terça-feira, 28 de maio de 2013

A Face de Marte Sou Eu

E, de repente, esteve Face à Face consigo mesmo e, 
teve medo de ter descoberto a América
Desesperado humano, Émilie estava com medo da potência que seus dedos tinham. Havia anos, desde que seu gatinho morreu por deixá-lo cair num balde que ela não sentia este poder aterrador, de ter nas Mãos como Operar o Mundo e não ser Operada por ele.
Correu para fora ainda com o cano fervilhando pelo que havia feito. Com medo, correu. Fugindo dentro daquele elevador, Dona Marquesa olhava para ela, estranhada, com a mão dentro da jaqueta verde musgo, retribuída com olhar assustado da garota, que, apenas lhe respondeu com dentes amarelos um:
-Bom dia!
E saiu, mancando, enquanto a velha ia para o lado contrário da rua, pois, já era hora da feira das frutas de quarta-feira.
A garota pegou o ônibus das sete e meia para o Terminal Leste, tentar pegar o último trem da manhã, antes disto, com o veículo vazio de fora da hora do rush e sem que o cobrador visse, desovou uma Colt Dragoon 48.
Às 10 horas, Tia Elba entrou para alimentar o gato da sobrinha e deu um berro. Em meia hora todo o prédio estava lotado de curiosos envolta do apartamento 4692. A Volante chegou com as veraneios lá por umas duas horas depois, com soldados esfomeados e grandes chapéus verticais:
-É, é isto... Uma assassina... - Disse o cara de sobretudo, Detetive Patuccio.
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Émilie pintou o cabelo, comprado pelo sacado dinheiro, já rapidamente quando desceu do trem, outro lado da cidade, umas duas horas de distância de onde estava, usou daquele pequeno banheiro, na pensão que alugara. Com mexas vermelhadas ainda alaranjadas, a guria olhava para a televisão arredondada, vendo sua foto de face antiga sendo veiculada, pôs uma pinta na cara, perto do nariz e umas sardas falsas, saiu para comprar vinte pães de mortadela para se manter.
Olhando o entorno da padaria, sentiu que todos sabiam quem era, sabiam que seus olhos de ressaca carregavam a morte, porém, ainda convenceu-se, passo após passo, palavra após palavra para pedir o pão. Para sair, andar três quadras, chegar na pensão. Olhar-se no espelho: havia mudado, havia uma arma disparado e matado aquilo... Sim, aquilo... E seus olhos negros de borrados, olharam pela última vez uma lágrima de culpa, uma única e cristalina lágrima:
-Eu, - disse - Émilie Dimme Souza, matei o Demônio Pazu, com um tiro em seu peito.
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-ENTREGUE-SE ÉMILIE! ENTREGUE-SE! ESTÁ CERCADA!! - Falava no megafone o Detetive Patuccio. No quarto, a guria olhava por uma fresta da janela, todo o resto estava fechado, inclusive uma cômoda estava na porta.
-SE VOCÊ NÃO SE ENTREGAR, ENTRAREMOS AÍ! O CHOQUE SÓ PRECISA DE UMA ORDEM MINHA!! - Gritou de novo o Detetive.
-Então, é isto, esta acabando a minha história... - Olhou-se para o espelho e não aparecia o seu reflexo, efeito de ter matado o seu demônio de dentro, Pazu...
O choque começou a subir as escadas e a mulher que estava ali com Émilie, a dona da pensão e seu marido, amarrados como reféns, temiam morrer, apesar de que a garota ruiva de pinta nada com eles iria fazer. Olhou uma última vez para o sol, enquanto o barulho ficava mais intenso:
-Será... Será que os Filósofos estavam errados? Haverá um céu lá fora, depois de nossos círculos atmosféricos e ventos jet-spring?
Os sons da porta sendo forçada, logo, ela estaria com um tiro na cabeça, como era praxe:
-Enfrentei uma vez o demônio que existia em mim, quando o olhei Face à Face, apenas vi... 
Ela descobriu, então, algo dentro dela, uma força que não sabia que tinha, olhou-se no espelho e, espantada, viu que tinha novamente reflexo, o que significava que... Ele, ele estava vivo!
...
Os soldados do Choque entraram e atiraram em sua cabeça e...
Espere... ESPERE!
Émilie tirou de seu casaco a Colt Dragoon 48 que pensei que ela tinha jogado fora, há tempos: acertou cada um dos seis soldados nas pernas ou braços, entrou no banheiro: no armarinho, mais balas: acertou mais soldados...
Desceu as escadas, acertando-lhes tiros, quebrou um pau da escada em que estava e por lá desceu:
Deu com um tiro no ombro de um soldado treinado do choque e dele pegou sua metralhadora, colocando-a na barriga, apenas tiros de advertência.
Quando das escadas terminou de chegar, à porta da rua estava em sua cara, os pedestres corriam, a "Maníaca que matou seus Demônios de Dentro", diziam.
-Eu... - Olhou a guria - Eu chamo pelo meu maior rival! Pazu, te mostra!!!
...
Eu, então, me revelei, das costas de Patuccio, que para mim era menos que uma marionete, confesso, um robô que comprei e montei num fim de semana. Minhas asas marrons e minhas mãos estavam frias... Em duzentos anos, ninguém havia me visto antes...
Com um movimento de mão, usei do Temor para paralisar cem metros de todos que estavam ali, paralisados, apenas veriam aquela criatura corajosa. Pus meu chapéu e arrumei o meu colete, dele tirando uma paia de cigarro:
-Sabe, menina... Deveria ter deixado que eu te violentasse... Se teu sangue eu tivesse tirado, teria deixado você em paz, esmigalhada e em mil pedaços...
-Pazu... Você é um asqueroso ser... Fugi de você por anos, até que cresceu no meio dos meus peitos, brotou como uma rosa que não saia... Saiu como o temor que sempre tive...
-Vocês terráqueos são muito desobedientes, muito estúpidos... Você sabe, garota, se morrer em um duelo comigo, perderá a capacidade de ser revivida, mesmo em um robô com coração de dínamo...
-E se você morrer, Pazu, o Marciano, o que acontecerá?
-Então, você terá matado um Capitão-Mor de Marte na Terra, nunca terá paz, verme! Nunca!
-Desde 38, como aprendi na Escola para Escravos, vocês atormentam-nos... O que acha de morrer?
-Não pode matar, garota, não pode matar aquilo que vive dentro de você... Eu sou...
Émilie olhou para Pazu, viu que ele se distraiu e estava longe de sua Pistola de Gravidade Alternada, que no colete estava presa, ela, com a arma na mão:
PÁ!
o tiro no peito da criatura, mortal, fez com que ele gritasse e levasse a mão para a pistola:
PÁ!
mais um tiro, agora na barriga, ajoelhou o bicho
-Ainda que uma pessoa olhe para dentro de si mesma, nunca lhe faltará força nem medo...
e a cabeça dele explodiu.
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Em 1938, quando Welles avisou que havia algo errado e foi encontrado morto, no teto de seu hotel, dois dias depois, foi chamado de louco. Em 45, provou-se que os discos e tentáculos estavam aí, escondidos, sobre nossos podiam explodir cidades inteiras... Nossos carros cauda de peixe e em formatos de foguetes e os potentes V2 não foram capazes de destruir aquilo que veio e nos dominou, no Governo Mundial...
Entretanto, uma pequenina moça, com uma Colt Dragoon 48 começou uma nova batalha, agora, entre homens e os Outros, que no fim das contas, eram eles mesmos, dentro dos corações, alimentando-se das emoções e vivendo desde nossos fetos, em nossas mentes se escondiam estes marcianos com nomes demoníacos...
E, as vezes, entre eles e nós mesmos, há única barreira e também fortaleza de ataque, era se aguentar olhar a si mesmo no espelho.




