sábado, 28 de janeiro de 2012

Meus cães

 Em um tempo desconhecido, na região fria e cheia de pinheiros que chamamos de Caninéia, dois grandes guerreiros derrotaram todos os seus inimigos, principalmente formados pelo Clão Gatuno do Norte, seus nomes foram esquecidos pelas canções e trovas, porém, seus deuses os chamavam de Lorde Branco e Negro, eles foram os primeiros da dinastia dos Solitudum. Os conhecidos pelos poetas por Dois Irmãos derrotavam muitos e andavam por terras desconhecidas, a fim de ampliar ao máximo seus territórios e riquezas, naquele tempo, dada pelas latas de lixo reviradas e por todas as fêmeas procriadas de outros.
 Porém, o Grande Castelo começou a ficar mais e mais tumultuado, o Lorde Branco, de menor força e esperteza que seu irmão, era cada vez mais jogado da liderança, sendo quase aquartelado em sua casa, no Templo dos Donos. As forças de cada um levavam a um reinado do esperto Rei Preto, o Menor, porém, ventos logo vieram trazer a derrota dos sonhos do Lorde Preto. Estes ares tinham a forma de uma carroça, trazida por viajantes, mascates, o peso sobre a perna do esperto senhor fizeram sua perna se partir em três, e seu sangue jorrou por todo o castelo enquanto sua morte com ataduras tentava ser evitada... Mas, a tempestade era mais forte que o navio, para o Abismo fora o Lorde Negro e para o Trono, seu irmão Branco era o dono, sendo agora chamado de Rex, o Felpudo.
 Eis que sobre este senhor as façanhas foram menores, cuidou de tudo como um verdadeiro “bom rei”. Mesmo não espandindo suas terras e latas de lixo, teve em seu julgo vários bons cavaleiros, desde Pitty de Bassê até o Jovem de Shoesbox. Porém, seus tempos também não foram fáceis, seus cavaleiros morreriam de doença ou acidentes terríveis – o próprio Conde Pitty fora esmagado por uma peça móvel do castelo, durante um invasão-; assim seus filhos e primeira rainha, morreram todos, num período que foi chamado de Era dos Príncipes dos Caixões, um tempo sombrio, em que poucos restaram, apenas o Rex sobreviveu, junto com sua segunda esposa, chamada de Pequena. Porém, já em idade avançada, o Lorde estava cego e fraco, não poderia conduzir o Reino e o Grande Castelo por muito tempo.
 Logo, os ventos mais uma vez trouxeram um forasteiro, seu nome era de longe e usava roupas estranhas, tinha o nome de Billy, era D’kid. Um caçador nato, ainda jovem mostrava sua fúria e em poucos meses, seu tamanho já era maior que o idoso Lorde Branco. Elevado pela Rainha Pequena à Duque, sintiu as forças o elevando às alturas... Logo, o velho Lorde Branco não conseguiu mais ter controle sobre suas tropas, foram derrotadas ou debandaram: o Duque tomou a sua esposa como dele e condenou ao ostracismo em seu próprio castelo ao velho Rex.
 Elevou-se ao dono de Todas as Tropas, Billy D’kid, o Caçador. Teve com a rainha dois filhos, um fora chamado de Bih D’du, nome do povo da rainha, apesar deste ser mais parecido com o pai fisicamente, caso inverso de seu irmão, Trovon, o depois dito, o Gordo. Os dois filhos foram chamados de Marqueses de Solitudum.
 Bih D’du fora um grande caçador de Mercenários Anfíbios e caçou até as mais altas paredes de pedra do reino. Expandiu o Reino até as maiores distâncias, mesmo o Grande Rio Valeta era conhecido por este Marquês. Era, mesmo com tudo isto, um frágil poeta, de voz ruim, porém, meigo, um assassino meigo.
 Trovon, pequeno e corpulento, com seu irmão disputava sempre, desde terras até fêmeas, porém, sua voz potente não se exprimia em seu pequeno tamanho. Sua inteligência, era inegavelmente herdada dos pais e semelhante ao irmão, no Grande Templo era o único que tinha permissão para viver.
 O Grande Duque Billy D’kid tinha muita força e seu exército era poderoso, nada se perdeu desde o antigo Rex, porém, em um lance funesto, no decorrer de um ano fora marcado por eventos que quase derrubaram este rei. O Velho Lorde Branco partiu, em paz, num tarde de segunda, no domingo, uma invasão de Vizinhos Bárbaros fez com que as tropas do grande Duque, agora elevado Lorde e seus filhos fossem enganadas por um estratagema que enviara tropas inimigas para um ponto do reino, atacando e invadindo fatalmente o Grande Castelo e invadindo o Templo, roubando pertences daquele local. Reinos vizinhos são os possíveis responsáveis por isto, mesmo que apenas na boca dos poetas, e na cabeça do Lorde Billy, que fora derrubado por um golpe na fronte, para sempre marcado em sua honra. Na segunda, um último evento do que fora chamado de Tempos Funestos: em uma missão de reconhecimento de novos territórios, Duque Bih D’du extendeu-se até os desconhecidos terrenos do Rio Valeta, o dia era de chuva e a terra enxarcada, os portões do reino estavam longe e não havia mais como voltar, perderam o rastro a XXVII legião e o Duque, que fora dado como desaparecido, nas sombras das tempestades.
 O Lorde Billy e seu filho Trovon agora eram os únicos no reino, pois, a rainha Pequena, agora já a Velha, decidira ir também a paragens distantes. Como uma grande jornada, desapareceu nas Terras das Araucárias, ficando em um castelo de seu tio, até que sua vida caisse dos ossos.
 Passaram-se anos, os ventos estavam calmos. Cerca de três invasores dos Gatunos chegaram a invadir o reino, o Lorde os derrotou de forma honrosa; um antigo morador das Partes Descuidadas do Reino fora o primiro dos derrotados, com sua gargata estraçalhada, fora deitado numa carroça, sua pequena tropa expulsa; seguiu um novo descendente seu, ao qual fora devorado, não sobrando nenhuma parte para o envio de seus restos, tamanha era a fúria do Lorde em atacar o Jovem Gatuno. Finalmente, um último representante deste clã, de nome Saltitante, fora encuralado depois de admiráveis dias de um lado para o outro.
 Logo, sentimos cheiro ruim no ar. Os feitos do Grande Lorde iam desde a caça dos bárbaros, aumento do território e inúmeras repulsões aos inimigos. Porém, seu filho, Trovon, de dentro do Templo mantinha todos a sua conduta, sua força era total neste espaço, porém, o velho Lorda ainda mantinha algum respeito dentro do resto do Reino. Era um bom cão, era um bom Lorde, que pulava pelas mesas de banquetes e roubava seus deuses, deixando-o alguns rindo ou outros loucos.
 Isto, porém, fora a muito tempo. Suas entranhas verteram sangue e o povo do reino, lágrimas. Fora durante a viagem de um dos deuses que ocorreu, sorrateiro, a tristeza e o silêncio do olhar do velho Lorde com seus pelos brancos cobriu a terra de tristeza. Em espasmos, dormiu em posição de queda, abriu os braços e se foi... Seu filho em silêncio, logo teve uma festa por ser o novo Lorde, o novo Rex, porém, um dos deuses o olhou no momento final... Era um momento final, um espasmo e o cheiro ruim fora substituído pela dureza do Dono
Ele o enterrou com a ajuda do outro
Colocando a terra por cima do Lorde Billy e entre duas árvores
E a Canção do Lorde da Caça Billy se encerra
De maneira torpe, rápida e com grandes lembranças
Como fora este ser
Agora, minha grande lembrança

