sábado, 28 de janeiro de 2012

Meus cães

 Em um tempo desconhecido, na região fria e cheia de pinheiros que chamamos de Caninéia, dois grandes guerreiros derrotaram todos os seus inimigos, principalmente formados pelo Clão Gatuno do Norte, seus nomes foram esquecidos pelas canções e trovas, porém, seus deuses os chamavam de Lorde Branco e Negro, eles foram os primeiros da dinastia dos Solitudum. Os conhecidos pelos poetas por Dois Irmãos derrotavam muitos e andavam por terras desconhecidas, a fim de ampliar ao máximo seus territórios e riquezas, naquele tempo, dada pelas latas de lixo reviradas e por todas as fêmeas procriadas de outros.
 Porém, o Grande Castelo começou a ficar mais e mais tumultuado, o Lorde Branco, de menor força e esperteza que seu irmão, era cada vez mais jogado da liderança, sendo quase aquartelado em sua casa, no Templo dos Donos. As forças de cada um levavam a um reinado do esperto Rei Preto, o Menor, porém, ventos logo vieram trazer a derrota dos sonhos do Lorde Preto. Estes ares tinham a forma de uma carroça, trazida por viajantes, mascates, o peso sobre a perna do esperto senhor fizeram sua perna se partir em três, e seu sangue jorrou por todo o castelo enquanto sua morte com ataduras tentava ser evitada... Mas, a tempestade era mais forte que o navio, para o Abismo fora o Lorde Negro e para o Trono, seu irmão Branco era o dono, sendo agora chamado de Rex, o Felpudo.
 Eis que sobre este senhor as façanhas foram menores, cuidou de tudo como um verdadeiro “bom rei”. Mesmo não espandindo suas terras e latas de lixo, teve em seu julgo vários bons cavaleiros, desde Pitty de Bassê até o Jovem de Shoesbox. Porém, seus tempos também não foram fáceis, seus cavaleiros morreriam de doença ou acidentes terríveis – o próprio Conde Pitty fora esmagado por uma peça móvel do castelo, durante um invasão-; assim seus filhos e primeira rainha, morreram todos, num período que foi chamado de Era dos Príncipes dos Caixões, um tempo sombrio, em que poucos restaram, apenas o Rex sobreviveu, junto com sua segunda esposa, chamada de Pequena. Porém, já em idade avançada, o Lorde estava cego e fraco, não poderia conduzir o Reino e o Grande Castelo por muito tempo.
 Logo, os ventos mais uma vez trouxeram um forasteiro, seu nome era de longe e usava roupas estranhas, tinha o nome de Billy, era D’kid. Um caçador nato, ainda jovem mostrava sua fúria e em poucos meses, seu tamanho já era maior que o idoso Lorde Branco. Elevado pela Rainha Pequena à Duque, sintiu as forças o elevando às alturas... Logo, o velho Lorde Branco não conseguiu mais ter controle sobre suas tropas, foram derrotadas ou debandaram: o Duque tomou a sua esposa como dele e condenou ao ostracismo em seu próprio castelo ao velho Rex.
 Elevou-se ao dono de Todas as Tropas, Billy D’kid, o Caçador. Teve com a rainha dois filhos, um fora chamado de Bih D’du, nome do povo da rainha, apesar deste ser mais parecido com o pai fisicamente, caso inverso de seu irmão, Trovon, o depois dito, o Gordo. Os dois filhos foram chamados de Marqueses de Solitudum.
 Bih D’du fora um grande caçador de Mercenários Anfíbios e caçou até as mais altas paredes de pedra do reino. Expandiu o Reino até as maiores distâncias, mesmo o Grande Rio Valeta era conhecido por este Marquês. Era, mesmo com tudo isto, um frágil poeta, de voz ruim, porém, meigo, um assassino meigo.
