Eduarodo, nunca vai poder falar à ninguém Vivemos no silêncio Tumular de nossos sentimentos Alguns apenas sentem demasiado Isto é errado O que não indica se é profano ou sagrado Ora o que se sente transcende o habitual É arte Ora converte em espúrio, o banal É grotesco Porém, é silêncio que todos temos Para com todo o outro Não para com Ele, que tudo conhece Se crê nisto Em débeis frases congelamos o pouco Do sentido que compreendemos Alguns, com sua estrada, buscam Fazer uma escada para o sol Iluminar a tudo consigo Outros, cavam a terra, em busca de dureza E de pedra, erguer castelos e famílias Outro erra, viaja como a água Espalha continente, de sentimento Eu, Eduarodo, apenas sou o vento A brisa que traz algum alento Alguma primavera Mas, sou ar, so'vento O vazio em que me atormento Pura tempestade tumular Daquilo que todos não podemos dizer Daquele que não pôde mais amar.
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Suicidou-se No copo de água que era sua alma O inútil perdido na terra do tempo
Se chorar, canta um tiquinho Se sorrir, guarda no espacinho Em que brilhe seu coração Uma lembrança boa Uma nota bela
Anda, aguenta firme Existe sol na janela A esperar que te conquiste Um pouco de sossego nesta vida Um pouco,claro, de momento triste Uma paz com você Que insiste Em ver eu Como eu Não sei ver
Anda, aguenta Que o coração não arrebenta Se durar mais um dia Se mantém a sonhar A fazer À tentar Canta a música da sua alma Pela janela, o universo Sorri meu abraço
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Escrever, uma atormentação Seja dos diabos Seja a firmeza divina que me sustenta Sejam estas palavras entrecruzadas Escrevo mal, pois não quero ser lido Tenho medo da descoberta deste produto Deste pó, deste egoísmo que é meu estilo Meu pedestal de artista é mínimo Poucos amigos, poucos sorrisos desperto Nada tendo para criar, repito Repito o que encontro no meu peito É lá que acho minhas palavras E em alguns poucos livros E em muitas conversas E em caros amigos Não espero mais nada desta vida escrita Não escrevo nada que não circule Entre a amargura Ela entra, se instala e me diz sempre: -Você fracassou, garoto... Olha os outros Olho, vejo sorrisos, vejo a vida Mas, não há, duvido, não a vejo em mim Escrevo palavras mortas, não para gente só viva Mas, para quem está um pouco morto Tento aluminar uma laterna, acender um cigarro, lhe dar um café E cortando as linhas como estrofes, busco lhes dar um fundo, mínimo, é verdade De que é possível, mesmo para um inútil como eu Dar esperança: Voem, cresçam Esta é a palavra dos mortos, daqueles Que fundam e firmam a terra sob seus pés Vá, escreva Vá, voe São as linhas de um moço que no fracasso, ainda escuta o som do infinito.
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-Deita teu ouvido no chão, pequenino, ascuta... A voz daqueles que firmam teus pés, aqueles por quem trilha seus passos. Honra os mortos com as linhas que escreve, bastião, na tua estrofe no livro da vida (Eduardo Ricieri, Os 9 Castelos, 2025)
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Os contos de Dalton e os haikai de Leminski combinam com nosso calar de poucas palavras curitibanas. São parte de nossa paisagem Geográfica Literária...