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Nos mares de Kumasi #Panda Vermelho

MUSIQUETA DA POSTAGEM



Enquanto olhava as ondas cintilantes do mar prateado pela poluição, meu amigo surgiu.

 -Há muita luz aqui... Não?
 -Realmente, nunca tinha visto isto... Como aconteceu toda, a luz?
 -Não sei, não me importo... Não sou como você, velho Vermelho, não ligo pra história e o Por Quê das coisas, acho mais interessante aonde elas estão... Sabe disto, meu Império não surgiria se não fosse por isto
 Vi com uma face de certo espanto, mas, tenho que me acostumar. Derrubando todo um reino, e depois vários, criando máquinas de pedra e pó, canais que davam ao deserto alguma plantação, um verde absurdo para a normal visão, meu amigo Coelho Caolho se tornara o Maior líder deste mundo; um Império sem nome, apenas uma marca semelhante com um risco branco de cima para baixo - uma marca que me lembrava assustadoramente de outro imperador, um ser que eu derrotei há séculos... Em outro mundo... Um Panda como eu, só que nunca teve uma vida –animal ou de pessoa- a não ser seu Ideal, seu Objetivo. Esta porção de terras e cabeças eram lideradas por um igual a mim, nós, que tínhamos por sorte recebido nossos poderes, estávamos perdidos, caçando cada um seu aprimoramento, sua Vontade; vestidos com nossos mantos que davam ao mesmo tempo o Poder e esta Busca.
 -E os Democráticos? Como está lidando com eles? -Perguntei à ele, não via sua face pelo sol que queimava minha face, da minha forma real, mesmo que o real varie conforme à íris que é queimada, principalmente neste mundo que nem é o nosso... Eu era um panda vermelho e ele um homem de trinta anos e caolho, estas eram nossas formas, este era o nosso real.
 -Ora, sabe que meus canhões de monólitos estão dando conta disto... Aqui, sou um Príncipe, um deus pra eles... Mesmo que os greco-românicos não aceitem ainda, com suas ideias de Voto à todos os seus cidadãos, logo, cairão -O Coelho moveu sua mão, conforme mexia-se em um movimento semelhante ao reger de uma orquestra começou, lentamente e aumentando a velocidade, a brotar uma série de pontas de rocha, roxa, aumentavam as ondas e mais luz batia em meu rosto... Cerrando os olhos, percebia como aquela porção de terra que foi inundada na guerra deste mundo se assemelhava a meu amigo, denso, escondendo muito, explicando apenas o necessário... Ele é muito direto, porém, sendo isto ele guarda mais consigo que alguns que contavam muitas histórias, como se estes, se lhes fosse entregues um teclado e um papel, voltasse apenas com um parágrafo ou um poema, mas, claro, nunca generalizo nada, sobre minha contemplação da terra, disse:
 -Você sabe que sou direto, vamos parar de falar de mim... Temos que completar seu treinamento aqui...
 -Okay...
 As pontas se levantaram até que se mostrassem como entrelaçadas, uma sequência de pontes de pedra rocha entrelaçada, com algas e uma placa de metal enorme, as letras eram um antigo dialeto Ashanti, lá dizia...... Algo como ironia: "Messias", achei interessante, mas deixei de lado, pois sabia que o Caolho não explicaria nada. Entrando na enorme estrutura de pedra, em cada passo, ia me transformando, a pele de pelo ia virando armadura de aço, o tronco ia crescendo e ficando reto, uma capa vermelha saiu desta pesada couraça que crescia, retirei de um bolso no tecido meu elmo, mas antes de colocá-lo, deste capacete de metal tirei - como uma cartola - uma espada; estava pronto, pesado, mas pronto.
 De repente, uma sombra pula pelas pontes de pedra, ela pula e eu não a vejo, suo. O salto me golpeia e eu quase caio, mantenho-me em pé... Não posso me mover muito, tenho que me mover precisamente. Ele vem de novo
            Um golpe, meu elmo cai
            Outro, a capa é destruída... Porém, a minha
            Num último voo, viro a espada em um golpe horizontal, o último...
            Talvez não houve tempo, talvez seja o final
 ...Um flash do sol batendo no meu corpo que cai, eu vejo uma menina jovem, bela de olhos azuis, quase como os mares daqui de Kumasi, os de antes... Seu cabelo é ruivo, ondulado com uma grande franja, reta, mal comportada por ser diferente do resto... O barulho da pesada couraça cai no chão e lembro das danças da tribo dela, do Norte, sua pele branca dá contraste à pele de urso-texugo que eles usam... Foi numa andança que fiz para além dos Gregos-românticos... Agora que sou humano, posso sentir isto, gostava dela...
                 Mas, não era hora. O combate chamava, minha última prova neste mundo
 Levantei com um único movimento que também foi golpe dado na sombra que me atacava, ela chocou em poeira numa rocha. Vi meu amigo com duas enormes facas de obsidiana ao invés de mãos.
 -Você resistiu a isto, amigo velho... -Sorriu e abriu sua capa, moveu de novo para o mesmo lugar e, do misterioso gesto, surge um espelho grande, ao qual ele trás minha Alicia, Alicia das Brumas... Atravessa como água aquele reflexo que pra mim é muito real...