 Trovon, pequeno e corpulento, com seu irmão disputava sempre, desde terras até fêmeas, porém, sua voz potente não se exprimia em seu pequeno tamanho. Sua inteligência, era inegavelmente herdada dos pais e semelhante ao irmão, no Grande Templo era o único que tinha permissão para viver.
 O Grande Duque Billy D’kid tinha muita força e seu exército era poderoso, nada se perdeu desde o antigo Rex, porém, em um lance funesto, no decorrer de um ano fora marcado por eventos que quase derrubaram este rei. O Velho Lorde Branco partiu, em paz, num tarde de segunda, no domingo, uma invasão de Vizinhos Bárbaros fez com que as tropas do grande Duque, agora elevado Lorde e seus filhos fossem enganadas por um estratagema que enviara tropas inimigas para um ponto do reino, atacando e invadindo fatalmente o Grande Castelo e invadindo o Templo, roubando pertences daquele local. Reinos vizinhos são os possíveis responsáveis por isto, mesmo que apenas na boca dos poetas, e na cabeça do Lorde Billy, que fora derrubado por um golpe na fronte, para sempre marcado em sua honra. Na segunda, um último evento do que fora chamado de Tempos Funestos: em uma missão de reconhecimento de novos territórios, Duque Bih D’du extendeu-se até os desconhecidos terrenos do Rio Valeta, o dia era de chuva e a terra enxarcada, os portões do reino estavam longe e não havia mais como voltar, perderam o rastro a XXVII legião e o Duque, que fora dado como desaparecido, nas sombras das tempestades.
 O Lorde Billy e seu filho Trovon agora eram os únicos no reino, pois, a rainha Pequena, agora já a Velha, decidira ir também a paragens distantes. Como uma grande jornada, desapareceu nas Terras das Araucárias, ficando em um castelo de seu tio, até que sua vida caisse dos ossos.
 Passaram-se anos, os ventos estavam calmos. Cerca de três invasores dos Gatunos chegaram a invadir o reino, o Lorde os derrotou de forma honrosa; um antigo morador das Partes Descuidadas do Reino fora o primiro dos derrotados, com sua gargata estraçalhada, fora deitado numa carroça, sua pequena tropa expulsa; seguiu um novo descendente seu, ao qual fora devorado, não sobrando nenhuma parte para o envio de seus restos, tamanha era a fúria do Lorde em atacar o Jovem Gatuno. Finalmente, um último representante deste clã, de nome Saltitante, fora encuralado depois de admiráveis dias de um lado para o outro.
 Logo, sentimos cheiro ruim no ar. Os feitos do Grande Lorde iam desde a caça dos bárbaros, aumento do território e inúmeras repulsões aos inimigos. Porém, seu filho, Trovon, de dentro do Templo mantinha todos a sua conduta, sua força era total neste espaço, porém, o velho Lorda ainda mantinha algum respeito dentro do resto do Reino. Era um bom cão, era um bom Lorde, que pulava pelas mesas de banquetes e roubava seus deuses, deixando-o alguns rindo ou outros loucos.
 Isto, porém, fora a muito tempo. Suas entranhas verteram sangue e o povo do reino, lágrimas. Fora durante a viagem de um dos deuses que ocorreu, sorrateiro, a tristeza e o silêncio do olhar do velho Lorde com seus pelos brancos cobriu a terra de tristeza. Em espasmos, dormiu em posição de queda, abriu os braços e se foi... Seu filho em silêncio, logo teve uma festa por ser o novo Lorde, o novo Rex, porém, um dos deuses o olhou no momento final... Era um momento final, um espasmo e o cheiro ruim fora substituído pela dureza do Dono
Ele o enterrou com a ajuda do outro
Colocando a terra por cima do Lorde Billy e entre duas árvores
E a Canção do Lorde da Caça Billy se encerra
De maneira torpe, rápida e com grandes lembranças
Como fora este ser
Agora, minha grande lembrança

