Nunca poderia escrever um romance
O tempo das palavras
Sua distância em períodos distantes
Bem, meu amigo, já se deixaram em mim
Recuou-se
Revolto
O mar das frases, dos capítulos perdidos
Sobre náufragos e astronautas, de algum planeta Terra
Escondido sobre minhas pálpebras
Sobre sua boca, que repete o que escrevo agora
Em sua mente, ou em voz alta
As letras de um poeta sem rima
Um romance abortado nos confins de um berço
Vazio
Nunca poderia escrever um romance
Me falta o tempo da palavra
Me falta o tempo
Tempo da alma
Alma em pedaços
De algum terraço
Uma moça me espia na janela
Eu sorrio pra ela
Nunca poderia escrever um romance
Pois, não tenho você
Poeta que está dentro de mim
Você se perdeu
N'algum de meus oceanos mentais
E agora, fiquei com as frases sem rima
Dissabores do mesmo tempero
Fagulha apagada da mesma vela
A iluminar seus ruivos cabelos
Em alguma lua de prata
Ou apenas ilusão
De um terraço que em que vejo
Pássaros na revoada
Voa, voa palavra
Escreve o poema sem rima
Avisa o náufrago de sua sina
Alerta o astronauta os perigos do vazio
Que dali, em meus períodos distantes
Dali escrevo meu romance
Já não mais sabendo entre eu, e a biografia
Recua
Recuo
Volta
Volto
Mar de oceanos de mim
Céu de você, que me lê
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E na severidade, o místico entrou sobre os palácios da Terra, onde os doutores diziam serem a própria Lei. No seu lado sombrio, todo o oceano das amarguras das infindáveis rotinas, dos velhos amigos aos poucos abraços, um pouco de si, ainda aluminado, caminhava, em solo de fúria, por um vale de ois e tchaus nas lágrimas dispersas na chuva. Voa, pássaro, voa e tenta, pois é o que lhe resta
A desculpa que cala a alma
Caldo do espírito, despeja a boca
Quase em vício
Quase em doença
Não admitindo que você é este si mesmo
Que erra
Mas, não sempre
Não sempre, pequeno ser
Há momentos para ser desculpados
Há aqueles em que você merece desculpa
Outros, apenas um abraço resolve
Apenas um pequeno gesto de si
Mas, aquele que falto no outro, no todo
Talvez doa mais
E a atenção dispendida para você
Machuca
Doendo a dor que causa no outro
Por simplesmente você existir
Ser irritante, esquisito, arrogante
Isto é um motivo pra se voar pela janela
Mas, não hoje
Me desculpo de novo, por estas linhas
Você que lê
Desculpe minha companhia, ela é apenas
Humana
Buscando ser livre
Mesmo sendo miserável, bloqueada e pequena
Humana
Viva
Errada
Ao qual, as vezes, acaba acertada
Desculpe o incômodo
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No aro do óculos Pia Andorinha das ideias, gralha que foge aos braços Seu contorno que me dá abraços Salva-vida com palavras
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Nesse arremedo de gente solitário Não se concerta o que não tem peça Felicidade, não acredita Amores, já deixaram todos de lado A guerra, já perdida Sobrou eu, o pensar e a morte. O corpo é um túmulo, amarrado Dentro de si mesmo Por uma inócua sede de ficar vivo De ver como tudo fica De resto, não acredito nas pessoas Não acredito que existam Não posso mais vê-las A atualização foi feita com sucesso Um homem moderno Vendo discursos prontos, vendo palavras belas Vendo ideais Apenas imagens, sem coisas Formas mal feitas Para cabeças sem essência Para povo sem gente Humanos sem pessoas Nesse arremedo de gente, A peça se perdeu, pra se concertar Os atores são péssimos, a harmonia não existe Pego-me em Deus, no silêncio De algum olho amigo Mas, ao leitor que lê Espero, sei na verdade, que não vês nada disto Que és real e ambicioso pra ti mesmo Que sou um fraco, tratável nas pílulas Apenas um vagabundo Apenas um gato vagabundo Miando poeminhas Apenas um homem moderno Remendado Finamente De gente A peça não se fabrica mais E os atores são péssimos
Ao cara que cavou um buraco Foi morar lá Afogando-se na própria merda Apenas se tampou a vala Seguiu-se em frente ---