 Seu chapéu é do urso-texugo, seu cabelo escorre pela face, o sol bate em sua pele e reflete mais que no espelho... É estranho o brilho vermelho que seu pescoço tem, é feio aos meus olhos, eu não sei... Não vejo a feiura daquele ato há muito tempo, vejo seus olhos, vejo eles ficarem vermelhos... A boca roxa, como a rocha que cobre todo o lugar, seus lábios parecem que beijaram este chão...
              É lindo, realmente... É mórbido... Ele cresce, ele me fez crescer algo que experimentei poucas vezes...
 Houve um movimento dele, outro e mais um
 Meus pés armados começaram a pisar na poça de líquido vermelho pastoso
 A espada corre seca, lâmina vesga de fúria corta o ar com minha paixonite, já não há mais nada... Ela beija o solo e por tudo sujo meus pés com algo quente, vermelho como era o seu cabelo ao sol
 Meu amigo se move para trás, só há o espelho, ele começa a atravessá-lo, sinto o fogo queimar minhas mãos, meus olhos parecem que lançam raios mesmo apenas estando cheios de lágrimas; ele não irá fugir, lanço a espada, como uma bala ela parte o espelho, há poucos centímetros, o Coelho Caolho tem olhos fixos em mim, esbugalhados... Ele está preso na roxa rocha, como se eu tivesse lhe partido a fuga, como realmente o fiz. Porém, mais quero partir, a sensação de ardor se acalma no peito, me pesa as mãos, me pesa as costas – você sente como se o mundo estivesse sobre seus ombros, no entanto, o mundo inteiro não liga pra o que carrega, pra você.
 Agarro o pescoço de Meu Amigo e retiro a espada da rocha, não há mais suor, apenas uma gota corre por minha testa, uma testa humana.
                 A arma laminada parte a ponta de rocha em que ele está, corta ao meio...
                -Acabou!
               ...Em silêncio, sinto de novo o calor deste sol... A maresia faz com que a armadura se comporte de jeito estranho, parece até que enferruja mais rápido... Ela engasga... Eu engasgo... Meu joelho cai no chão, pareço com falta de ar...
 -Acabou!
 -Eu já ouvi!! –Respondo, ainda não acreditando... Começo a me levantar, estou tremendo e a espada mais ainda
 Olho para aonde está o corpo de meu amigo... A fumaça vai saindo dos poros, até que ele inteiro evapora em uma nuvem negra... A nuvem vai subindo pro céu...
 Olho pra cima, vejo meu amigo se tornar uma tempestade. Da tempestade de nuvens negras, cai a água que lava tudo, vai pouco a pouco, com suas gotas me lavando, me recuperando um pouco...
 Para trás, mais uma vez olho, mesmo com a dificuldade de uma couraça rapidamente afetada, vejo meu amigo, na forma de um Coelho Caolho, com seu tapa-olho, sentado numa pedra...
 -Então, acabou? Só isto?... –Meu sorriso irônico é falso pra o que sinto, que agora sinto...
 -Você tinha que aprender isto, sabe muito bem...
 -...... –Olhei pra a Alicia... Parecia que o engasgo voltava...
 -Escute, a morte é o fim, porém, posso trazê-la de volta, sabe muito bem disto, ainda o corpo esta fresco...
 Com pequenos saltos ele chegou perto dela, tocou no pescoço e cauterizou o ferimento... Ele me olhou depois disto e disse:
 -Seu treinamento ainda tem mais duas lições...
 -Quais? –Lhe pergunto
 -Traga a vida dela de volta, você é o mais poderoso... Ou melhor, será... Quando jogamos os dados para decidir entre nós 7, não concordei com isto, mas, agora, sei que pode...
 A água já empoçava o sangue, eu movia-me com dificuldade... Tirei a couraça, cobri seu rosto com a capa... E, por uma questão estranha, senti algo, carinho, esperança, eu era ela e sorri... Eu nunca sorrira por aquilo...
            Beijei sua testa, seu nariz e sua boca,
           Com o manto na face
           Suas funções cardíacas foram acordadas com um choque, cauterizando cada parte danificada pela falta de oxigenação, talvez apenas perdesse os movimentos de um braço, ou da fala... Tudo muito fácil... Tudo parecia tão fácil...
 -Mas, não é, não é mesmo, meu amigo?
 -Sim, não é Coelho... Tratará ela bem?
 -Claro, você não só conseguiu aprender Vingança, algumas coisas a mais como isto do Carinho e Despedida só se aprende com Paixão...
 -Despedir? –Sorri para ele... Estava pensando nisto, enquanto a chuva acabava...
 “-Pelo Desfiladeiro do Crepúsculo, quando chegar lá, haverá uma grande nave, pegue-a e puxe a alavanca de pedra única que existe no cais, será levado pro outro mundo”, falou meu amigo. Estava em frente pra estranha forma de rocha em forma de ponta que mirava para o céu, com enormes velas de metal... Entrei e fui subindo, como uma aranha até a alavanca...
                  Antes de puxar, lebrei do nome dela... Por dentro de minhas brumas ela ainda ficaria, talvez sim ou não. Fora bom ter sentido aquilo... E segui com as instruções...
                  Puxada a alavanca, tudo é luz, sigo na direção da luz de Kumasi, por uma janela lateral, sua mar me beija, com seus olhos, em seus fechar, me despeço.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Ruivas