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Nos mares de Kumasi #Panda Vermelho

MUSIQUETA DA POSTAGEM



Enquanto olhava as ondas cintilantes do mar prateado pela poluição, meu amigo surgiu.

 -Há muita luz aqui... Não?
 -Realmente, nunca tinha visto isto... Como aconteceu toda, a luz?
 -Não sei, não me importo... Não sou como você, velho Vermelho, não ligo pra história e o Por Quê das coisas, acho mais interessante aonde elas estão... Sabe disto, meu Império não surgiria se não fosse por isto
 Vi com uma face de certo espanto, mas, tenho que me acostumar. Derrubando todo um reino, e depois vários, criando máquinas de pedra e pó, canais que davam ao deserto alguma plantação, um verde absurdo para a normal visão, meu amigo Coelho Caolho se tornara o Maior líder deste mundo; um Império sem nome, apenas uma marca semelhante com um risco branco de cima para baixo - uma marca que me lembrava assustadoramente de outro imperador, um ser que eu derrotei há séculos... Em outro mundo... Um Panda como eu, só que nunca teve uma vida –animal ou de pessoa- a não ser seu Ideal, seu Objetivo. Esta porção de terras e cabeças eram lideradas por um igual a mim, nós, que tínhamos por sorte recebido nossos poderes, estávamos perdidos, caçando cada um seu aprimoramento, sua Vontade; vestidos com nossos mantos que davam ao mesmo tempo o Poder e esta Busca.
 -E os Democráticos? Como está lidando com eles? -Perguntei à ele, não via sua face pelo sol que queimava minha face, da minha forma real, mesmo que o real varie conforme à íris que é queimada, principalmente neste mundo que nem é o nosso... Eu era um panda vermelho e ele um homem de trinta anos e caolho, estas eram nossas formas, este era o nosso real.
 -Ora, sabe que meus canhões de monólitos estão dando conta disto... Aqui, sou um Príncipe, um deus pra eles... Mesmo que os greco-românicos não aceitem ainda, com suas ideias de Voto à todos os seus cidadãos, logo, cairão -O Coelho moveu sua mão, conforme mexia-se em um movimento semelhante ao reger de uma orquestra começou, lentamente e aumentando a velocidade, a brotar uma série de pontas de rocha, roxa, aumentavam as ondas e mais luz batia em meu rosto... Cerrando os olhos, percebia como aquela porção de terra que foi inundada na guerra deste mundo se assemelhava a meu amigo, denso, escondendo muito, explicando apenas o necessário... Ele é muito direto, porém, sendo isto ele guarda mais consigo que alguns que contavam muitas histórias, como se estes, se lhes fosse entregues um teclado e um papel, voltasse apenas com um parágrafo ou um poema, mas, claro, nunca generalizo nada, sobre minha contemplação da terra, disse:
 -Você sabe que sou direto, vamos parar de falar de mim... Temos que completar seu treinamento aqui...
 -Okay...
 As pontas se levantaram até que se mostrassem como entrelaçadas, uma sequência de pontes de pedra rocha entrelaçada, com algas e uma placa de metal enorme, as letras eram um antigo dialeto Ashanti, lá dizia...... Algo como ironia: "Messias", achei interessante, mas deixei de lado, pois sabia que o Caolho não explicaria nada. Entrando na enorme estrutura de pedra, em cada passo, ia me transformando, a pele de pelo ia virando armadura de aço, o tronco ia crescendo e ficando reto, uma capa vermelha saiu desta pesada couraça que crescia, retirei de um bolso no tecido meu elmo, mas antes de colocá-lo, deste capacete de metal tirei - como uma cartola - uma espada; estava pronto, pesado, mas pronto.
