLARO QUE NÃO, IGNÓBIL!!
 Ele me mostrou e, cada vez que eu piscava o olho, as partituras mudavam e as letras pulavam do papel, em pequenos para-quedas
 -Ainda sim, - completou - quero ser um ótimo pianista...
 -Hey... Como saio daqui?
 -Tu não vai nem querer me ajudar???
 -Pô, olha só! Eu consegui ver algumas delas antes dela sair... O que tu precisa é de mais gente contigo, mas, eu não posso, tenho compromisso hoje a tarde...
-Aqui não tem tempo, imbecilis... Aqui é o Centro de tudo, a Zona Core... Tá vendo este piano (era nitidamente um órgão, mas, enfim), ele é o pulmão-do-mundo, com ele alimento o seu Universo com o oxigênio de lá: a música... Só falta eu achar as partituras... Aí libero até você, imbecil!
 -Hey, cara, faz assim, vou te contar o que vi lá... Toca assim: 'ditei e ele começou, ficou tão louco de alegria que mandou eu até repetir'
 Então, quando ele terminou de tocar eu tinha ficando cheio de dúvidas, só que quando pensei em perguntar, ele me abre uma portinhola no chão e eu... Cai (???)
 Estava tudo branco, o chão parecia de neve, mas, eu já vi neve... Ela é lamenta e suja, só é bonita no começo, pra depois te dar depressão... Toquei naquilo e parecia tanto com... Algodão! Fofura de algodão e...
 -ATCHIIIM! 
 Espirou um gordo, ele veio em minha direção... Estava de roupão, com uma toalha, barba respeitável e belos olhos azuis... Parecia que eu via o Universo nele e... Espere! Será???
 -Senhor, - perguntei enquanto ele passava por mim - o senhor é quem?
 -Eu? Ora, eu sou... É...  - ele me mediu de cima abaixo - eu sou Aquele que tudo vê!!!
 E fez uma dancinha com as mãos.
 Fiz uma reverência e comecei a rezar. Ele, solidário e com cara engraçada, realmente, mandou eu levantar e dar três pulos fingindo ser um pato-espacial e depois ficar se contorcendo como uma minhoca tonta. Depois de rir bastante, disse:
 -Cara? Pensa que eu ou alguém aqui é um tipo de deus ou algo assim? Um criador-de-destinos?
 -Ora... E não são?
 -Não, cara, não são não... O Criador-de-destinos do seu Universo é aonde nós tomamos banhos neste calor infernal... Olha só:
 Fomos até um enorme lago, muitas pessoas se divertiam naquelas águas... Era tudo muito escuro naquelas águas:
 -Anda, bebe um pouco... - Me ofereceu o gordão, enquanto molhava os pés
 Eu toquei a água e vi... Eu vi...

 Vi o que???? - Pergunta o repórter, era o furo vindo!!

 Eu vi galáxias, vi estrelas, me fixei e vi civilizações inteiras, morrendo e vivendo... Ali, naquela minha pequena porção de nada... Éramos e somos apenas isto: nada!
 Não bebi, entretanto, sai correndo, o quanto minhas pernas podiam, virei para trás e vi o gordão em algo macabro: tirou um zíper da cabeleira, abriu e era um ser esverdeado, olhos amarelos de ponta vermelha, apenas me gritou:
-Não deveria ter feito isto! Jovem rapaz sumirá em breve!!!
 E falou uma data específica... Que não pude ouvir bem
 Então, corri e corri...

 -Agora estou aqui, de frente pra você, repórter...
 -E, - perguntou eu, o repórter - como você voltou?
 -O buraco vermelho ainda estava aberto
 -Hm... Legal... E, bem, só isto?
 -Não, não... Sei de algumas coisas mais, vi alguns seres iguais o velho andando em tamanduás, outros gansos gigantes conversando com roupas espaciais e...
 -Ok, já ouvi o bastante! Obrigado!
 Cumprimentei o estranhado Dante. A luz estava saindo das bolas do sol quando fui saindo, meu café feito pelo Alighieri, precisava ser rápido pra bomba, tinha de chegar na redação.
 Mas, primeiro, lembrei da data, aquela que o rapaz tinha esquecido quando enfrentou o "papai noel" na praia: tirei um celular-tijolo-contra-assaltantes e liguei:
 -Alô, aí é do Bar Telefônico da Dona Maria? Sim, ok...
    Pode me chamar a Greta Esgrima aí?
     Ok...
       Olá, Greta! Traga por favor a Smith 45, por favor!
          Sim, sim... Sim, meu docinho...
            Achamos Dante e ele fala e sabe demais
             E o "dia dele" chegou, só eramos um dia na data.




quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Nos mares de Kumasi #Panda Vermelho

MUSIQUETA DA POSTAGEM



Enquanto olhava as ondas cintilantes do mar prateado pela poluição, meu amigo surgiu.