Ruivas tem cabelo vermelho
Com sangue rubro vejo-lhe as faces
Ficando envergonhadas
Beijo-lhe os lábios
Tudo é vermelho em mundos violentos
Mas, dentro daquele motel
Vi uma esperança que não era verde
Nem azul anil
Rubro céu era aquele beijo
Que me deixo de face envergonhada
Vergonha de ter me perdido numa franja
Não mais lua prateada
Na noite rubra, nada velada
De uma ruiva em certa estrada

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Odeio você

Eu te odeio com toda força
Até que da névoa do sonho
No meio da poça, sangue e lágrimas que não meus
Rio deste triste fim, deste curso
Ao qual meu triste discurso
Tomou por rumo
Porém, de noite
Enquanto durmo, molhado na umidade
De tal relatividade
Contigo sonho
Mas, penso n'outra manhã e a tarde
Se fora sonhado
Ou realidade

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

São Paulo Abandonada parte 1 #Agentes do Caos

MUSIQUETA DA POSTAGEM

Estava em 2046, depois do nascimento de nosso senhor – o do Livro Vermelho, e não de outros pagãos por aí -, sentado na cama para dez pessoas num apartamento de meu amigo Robson Glezoé, em São Paulo, a Maior Cidade do Mundo (apesar de estar atrás daquelas pertencentes ao grupo do Dragão Asiático e das pobres Índia e África). Nunca vira tanto concreto em minha vida e, mesmo vivendo lá apenas 3 meses, nunca penso ter visto mais de uma vez uma pessoa... Vi apenas uma vez um momento de suas vidas, como desejo, do fundo de meu core [coração], ter vivido aquele momento terrível também apenas uma vez... Aquela chuva...
Era comum pra eles, mas não pra mim, habitante de uma simples metrópole de 4 milhões de habitantes, pequena, interiorana. Não. Aquilo era surreal... Foi numa das primeiras semanas de janeiro, como acontecem há mais de 100 anos aqui nas terras do Parlamento Brasileiro – incrível como ainda nada fora feito... Por isto, votarei a criação do Nosso Grande Império! Mas, isto é história para outra hora, n’outro lugar... A tal chuva, que mudou minha vida, ocorreu nesta época e eu nada sofri com ela
                                                          Fiquei seco
                                                          Embaixo de cobertas, com medo
-Acontece toda a vez mesmo! – Disse meu amigo, depois do que aconteceu...
-É, acontece... –Minha voz saía fraca, trêmula, porém, nada mais via naquela rua a não ser uma gigantesca massa de lama e barro, ao qual nada atravessava e que braços mecânicos – em uma solução temporária – encaixados nas laterais de todos os prédios iriam tirar partes da lama negra, lama que fedia, fedia cidade; cerca de quase 1 metro, ela veio escorrida dos fundos dos esgotos abertos, misturava-se com montanhas de terra postas estrategicamente próximas as gigantescas bocas de galerias, que eram fechadas ao público e que serviam para barrar a energia da água, pois este lamaçal criado era uma maneira de deixar “mais pesado” o líquido, permitindo que alguém na rua, ao menos por alguns segundos, pudesse se esconder em pequenos bueiros que a cada duzentos metros se vê pintados de vermelho e amarelo dizendo: “Perigo de Chuva! Corra aqui!”. Avisos já gastos pelo tempo, arranhados e pichados... Como tudo por aqui... Ai, ai, estas pessoas precisam é do (dum) senhor... Como a água que corria enlameada das galerias para os canais artificiais gigantescos... Sintia que precisava fazer algo, naquela época, não sabia o que...
Mas, então, numa manhã, lá perto das nove horas, me encontrava esperando no apartamento de meu amigo Glezoé, meus pais me encontrariam ali e eu iria minha terra de novo, iria parar de viver na casa de meu amigo, um pobre homem que trabalhava a noite e por isto, não poderia ser recebido pelo bolo que minha mãe trazia à ele – o bolo, no entanto, podia esperar, iria ficar na geladeira, este evento revelador, não. Ela começou, fraca, tomando cada parte da cidade, uma bela chuva...
Chúa, chúa, chúa!
Fazia ela... Era lindo ver todo o mar de prédios e concreto se encendo com aquele ar úmido e abafado, presente nos verões daqui.
                Então, ela ficava, mais forte, ela ficou mais presente nos meus ouvidos...
Chúuuuua, chúuuuua, chúuuuua!
                Foi aí, e justo aí, que vi uma coisa assustadora... Pois, perto do prédio do meu amigo, havia um matadouro; eles ficaram localizados ali, agora dentro da cidade, a fim de suprimir a demanda e contrastavam com a imagem das boates e casas para homossexuais que haviam na região, pessoas adoráveis que trabalhavam lá, também moravam aqui, no prédio... Porém, as insuportáveis também... Elas, no entanto, deveriam estar essopadas, mas sairiam é correndo, se vissem o que eu via ali
Dois gigantescos bovinos, nunca vira aquilo antes... Um negro e parecia um macho, com chifres cerrados, vomitava baba negra, enquanto fortes homens tentavam levá-lo para o outro lado da rua... Ele não conseguia, pois era gordo demais, babava e vomitava... Na frente da rua, uma vaca branca, com chifres enormes e que mugia de dor... Eu conhecia aquele mugido, morara muito tempo na fazendinha de um avô... Ela ia parindo, tentava, ao menos... Líquido meio aquoso saiam de seus fundilhos e jorrava pela rua, aquela pequena rua de sete metros era quase toda tomada por aqueles dois animais e seus tratadores, homens barbudos e rudes, não deveriam nem ter passado da Faculdade Técnica... Porém, lá estavam, brigando com seres de dois metros, mais que isto... Gordos, tanto o humanos quanto o animal... Tentavam levar para o outro lado da rua, onde um senhor chinês velho, berrava com a porta entreaberta de um refúgio...
Os animais mugiam, sofriam... O touro vomitava e babava e a vaca tremia e por vezes caiu no meio da rua...
                                                   Olhei perplexo, tinha que fazer algo
Peguei meu telefone celular e liguei sua câmera, foquei nas caras dos homens e fiquei ali, filmando eles... Enquanto açoitavam os animais, açoitavam a nossa comida. Comida esta produzida através do Ato de Necessidades nº4, que estipulou ser preciso o uso de fertilizantes alimentícios potentes para a engorda rápida dos animais para abate, de forma que eles se transformassem em montanhas gordas de pele e banha –gordura boa, que lambuzava meus dedos todo o fim de semana, ficava por dentro da carne, por dentro de nós, ao menos, quando era inculto, sem cultura entremeada.
...Então, enquanto gravava... Ouvi:
-Maldito! Está me gravando de novo?! Pensa que vai me denunciar, aí se te pego! Te mato!
Horrorizado, foquei no gordo de barba que apontava pra mim com um facão de serra, algo cortante, algo mortal... Olhei em seus olhos, ouvia a chuva, abracei o terror...
Chúuuuuuua! Chúuuuuuua! Chúuuuuuuua!
Um vazio me tomou e eu apenas podia continuar a gravação... Antes iria disponibilizá-la na Grande Rede, ou em algum site da Baixa, não sei... Polemizar e talvez aparecer em algum dos canais subterrâneos de mídia como: “O herói das vaquinhas”... Mas, não, não adiantaria... O vazio que produziu o temor de poder morrer pelas mãos daquele homem me tomou, de baixo pra cima eu suava, eu temia a serra me cortando, pois isto ocorreu com a vaca. Parindo, não havendo tempo para mais nada, o barbudo que me ameaçou cortou a barriga do ser, enquanto o outro fincava uma furadeira grossa utilizada nestes matadouros ilegais para o abate... A morte instantânea do bicho não fora seguida pela vaca, pois, de sua barriga saíram seis filhotes... Ela era modificada, um ser modificado em locais de beira de esquina e que viravam meu bife... Pensava em ser vegetariano, mas, não, ainda teria o mesmo veneno... Algo que deveria mexer com nossas mentes, nos deixar loucos, já que eu estava assim, em silêncio, sozinho e gravando aquela cena, numa megalópole.
Não havia mais tempo, ouvia-se o
Bluong, bluong, bluong...
Era a corredeira chegando, era a morte para qualquer um nas vias públicas naqueles dias... Isto porque a água corria com lama, mesmo mais lenta, derrubava o que estivesse no caminho e, justamente por estar enlameada,  sugava tudo para o seu fundo, para o fim.
O fim da gravação se deu com a ligação de meu amigo, quebrando meu estado de perplexidade, ao ver a gigantesca massa de água vermelha, correnteza que agarrou a vaca e seus “filhotes”, assim como levou o touro morto, tudo pra longe, a sujeira fora pra longe. Porém, os dois que levavam os animais, em pulo rápido com igual agilidade do chinês velho, trancaram a porta isolante – que tinha uma abertura embaixo, deixando os pés molhados – escaparam, meus inimigos, inimigos pelo acaso da megalópole.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Cappello Nero procura #Agentes do Caos