domingo, 26 de maio de 2013

Sircadianos e o Seu Tempo


Em um pequenino planeta, que nem era tão pequenino assim, mas, comparado com o Pensamento Nyxk, o era, era habitado por um povo curioso, um povo antigo, aos quais os Serafins possuíam imenso respeito. Os Sircadianos tinham apenas um metro à um e meio de tamnho, parecendo felídeos, com uma pele pontuda azul. Disseram uma vez: - Fomos assim desde que vencemos a guerra contra os Balizarogs, que eram vermelhos e tinham escamas no lugar de pele-pelos...
Tinham um governo estranho, mas, muito semelhante ao pensamento Nyxk, porém, não podiam chamar aquilo de governo, nem com a ideia mais anarquista possível, havia um sentido individual pleno: - Olha, lembro-me que, quando eu era Outra Coisa, houve um Maestro [chamavam assim os seus antigos líderes, um misto de general com poderes de promotor e advogado, além de um nível de instrução alto], o Lorenjo, ele tinha dois metros e era diferente de nós, pois, era modificado, ele venceu a Última Guerra, vencendo o Dólmen dos Balizarogs e fundando o Novo Mundo, através de descobertas dele(s)...

Descobrimos depois que, na verdade, este Lorenjo era um líder mais antigo, que não viveu até a grande mudança dos Sircadianos, sendo mais uma Escola de Filosofia e Ciência do que qualquer coisa. Quanto aos mutantes, ao que parece, esta mutação desapareceu há muito tempo atrás, porém, nós, os Serafins, não podíamos medir quanto, nem quando, apenas, que ocorreu isto. Hora, mas, por que isto? Bem, pelo fato de que os Sircadianos a noção de tempo é completamente imbecil, sem sentido algum. Eles são completamente imortais.

Desde o tempo do que eles chamam de Grande Mudança, a maioria do povo daquela época passou por um tratamento em Reatores Bioatômicos que, alterando ligações específicas, causaram nos indivíduos a capacidade de Respirar como plantas, ou seja, via radiação. Só que a sua massa não se alterava, sendo liberada através uma energia – descobrimos que era simples Raio X – que, com isto, gerava uma troca ecológica com certas plantas vermelhas, os Zarogs. Talvez estas plantas tivessem algo haver com o povo com quem eles lutaram, mas, como saber? Além de imortais, eram invulneráveis com resistência Núcleos de Sol ou talvez Supernovas, além de regeneração, entretanto, eram inférteis. Bem, e com isto, o problema quanto a “História Sircadiana” é o de que para eles, imortais, não haveria como descobrir nada sobre eles mesmos, seu conceito de tempo – biológico e histórico – desapareceu completamente, só sobrando alguns processos curiosos: a cada milhar de anos ou quando saiam da órbita de seu sol amarelo avermelhado, possivelmente, mas, não é um padrão, os Sircadianos ficavam com uma espécie de resfriado, que era tratado com eles vivendo dentro dos cascos dos Zarogs por algum tempo, quanto? Não importava, para eles, não.

Afim de resolver isto, estudos secretos dos resíduos arqueológicos foram feitos, porém, nada encontrado, pensamos que eles foram, ou limpados, ou apagados pelo tempo, o que nos dariam alguns milhares de anos. Isto já era bom, porém, ainda havia muitos segredos sobre as vivências deles, já que, ao que parece, os Sircadianos haviam realizados viagens entre seu quase intrasponível Cinturão de Asteróides – que os manteram livres de invasões alienígenas as quais não pudessem combater -, porém, que poucos haviam feito por muito tempo... Mesmo eles não morrendo fora de seu sol, os efeitos do resfriado eram muito forte e incômodos... Veja só, algo incomoda os imortais!

Logo, resolvemos negociar, já que este povo permanecia em segredo total o seu passado, só que eles tinham um gosto enorme pela pesquisa. Sabiam de vários povos da Galáxia Azul-Verde e tinham muito saber para transmitir. Além disto, não ofereceram qualquer resistência quando foram abordados por nossas naves, ficando sempre gentis, só não gostando que tocássemos nos assuntos de sua própria história, que, no fim das contas, era sua própria memória.

Propomos que eles viessem até o Centro do Pensamento Nyxk, o Sistema Original, e visitassem o nosso Arquivo Pessoal de Conquistas. Aceitou-se que um deles fosse, Apiso, um ser Sircadiano de olhos verdes-roxos.