 -Há muita luz aqui... Não?
 -Realmente, nunca tinha visto isto... Como aconteceu toda, a luz?
 -Não sei, não me importo... Não sou como você, velho Vermelho, não ligo pra história e o Por Quê das coisas, acho mais interessante aonde elas estão... Sabe disto, meu Império não surgiria se não fosse por isto
 Vi com uma face de certo espanto, mas, tenho que me acostumar. Derrubando todo um reino, e depois vários, criando máquinas de pedra e pó, canais que davam ao deserto alguma plantação, um verde absurdo para a normal visão, meu amigo Coelho Caolho se tornara o Maior líder deste mundo; um Império sem nome, apenas uma marca semelhante com um risco branco de cima para baixo - uma marca que me lembrava assustadoramente de outro imperador, um ser que eu derrotei há séculos... Em outro mundo... Um Panda como eu, só que nunca teve uma vida –animal ou de pessoa- a não ser seu Ideal, seu Objetivo. Esta porção de terras e cabeças eram lideradas por um igual a mim, nós, que tínhamos por sorte recebido nossos poderes, estávamos perdidos, caçando cada um seu aprimoramento, sua Vontade; vestidos com nossos mantos que davam ao mesmo tempo o Poder e esta Busca.
 -E os Democráticos? Como está lidando com eles? -Perguntei à ele, não via sua face pelo sol que queimava minha face, da minha forma real, mesmo que o real varie conforme à íris que é queimada, principalmente neste mundo que nem é o nosso... Eu era um panda vermelho e ele um homem de trinta anos e caolho, estas eram nossas formas, este era o nosso real.
 -Ora, sabe que meus canhões de monólitos estão dando conta disto... Aqui, sou um Príncipe, um deus pra eles... Mesmo que os greco-românicos não aceitem ainda, com suas ideias de Voto à todos os seus cidadãos, logo, cairão -O Coelho moveu sua mão, conforme mexia-se em um movimento semelhante ao reger de uma orquestra começou, lentamente e aumentando a velocidade, a brotar uma série de pontas de rocha, roxa, aumentavam as ondas e mais luz batia em meu rosto... Cerrando os olhos, percebia como aquela porção de terra que foi inundada na guerra deste mundo se assemelhava a meu amigo, denso, escondendo muito, explicando apenas o necessário... Ele é muito direto, porém, sendo isto ele guarda mais consigo que alguns que contavam muitas histórias, como se estes, se lhes fosse entregues um teclado e um papel, voltasse apenas com um parágrafo ou um poema, mas, claro, nunca generalizo nada, sobre minha contemplação da terra, disse:
 -Você sabe que sou direto, vamos parar de falar de mim... Temos que completar seu treinamento aqui...
 -Okay...
 As pontas se levantaram até que se mostrassem como entrelaçadas, uma sequência de pontes de pedra rocha entrelaçada, com algas e uma placa de metal enorme, as letras eram um antigo dialeto Ashanti, lá dizia...... Algo como ironia: "Messias", achei interessante, mas deixei de lado, pois sabia que o Caolho não explicaria nada. Entrando na enorme estrutura de pedra, em cada passo, ia me transformando, a pele de pelo ia virando armadura de aço, o tronco ia crescendo e ficando reto, uma capa vermelha saiu desta pesada couraça que crescia, retirei de um bolso no tecido meu elmo, mas antes de colocá-lo, deste capacete de metal tirei - como uma cartola - uma espada; estava pronto, pesado, mas pronto.
 De repente, uma sombra pula pelas pontes de pedra, ela pula e eu não a vejo, suo. O salto me golpeia e eu quase caio, mantenho-me em pé... Não posso me mover muito, tenho que me mover precisamente. Ele vem de novo
            Um golpe, meu elmo cai
            Outro, a capa é destruída... Porém, a minha
            Num último voo, viro a espada em um golpe horizontal, o último...
            Talvez não houve tempo, talvez seja o final
 ...Um flash do sol batendo no meu corpo que cai, eu vejo uma menina jovem, bela de olhos azuis, quase como os mares daqui de Kumasi, os de antes... Seu cabelo é ruivo, ondulado com uma grande franja, reta, mal comportada por ser diferente do resto... O barulho da pesada couraça cai no chão e lembro das danças da tribo dela, do Norte, sua pele branca dá contraste à pele de urso-texugo que eles usam... Foi numa andança que fiz para além dos Gregos-românticos... Agora que sou humano, posso sentir isto, gostava dela...
                 Mas, não era hora. O combate chamava, minha última prova neste mundo
 Levantei com um único movimento que também foi golpe dado na sombra que me atacava, ela chocou em poeira numa rocha. Vi meu amigo com duas enormes facas de obsidiana ao invés de mãos.
 -Você resistiu a isto, amigo velho... -Sorriu e abriu sua capa, moveu de novo para o mesmo lugar e, do misterioso gesto, surge um espelho grande, ao qual ele trás minha Alicia, Alicia das Brumas... Atravessa como água aquele reflexo que pra mim é muito real...