 De repente, uma sombra pula pelas pontes de pedra, ela pula e eu não a vejo, suo. O salto me golpeia e eu quase caio, mantenho-me em pé... Não posso me mover muito, tenho que me mover precisamente. Ele vem de novo
            Um golpe, meu elmo cai
            Outro, a capa é destruída... Porém, a minha
            Num último voo, viro a espada em um golpe horizontal, o último...
            Talvez não houve tempo, talvez seja o final
 ...Um flash do sol batendo no meu corpo que cai, eu vejo uma menina jovem, bela de olhos azuis, quase como os mares daqui de Kumasi, os de antes... Seu cabelo é ruivo, ondulado com uma grande franja, reta, mal comportada por ser diferente do resto... O barulho da pesada couraça cai no chão e lembro das danças da tribo dela, do Norte, sua pele branca dá contraste à pele de urso-texugo que eles usam... Foi numa andança que fiz para além dos Gregos-românticos... Agora que sou humano, posso sentir isto, gostava dela...
                 Mas, não era hora. O combate chamava, minha última prova neste mundo
 Levantei com um único movimento que também foi golpe dado na sombra que me atacava, ela chocou em poeira numa rocha. Vi meu amigo com duas enormes facas de obsidiana ao invés de mãos.
 -Você resistiu a isto, amigo velho... -Sorriu e abriu sua capa, moveu de novo para o mesmo lugar e, do misterioso gesto, surge um espelho grande, ao qual ele trás minha Alicia, Alicia das Brumas... Atravessa como água aquele reflexo que pra mim é muito real...
 Seu chapéu é do urso-texugo, seu cabelo escorre pela face, o sol bate em sua pele e reflete mais que no espelho... É estranho o brilho vermelho que seu pescoço tem, é feio aos meus olhos, eu não sei... Não vejo a feiura daquele ato há muito tempo, vejo seus olhos, vejo eles ficarem vermelhos... A boca roxa, como a rocha que cobre todo o lugar, seus lábios parecem que beijaram este chão...
              É lindo, realmente... É mórbido... Ele cresce, ele me fez crescer algo que experimentei poucas vezes...
 Houve um movimento dele, outro e mais um
 Meus pés armados começaram a pisar na poça de líquido vermelho pastoso
 A espada corre seca, lâmina vesga de fúria corta o ar com minha paixonite, já não há mais nada... Ela beija o solo e por tudo sujo meus pés com algo quente, vermelho como era o seu cabelo ao sol
 Meu amigo se move para trás, só há o espelho, ele começa a atravessá-lo, sinto o fogo queimar minhas mãos, meus olhos parecem que lançam raios mesmo apenas estando cheios de lágrimas; ele não irá fugir, lanço a espada, como uma bala ela parte o espelho, há poucos centímetros, o Coelho Caolho tem olhos fixos em mim, esbugalhados... Ele está preso na roxa rocha, como se eu tivesse lhe partido a fuga, como realmente o fiz. Porém, mais quero partir, a sensação de ardor se acalma no peito, me pesa as mãos, me pesa as costas – você sente como se o mundo estivesse sobre seus ombros, no entanto, o mundo inteiro não liga pra o que carrega, pra você.
 Agarro o pescoço de Meu Amigo e retiro a espada da rocha, não há mais suor, apenas uma gota corre por minha testa, uma testa humana.