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Estranhos, sim, estranhos estes Nyxk, porém, há muito não sentia algo como eles... Há muito, bem, não sei... Quando passei pela Grande Mudança, talvez. Emoção, quando caia ou voava, talvez. Porém, não fui em lugar algum fora dos Asteróides, não interressa.

Não entedem os Nyxk, que quando são viajantes e guerreiros usam armaduras de robôs micros chamados, no conjunto, de Serafins, como eu falo, como nós falamos. É difícil se expressar com quem ainda tempo a Passagem das Coisas como um tipo de... De... Relógio! Isto, Relógio!

- Medidas das coisas, dos ondes, eu compreendo, sei que estou indo para o Centro de um Mundo Impressionante, compreendo o evento, sei de sua importância em minha memória, só que não me interessa quando acontecem as coisas, é irrelevante a Sequência. – Disse explicando para Aluviel, o Oficial que havia nos recebido em sua nave.

Conversamos por vários momentos, vários assuntos. Chegando á cores estranhas, vi o Cinturão de Asteróides e a Gigantesca Nuvem de Caizon, e senti o calor de várias estrelas. Estranho, quando vi o Sistema Original, senti uma certa solinidade nos meus enormes hospedeiros – eu tinha um terço de seu tamanho. Chegamos num enorme pleneta rosado, parecendo gasoso, fui avisado por Aluviel:

-Daqui eu não passo, não teria como...

-Por quê? – Perguntei.

-Minha mente é muito frágil para o que esta ali...

-O que é “Ali”?

-Rudedeon-3, um planeta inóspito construído por nós... É um Planeta Arquivo.

Me senti impresionado, logo, sendo teletransportado por um raio para uma base no planeta. Fiquei num tubo de metal, fiquei até ser resgatado por um enorme ser, talvez a criatura mais elegante que vi: -Olá, meu nome é Zapriomo, sou o Guarda de Rudedeon-3, o Planeta Arquivo de Conquistas de Nyxk

Era enorme, maior que Aluviel, porém, mais estranho, tinha uma pescoceira prateada com uma cápsula envidrada como um tipo de escafandro. Logo, percebi que havia algo estranho, o planeta era pesado, denso, parecia que minha cabeça ia explodir, mesmo tendo tomado minhas aspirinas mais fortes e mantendo minha meditação em dia. Perguntei ao Guarda o por quê daquilo, disse ele:

-Aqui, existe uma gigantesca atmosfera de gases, entretanto, não é só isto de pressão que ela faz... – Apertou um botão no braço

Os brilhos apareciam e várias coisas jorravam pelo ar. Então, assisti espantado, sentando-me em uma pedra de rocha metálica toda uma história incrível: várias lutas e batalhas no tempo do Primeiro Imperador, as conquistas do Segundo, o reino do Terceiro e a fundação do Pensamento Nyxk pelo Quarto. Sabendo do que se tratava tudo aquilo, disse para Zapriomo:

- Não me surpreende este uso, é Tecnologia Gasosa dos Rudedeons, como vocês chamam a raça com chifres, pele cascuda olhos vermelhos [parecidos com rinocerontes]. Mas, não sei o que esta fumaça toda por de me trazer...

Por um desafio como este, Zapriomo me mostrou várias coquistas e povos, indo até os confins da Galáxia Azul-Verde, chegando até as Batalhas nas Nuvens Termas, o quando os Nyxk enfrentam os poderosos Unterons-Aly, um povo de energia

-Ok, me surpreende o fato de não pensarem que conhecemos os Unterons, eles já foram chamados de deuses em muitos mundo, com seus corpos de energia e células dispersoras, repulsoras, com dimensões de micrôns até planetas... Sabemos de várias coisas deles, inclusive, sua origem, ignóbil...

-Então, sabem como destruí-los?

-Não, não como vocês... É incrível, mas, acabo de acessar como vocês venceram Anter, o Amarelo, que pesava cinco septilhões, vocês superaram qualquer coisa que vi... Descobriram até como Viajar no Tempo, mas, também o infudamento disto e o Sentido da Realidade... Estranho, não vivem para sempre...

-Você viveria, se pudesse?

-Isto não faz sentido para mim...

-Mas, você usou “para sempre”, então, você sabe que existe o “por um momento” também?

-Sei disto pois vivi mais do que tudo...

-Sabe, tenho 60 mil anos [anos terrestres]... Pela Regra de Mudança dos Sóis

-... – Um silêncio se instalou sobre mim, Apimo. Não era possível, não?

-Diga, diga logo o que quero, o que é o Tempo para vocês? Como tudo aconteceu?

-Você é impaciente para alguém tão antigo...

-Sabe que posso cortá-lo em pedaços, não? Entretanto, você não morreria, o que não teria sentido

- Vi que não corria perigo quando entrei na nave que me trouxe aqui, também vi a sua espada, suas inscrições em marfim, são da Cultura que vocês... Deixe-me ver, - acessei as informações da nuvem, que já tinha aprendido como funcionara com o próprio criador da tecnologia – do Povo Kiduuou, possuidores de armas bélicas numa Guerra Fria, desenvolveram uma cultura da luta por espadas, os melhores espadachins... Hm.. Interessante...

Neste momento, minha sensação de potência foi perdida quando, voltando-me para Zapriomo, vi ele com um olhar fixo que saia de sua face pálida, sorriu e percebi ter caído em um truque tão velho quanto meu povo. Fui atingido por um cordão de gás que, como supus, era um tipo de tecnologia desenvolvida pelos próprios Nyxk, fundindo com os Rudedeon, era incrível... Realmente, senti que toda as barreiras da minha sólida sanidade se perderam, logo, o escuro véu do meu passado chegou às minhas têmporas, sim, eu voltei a ter passado.

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Era cerca de sessenta mil anos atrás, talvez. Contamos o ciclo de vezes que fui para curar meu resfriado com uma cálculo complicado com nossos sol e lua. Todo o calendário fora abolido pelo Ato de Lorenjo nº 4: A Queda do Tempo dos Vivos.