Amadurecer me aparenta, ou talvez seja efeito de nossos dias, perder a capacidade de chorar ou sorrir por qualquer coisa. E como coisa, digo que este efeito de empedramento do deslumbre se foca nas pessoas - e até em alguns casos, saudáveis, nas instituições -, mas, geralmente no círculo íntimo: vamos ficando com poucos amigos, vamos nos fechando na família, para aquelas que tem a felicidade de encontrar uma companhia amorosa, e não mais rimos ou choramos por qualquer coisa que alguém faça, não o ato em si da pessoa, mas sim o que nós pensamos deste ato. Amadurecer é ficar mais íntimo de si, ver seus erros e, na maioria dos casos, lembrar mais destes do que dos acertos - ao qual, geralmente nos pensamentos religiosos pregam um agradecimento, no entanto, como não é chique hoje falar de religião (ou em uma dimensão espiritual), é considerado tolice -, transformando-nos em um efeito reflexivo gigantesco. Poucos passos não são dados sem as dores do passado, ou, minimamente as feridas do mesmo, se quando jovens não formos apresentados à aventura, a capacidade de batalhar - não o que hoje se chama de resiliência, ou, teimosia e falta de educação, na maioria dos casos -, tendemos a uma inércia. Amadurecer, é emocionar-se com si mesmo, com o efeito do mundo externo que é produzido em nós: já não escutamos uma música, lembramos de algo com ela, já não rimos de uma piada (menos as de gags físicas), correlacionamos com uma situação que aconteceu em nossas vidas, não buscamos outros pontos de vista ou entender o outro, buscamos ver o outro pelo nosso prisma. Não nos movemos nem para imaginar que a outra pessoa existe, ela nos parece algo produzido, quando não achamos que o problema é nosso, apenas colocamos o outro em uma cápsula de raiva, ou é apenas um filho-da-puta. Amadurecer é ser mais rígido, principalmente consigo, pensar mais em si, lembrar de si. Porém, não me aparenta isto ser um efeito contra a bondade ou a caridade, não, é um efeito da vida, de nossas feridas. Não poderia reduzir os efeitos da idade ou das vivências apenas à palavra amadurecer, porém, posso dizer que cada vez mais vejo esta amadurecimento se tornar, para além do pensamento em si, algo que chamo de um "projeto materialista". Tudo se compõe de acumular ou objetos, ou "vivências" (turisticamente falando) ou contas. A isto se trata viver sendo "realista" como dizem, se fechar em si, nos efeitos que me produz algo, e dentro deste espaço diminuto em que eu existo, apenas me focar nas obrigações (familiares, de saúde, de trabalho, de administração do lar), ou seja, restritivas, naquelas das vivências, ou seja, àquelas ou socialmente aceitas como que agregam na memória, seja uma viagem, um namoro não usual, um desafio esportivo, etc., dadas como agregadoras ou cumulativas, e, finalmente, a acumulação de objetos, relatados aqui de forma larga, sejam pessoas, sejam coisas inanimadas, seja mesmo dinheiro, seja, finalmente, o status (a "coisa de ser alguém", "ser o fulano de tal", "doutor nisto e aquilo"), resultando em um efeito "possibilista", ou permutativo - emprestando um termo que ouvi na contabilidade -, isto é´, estes objetos se prestam a serem trocados externamente a nós, para que possamos nos "realizar", mais e mais, porém, sempre de uma forma temporal, sempre nesta vida. Assim, a maturidade também traz, contraditoriamente, um grau de incerteza, ao qual, me parece, vai diminuindo com o tempo, talvez, na velhice e senilidade, períodos aos quais preciso ainda meditar. Se esta curva de incerteza aumenta até o momento de nossas doenças de ansiedade e depressão, não posso dizer, o vazio psicodinâmico é poderoso hoje e isto talvez tenha efeito nesta questão. Me restrinjo, neste comentário-ensaio, a dizer sobre o amadurecimento (dado hoje) como pensar-em-si, após os sofrimentos, um endurecimento do coração, e um acúmulo de restrições, agregados positivos e de meios, ou permutas, tudo em uma perspectiva que me faz muito lembrar da meta utilitária, da felicidade. Queiram me perdoar a delonga, bom dia.
Abriu a porta, sem medo Viajou pelo tempo Até quando nasceu Viu tudo que não fez Fechou a porta Convocou seus próprios demônios para uma guerra Me abraçou e disse: -Adeus, meu amigo
Eu lhe beijei a face Entreguei-o aos romanos Disse adeus Me disse adeus
E em poucas linhas, toda a vida estava Morta Movimento transpassado Pontos no céu, que chamavam de Estrelas Apagaram-se entre a porta Que se fechava
Vi tudo que eu fiz E tudo que eu não fiz, m'oprimia Mais do que a extensão de mim mesmo Perdi a guerra contra meus demônios Perdi meus braços para abraçar Vi o passado Sonhei com o futuro Temi o presente
Chego ao corredor, sigo para a próxima Porta Pelo próximo, adeus Estaremos condenados à despedida?