                 A arma laminada parte a ponta de rocha em que ele está, corta ao meio...
                -Acabou!
               ...Em silêncio, sinto de novo o calor deste sol... A maresia faz com que a armadura se comporte de jeito estranho, parece até que enferruja mais rápido... Ela engasga... Eu engasgo... Meu joelho cai no chão, pareço com falta de ar...
 -Acabou!
 -Eu já ouvi!! –Respondo, ainda não acreditando... Começo a me levantar, estou tremendo e a espada mais ainda
 Olho para aonde está o corpo de meu amigo... A fumaça vai saindo dos poros, até que ele inteiro evapora em uma nuvem negra... A nuvem vai subindo pro céu...
 Olho pra cima, vejo meu amigo se tornar uma tempestade. Da tempestade de nuvens negras, cai a água que lava tudo, vai pouco a pouco, com suas gotas me lavando, me recuperando um pouco...
 Para trás, mais uma vez olho, mesmo com a dificuldade de uma couraça rapidamente afetada, vejo meu amigo, na forma de um Coelho Caolho, com seu tapa-olho, sentado numa pedra...
 -Então, acabou? Só isto?... –Meu sorriso irônico é falso pra o que sinto, que agora sinto...
 -Você tinha que aprender isto, sabe muito bem...
 -...... –Olhei pra a Alicia... Parecia que o engasgo voltava...
 -Escute, a morte é o fim, porém, posso trazê-la de volta, sabe muito bem disto, ainda o corpo esta fresco...
 Com pequenos saltos ele chegou perto dela, tocou no pescoço e cauterizou o ferimento... Ele me olhou depois disto e disse:
 -Seu treinamento ainda tem mais duas lições...
 -Quais? –Lhe pergunto
 -Traga a vida dela de volta, você é o mais poderoso... Ou melhor, será... Quando jogamos os dados para decidir entre nós 7, não concordei com isto, mas, agora, sei que pode...
 A água já empoçava o sangue, eu movia-me com dificuldade... Tirei a couraça, cobri seu rosto com a capa... E, por uma questão estranha, senti algo, carinho, esperança, eu era ela e sorri... Eu nunca sorrira por aquilo...
            Beijei sua testa, seu nariz e sua boca,
           Com o manto na face
           Suas funções cardíacas foram acordadas com um choque, cauterizando cada parte danificada pela falta de oxigenação, talvez apenas perdesse os movimentos de um braço, ou da fala... Tudo muito fácil... Tudo parecia tão fácil...
 -Mas, não é, não é mesmo, meu amigo?
 -Sim, não é Coelho... Tratará ela bem?
 -Claro, você não só conseguiu aprender Vingança, algumas coisas a mais como isto do Carinho e Despedida só se aprende com Paixão...
 -Despedir? –Sorri para ele... Estava pensando nisto, enquanto a chuva acabava...
 “-Pelo Desfiladeiro do Crepúsculo, quando chegar lá, haverá uma grande nave, pegue-a e puxe a alavanca de pedra única que existe no cais, será levado pro outro mundo”, falou meu amigo. Estava em frente pra estranha forma de rocha em forma de ponta que mirava para o céu, com enormes velas de metal... Entrei e fui subindo, como uma aranha até a alavanca...
                  Antes de puxar, lebrei do nome dela... Por dentro de minhas brumas ela ainda ficaria, talvez sim ou não. Fora bom ter sentido aquilo... E segui com as instruções...
                  Puxada a alavanca, tudo é luz, sigo na direção da luz de Kumasi, por uma janela lateral, sua mar me beija, com seus olhos, em seus fechar, me despeço.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Ruivas