Estava malhando para manter-me em forma, pois a Guerra com os Balizarogs era muito dura: eles eram milhões, bilhões, nós, alguns milhares. Haviam vencido com sua biogenética militar todos os nossos soldados, nós brigávamos em trinceiras encarniçadas, apenas Amulene era segura, uma cidade forte de quatro cantos, simétricos, fundados pelo meu pai, há cem anos do que nasci.

Lorenjo era o último dos grandes que militavam por nós no Tribunal Mundial, que agora discutia se era legal ou não nos matar a todos, e, com a Tecnologia dos Balizarogs, não havia como não fazê-lo: eles eram seres-árvore, com seis braços, tinham inteligência superior e nos dominaram por completo. Nós, o pior de tudo, havíamos criado eles como algumas experiências, criaturas simples que evoluíram enquanto buscávamos a imortalidade... Em trezentos ciclos, venceram tudo o que tinhámos e nós, antes dominadores de oito planetas, passamos a ser apenas meros seres frágeis, com nossos corpos cheios de pêlos e luvas de raios...

Entretanto, algo mudou, e me lembro do dia porque foi o mais importante da nossa História: Lorenjo descobriu como alterar-nos, um dos seus subordinados, um que ainda não estava envolvido na guerra, ele descobriu como... Através de algo que era para apenas ser um tipo de ressonância celular da mais avançada já feita, acabou por se mostrar um alterador específico, que, por uma sequência de tentativa e erro descoberta pelo próprio Lorenjo, mudava um certo gene que apenas nós, os Sircadianos originais, tínhamos... Ele causava uma reação em cadeia de um tipo de câncer funcional, que, combinado com certas enzimas, nos tornava Imortais... Sim, IMORTAIS!

Então, nós, em centenas, lutávamos por dias e noites, não parávamos, nem bebíamos, não respirávamos as vezes no campo de batalha: adentrávamos na frente das balas de goma-ácida dos Balizarogs, de seus socos que nos arremessavam longe, e, revidávamos, com choques em seus olhos – única parte vulnerável – ou os derrotando por cansaço, o que para nós era fácil. Em três meses de nossa investida, acabou a Guerra, em um ano do nosso planeta, capturamos todas as cidades deles, em cinco, já não tinham nenhuma arma possível de nos ferrir, pois, destruímos tudo, matando todos os governantes deles.

Lorenjo, eufórico, foi elevado para o título de Maestro da Harmonia de Sircadia. Enviamos nossas missões aos outros planetas, convidando aos que quisessem de nossa raça para que ficassem conosco, como líderes de um futuro universo Sircadiano... Eu, já como um Maior do Noroeste, dominava mais de duzentas cidades com minha mulher, Alima e meu fílho, Joimo, éramos felizes...

Só que, o Projeto se mostrou estranho... Em alguns anos, vimos que meu filho não mudava de forma, assim como eu e Alima não podíamos ter filhos... Logo, foi mostrado que éramos além de inférteis, com um processo no momento inrevessível de nossa forma. Lorenjo, que havia mandado vários de nós pelos nossos oito planetas, duramente conquistados, pois existia o Corredor de Pedras Mortais, asteróides que impossibilitavam nosso trânsito sem muita manobra, começou a apresentar-se estranho em nossos Congressos... Um dia, quando o único representante dos Balizarogs não veio para a reunião, o Maestro Negro disse:

-Vocês, irmão imortais, sabem o que há nas ruas? Percebem o que vem acontecendo com nossos camaradas Balizarogs? Vêem que as ruas e campos de lírios-morangos ficaram vazios? – Fazia muito tempo que ninguém lembrava do nome deles... Eu não me lembrava – Pois, então... Descobri que eles são afetados por algo que nós produzimos, uma radiação que emitimos de nossos corpos acaba por adoecê-los, estranhamente, isto não existe nas plantas Zarogs, d’onde eles foram desenvolvidos com nossos genes... Não acredito que haja nada mais estranho para nossa imortalidade que isto... Os Balizarogs, eles estão... Morrendo... Por algo que parece um resfriado, mas, que logo, destrói a todos...

O vírus, surgido dentro do processo de imortalização, era resultado de nós mesmos que, sendo portadores dele, acabamos por tornar o mesmo imortal, quando em nossos corpos... Ele não nos matava, porém, era aniquilador de quase toda a cultura viva em nosso planeta, menos dos Zarogs. Mas, surpreendentemente, Lorenjo disse:

-Eu, entretanto, com meus pesquisadores, descobri como reverter o processo... Só que é um processo individual, arriscado, mas, que é possível...

Então, pedi a palavra e perguntei o que todos queriam saber:

-Mas, isto nos tornaria mortais?

-... – Lorenjo relutou e disse, finalmente – Como éramos antes, pertencentes a este mundo!

-... Não... Pertencentes... A Outro Mundo. – O respondi.

Lorenjo fundou, depois de alguns meses de sua mortalização, o movimento: Vida Finita. Contrários a ele, nós, os Permanentes, ficamos como estávamos. Sequestros de ambos os lados resultariam até a uma Guerra Civil, porém, Lorenjo, prevendo isto, tentou de toda a forma deter as hostilidades...

Meu filho escolheu o Lado de Lorenjo, afinal, ele tinha forma de criança... Só que a mortalização era permanente, segredo de seu criador até o fim da vida, não pôde voltar. Com ele, foi minha mulher, que seguiu o rumo do meu filho e de sua companheira, uma Balizarog.

No fim das contas, bem, no fim das contas... Apenas alguns milhares sobraram.

Só que os milhares que sobraram já foram suficientes para que, em cerca de uns cem anos mais, os Balizarogs fossem exterminados.

Quando os Viajantes voltaram, tentamos ir para outros planetas, mas, a situação era semelhante, só que, em muitos deles, a quantidade de Sircadianos era tão ínfima, que acabavam por voltar com aqueles que viajavam: eram os únicos restantes. Só que em um dos planetas, uma cura foi encontrada para o vírus... Através de mudanças moleculares... Era tarde, entretanto, apenas algumas centenas sobraram dos Balizarogs e vimos suas últimas centenas morrerem...

Foi por esta época que uma dor de cabeça nos incutiu, entrou em nós e ficou sempre martelando, de tempos em tempos... Era intensa e nos dava a sensação de sermos tragados por denso mar negro de tudo o que existe e vimos... O que era muito...