 MUSIQUETA DA POSTAGEM
http://www.youtube.com/watch?v=lwHpLDgWonM


 "Procura-se Cappello Nero"
 Escrito no cartaz amarelado preso na venda do Seu Noel, na velha e triste Acapulco. O cheiro de praia trazia o deserto do interior, o velho Oeste que trazia apenas a areia e o cansaço. Era isto que eu queria, queria ser velho de novo, não imortal, queria poder ter vivido uma vida que não tinha mais, uma coisa que perdera há séculos...
                                Agora, eu era a Vingança. Um senhor dentro da mortalidade
E o cartaz ainda me intrigava, nunca vira ele assim - um dos meus nomes, meus vários -, estava preso naquela porta; logo, uma triste memória, enquanto pegava o navio para ir à Londres. Era perto do Natal, as guirlandas nas portas me deixavam um pouco triste, eu realmente devo ser um cara triste...
 Uma parte do cansaço vinha do fato de que há muito tempo eu procuro por alguém que me substitua. Sou membro de uma organização antiga, ou melhor, sou um dos fundadores desta organização. Podem chamá-la de Agentes, os Agentes do Caos. Tenho um nome perdido, em algum deserto do Velho Mundo eu perdi como meus pais haviam me chamado quando o sopro da vida tocou meus lábios - porém, isto não importa mais.
       Sou Cappello Nero agora, fui o primeiro Líder dos Agentes (nós não temos um chefe na verdade, mas, antigamente, isto foi necessário, as guerras foram sangrentas, aprendi muito, desde manejar uma arma à deixar a mulher amada...); me conhecem como o 1º Aluno, fui aluno do Fundador, posso aniquila-lo com apenas uma mão, porém, não tenho vontade de fazê-lo... Não tenho mais vontade de nada...
 Deprimido? Não, só cansado...
 Dizem que agora é o ano de 1889, não estou me importando a mínima com isto, já passei tantos calendários que não ligo mais pra nada... Apenas tenho uma missão agora: encontra um certo Lancester, ele será o meu substituto. Por quê? Quem liga... Agora eu não ligo mais pra nada... Ligamos quando temos uma vida, eu tinha uma, faz alguns milhares de anos... Hoje, sou apenas Vingança, perdi o que tinha, ganhei uma Missão
 ...
 Descendo do navio, um guarda da alfandega me sonda, eu não ligo, entrego os meus bilhetes e vou em direção à um bairro suburbano... As casas estão coladas umas as outras, colado está o fedor das indústrias e das crianças que morrem de tifo em minhas narinas... No coldre, escondido por um casaco, minha pistola, na cabeça, um chapéu negro - "o chapéu", ele é importante... Guardem ele na sua memória, assim poderão me reconhecer na rua -, levo apenas uma valise e um contrato dizendo:
 Existe apenas um único suspiro entre o Grande e o Pequeno, todos estão no mesmo ar, aquecessem no mesmo fogo, tomam da mesma água e andam na mesma terra. Não me importa o que haja entre os dois, pois agora, o que há entre mim e o deus é apenas uma assinatura.
 Ass.: ___________
 Desculpe, nunca fui poeta, então, inventei estas baboseiras... O tal Lancester tinha que admitir querer ser um Agente, depois, eu lhe daria meu chapéu... Estaria tudo acabado, pronto, era só isto que eu precisava fazer... Ele ficaria como meu substituto e eu me vingaria, teria alguns meses pra isto, mas, pra quem já viajou tanto pela Terra, alguns meses se tornam anos, quando se sabe o caminho.
 Estava num bonde, que nesta terra eles chamam de ônibus. Vi que a rua estava próxima, estavam morando na casa 20, na rua 5 com 78, logo, falaria com Eleven, o novo Primeiro Aluno...
 E então, algo é visto
 Como uma pequena centelha divina, um fogo azul se expande da janela do segundo andar
 Típico, era na casa 20
 Chutei o peito do menino que com jornais estava na minha frente, desci furioso a rua, as pessoas gritavam assustadas. Abria a porta com um soco, derrubei a velha senhora que tentava abrir, desesperada pelo que viu acima, nas escadas; todos se reuniam na porta, com medo - algo que eu perdera há algum tempo...
 -O vaqueiro subiu ali! -Gritaram, mandavam eu sair, não liguei.
 A porta do lugar estava intacta, nada havia ali, apenas um cheiro forte de gordura queimada. Com um chute, a entrada foi feita, olhei para o cubículo, olhei fixamente, mas não acreditava muito bem...
 Era aquela sensação, aquele impacto que se sente, estava perplexo... Eleven, menina de 13 anos, tinha uma faca na mão, deixou ela cair... Nos meus pés...
 Havia fogo ali, muito fogo, azul anil
 Não queimava nada, apenas uma cadeira de balanço e
 O corpo que lá ficava em descanso
 Mortal, silencioso
 Via apenas os chinelos nos pés do homem - parecia um homem, enfim
 Levei ela para fora, enquanto o corpo era consumido...
 ...39 nove minutos depois, olhei no relógio de bolso, estávamos na delegacia, estávamos perto de uma, o que explica a rapidez. Aqui os delegados não usavam estrelas, estranho.
 Eleven seria levada para internato para moças, me disse um jovem guarda, fiz cara de paisagem e olhei para a menina.