 Seu chapéu é do urso-texugo, seu cabelo escorre pela face, o sol bate em sua pele e reflete mais que no espelho... É estranho o brilho vermelho que seu pescoço tem, é feio aos meus olhos, eu não sei... Não vejo a feiura daquele ato há muito tempo, vejo seus olhos, vejo eles ficarem vermelhos... A boca roxa, como a rocha que cobre todo o lugar, seus lábios parecem que beijaram este chão...
              É lindo, realmente... É mórbido... Ele cresce, ele me fez crescer algo que experimentei poucas vezes...
 Houve um movimento dele, outro e mais um
 Meus pés armados começaram a pisar na poça de líquido vermelho pastoso
 A espada corre seca, lâmina vesga de fúria corta o ar com minha paixonite, já não há mais nada... Ela beija o solo e por tudo sujo meus pés com algo quente, vermelho como era o seu cabelo ao sol
 Meu amigo se move para trás, só há o espelho, ele começa a atravessá-lo, sinto o fogo queimar minhas mãos, meus olhos parecem que lançam raios mesmo apenas estando cheios de lágrimas; ele não irá fugir, lanço a espada, como uma bala ela parte o espelho, há poucos centímetros, o Coelho Caolho tem olhos fixos em mim, esbugalhados... Ele está preso na roxa rocha, como se eu tivesse lhe partido a fuga, como realmente o fiz. Porém, mais quero partir, a sensação de ardor se acalma no peito, me pesa as mãos, me pesa as costas – você sente como se o mundo estivesse sobre seus ombros, no entanto, o mundo inteiro não liga pra o que carrega, pra você.
 Agarro o pescoço de Meu Amigo e retiro a espada da rocha, não há mais suor, apenas uma gota corre por minha testa, uma testa humana.
                 A arma laminada parte a ponta de rocha em que ele está, corta ao meio...
                -Acabou!
               ...Em silêncio, sinto de novo o calor deste sol... A maresia faz com que a armadura se comporte de jeito estranho, parece até que enferruja mais rápido... Ela engasga... Eu engasgo... Meu joelho cai no chão, pareço com falta de ar...
 -Acabou!
 -Eu já ouvi!! –Respondo, ainda não acreditando... Começo a me levantar, estou tremendo e a espada mais ainda
 Olho para aonde está o corpo de meu amigo... A fumaça vai saindo dos poros, até que ele inteiro evapora em uma nuvem negra... A nuvem vai subindo pro céu...
 Olho pra cima, vejo meu amigo se tornar uma tempestade. Da tempestade de nuvens negras, cai a água que lava tudo, vai pouco a pouco, com suas gotas me lavando, me recuperando um pouco...
 Para trás, mais uma vez olho, mesmo com a dificuldade de uma couraça rapidamente afetada, vejo meu amigo, na forma de um Coelho Caolho, com seu tapa-olho, sentado numa pedra...
 -Então, acabou? Só isto?... –Meu sorriso irônico é falso pra o que sinto, que agora sinto...
 -Você tinha que aprender isto, sabe muito bem...
 -...... –Olhei pra a Alicia... Parecia que o engasgo voltava...
 -Escute, a morte é o fim, porém, posso trazê-la de volta, sabe muito bem disto, ainda o corpo esta fresco...
 Com pequenos saltos ele chegou perto dela, tocou no pescoço e cauterizou o ferimento... Ele me olhou depois disto e disse:
 -Seu treinamento ainda tem mais duas lições...
 -Quais? –Lhe pergunto
 -Traga a vida dela de volta, você é o mais poderoso... Ou melhor, será... Quando jogamos os dados para decidir entre nós 7, não concordei com isto, mas, agora, sei que pode...
 A água já empoçava o sangue, eu movia-me com dificuldade... Tirei a couraça, cobri seu rosto com a capa... E, por uma questão estranha, senti algo, carinho, esperança, eu era ela e sorri... Eu nunca sorrira por aquilo...
            Beijei sua testa, seu nariz e sua boca,
           Com o manto na face
           Suas funções cardíacas foram acordadas com um choque, cauterizando cada parte danificada pela falta de oxigenação, talvez apenas perdesse os movimentos de um braço, ou da fala... Tudo muito fácil... Tudo parecia tão fácil...
 -Mas, não é, não é mesmo, meu amigo?
 -Sim, não é Coelho... Tratará ela bem?
 -Claro, você não só conseguiu aprender Vingança, algumas coisas a mais como isto do Carinho e Despedida só se aprende com Paixão...
 -Despedir? –Sorri para ele... Estava pensando nisto, enquanto a chuva acabava...
 “-Pelo Desfiladeiro do Crepúsculo, quando chegar lá, haverá uma grande nave, pegue-a e puxe a alavanca de pedra única que existe no cais, será levado pro outro mundo”, falou meu amigo. Estava em frente pra estranha forma de rocha em forma de ponta que mirava para o céu, com enormes velas de metal... Entrei e fui subindo, como uma aranha até a alavanca...
                  Antes de puxar, lebrei do nome dela... Por dentro de minhas brumas ela ainda ficaria, talvez sim ou não. Fora bom ter sentido aquilo... E segui com as instruções...
                  Puxada a alavanca, tudo é luz, sigo na direção da luz de Kumasi, por uma janela lateral, sua mar me beija, com seus olhos, em seus fechar, me despeço.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Pílulas de Vida #Agentes do Caos