Então, desde então, criamos algo, criamos algumas coisas... Como entrar numa planta alucinógena ou que Lorenjo, que estava certo, acabou por desenvolver várias coisas... Era um herói... Era... Foi, Será, tudo abolido, nós redimimos tudo para o Sempre, nossas eras tornaram-se... Tornaram-se no infinito momento do É, o Presente.

...

Desde então, Zapriomo e Rudedeon-3, é assim.

Então, vi o Nyxk olhar-me, com face piedosa, ou nojenta, não sei... Disse:

-Por isto, Apiso, por isto morremos.

-O que haverá agora?

O Nyxk, com compaixão, talvez, apagou com um movimento de mãos das nuvens de Rudedeon-3 as minhas memórias, disse, porém: - Um dia morrerei, e, quando isto ocorrer, você viverá para ver a queda da sua memória e vocês enfrentaram talvez uma das poucas imortalidades que existem... O Contar sobre o Outro...

-E... Bem, até lá...?

-Enviei o ocorrido para Sircadia, eles saberão de tudo, talvez, você deva viajar... Afinal, um dia o Universo acabará, talvez...

-E talvez... Talvez a Dor de Cabeça pare...

-Sim, talvez a Dor de Cabeça pare, mas, ainda será por apenas um momento, pois, ela ainda estará lá como estas suas memórias... Apenas envoltas numa névoa, e com apenas isto, névoa e nada mais.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

O Guerreiro de Deus

Caliburo era um homem de grosso modos, bebia seu refrigerante de Cola como um porco, sem passar o braço na boca depois de cada gole. Tinha também um modo muito estranho de andar: não usava motos-voadoras, os flyers, preferia cavalóides ou cães gigantes – quando estes assim queriam.

Andavam todos para fazerem suas rezas numa quente tarde de Primavera, quando, de súbito, houve um ataque. Bombas foram jogadas por toda a Vila de Nova Iorque naquele dia, os Arcanjos dirigiam seus discos e jogavam sua morte por toda aquela enorme favela em que tinha se tornado a cidade. Caliburo se escondeu em uma antiga construção, milenar, uma Estátua Gigante de uma moça, esverdeada, sem braço, ficava numa velha ilha.

O homem era enorme, 1,74m, e usava casaco de couro com pelúcias no pescoço, estava armado apenas com sua espada, quando, por sorte, viu um dos arcanjos descer da sua nave, foi mijar ácido num canto. Aproveitando-se disto, ele esmagou a cabeça do Arcanjo com uma pedra e, tomando a direção Telepática da nave, começou a ir pra cima da meia dúzia que atacava a cidade: como não estavam esperando, foram atingidos pelos canhões de balas-magnéticas e mortos quase todos, apenas um fugiu para o mais longe que pode, atravessando o Lago Salgado do Atlântico.

Pela primeira vez, em dois mil e cem anos, um humano venceu um Arcanjo, e, com isto, atingiu um membro do Exército de Deus, com êxito e não derrota. Ninguém na cidade soube como responder a ele, apenas, abraçaram-lo e levantaram-lo numa cadeira, diziam: o Guerreiro está vivo!! Viva a Humanidade,viva Bertrando!

A notícia se espalhou por todas as Tribos, que naquele tempo eram apenas 72, até chegar em Palenque, aonde Bertrando, um Ministro da Causa Humana, ouviu com atenção e disse ao seu agente Monerana: - Temos de buscar ele! Antes que Aquele o pegue!

Do mesmo modo, o disco chegou logo em Quinxasa o Arcanjo que fora atacado, ele disse: - Quero falar com aquilo que tudo sabe! –. Foi levado para o centro de um enorme zigurate de mármore, até AO, que sentado em sua mesa e portando uma grande Coroa Dourada Psônica, soube do que aconteceu e refletiu, acariciando sua longa barba loira.

-Então, alguém consegui... Este povo, não sei o que o Gerador viu neles!

Pegou um pouco de barro e moldou algo, dentro de ternos de latex, assoprando neles, abriram os olhos dois agentes, aos quais AO deu duas pastas e enviou-os para Nova Iorque, com um Disco Voador para dois.

Bateu-se na porta-janela de Caliburo, Toc Toc Toc

Monerana, com seu longo bigode sobre a boca, começou a conversar antes do homem responder-lhe, disse já que ele era um Herói pela causa Humana, desde vinte séculos atrás, quando Deus desceu na Velha Terra e levou-os para o lado do Planeta Vermelho, nunca um guerreiro teria tido tanto êxito e dado tanta esperança aos...

Então, viu Monerana os dois Agentes sentados em tapetes, Uz disse um se chamar e outro, Iz,apertaram-se as mãos no braço do outro, como era costume o cumprimento da época. O bigodudo olhou bem para Caliburo, até ver suas respostas, pois ele era empático e via as emoções. Fez um aceno com o chapéu e saiu, enquanto o homem de faces duras fechava a porta, em silêncio.

Passaram-se algumas semanas e Caliburo agora era chamado “Guerreiro de Deus” em cartazes, tido como “Salvador da Verdadeira Boa Causa”, ele era dito nos desenhos em estilo construtivista russo ou cubista (antigas escolas de pinturas de paredes da época da Velha Terra). Participava de Marchas pela Salvação dos patidários de AO; com Caliburo, formou-se a Guarda dos Homens, que marchou por entre as ruínas da cidade-floresta de Palenque, prendendo Bertrando e deixando apodrecer em um zigurate.

Caliburo se tornou o mais famosos marketing daqueles anos, porém, Monerana, fugido de Palenque antes da invasão, foi aparecer nas montanhas de Quinxasa, liderando um grupo de rebeldes contra-o-sagrado, liderando cães gigantes e papagaios-rapina. Caliburo, com os Agentes Uz e Iz e um regimento invadiu as florestas temperadas da região, portando as pistolas de balas-magnéticas, quando, de súbito, o próprio bigodudo Monera, já mais velho, chegou com um grupo de rebeldes: tiroteio intenso!

Novamente, o Guerreiro de Deus escondeu-se, mandendo-se dentro de um barraco, viu um dos Agentes, Uz, cair sendo estraçalhado por um pastor belga negro.