 -Tão jovem? Apenas 13 anos? - Falei no meu mau inglês
 -Senhor, deve haver um engano, ela tem 18 anos...
 Olhei pro meu papel no bolso do casaco, estranho... Não havia isto na ficha que peguei aleatoriamente no orfanato de Santa Cruz... A data não estava borrada, eu sabia disto...
 -Ela só é um pouco pequena para a idade, enfim... - Continuou o rapaz - D'onde o senhor conhece a jovem?
 -Eu?
 -Sim, o senhor... - O garoto segurou no seu coldre, pois vira o meu objeto de brilho metálico, um erro
 Senti que não sairia dali, não queria isto... Um bigodudo estava querendo me cercar, dei-lhe um golpe no pescoço, ele caiu; o jovem, tentando usar seu apito, foi recebido com um soco que o fez engolir o objeto de metal, corri pela rua. A suja via me fez desaparecer sem usar um pingo de mágica que está no meu chapéu...
 Por alguma razão, agora estava ali, ligado à moça, Eleven. Eu precisava ajudá-la para que eu fosse libertado para minha Vingança, esta era a hora.
 ...
 O Internato de Santa Joana D'Arc, escuro lugar, lugar fétido. Tudo fedia para mim, que permaneci anos no deserto, na Marcha para o Oeste, apenas algumas flores no jardim me eram caras, mas, isto não importavam...
 -Onde esta a nova moça que chegou aqui?
 -No quarto 22! -Respondeu a freira com medo, ela viu também a minha arma... Deveria escondê-la melhor!
 Sabia que não tinha muito tempo, tinha que ir logo, segui pelos corredores... Ouvi ainda a freira - uma boa mulher - dizer:
 -Ela está com alguém! Um homem negro!
 O temor em dizer a cor do homem me demonstrou seu racismo, coisa estranha desta época, algo bem condizente com os humanos... Eu já fora um deles, ainda era, na verdade... Um pouco mais... "Vivido", isto é fato...
 Abri a porta devagar, 38 em punho
 Olhei o homem, era um padre... Não um da Igreja Cristã, mas, alguma Batista, usavam roupas diferentes... A dele era negra, e não vermelha, como a dos outros...
 -Vire-se! -Disse
 Um foco luminoso tomou conta da sala, não atirei por impulso, nunca faria isto.
 -AAAAAAAAAAHHHHHHHHHH!!!!
 O grito da menina me fez atirar no pé do homem que tentava correr... Tudo ficara iluminado pelas velas novamente, olhei para sua face, me transmitia paz, porém, a paz dos mortos...
 -Calma amigo! Calma! - Me fez ver seu "livro santo", era preto, as páginas também... Muito estranho... Apenas a forca - o símbolo do martírio para as duas religiões - era amarelado e destacava-se com brilho incomum.
 Olhei a menina, estava babando, estava com os olhos virados e em choque...
 Sem me alterar no porte da arma, disse:
 -O que fez com ela?
 -Senhor, eu não fiz nada... Eu apenas...
 Senti ele tentar me acertar com o livro, atirei
 Uma, duas
 Ele pulou para um canto, caindo, levantando-se depois
 Estranho, não acertei, eu nunca erro, nunca.
 Dois pesos caíram no chão, o homem estava perto da porta, imóvel - suava de temor.
 Vi um par de sombras, parecidas com cães, logo, sumiram... Eu deveria achar estranho, mas, isto ficou comum pra mim...
 -Você... Você é um "deles"?
 -"Deles"?
 -... -Ele engoliu seco, jogou o livro no chão, uma fumaça danada saiu de dentro das páginas. Me mantive firme, olhando entre a fumaça, ouvi a porta bater, não atirei, seria fácil, afinal, a única saída seria meu único alvo para acertá-lo, porém, se o fizesse, acertaria uma área vital, não podia matá-lo, não ainda...
 As freiras vieram em seguida, olhavam desoladas a menina, como pedra, ela me fitava. Parecia morta, talvez estivesse; não liguei, senti que não precisava dela ali, o corpo apenas haviam, sua mente não estava sendo sentida por mim...
 -Qual o nome daquele homem?
 -O quê?! -Perguntou a madre que berrava para as outras por um pouco de água
 -O nome... Qual é?
 -... É... É Bournie, ele é pastor... -Ela segurou no meu braço, ainda disse, vendo minha pistola na mão - Senhor, espere a polícia! Digo que o senhor tentou ajudar a pegar aquele... Aquele feiticeiro! Espere a justiça, por favor!
 -Senhora, -eu a respondi - numa situação destas, eu sou a Justiça
 Sai, desci a rua, nada achei... Precisava achar aquele homem...
 A menina, a moça, Eleven Lancester, acabava de morrer no hospital, soube pelos jornais que tentavam relacionar isto com o caso de combustão instantânea ao qual viram no começo desta estória. É fato que eu vi o que aconteceu com ela... Havia fotos de mulheres nuas em volta do dono do lugar... Um homem que se vestia e portava como mendigo, pelo que disseram... Ele entrou em chamas antes de consumar o fato... Porém, não sei se por "alegria demais" ou se algo tinha ver os jovens olhos azuis de Eleven...
 Fato é que Bournie sabia, e se sabia, eu também saberia...
 Havia vindo para esta viagem sem uma vida, apenas com uma missão
 Agora, tinha uma, tinha que conseguir uma novamente
 A de Eleven, a menina de 13 ou 18 anos...
 Mesmo que para isto, a do tal Pastor, fosse tragada por meu 38!