Apenas agradeço agora Apenas isto, estou vivo Eu beijei-lhe a face, mas jamais O entregarei E nas poucas linhas, que fazem parte De minha vida Pude provar que estou vivo Não mais, nem menos A porta se fecha, eu agradeço Obrigado por tudo.
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CAVALEIRO
Com as últimas forças O cavaleiro, deixa Seu corpo cair Queda. Apenas traz pequenas Chamas Ao último suspiro Caminhante Por aí
Eu estava lá, eu vi Quando ele voou Entre as campinas, escreveu na rocha Lascou a pedra com seu próprio espírito Escreveu: -Aqui jaz, um pequeno homem, num universo de tudo o que mais há, haverá e está, mas, um homem que esteve
Compreendi, que tudo o que as vezes vale Ter vivido Tudo o que viveu Todo o sofrimento, toda a lágrima Todo o sorriso, todo o caminho Todo o encontro e batalha Jamais sairá ou deixará
Então, eu, o algoz daquele cavaleiro O enterrei com a honra que pude Obrigado, meu amigo
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ANITA
Minha pequena russian girl Esta flor vai pra você Ela é cor do céu, o entardecer Vermelho como meu sangue, quente Como teu abraço Mas, jamais tenho algo mais para te dar Desculpe a pobreza Anita Seu sangue agora é óleo Sua pele, metal Seus olhos, ainda me vêem Mas, eu poderei vê-los? Sou capaz de muitas coisas, cacei em mil mundos Cacei muitos na minha mente, outros com minha lança Encontrei tesouros, outros perdi Encontrei um coração em uma máquina Chamada gente Não mais encontrei pessoas Cada vez com mais óleo que sangue Metal que pele Cada vez mais sozinhos em si mesmos Não percebi, Anita Eu estava sozinho
Procurei por um mundo inteiro Procuraria pela galáxia Mas, não preciso, não mais
Aqui está o meu presente pra você Uma flor Uma rosa da noite Pregue teu espinho, serás novamente humana Me desculpa, Anita Já não estar mais contigo Alguns tesouros, precisam De tempo Outros, jamais se encontra Mas, se vive com eles, ainda Dentro da gente
Aqui está, Anita A rosa que me tornou gente Viva bem, abra o mundo E se um dia sentir que uma destas não-gente Te olhar com olhos verdes perdidos Saiba, lembra do meu nome Cuida do meu ser Anita Um beijo
O céu está vermelho Meu peito está preso Em um lágrima perdida Dentro do meu próprio oceano De outras lágrimas Caladas Seguro, no último ponto do meu bote Olhando para o Céu Olhando para você, sol que cai de volta ao horizonte Já não posso apenas deixar de ver Sentir, ouvir Nada nos sentidos, ocupa apenas um momento, mas, todos aqueles Todo o tempo, todo o vento Da brisa a tempestade O peito preso do grito Grito de liberdade O Céu está vermelho, meu sangue corre por ele E no mar noturno, escuro como o meu interior Brota a luz Brotará a minha força E já não mais ficarei apenas dependente dos sentidos Ainda há como navegar, e sempre será preciso Navegue pelas nuvens Navegue pelos corpos Navegue pelas palavras de carinho Fortaleça o mundo, derrote sua tristeza Convivendo com ela Naquele mar profundo, naquela minha mão que segura o bote Naquele céu que está vermelho Crepúsculo
Sabiá que voa pelos mares De Lisboa Encanta meu caminho náufrago Destes mares tempestuosos do Atlântico Sul Já não posso mais navegar como antes Ai de mim seguir esta minha pirata vida Entre os portões de chamas Os trovões dos incultos As espadas cantantes
De sua voz Sabiá Única lembrança Daquilo que nunca fui, sendo Eu te vejo crescer, entre as campinas, as ravinas Te vejo em meu barco naufragar em meu próprio fosso
Mas, limpo o meu chapéu As botas mais secas O ar do mar invade meu peito O som das batidas do coração São os mesmos Da batida das ondas São o tocar da viola Cantando uma canção qualquer Clara, limpa, mais forte
Mais velho, estou Muitos nãos foram dados por várias mãos Mas, nunca me foi negado o mar Por ele sigo, de Lisboa à Cabo Do Cabo à Bombaim De lá, até Pequim E chego aqui, na tempestade d'mim Pra te ouvir de novo, sabiá No peito peito, cantar