-Socorro! – Abriu a porta Iz, já falando com Caliburo – Estes malditos pareciam que sabiam aonde estávamos e...

Saiu da porta do quarto ninguém menos que Monerana, quando avistado por Iz, este tentou reagir sacando sua pistola. Apenas um tiro foi disparado, o agente de barro caiu morto, desfigurando-se.

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-Então, como aquilo aconteceu? Em Mil Anos não havia uma tentativa tão grave de invasão! As Montanhas de Restos de Quinxasa sempre foram redutos de paz para nossos filhos da Causa!

-Sim, foram, meu Senhor! – Respondeu com fervor Caliburo para AO, olhando entre os vidros do zigurate, admirando a atmosfera vermelha do mundo.

Em sua mesa, o ser de longos cabelos e barba olhou com ferocidade de seus olhos azuis em um mapa projetado em 3d sobre a mesa:

-Agora, a fúria divina caíra sobre todo aquele que viveu e apoiou isto, agora, eu farei como fiz há muito tempo, aniquilando estas bestiais criaturas vindas dos macacos... Criaturas como você, meu belo Guerreiro, só que estúpidas por não aceitarem a mim!

O Guerreiro olhava os diversos templos que haviam na cidade que, através das orações e preces ao nada, davam força aquele que se dizia tudo, Alfa e Ômega.

-Quão hipócrita é haver Deus e quão relutante é o Homem, que olhando para o precipício, não pôde pular?

-Conheço esta citação... Da Velha Terra... ... – Respondeu AO, fazendo longa pausa.

-Desconfiou de algo tão simples?

-Não, não supus uma estratégia tão infantil, como uma criança, assim são todos vocês, humanos!

-As vezes, a simplicidade é a maior demonstração da verdadeira divindade, que existe entre nossas cabeças...

Ouviram-se tiros de armas psônicas naquele dia, assim como balas-magnéticas, tudo acabou quando houve um choque forte de duas massas na Praça da Liberdade, em frente ao zigurate. Quando os Arcanjos arrombaram a porta, fechada para uma reunião importante, já as janelas estavam quebradas e a sala vazia.

Dois corpos foram encontrados lá embaixo, com a face atônita de todos.

Assim ficaram, sem palavras, pois havia descoberto algo: Deus estava morto, e agora era de verdade.


sábado, 11 de maio de 2013

Os Donos do Mundo

Cerska acordou, cuspiu na pia o resto de rum que havia em seus dentes, olhou para o espelho e se viu pela última vez.
Saindo para encontrar sua mulher que já estava a tomar café, Ana Palatina, o jovem professor de História do Século XX se viu acuado por uma histérica moça. Ela correu para fora do apartamento na Nova São Paulo, enquanto o rapaz corria atrás dela, mais assustado que ela...
Começaram a gritar para ele e tentaram acertar-lhe um tiro, vindo do senhor de roupão, Edgar Bergman, que sempre lhe foi carinhoso para dar-lhe um pouco de açúcar em barra nos dias frios. Cerska não entendia e corria para embaixo das escadas do prédio, escondido, como pequeninos flocos de cinzas caindo do céu que era limpado pelas Garbages-Aéreas.
Viu ele então um guri e ele ficou em silêncio, olhando-o... Cerska que era muito bom com crianças, pois era professor de uma Universidade, perguntou ao garoto de uns 9 anos: O que comigo há?
 -Oi, senhor Crocodilo! - Apenas disse o guri
 Neste momento, a Tropa das Empresas IMEM de Segurança Pública chegou com seus rifles e tanques de contenção, com seus passos, sufocavam o som da respiração ofegante de Cerska que temia tudo agora, temia pelo que vinha, a Força da Mão Visível.
 Então, o pequenino, iluminado pelo som de um dos rifles, disse:
 -O moço está ali...
 Uma mão pegou o garoto, outra luz mirou nos olhos de Cerska que, assustado, correu para o meio do pátio do condomínio. Os ouvidos da criança foram tampados e ela foi virada para trás, abraçada por um dos uniformizados.
 Dois tiros foram ouvidos.

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Saoirse estava tomando um pequeno copo de cola-quente quando ouviu algo lá fora... Saiu, com estranhesa... Estava acostumada a coisas estranhas, desde que viera para a metrópole Campos Gerais, nunca vira cidade tão fria e tão quente antes... Lembrava pouco de sua terra, mais seu pai, senhor Takeda Soren era um refugiado e ela, uma filha de um... Aprendeu a usar uma velha 45 do pai, mas, ainda temia o que os sons da noite podiam trazer...
Em 78, foram os mesmos sons que levaram a migração Coreo-Japonesa, as mesmas sirenas, as mesmas coisas que tocam quando estamos com medo, coisas que os Filósofos Sentimentalistas chamam de "coração", um conceito a muito extinto. Principalmente no de Saoirse...
Olhava com olhos de cabelos escorridos e loiros quando, de súbito, no bangalô de seu pai, na casa típica japonesa, surgiu um enorme Panda, gritando e urrando!
A garota Saoirse caiu, correu, ficou numa distância: tirou de sua cinta a velha arma do pai, ficando em posição, atirou na cabeça do Panda. Estranho, ele ficara apenas olhando para ela, quando, de súbito, antes da bala, disse:
-Filha...
As lágrimas da menina rolaram pelo seu rosto e... E... Não havia mais nada a não ser... Um vulto interno de si...
Então, as asas de corvo negro da tristeza saíram de seu dorso, cobrindo aquele coração triste.