 "Quando você cai de um penhasco com as asas de Ícaro, de cera, se acha a maioral, não?"

Mesmo que ela não quisesse, já sentia-se ligada ao cara, ao tal do Ulisses Joyce
 Porém, não havia muito sentido isto, pois ela voava com suas asas de metal ainda, em movimentos constantes de uma borboleta flamejante. A chama azul que emitia a sua alma infante não condizia com aquele lorde que esbanjava opulência e nunca, jamais, tinha vertido uma única lágrima de alegria... Havendo apenas conduzido seus líquidos dos olhos por motivos tristes, ou ainda, de ira. Tinha uma pele de bronze ele, ela gostava de sua barba ao sol... O que naquele tempo havia muito, pois ainda não se falava dos buracos no céu, nem dos grades tubos que vomitavam a fumaça negra que copulava com as nuvens e nos dava como infante o câncer em nossos pulmões.
 Ela, em um dia de paixão exacerbada, ao andar numa rua de Julgamento -viela suja e suada de proletários de uma fábrica próxima de barris e de piche-, cai no chão... Ela parece desorientada... Sente o cheiro do perigo e tentando correr, é agarrada por homem franzino e muito estropiado, ele a joga no chão e logo mais três se juntam a ele... Ele esta com uma cara triste, mas ainda assim, tira o pequeno vestido branco da moça e, os quatro carrascos tiram dela aquilo que ela nem ligava muito... Algo que por sua ignorância de nunca frequentar uma Escola ou Oficina de Ensino, nunca lhe fora revelado ser preciso guardar para que o marido -disposto de toda tradição e pompa deplorável- "fizesse o serviço"... Mas, nada destes Valores que sempre xingamos em tudo e todos e depois, em época próxima, acostumamos e aceitamos estava ali em discussão com aquele moça... Dor, apenas isto, dor visceral e por dentro das dobrinhas da pobre ex-moça...
 LEMBROU UMA VEZ
 ...A menina de franja cospe a pílula branca que a dei... Esta mais pálida que a fórmula que a dei, ou mesmo um céu de setembro... Os olhos negros e brilhantes me fitam, nunca percebi como eles eram profundos e me tomavam por completo... Não pensei em mais nada, peguei outra pequena pílula, agora vermelha, e dei a ela...
          *
 Passou-se alguns meses depois, logo, era uma pessoa muito magra aquela que um dia parecia um ser alado e brilhante. Quieta, a idade não correspondente em um número de anos, mas de peso das tristezas e perdas, caiu seu belo corpo em um monte de ossos e carne parca.
 Ulysses a encontra, tem um óculos redondo e uma careca crescente, porém, ainda admira a coragem dela... Ela, tentava arrumar o cabelo embaraçado, o vestido de bolinhas sujo, fora de moda... Nada tirava a sua cara de tola...
 O Maior Amor dela diz:
 -Minha querida, fora eu.
 -... - A mudez dela é profunda... O silêncio que fez assustou até mesmo a este narrador; quieto, sofrido, cada costela do corpo magro que uma vez fora belo foi pegando fogo, a pele parecia querer que o resto fosse vomitado... Porém, não foi... Ela, em silêncio
 -O que acha que podes fazer, além do ódio e a sua cobiça de Vingança? -O homem baixo e de chapéu de coco a assusta
 -Por quê?
 -Você me pergunta razões? Bem, eu deitaria com você... Entretanto, queria terminar uma história, você seria uma personagem perfeita... Acompanho teus passos e escrevi grosso romance sobre tua vida... Desculpe, nunca tive muita imaginação, logo, usei você... Fora uma simples e tão boba personagem...
 LEMBROU DUAS VEZES
 ...Ela me olhava e chorava, não aguentava mais ficar sentada naquela cadeira... Pensei em parar com aquilo, não dar a 3ª pílula, a verde e comprida... Minha instabilidade passou e ela percebeu minhas mãos suando por fora do terno... Ela aperta minha mão, com olhos ainda em lágrimas... Diz:
 -Um beijo em sua face pelos seus pensamentos... Um beijo em sua boca, para que me deixe ser o que preciso ser...
 Dei a pílula
                  *