Ruivas tem cabelo vermelho
Com sangue rubro vejo-lhe as faces
Ficando envergonhadas
Beijo-lhe os lábios
Tudo é vermelho em mundos violentos
Mas, dentro daquele motel
Vi uma esperança que não era verde
Nem azul anil
Rubro céu era aquele beijo
Que me deixo de face envergonhada
Vergonha de ter me perdido numa franja
Não mais lua prateada
Na noite rubra, nada velada
De uma ruiva em certa estrada

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Odeio você

Eu te odeio com toda força
Até que da névoa do sonho
No meio da poça, sangue e lágrimas que não meus
Rio deste triste fim, deste curso
Ao qual meu triste discurso
Tomou por rumo
Porém, de noite
Enquanto durmo, molhado na umidade
De tal relatividade
Contigo sonho
Mas, penso n'outra manhã e a tarde
Se fora sonhado
Ou realidade

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

São Paulo Abandonada parte 1 #Agentes do Caos

MUSIQUETA DA POSTAGEM

Estava em 2046, depois do nascimento de nosso senhor – o do Livro Vermelho, e não de outros pagãos por aí -, sentado na cama para dez pessoas num apartamento de meu amigo Robson Glezoé, em São Paulo, a Maior Cidade do Mundo (apesar de estar atrás daquelas pertencentes ao grupo do Dragão Asiático e das pobres Índia e África). Nunca vira tanto concreto em minha vida e, mesmo vivendo lá apenas 3 meses, nunca penso ter visto mais de uma vez uma pessoa... Vi apenas uma vez um momento de suas vidas, como desejo, do fundo de meu core [coração], ter vivido aquele momento terrível também apenas uma vez... Aquela chuva...
Era comum pra eles, mas não pra mim, habitante de uma simples metrópole de 4 milhões de habitantes, pequena, interiorana. Não. Aquilo era surreal... Foi numa das primeiras semanas de janeiro, como acontecem há mais de 100 anos aqui nas terras do Parlamento Brasileiro – incrível como ainda nada fora feito... Por isto, votarei a criação do Nosso Grande Império! Mas, isto é história para outra hora, n’outro lugar... A tal chuva, que mudou minha vida, ocorreu nesta época e eu nada sofri com ela
                                                          Fiquei seco
                                                          Embaixo de cobertas, com medo
-Acontece toda a vez mesmo! – Disse meu amigo, depois do que aconteceu...
-É, acontece... –Minha voz saía fraca, trêmula, porém, nada mais via naquela rua a não ser uma gigantesca massa de lama e barro, ao qual nada atravessava e que braços mecânicos – em uma solução temporária – encaixados nas laterais de todos os prédios iriam tirar partes da lama negra, lama que fedia, fedia cidade; cerca de quase 1 metro, ela veio escorrida dos fundos dos esgotos abertos, misturava-se com montanhas de terra postas estrategicamente próximas as gigantescas bocas de galerias, que eram fechadas ao público e que serviam para barrar a energia da água, pois este lamaçal criado era uma maneira de deixar “mais pesado” o líquido, permitindo que alguém na rua, ao menos por alguns segundos, pudesse se esconder em pequenos bueiros que a cada duzentos metros se vê pintados de vermelho e amarelo dizendo: “Perigo de Chuva! Corra aqui!”. Avisos já gastos pelo tempo, arranhados e pichados... Como tudo por aqui... Ai, ai, estas pessoas precisam é do (dum) senhor... Como a água que corria enlameada das galerias para os canais artificiais gigantescos... Sintia que precisava fazer algo, naquela época, não sabia o que...
Mas, então, numa manhã, lá perto das nove horas, me encontrava esperando no apartamento de meu amigo Glezoé, meus pais me encontrariam ali e eu iria minha terra de novo, iria parar de viver na casa de meu amigo, um pobre homem que trabalhava a noite e por isto, não poderia ser recebido pelo bolo que minha mãe trazia à ele – o bolo, no entanto, podia esperar, iria ficar na geladeira, este evento revelador, não. Ela começou, fraca, tomando cada parte da cidade, uma bela chuva...
Chúa, chúa, chúa!
Fazia ela... Era lindo ver todo o mar de prédios e concreto se encendo com aquele ar úmido e abafado, presente nos verões daqui.
                Então, ela ficava, mais forte, ela ficou mais presente nos meus ouvidos...
Chúuuuua, chúuuuua, chúuuuua!