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Felipo Fiódor caminhava entre os mármores da Enorme Casa, sede dos poderes em Brasília. Seus passos eram tortos, estranhos para todos, ele continua a ir e nunca parava, até chegar em uma enorme sacada, aonde uma câmera voadora, gravava tudo, inclusive os homens de ternos com cintos coloridos embaixo dele, que estava vestido com um colã e máscara verdes e capa amarela:
-Pequeninos, estamos aqui para dizer o que há de mais novo... - Disse ele, enquanto era enquadrado como em estilo americano - Há no mundo um caos que não existe precedentes! Nunca antes na história da Humanidade os seres normais enfrentaram maus tão caducantes e monstruosos... Os 4 Cavaleiros chegaram para nós desde os anos 50 e, agora, nós caminhamos entre os destroços de nossos compatriotas deste Contrato Social e Natural com a Terra e Homens que foi quebrado. Porém, é chegada a hora das trombetas retumbarem o nosso hino, um hino sobre todos os outros! Fico feliz por vocês, Ministros do Brasil terem sido os primeiros a verem isto, nesta nação que há muito pouco chegou aonde chegou!
Gratos a todos, nós, os Donos-Naturais, sobre a figura de mim, Felipo Fiódor da Silva, o Arauto da Causa, aceitamos de ótimo grado o Governo desta Nação!
O homem de roupas verdes, então, retirou aquilo que revelaria seu rosto, de um gigantesco lobo-guará:
Gritou: - PELA CAUSA DOS DONOS-NATURAIS DESTE PLANETA!

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Na Escola de Reformatação, a Saoirse olhava com olhos quase puxados e seus cabelos escorridos e nórdica face pela janela, havia uma cerejeira lá, como havia naquela ilha que não mais está habitável. Lembrou de seu pai, e o vazio tomou conta de si.
Logo, entrou pela porta o novo professor:
Ele escreveu seu nome no quadro e começou a falar, animado, pediu para que todos colocassem seus cartões para registrar sua chamada. Começou a dar sua aula sobre a Segunda Guerra, e suas implicações para o Século XX, história antiga.
A jovem olhou com ternura para aquela figura, magra, pálida e de olhos claros que, animadamente, tentava conquistar aqueles jovens que - alguns deles, como Saoirse - nunca veriam mais a luz de qualquer sol ou lâmpada noturna.
Passaram-se alguns meses até que, ele viu a jovem trocando de roupa, sem querer, num banheiro unissex, desculpou-se e entrou em outro box, porém, antes de sair, ouviu: - Podia ter ficado...
Passaram-se alguns dias mais, o professor de história do século XX viu ela se trocar mais uma vez, para ele, pela fechadura.
Algumas horas depois, beijaram-se pela primeira vez.
Alguns minutos depois dela sair do apartamento do professor, ainda ruborizada pelo acontecera naquela "Saída de Condicional Acompanhada", senhor Edgar, vizinho do professor, cumprimentou os dois, sabendo das coisas que o coração traz... Ele mesmo, há muito tempo, soube disto uma vez, quando ainda este conceito tinha alguma lógica na Raça Humana.
Então, Ana voltou para casa e viu eles, juntos, entrando no carro enquanto quase chovia... Choveu e molhou tudo.
De noite, quando voltou, o professor foi perguntando como havia sido, respondeu a sua mulher:
-Bem, Palatina, foi tudo bem... - e ele voltou a fritar omelete
Logo, tocou o celular-de-mão e Ana chamou a atenção do professor Cerska:
-Aqui, - respondeu - ah, olá pai! Como vai?
-Tudo bem, tudo bem Cerska, e você?
-... Bem, ao que parece...
-Não está sentindo nada, filho?
-Não, nada pai, porque? Alguma gripe nova que vocês descobriram aí no Observatório?
-Não, não filho... hahhaah... Bem, vou desligando, era só isto... Ah, a Ana está bem?
-Está, pai, está... Enfim, até, pai, bom trabalho aí!
-Falou, meu filho!
Desligando o telefone, disse Ana, que via a notebook:
-Seu Felipo, sempre ligando para ver se o filho único tá bem... O que ele queria?
-Nada, apenas ver se eu estava bem... Apenas isto, Ana...
-E está, sr. Cerska Fiódor?
-Estou, Ana, estou.


Último Suspeito se Foi

Uma pequena chama que contava no meu último
Suspeito, um único foco de fogo naquele isqueiro
Cinzento céu e brilhante metal, apenas havia aqui
No último suspiro dele

Quase ferro cai no meu pé agora
A Bala queimou o último suspeito
Que dizia: eu te amo
Apenas pelo foco de luz do isqueiro
Do último cigarro dum último cigarra que canta meu peito
Então, dado que este último retumbar relutante no meu peito
Tocando o terror no fogo do foco do isqueiro do meu peito
Havia apenas aquele morto
Corpo
Do último suspeito
De dizer algo do mundo
De amar algo no fundo, do poço
Que tentei olhar no fundo e descobri: não havia nada.

Morri e não havia nada, eu, eu era o suspeito
Relógio que não atrasa não adianta, apenas, marca
Marcou minha morte, ou, quando eu fui embora naquela manhã
Quase noite, noite pros meus olhos
Deixei o isqueiro do meu peito com ela
Marcando o compasso, meu

A bala tocou mais uma vez o peito daquele suspeito
Eu era ele, já sabia faz tempo
Suspeito de... Gostar... Ou
De deixar o isqueiro queimar

Filosofia em Contos: Ehi amico... c'è Kant, hai chiuso

Enquanto ele punha seu chapéu de três pontas, caminhava entre as árvores da floresta temperada da sua pequenina cidade, ao qual, nunca havia saído, ao qual, o mundo lhe revelava de uma forma mais pura e sensível que todas as coisas.

Então, dentro daquela enorme floresta ao qual se perdeu na busca de morangos para uma torta que sua tia iria lhe fazer, em comemoração pela entrada na Universidade, Emanuel encontrou uma justa dama de seios fartos à chorar num rochedo:

- O que e pelo que chora, bela dama?

-Choro porque sou pura pelo mundo que não é, seus sentimentos poluem-me, não posso mais respirar... Minha pequenina espartilhada mantém meus ares dentro de mim, mas, não posso-lhes mais conter, não posso conter-me mais, não me compreendo mais!

-Calma, jovem dama da pele branca, pelo que precisa? Qual tua graça?

-Sou tudo o que está em volta de você, eu sou aquilo que tudo vê e o é, porém, aquilo que é mister aos olhos dos impuros...

-O Pecado?

-Não... Não existo num mundo em que você reside, existo em outro, sob você, sobre seus pés...