sábado, 10 de dezembro de 2011

Sam, o que matou a mãe #Agentes do Caos

MUSIQUETA DA POSTAGEM

http://www.youtube.com/watch?v=5AqeqAQ1ILI

 Nas florestas frias e tristes da Eurásia, há anos muito, muito no passado, viviam quatro pessoas: Mãe, Sam, o pequeno Sam, Ilía e Marie.
 -Vá comer! Larga isto!
 Foi numa manhã do segundo dia da semana, me lembro até hoje.
 -... -O menino em silêncio... Apenas ouvia, não a Mãe, uma mulher seca e de cabelo a muito loiro, hoje, grisalho, mas seu dinossauro de borracha, -na verdade, um soldadinho de chumbo que teve uma cabeça de dinossauro "implantada" nele- seu nome era Geoge.
 -Menino, amigo meu, vai comer, te fortaleces e preparastes para a guerra... -Falou o ser de dois palmos, com voz macia. "Sim, vou meu amigo", respondeu em pensamento o menino.
 Foi comer, passou o dia calejando as mãos na lavoura podre de batata-doce, ele, sua irmã mais velha Ilía, que parava muitas vezes, ia pra mata e chorava... Talvez sonhasse com Alvo, um menino da quermesse que uma vez deu-lhe um beijo na bochecha e outro, no pescoço, também Marie -a mais nova- estava com ele, uma doida, costumava se cortar com bonecas e gritava as vezes... A noite, quando o pai estava em casa, sempre a noite, sempre com ele; o pai, um lenhador bruto, fora caçar ursos no Oeste, voltaria há três dias, e de novo a pequena irmã choraria de noitinha, baixinho, mas, agora menos.
 Sua rotina, do menino e seu inseparável dinossauro só terminava a noitinha, quando terminava de recolher a lenha e voltava com a irmã Ilía socando manteiga, e sua Mãe olhando ela -com olho estranho-, e com copo de vinho amargo; de madrugada, a noitinha, enquanto o menino sonhava acordado com seu dinossauro -seu amigo- os dois em aventuras, a pilhar castelos e consumir reinos inteiros, com garrucha e sabre na mão, escutava, baixinho a irmã mais velha chorar... Sussurrar... Enquanto a Mãe usava um chicote (pelo menos ao que parecia), e falava coisas estranhas "-Minha cabrinha!", "Meu amor", "Meu docinho de coco"
 Então, algo que apenas iria virar uma nota na mente de todos, menos na minha, pois eu me lembro bem, me lembro do que fiz.
 ...Foi em dezembro, neve pálida na janela infecta, madeira podre, podres pessoas.
 "-Olhas o leite, meu amigo, olhas o leite!", a irmã Marie sempre ia pegar o leite que o vizinho deixava em um balde, perto da Estrada da Floresta. Ele era pago com minha linda irmã mais velha, mas, isto não vem ao caso... O leite deveria seguir um método, pois a Mãe gostava de tudo certinho, ela gostava de tudo limpinho - leite crú não, fervido com lenha que eu trouxera no dia anterior... Quem trazia o leite devia fervê-lo, sempre fora assim, todos seguiam o Método
 Dei o meu amigo Geoge pra Marie, a pequena e doce gritante menininha... Ela se divertiu com a conversa de meu colega, nunca deixara ela pegar nele, pois babava demais. Isto, foi de manhanzinha, enquanto a Mãe dormia, o leite que ela trouxe ficou lá... A minha lenha, também...
 A Mãe, imperadora quando o Pai não estava em casa, pega minha irmã pelos cabelos - sem antes me dar uma porrada e jogar Geoge longe, quase na lareira -, a matriarca têm a boca com bigode de leite, leite crú que ela odeia, porém, seu ódio maior é por nós, especialmente, por minha querida irmã Marie. Ela faz com minha irmã como faz com todos - tranca em um quarto, com uma portinha na porta de onde se coloca a comida e a água, apenas broa e água choca.
 ...Meu amigo, eu o catei e de tarde, ele disse "- É hora mexer na Preciosidade...". Digo, " -Tudo bem, esta mesmo na hora, só que não sofra".
 Minha irmã chega às duas da tarde, era pra "estar no leiteiro", sei que não estava, ela "ama" Alvo... Estava com ele fazendo coisas que minha mãe faz com meu pai toda a vez que ele volta, forte e de tremer a casa; só que minha irmã Ilía fez isto na floresta, eu sei, eu já vi da primeira vez...
 Não sei se era a idade, mas, minha linda irmã de cabelos loiros e com partes de carne bem distribuída brigara com minha mãe. A Imperatriz, surrou-a, já era a segunda vez que ela tentava intervir na sua forma de nos educar, a primeira fora quando ela queimou minha perna com uma labareda, afim de me deixar mais quieto, e me deixou. A face de minha irmã era de fúria, eu guardei esta face, guardei pra mim e a Mãe pra ela... Queria quebrar a face de uma garota tão jovial e linda, o que ela nunca fora... Foi atrás do chicote... Mas, desistiu...
 Guardado estava também um colar, um colar de vovó, único ser que me fez um carinho... Ela era dona de tudo, de toda a região... Morreu e não deixou nada pra filha, apenas dinheiro que não poderia tocar, senão quando todos os filhos se casassem... Porém, a Mãe vendeu todas as jóias, todas menos uma... O Colar, verde, como a esperança que minha irmã tinha no beijo de Alvo, ou minha mãe, quando eu me casasse.