 Dois meses, parcos dois meses num início de século em que as máquinas substituíram os homens, as ferramentas da Rede de Cobre, os cérebros, os cães, as crianças... Apesar d'eu ter um cão chamado Rufus. Neste impressionante sistema gangrenado e que parecido mal distribuído para uns, muito pouco para outros e nada pra alguns, nada como uma Prisão Municipal, e lá a ex-moça, ex-velha e agora destruída residia... Sobre as cinzas paredes e o sol escaldante de um verão chato, ela reflete sobre como acabara ali... Ela não sabe... Só lembra que uma vez tentou voar quando criança... Pois, pensava que era uma borboleta...
 Houve uma visita, no início de setembro, era o governador... Homem magro, um pouco alto, óculos redondos... Imagens que se formam, novamente, algo que se diz como esperança se alia as lembranças de uma amor rubro e sanguíneo, assim como faz suas bases sobre uma pureza branca a muito perdida... Ela o olha, sorri, o velho não a reconhece... Ela nada mais é que um farrapo humano em tempos de Terceira Peste, porém, Ulisses Joyce tem medo, algo tão visceral como fora aquele irromper da proteção do feminino dela forçadamente para o seu puro prazer... Ele não sabia o por quê, mas, tratou de fugir dali e ficou num hotel naquela noite...
 A prisão era protegida, porém, não tanto como deveria ser... Uma faca improvisada, uma pequena distração - uma presa em chamas -, tudo para que o leão saia da jaula e pegue seu domador, aquele que criara a sua Fúria.
 Descobrir o Hotel, fácil, apenas um era 5 estrelas na pequena Julgamento, algo para o crime... As mãos, os dentes, os joelhos, apenas o corpo que o demônio caído havia maculado com um plano de escrita... Um escritor que usou uma vida para ascender a altos céus e discursos para  ascender à altas cadeiras não mereceria mais que isto... "Um corpo e alma por corpo e alma, um dente por dente, literalmente", foi com este pensamento que ela achou e entrou no quarto.
 Escuro, um recinto escuro, um careca dorme e acorda... Vê um fantasma de seu passado... Este ser pavoroso a luz uma vela, diz:
 -Por quê? Porque eu te amei demais, te odiei demais... Logo, minha paixão deve ser respondida com este último beijo...
 Ela salta sobre o homem, ele, em pânico, tenta alcançar uma mesa, aonde na gaveta, um 22 pode salvá-lo, ela o abraça e beija mortalmente, mais e mais sangue se espalha... Abre-se a gaveta, a garganta já pedindo arrego... Ouve-se um estrondo
 LEMBROU TRÊS VEZES
 -...
 Fiquei sem palavras... Olhava para ela, em estado catatônico... Repeti seu nome muitas vezes:
 -Karmem! Karmem! Mily? Pode me ouvir?
 O terno suado me fazia parecer um pinguim... Nunca deveríamos ter tentado aquilo... Eu quase chorei sobre as asas de Ícaro de minha maior criação... Presas, as grandes fagulhas de metais brilhantes, nada ali fora feito por mim... O que fiz foi fabricar com ela uma grande coisa, sem nome ainda, mas que me fez lutar em diversas batalhas... Nada demais seria se ficássemos cada um com suas memórias, mas, ela me mostrou o que tinha por dentro, por cada pílula que dei, cada coisa que lembrou... Não sabia se eram dela, ela era uma criação, uma máquina que voava pelas ideias de muitos e que esbarrara por acaso com um louco.
 -Estou bem... -Ela sorri e me beija
 -O quê, ou o que é aquela mulher? Quem é Ulisses?
 -Ele, ele é o que cada um de nós poderia ter sido... Ele é o que esta em nós, muitos nomes, para a mulher e para Joyce nós temos... Os mais comuns, damos muitos valor, os mais complicados, são esquecidos...
 -Então, só foi um sonho?
 -Nada é um sonho quando se acredita que ele existiu... Assim se fez com sua vida, assim eu fiz com a minha...
 -O que existe além do que nós vemos?
 -Ora, tome a pílula e veja... Cada uma te leva a um lugar e vida específica...
 -E por que tudo pareceu com a tal mulher e o tal Ulisses?
 -Hm... -Ela sorriu e se espreguiçou, lindo e com um bom corpo, completou - Tudo as vezes é um sonho, e os sonhos não tem regras...
 Um beijo e eu tentei dormir, tentei sonhar aquela noite... Ou acordar de um sonho