-Como? –Agitou Emanuel em seu chapéu, sentiu algo muito maior atrás de si, virou-se e viu: outra dama, de vestido azul, como Urano, vi com olhos muito azuis que quase eram negros

-O que faz aqui, irmã de tudo?

-Eu? Irmã de eras, eu choro!

-São irmãs? – Perguntou Emanuel

-Sim, eu sou a que era e ela a que estava, - respondeu a de azul que chegara -Mas, porque chora, minha irmã? Este cego lhe fez algo?

-Não, ele é amável, mesmo que isto seja repugnante, mas, amável ele o é...

-Como cego? – Perguntou Emanuel – Eu vejo tudo que está na minha frente!

-E é por isto, - disse a de Azul – que você é cego, confiando na sua própria visão, ela é parca e pequenina, sem poder captar minúcias, sem o Verdadeiro Sensível

-Como??

-Sim, belo rapaz – disse a moça que chorara – Seus olhos apenas apreendem aquela parca luz que emitem do sol e das estrelas, apenas com isto, não pode fazer nada mais que uma onda batendo no grande oceano das coisas

-Mas... Eu passei nos Altos Estudos, vocês são apenas mulheres e...

A Dama de Azul apontou o dedo e, em um piscar, a barba branca brotou e as peles e membros antes rígidos, de Emanuel, decaíram por terra, ele se tornou uma massa de pele e ossos idosa. Em dois momentos, voltou, assustado, disse:

-O que é isto???

-É o que sou, o que pode ver e sentir, sou o que era! Tudo que foi! – Disse a dama de azul

-... – Assustado e sem palavras, Emanuel sabia que aquilo não era nada de divino, apenas algo que não poderia compreender com seus sentidos normais...

-Meu jovem belo, entende que você pode me ajudar??? Tenho medo...

-Como? Eu? Um homem?

-Sim, ele é um homem, não cabe a ele, doce irmã – disse a moça de azul

-Mas, minha jovem dama... Como, como eu poderia ajudar vocês... Coisas, vocês... Que não entendo pelo que vejo e sinto...

-Se tu não pode, infectada por aquilo eu estarei...

Então, mesmo a empáfia da moça de azul não resistiu, ela tomou-se de terror e temor, ao ver aquele gigantesco Lobo, que fumava um charuto e tinha botas de espora. Sorria impiedosamente, enquanto, em pé e perto de uma árvore, observava as moças, com patas no seu cinto de couro.

As duas moças ficaram coladas com seus belos, voluptosos e perfeitos corpos, coladas em si, viam apenas Emanuel, junto em temor, gritar:

-Besta furiosa, quem és tu?

-Aquilo que sente, homem pequenino e meu... Dono de você, dono de tudo, não me deixe entre mim e minhas consortes... Prostitutas que me alimento de todas as formas, toda a noite, desde o início de tudo, antes mesmo de você...

Emmanuel, então, pegou um pedaço de madeira, um fino galho e tentou fazer com que estivesse armado. O Monstro riu e disse:

-O que contra eu, tudo que Sente, pode fazer? – E com uma baforada do charuto do Lobo, toda a violência de Emanuel se tornou puro temor, depois, puro amor, depois, fome, tudo misturou-se e o jovem, colorido na pele, estava nauseado pelo movimento dos sentimentos que não parava dentro dele...

Então, ela veio... E algo brotou de Emanuel, algo luminoso, algo que ele teve e gritou:

-NÃO! Besta selvagem!

A luz do seu peito se conduziu a uma lanterna e, o jovem do chapéu de três pontas, iluminou a face da besta enquanto dizia:

-Se desde o início de tudo e todos, você açoitava moças ruidosamente, se tudo o que sinto é do seu domínio, logo, tudo que Penso é Meu... E como Meu, posso iluminar teus dentes, vil criatura, iluminar tua face estúpida do Sentir pelo Sentir, e do Medo pelo Medo, Amor pelo Amor, provar que nada disto supera aquilo que digo dentro do que calculo e raciocino!

O Lobo então disse: “-Você tem Razão, jovem, agora tem a Razão que sempre teve e terá”, e sumiu entre as árvores, para sempre ferido.

Guardou a lanterna em seu casaco, e sorriu histericamente, pois, parecia ter de Toda a Vida roubado um segredo. Então, as duas moças se aproximaram dele e teceram nele um beijo em sua boca, primeiro a que Era e, depois, a que Estava:

-Como se chamam as jovens damas que para mim são perfeitas? – Disse com a face ruborizada

-Eu, a que chorava, sou o Espaço

-Eu, a que ruidava, sou o Tempo

-Nós – disseram as duas -, que agora estamos e somos, pela tua Razão, Eterna e límpida do que se Percebe, nos entregamos a ti, por toda a sua existência seremos tuas consortes.

E sumiram nas brumas da floresta.

Então, Emanuel pôs o charuto do fugido Lobo na boca, sorriu e caminhou para casa, já não mais precisava de morangos, pois, as doces frutas que a Razão lhe iluminou, mais saborosa era.


sábado, 4 de maio de 2013

Moça Vampira de Cabelo Branco

Cabelos brancos tinha já
A moça que ria enquanto eu fiz a última piada, a moça saiu do barzinho
Enquanto a pálida luz havia
enquanto, o mundo, cheio de Mortos-Vivos,
Não entrava pela porta
Eis então, que me vi armado com minha carabina, mirando em seu pescoço
Ahh... Pois, os vampiros existem, meu amigo
Ahh... Assim como as cruzes e prata, que lhes cansam
E pela Estaca, por qual ele se mata
Pra estacar
Tupli
Tumpli
Pluf
Fez o pescoço da menina de cabelos brancos... Quando dela, sai
E entrei, sai
Mais do no seu pescoço
Que se abra a caça aos Vampiros!

Câmera jogada na rua

com quantas batatas esparramadas se faz um poema? Não sei, desde que esquete da tua voz um fonema, cálido entre os véus da noite que vêm
Entre os monstros mais soturnos do teu sonho, 
Estou, 
Como o amplo espectro do que não sou mais
Ao qual vi, revi e compartilhei, naquela velha máquina de fotografia, 
que hoje dorme quebrada na minha cama
dos véus da rua dos bobos