 Lá na gaveta, tinha o Colar da esperança... Peguei o vestido de minha irmã, que se banhava, a chave da gaveta - que perto do chicote da Mãe estava - e fui de finhinho, passaria pela porta do lavatório... Chamei "- Ilía!", minha irmã me viu e sorriu, nunca esqueceria o sorriso dela ter me visto falar... Não fazia isto há anos... Porém, quando ela correu nua para me abraçar, corri com seu vestido e o Colar... Não entendendo, e bêbada de alegria, chamou minha mãe e foi atrás de mim...
 Em pelo, pisou na neve... Me seguiu até lá, até seu fim...
 No Poço, o fim, pendurei o Colar, minha linda irmã falou que eu estava louco, pois ficar perto de cair no Poço... Vestiu-se e abraçou-me, viu a joia, a Mãe berrava atrás, Ilía desesperada, tentou pegar a peça... Esticou-se, esticou-se... Quase pegou... Quase...
 A Esperança acabou... Caindo o Colar no Poço, minha mãe agarrou minha irmã pelos cabelos lindos e loiros, a jogou na pedra que construía o Fim da Esperança, em ódio, o cabelo de minha querida Ilía estava sangrando... Nunca mais o chicotinho estalara a noite
 Eu, corri de novo, me escondi entre as árvores antes de tudo ter ocorrido...
 ..."-Muito bem, amigo meu!", ouvi em minha mente
 Dia seguinte, Ilía estava coberta de neve, apenas um pouco de sangue se via... Passei por ela, fui em direção à Estrada da Floresta, pegar o leite crú... Vi o leiteiro muito bravo, com um pau na mão...
 -Onde está sua ir? 
 -O fim está próximo, já é metade de dezembro, o Período de Caça está terminando, termina hoje... -Ouvi a voz na minha cabeça dizer isto, disse, assim, em resposta ao homem que também nunca me vira falar e até que se parecia fisicamente comigo
 -Minha mãe pagará o que minha irmã não fez com você ontem, vá pra nossa casa, no fim desta estradinha, ela estará lá, preparada...
 Eu sabia que hoje era o dia da Mãe tomar seu banho mensal, o Leiteiro, não. Mas, desceu a via, foi ao encontro da Imperadora, eu sentei, esperei... O dia estava bonito, morto... Eu gosto disto...
 ...
 A velha se encontra com o loiro alto que dava leite para minha irmã, ele a toma saindo em panos mínimos... Ela grita, porém, vai deixando, vai deixando até... Até uma vez, duas vezes... Lá vem a terceira...
 A porta abre, no meio da sala suja em que se faz ato de consumação, encontram-se quatro pessoas - Eu, o Leiteiro, a Mãe e alguém que viera comigo, alguém que pouco conheço e que apenas via algumas vezes ao ano... Seu nome? Era Pai.
 A mão com um tacape derruba o Leiteiro que por cima da Mãe estava, ele é chutado várias vezes... Ela também, a Imperatriz também! Nunca vira aquilo...
 Em alguns minutos, o Pai pega o Leiteiro, a Mãe "dormia" descabelada no chão, eu, agachado, via tudo... O lenhador, caçador de ursos, pega o homem que parecia comigo e crava-lhe um galho, como se fosse um peru de Natal - inclusive, Feliz Natal, algo que nunca tive -, o homem bruto acende a fogueira, ouço grunidos...
 Vejo na mesa uma besta, a arma do Pai... A Mãe acorda, eu a olho, eu sorrio a primeira vez para ela, aponto a mesa... A raiva da Imperatriz é forte, ela cata a lançadora de flechas, sai na porta, um, dois, três... Os dardos atravessam a pele de urso do Pai, o forte homem cai...
 -Arrume-se...... Meu filho, vai!!
 "Meu filho", é a primeira vez que escuto isto... Saio apenas com Geoge, uma camisa e uma meia. A Mãe se veste e pega várias coisas, manda eu carregar... Estranho, enquanto pegava as coisas para ir, percebo que o corpo não está mais lá, apenas a fogueira, um "peru" lá está, a pele de urso, não...
 Saímos em direção a estrada... Eu carrego muito peso... Caio antes de chegarmos perto da ligação, a Imperatriz me bate, diz
 -Sam! Sirva pra algo, eu sempre soube que você fora um erro! Desgraçado! - Com um tapa, saio de perto das grandes trouxas de roupas... Olho pra ela, digo
 -Mãe, adeus...
 E o Pai com um machado a acerta, nas costas, a mulher cai - aquela simples mulher!
 Olhei pro barbudo que, tossindo sangue, levanta o machado... Ele desferirá o golpe em mim... Diz, porém
 -Bastardo!
 Não deveria ter dito aquilo... Muita pressão... Tanta que ele erra o golpe e cai, no corpo da mulher morta por ele alguns minutos antes...
 ...
 Eu subo a rua, na Estrada da Floresta... Algumas horas, frio e vento já não me afetam mais, estou sentado em minha trouxa de roupa...
 Até que passa uma carroça, na carroça, um ser com um grande chapéu e máscara de Corvo. Ele diz
 -Muito bem, amigo meu!
 Respondo
 -Obrigado! Sou digno de me libertar agora...
 -Se você o diz, - fala o ser mascarado - o é.
 A carroça sai pela neve, ela cai... Cobriu minha irmã linda, apagou a fogueira do Leiteiro, o casal que é meu Pai e minha Mãe... Minha irmanzinha, bem, ela está protegida do frio... Espero que abra a porta da casa...
 Eu, porém, não ligo pra nada
 A carroça segue pela neve, ela cai como cai o meu passado
 Passado de Sam