A fé que deixou De ser certeza Passou pra algo de crença Misto de desespero Em um concreto do muro de fraquezas Por atenção, fama, pavor Puro mundo temporal de forças Que jamais venceria Sem um pouco de humildade e caridade Mas, pra quê? Somos modernos e evoluídos Dizem até que somos livres Só não o sendo de nós mesmos ---
Ajoelhar-se por algo que preste Se a nada se prosta Apenas vai amar a ti mesmo Numa masturbação infinita de si Como fim e destino da humanidade Mas, que morrerá em tal cidade, em tal ano Será logo pó As lembranças de ti acabarão Os amigos também irão Logo, eu deveria também viver o agora Sim! Pego minha bike e vou embora! Mas, o mundo feito de eternos agoras Já não me basta mais... Olho o passado, curioso de seus antepassados Desconfio do futuro, agindo no pouco que posso Porém, ultrapasso o tempo Ajoelhando em silêncio, no cálido d'alma Concordando que miserável que sou Posso ter algo de heróico Se amar, ensinar ou algo assim Transcender um pouco Aquilo que vejo e sinto E apenas repousar Nele Pois, as feridas que tenho e as que faço Estão todas no gênero humano Mas, eu Eu ajoelho à Ele
Sobre seus ombros Estive cuidando seus passos Mas, nunca recebi um nome Nunca recebi nada mais, que um obrigado Estive sempre aqui Estive sempre lá, mesmo naqueles momentos difíceis Naqueles secretos Naqueles em que tudo desconheço Pois, apenas te conheço, pequeno Não mais, não menos que um pequeno grão de areia Imerso em um mundo em que as pessoas Parecem amar as trevas Cultivar ranço Adorar a fofoca Mas, naquele oceano, pequeno Veja, veja que estou em seus ombros E você, você sempre poderá estar sobre os meus Agora, meu filho Agora escuta e escuta bem Nunca te cobrei nada Mas, o preço que tive Foi sempre ver a lágrima tua como a última O sorriso seu como o primeiro de muitos E um abraço de vez em quando
Então, aquele pássaro voou Aos altos céus Na rapina de toda a presa de meus pesos E lá, do Céu Escuto aquela pequena voz, fraca Em alguma doença manca Alguma briga boba Alguma piada ou trejeito engraçado Hey Piá Acorda!
O gato Bichano, rabo pelúcia Entre minhas pernas Sumiu Entrou em alguma dimensão Escondida embaixo da mesa
O segui E lá vi, entre aquela cadeira e papéis velhos Um mundo inteiro de coisas, uma corrente inteira de minérios Prontos a serem lapidados Como jóias escondidas na pedra da mina: Uma carta minha de quando criança Uma velha foto que caíra da escrivaninha Uma lapiseira buscada faz tempo Pequenas coisas, pequeno universo Da carta, havia apenas algo, entre os erros de português "Deus, me dê força imaginar pro mundo inteiro ver" Assinava uma criança cheia de sonhos Dentro de algum adulto que agora, passados os 20 anos Via na foto caída da escrivaninha, outra pessoa Que também fizera promessa Porém, entre a nostalgia salgada de mar e a fotografia Timbrada de nó na garganta Uma lapiseira, olha ela Escrevia e tinha ainda ponta! Ponta de uma lança, ao qual o papel há de respeitar E nela, andante cavaleiro De cavalo ou navio, veleja no mar da frase Numa tarde, noite, de sexta-feira, dos 20 anos depois
E de um gato por inteiro, memórias que trouxe Pensei ser ele mágico ou feiticeiro Apenas queria comida, aquele fuleiro Tomás, meu caro amigo Tómas O gato que viaja minhas memórias em passeio
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Entre tantos leões faceiros Digníssimos de seu próprio cabelo Entre as tartarugas refugiadas em seus próprios canteiros Munidas de sua caça ao próprio dinheiro Até alguns ratos, sentindo o que podem de todo cheiro Ou serpentes a engolir veneno fofoqueiro Uma raposa, uma raposa ruiva de rabo cumprido Não tão boa quanto outra Não de barriga cheia de galinha como aqueles Está lá, espreitando as montanhas, sondando os vales nebulosos E perguntando, perguntando sempre Com um faro, ora falho, de lá pra cá Toda a alma, meu senhor, não é pequena?