MUSIQUETA DA POSTAGEM

http://www.youtube.com/watch?v=0t5nJsH9rM4&feature=player_embedded

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Futebol, Justas e o Amante #Agentes do Caos

 Era uma triste insólita tarde de chuva em Alex-Andria, uma terra cinza em que o Partido Chauvinista tinha deixado as paredes cheias de citações anti-governamentais, o governo deles.
 Andou por alguns metros o garoto magro, sujo e cinza, nada mais se fazia naquela terra que não fosse xingar um governo ou com ele bate nos domingos nas cabeças dos membros do Partido Feminista, ou de outras coligações proibidas... Era estranho, mas o garoto de echarpe azul nada tinha a ver com aquilo... Ele sabia somente que às 11 horas da manhã o "mundo pararia"... Uma Justa entre os Lancelotes e Amadeus de Gaula se daria -um jogo muito violento e monótono, dado com onze homens (ainda havia a questão sexual nestes tempos, sendo imprópria a participação de mulheres) correndo atrás de uma bola, aonde sua meta era atingir outro defensor, que com uma espada, tentava cortar o objeto duro de couro com uma espada; era o esporte mais popular de toda a região, sendo que muitos parariam e ele poderia andar pelos becos da cidade tranquilamente, poderia buscar algo que precisava fazer... Precisava encontrar Mila...
 Ouvimos todos os gritos e gaitas... A grande final nacional aconteceria... Tudo parou, por quase uma hora e meia o mundo daquele país parou em tudo para acompanhar algo mais que um jogo, era suas vidas que estavam nos pés e mãos daqueles jogadores... O jovem cinza, porém, não se vestiu com nenhuma das cores dos times, ele até achava tudo "meio besta", mas toda a sua família, não. A jovem Mila, metida e de cabelos loiros frescos, também amava as bolas mais que o jovem cinza... Ele só caminhava para a casa dela, ele precisava mudar isto...
 O silêncio sepulcral de uma cidade, aonde, sem bares com tvs para a transmissão dos jogos naquele bairro, fazia o cinza andar e ouvir, dentro de um túmulo, as trombetas de um povo que acompanhava firmemente o balé que se dava dentro do Estádio Metropolitano... Eles amavam aquilo por aqueles 90 minutos, eles amavam e se matavam por aquela bola mal jogada, o juiz do jogo que parecia roubar pelo outro, pela cor da roupa que um torcedor usava... Era legítimo, era entendido...
                                                                  "Estava certo", a mente do  menino estava coerente a todo a massa que assiste aquela partida... Ele estava cansado como estavam os outros, ele estava querendo se libertar por um dia de sua cela diária, como eles queriam... Só que havia uma 22 em seu bolso, naquele secreto do paletó...
 Abre a porta, há um murmurinho na sala, um amigo velho levara a família ao estádio... Ela, sozinha, era "pra ele"... Aquele objeto duro e mortal era pra isto, o homem cinza queria acabar com aquilo, ele queria se libertar aprisionando ela ao seu corpo...
 Abre a porta, depois de mulo pulado, o barulho na sala se mostra... Eram gemidos, de vermelho, ela que era para estar doente pelo remedinho que o amigo, o jovem cinza, colocara em sua comida no dia anterior... Mas, ela estava bem... Ela estava bem em cima de um velho, um cara mais velho que levanta ainda com as vergonhas de fora... Ele esta assustado, o nosso protagonista, com a arma na mão, porém, parece até rir o outro, o "Ricardão"