                Foi aí, e justo aí, que vi uma coisa assustadora... Pois, perto do prédio do meu amigo, havia um matadouro; eles ficaram localizados ali, agora dentro da cidade, a fim de suprimir a demanda e contrastavam com a imagem das boates e casas para homossexuais que haviam na região, pessoas adoráveis que trabalhavam lá, também moravam aqui, no prédio... Porém, as insuportáveis também... Elas, no entanto, deveriam estar essopadas, mas sairiam é correndo, se vissem o que eu via ali
Dois gigantescos bovinos, nunca vira aquilo antes... Um negro e parecia um macho, com chifres cerrados, vomitava baba negra, enquanto fortes homens tentavam levá-lo para o outro lado da rua... Ele não conseguia, pois era gordo demais, babava e vomitava... Na frente da rua, uma vaca branca, com chifres enormes e que mugia de dor... Eu conhecia aquele mugido, morara muito tempo na fazendinha de um avô... Ela ia parindo, tentava, ao menos... Líquido meio aquoso saiam de seus fundilhos e jorrava pela rua, aquela pequena rua de sete metros era quase toda tomada por aqueles dois animais e seus tratadores, homens barbudos e rudes, não deveriam nem ter passado da Faculdade Técnica... Porém, lá estavam, brigando com seres de dois metros, mais que isto... Gordos, tanto o humanos quanto o animal... Tentavam levar para o outro lado da rua, onde um senhor chinês velho, berrava com a porta entreaberta de um refúgio...
Os animais mugiam, sofriam... O touro vomitava e babava e a vaca tremia e por vezes caiu no meio da rua...
                                                   Olhei perplexo, tinha que fazer algo
Peguei meu telefone celular e liguei sua câmera, foquei nas caras dos homens e fiquei ali, filmando eles... Enquanto açoitavam os animais, açoitavam a nossa comida. Comida esta produzida através do Ato de Necessidades nº4, que estipulou ser preciso o uso de fertilizantes alimentícios potentes para a engorda rápida dos animais para abate, de forma que eles se transformassem em montanhas gordas de pele e banha –gordura boa, que lambuzava meus dedos todo o fim de semana, ficava por dentro da carne, por dentro de nós, ao menos, quando era inculto, sem cultura entremeada.
...Então, enquanto gravava... Ouvi:
-Maldito! Está me gravando de novo?! Pensa que vai me denunciar, aí se te pego! Te mato!
Horrorizado, foquei no gordo de barba que apontava pra mim com um facão de serra, algo cortante, algo mortal... Olhei em seus olhos, ouvia a chuva, abracei o terror...
Chúuuuuuua! Chúuuuuuua! Chúuuuuuuua!
Um vazio me tomou e eu apenas podia continuar a gravação... Antes iria disponibilizá-la na Grande Rede, ou em algum site da Baixa, não sei... Polemizar e talvez aparecer em algum dos canais subterrâneos de mídia como: “O herói das vaquinhas”... Mas, não, não adiantaria... O vazio que produziu o temor de poder morrer pelas mãos daquele homem me tomou, de baixo pra cima eu suava, eu temia a serra me cortando, pois isto ocorreu com a vaca. Parindo, não havendo tempo para mais nada, o barbudo que me ameaçou cortou a barriga do ser, enquanto o outro fincava uma furadeira grossa utilizada nestes matadouros ilegais para o abate... A morte instantânea do bicho não fora seguida pela vaca, pois, de sua barriga saíram seis filhotes... Ela era modificada, um ser modificado em locais de beira de esquina e que viravam meu bife... Pensava em ser vegetariano, mas, não, ainda teria o mesmo veneno... Algo que deveria mexer com nossas mentes, nos deixar loucos, já que eu estava assim, em silêncio, sozinho e gravando aquela cena, numa megalópole.
Não havia mais tempo, ouvia-se o
Bluong, bluong, bluong...
Era a corredeira chegando, era a morte para qualquer um nas vias públicas naqueles dias... Isto porque a água corria com lama, mesmo mais lenta, derrubava o que estivesse no caminho e, justamente por estar enlameada,  sugava tudo para o seu fundo, para o fim.
O fim da gravação se deu com a ligação de meu amigo, quebrando meu estado de perplexidade, ao ver a gigantesca massa de água vermelha, correnteza que agarrou a vaca e seus “filhotes”, assim como levou o touro morto, tudo pra longe, a sujeira fora pra longe. Porém, os dois que levavam os animais, em pulo rápido com igual agilidade do chinês velho, trancaram a porta isolante – que tinha uma abertura embaixo, deixando os pés molhados – escaparam, meus inimigos, inimigos pelo acaso da megalópole.