Entre as torres da cidade dormem os sonhos dormem os amores dormem lágrimas o que corre sobre mim cai como a chuva da luz do crepúsculo em cada pensamento fugindo entre os olhos no mundo fixa! Fixa! no céu poente da memória
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N'alguma praia entre o fim do mar na linha do horizonte entre a boca dos dois amantes um fim inteiro de todo o amor terminado entre o último abraço de ontem e o amanhã solteiro em seus pensamentos Caminhando na praia estavam os dois perdidos em alguma dimensão paralela nada falavam tudo diziam vi n'aquilo um verdadeiro amor? ou, cúmplices de um crime dois ladrões da alegria do mundo no momento deles abraçaram o tudo, inteiro entre a distância de suas bocas, toque de suas mãos entre a distância da praia à linha do horizonte entre a distância de limite de seus fios de cabelos até aqueles pequenos fios brancos Tudo, inteiro Apenas dois, pra dois N'algo entra no mar Cai no horizonte E me beija Me beija até tudo Tudo estar completo Que crime, isto Que crime
--- Na fumaça, em que todo o fogo Está Minha cabeça funcionando Emitindo Ideias como louco Caçando seus moinhos Conversando com seus demônios Volvendo em seus ventos Ares de pensamento Da brisa até a tempestade, nas frases Na caçada De algum momento Presente, parado no tempo Registrável como poema Ficção de alguma filosofia futura Fumaça de nem sempre fogo Ideia que nem sempre boa Presente que esconde ora fundos vales Ora serras Nebulosas serras! Terras de Sóis, estrelas miradas Artes passadas Que em seus montes, ó serras! Que em seus montes me Aqueça este inverno Nas constelações Torres das pontas góticas de uma capela De todo o meu poema guarde E ali, ali No sacrário que me inspiras a escrever Musa que aquece o coração Da neblina, da fumaça do mundo inteiro Escreva ao menos uma letra da verdade Uma pequena coisa daquilo que passo Da minha alma que presenteio Mundo inteiro Mas, sei, ora sinistro, funesto ou surdo mundo Que jamais preciso dele uma resposta Mas, que eu, Musa Sofia O ajuntarei de perguntas O questionarei nos poderosos, nas coroas e jóias E buscarei nos passarinhos, no orvalho Na rosa Ou no ônibus de manhã, no salgado da padaria Alguma prova desnecessária Apenas porque já está lá No meu peito Que toda a real poesia da alma Já encanta um pouco o verso inteiro Queima cabeça! Queima! Que de sua fumaça, me faz verso!
Olho para gente ao meu redor Vejo montanhas e oceanos Mas, vejo apenas Não sinto Há apenas matéria nessa gente Essa modernidade evoluída Foi do fora, pra dentro e diz que dentro Não há nada Não mais motivos para ser você Apenas mais um Não apenas aceitar ser pequeno Mas, ficar sendo pequeno Mínimo, calado. Em seu lugar Aceitar o que te dizem e revoltar-se Do jeito correto, naquele ou outro Caminho Te chamam de burro, vagabundo Ou romântico E deve ficar quieto Não existe eu, não há fora e dentro é aparente Tudo um jogo de espelhos, prisão ou depressão E no vale de lágrimas, a maior parte Das mesmas coisas, do mais do mesmo Você se aquieta, você apaga. Morre No deserto do que os outros dizem ser correto Errado, injusto ou até mesmo... Real Mas, o real te bate as tripas Te aparece nos momentos chave Em que heróis do cotidiano Dos feitos de pequena escala, mas de profundo toque Dependerão de você Então, o mundo cala Ele não ajuda, envergonha. O nada não serve a nada Apenas a si mesmo O falatório do meio, dos doutores, televisores Alguns amores Nada te ajudará quando o Real te demandar: -Seja agora, ou cale-se para sempre!