 -QUEM É ELE?!!! -Solta o grito mais alto de sua vida, o jovem cinza armado
 -Sou um noivo, meu bem...
 -Sua puta!!! -Ele descarrega um tiro no sofá, não acerta e ela se assusta... Seu berro é de terror... O do jovem cinza se mistura a cólera... Lá fora, ouve-se uma torcida indo contra a outra
                                                   O jogo acabou, um dos times do Futebol -o nome do esporte- acabara e alguns não conseguiram aguentar a dor e resolverem descarregar sua fúria sobre outros... Da mesma forma que o jovem iria descarregar sobre o "Noivo" e Mila as balas da arminha...
 "Eu que deveria estar sobre ela... Ela é minha!", pensava antes de atirar. O movimento em direção ao homem era certeiro, porém, algo o atingiu... Nada o jovem viu... Era um violão, ele era ainda um violeiro! Isto deixou o garoto mais decepcionado... Mas, o Noivo lhe perguntou:
 -Você quer sobreviver? Você foi testado por mim... Sou um ser que "casa" almas ao qual gosto, sou um ser do caos e quero que você me responda:
 O Ela, ou você?
 A resposta seria difícil... Ouvia-se lá fora os torcedores urrando, ouvia-se o peito do jovem cinza tomando cada vez mais cor e urrando... Seu coração revivia e tomava a cor vermelha, ele saíra do feitiço que ele mesmo deu com seu amor por aquela jovem que nunca lhe respondeu... Diz ele:
 -Quero a minha vida... Por favor...
 -Ok... Porém, isto não é romântico, não sei se sabes?
 -Eu não ligo... Eu por muito fui ligado a ela, eu deveria ter gostado de um time, não sei, eu poderia ter sido mais feliz e... -Ele levanta e começaria a descrever sua sina... Entretanto, o Noivo saca um 38 e fulmina na cabeça a jovem...
                       O garoto em silêncio, engole seco... Ele teme...  Não, não é isto... Ele esta só confuso...
 O Noivo, próximo a ele, o acerta com seu instrumento, ele cai, acerta de novo e mais algumas vezes... Diz assim o ser:
 -Eu te pouparia, pois sou romântico... Admiro os fanáticos, pois deles é o Reino...
 Com o pé, ele virou o jovem, ele demorou algum tempo e foi se arrastando... Para a porta que dava para a rua... O outro se vestiu, sentou e olhou...
 O jovem chegou ao meio da rua, em uma esquina e da cada lado, as duas torcidas chegavam naquele lugar...
 -Encontro interessante, você vai encontrar com outros...
 O sangue escorria do amante... Ele tinha uma vez acreditado neste amor platônico que falam os poetas e torcedores, assim como o Noivo acreditava...
 O Agente saiu, na direção sul, sumiu num beco; o jovem cinzento se misturou a paisagem com o vermelho vivo de seu sangue... Os dois grupos, tanto do Lancelotes quanto do Amadeus de Gaula, pintaram com suas cores a rua ao qual havia sido combinada uma "batalha", ou, uma "Justa na rua"...
 Foram passando e nem viram o corpo, o jovem ficava frio, a chuva parou
 Nada de novo, só algumas paixões


 MUSIQUETA DA POSTAGEM
Pelo título...
http://www.youtube.com/watch?v=9KDmN-SiMu0&feature=related