Pois, quanto falatório seu espírito aguenta Antes de virar um calado Pó de sapato De alguma montanha agorenta?
"A sorte favorece os audazes", li uma vez Enquanto atravessava de navio, um canal Perdido no tempo dos meus pensamentos.
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Um Quixote sem escudeiro Um homem num deserto de gente Coberto de poeira, sua preguiça do mundo Seus mestres, apenas trouxe decepção ou ranger de dentes É poeta, porém ruim É artista, porém frustrado em outros caminhos Nada tem de muito valor Nada fez de muita coisa Nada fora do mundo do básico, do discreto e até fácil Serei nada? Talvez Mas, sua obra pode ser apenas estender a mão Apenas ouvir Apenas falar o que tem de ser dito E isto, meu caro, seus diplomas e fariseus não darão A paciência O silêncio respeitoso, numa modernidade que apenas Valoriza o grito, o militar e o reagir A ajuda é necessária e a estrutura se faz Resistindo Resistindo a si mesmo, ao maremoto do mundo A fúria de si mesmo Ao abraço que aquieta a dor do outro, mesmo que por segundos Um cavaleiro não se faz apenas de espadas Mas, em andar e errar Aceitar ser errante Lutar em combate quando mesmo o espírito se fragmenta Em lágrimas Em injúrias de si contra si Continue, continue a viver Segure mais um pouco Sustente mais alguém, levante mais um caído Caia, mas, ajude Do jeito que for Se apenas puder escutar, se apenas puder caminhar com outro Faço-o E seu existir, fará sentido pra ele "Abster-se de si, enxergar o outro" Li em um escudo uma vez, num campo de batalha Sempre vindouro ----
Se eu pudesse dar um pequeno conselho de escrita, diria: não mate o seu narrador interior. Não permita que coisas como a escola (universalizada, ou em raros casos, em grupos fechados), os amigos ou pseudo-amigos, os jornais e especialistas - falsos ídolos de idoneidade, destruam a sua capacidade de ler e escrever o próprio mundo, seja por imagens ou figurinhas, cantando com a família ou discutindo com humor numa mesa de domingo, nos causos intermináveis. Sua vida será sua, ela pode ser uma prisão ou um castelo, pode viajar ou lutar em cada minuto, mas, é sua e responsabilidade sua, ser capaz de narrar a si mesmo e não escapar e deixar-se levar pelo falatório, demoníaco, de quem não tem nada haver contigo, mas, pensa saber mais ou que tem o direito de ordenar a vida, não te dar conselhos, mas, ordens.
Escrever um texto decente ou minimamente comunicativo, algo que nunca fiz direito, ou que evito reler por sempre achar incompleto - a vida é incompleta, e é bom que seja assim -, passa por esta capacidade de criar o que existe em uma dimensão nova, diferente. Não é pensamento, nem crença ou fé, é transmissão, é palavra, imagem, é agir no papel passivo para criar um despertar em quem lê. É contar a história ou estória viva, lançar das palavras todo o sangue e ossos, arrasar pelas frases sua ideia, suas memórias contidas e trabalhadas. Lutar, escrever é uma épica aventura de si mesmo para o outro.
E se você não observa ou sente o outro, nunca poderá escrever algo decente ou, até mesmo, falar algo que preste. Poderá fazer outra coisa, várias coisas, o mundo é diverso e pleno de várias atividades, porém, narrar algo, não serás capaz de fazer, talvez em outro momento, quem sabe? Quando seus olhos abrem e você vê aquilo que está fora, poderá escrever sobre o que está dentro e narrar a mínima folha caindo entre o Céu de infinitos grãos de estrelas, como a mais fantástica coisa contida do abraço de seus pais até o tempo de abraçar seus filhos, da ida a escola até a ida para o túmulo, do ver aquela pessoa até beijá-la, naquele dia, na chuva.
Escrever é narrar outro, sabendo que é você, o responsável por aquele mundo, de frases, suspiros e, quem sabe, bocejos. Narração sua, guarde-a, lute-a, faça-a.