quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Mulheres de Vermelho #Agentes do Caos

 Na floresta do Níger ela caminhava, entre grandes carvalhos, cerejeiras e jatobás. Missão: Levar numa cestinha  simples e boba, os códigos para a Artilharia Prateada -localizações e coordenadas para que o ataque ao reino da Rainha Iluminista. Tinha três mestres, os Três Porcos, do reino -claro- de Pigest: Heart, grande produtor de palha, Bravery, o madeireiro, e o Grande Descartes, o Inteligente; eram tempos em que a régua e o esquadro eram mais importantes que a massa dos corpos e seus "corações", tudo deveria ser calculado, planejado. Esta era a missão daquela bela Mulher de Vermelho.
                                                                       Belo corpo, tinha a forma embaixo d'uma letra pê, em cima, um ponto de interrogação, polaca ruiva de olhos verdes, nunca precisou de mais de dois olhares para conquistar um corpo para aquecê-la a noite. Nunca um ser companheiro, apenas um "aquecimento dos pé e de suas outras partes". Para ela, deveria ir apenas a sua avó, em Spell-Without, no centro da floresta Níger... Nada saberia, leitor, que carregava, dentro dum bolo de confeitos, as localizações de todas as bases do futuro reino inimigo dos Três Porcos, o da Rainha Iluminista. Ela não era burra, sabia que não venceriam a guerra contra um reino daqueles, mas a Mulher D'Vermelho nada sabia que guardava a matança de seus amantes, de seus sobrinhos e de algum futuro "príncipe", que a trairia em alguma hora... Enfim, carregamos a morte sem saber que a isto fazemos.
                                                       -Estou deprimido doutor... Tenho força, este poder, mas não sei usá-lo! Minha força se desperdiça com a rotina! Um Homem-Comum não terá seu nome escrito mais que em sua lápide!(...) "-Por que você não se alista?"- Filho duma cadela!, isto que deveria falar para o psicólogo que me atendeu. Apolo Volf, meu nome, 21 anos, na época da consulta eu tinha 17para18, ainda estou sem rumo, sou um adulto sem rumo, lenço ou documento, vivendo num maldito século das Luzes que queimam minhas retinas com sua luz falsa, meus sonhos nada mais são que a reprodução vomitada de alguém que a muito tempo atrás conseguiu realizar alguma coisa e, sem saber, influenciou todos aqueles que hoje são apenas espectros dos verdadeiros interesses! Ah, sou um lopino, ou se preferir, um Lobo, do Reino de Feist, amigo da Rainha Iluminista.
                               "Corpo firme! Minha Nossa Senhora dos Lobos! Que olhos!" -Pensava o Lobo Apolo ao ver a polaca ruiva a andar pela floresta... Ela era seu alvo, ele iria fazer tudo para completar sua missão; saiu dum arbusto; "-Oi", disse ele, ela o viu, viu seu corpo peludo, "-Olá!", lhe respondeu com os olhos vidrados... Ela deu para ele os dois olhares, ele respondeu tudo certo e, apesar de ser um lobo, pareceu mais que um simples macho, ele queria manter o plano, mas, por alguma razão, mudara seu caminho. Passaram-se duas horas e muitas coisas, movimentos e palavras, mais sons e barulhos, de certo.
                                                                                                                            Volf foi andando para Spell-Without, junto, levava um bilhete para a avó da Mulher de Vermelho, encontrá-la em determinada cabana em determinado lugar no meio da floresta de Níger:
 -Quem és tu? -Perguntou a velha a Volf, ele se disse um emissário, ela não acreditou, ele mostrou o Anel de Casto, símbolo a Ordem das Chapéus que sua filha, sua mãe e sua neta participaram; a velha, que tinha em volta de si, tiras de couro com balas e duas espadas na cintura, resolveu acreditar na imensa criatura... Que, para ela, além de imensa, parecia bem potente, se o leitor desavisado pode me compreender. Chamou com sigo mais dois soldados, caçadores, com seus mosquetes e machados.
                                                                                                          Eram três da tarde, Hora da Libertação, como diziam os livros mitológicos, a Velha entrou na barraca, o Lobo ficou com os dois caçadores no lado de fora... "-Que braços grandes você tem..."-Perguntou um dos caçadores, interessado; o outro, pensando ser brincadeira, continuou: "-Que grandes olhos, hein?" -Ele riu, o primeiro a perguntar sorriu, envergonhado. O Lobo Apolo olhava para a porta recém fechada... Esperava.
                                                                                                                                 A Mulher de Vermelho surgiu de trás da porta da pequena cabana, a Velha disse, sem se assustar, mas pegando em sua espada: "Ah, olá!"
 -Sabe, -disse a Menina de Capuz Vermelho- você vovó, nunca me deu um beijo de boa noite, fiz faculdades em Lisboa e Versaille, nunca me falou nada... Mas, hoje a compreendo...
 -O que é isto? Por que esta tentando se confessar?-Riu a Velha depois de responder, ela pegava em sua espada mais firmemente, suava.
 -Nunca quis ser da Ordem, vovó... Queria algo, não sei, talvez uma cantora de ópera-rock, até pianista de Samba! Por que a Ordem?!!
                                           A Velha sabia, não dava pra escapar, esta seria a última missão que ela faria, depois seria a linda polaca ruiva a sua frente, aquela que puxara ela em sua juventude, que seria A Chefe. Mesmo se escapasse, a missão estava comprometida, a cabeça da Velha já estava em uma bandeja para Heart, Bravery e Descartes. Mas, estranhamente, se sentiu libertada, libertada pela liberdade de outro, parecia feliz quando...
                                 Um tiro saído de trás da capa vermelha se ouviu lá dentro, o Lobo arrancou a cara de um dos caçadores, o outro reagiu, o machado zumbiu e arrancou um pedaço do braço do Lobo; Chapéu pulou em cima do caçador, ele deu-lhe um tapa e, na grama verde e macia da floresta do Níger, ele já estava "a postos" para consumir o ato físico com a Mulher de Vermelho... BAM!! A pólvora do mosquete queimou as costas do caçador, a ruiva puxou a faca deste e enfiou tão fundo em sua barriga que foi difícil puxar para de novo enterrar na boca do pervertido... Olhando para trás, ela viu a Velha, morta pelo tiro na porta da cabana, o mosquete que ela poderia ter usado para se salvar, salvou sua assassina, ou sua neta libertada?
                                      "-Adeus!"-Ele me disse... "-Não poderemos ir para as florestas da Riviera, não?"-completou aquele tolo, enquanto nós dois nos esvaíamos em lágrimas, mas tendo sorrisos nelas incrustados... Talvez já de antes nos conhecêssemos, talvez de Lisboa, das aulas de Estudos Humanos? Não sei... Sei que Apolo Volf morreu em meus braços, havíamos nos libertado; corri, corri muito, com minha cesta e a grade coisa que nela guardava, estava livre, sem coração, mas, livre, perto daquilo que chamam de Paz.
                                               ***
 Levantei da cadeira, eu, o escritor. Peguei minha máscara de corvo, pus meu jaleco negro, segui para Lion; tinha que me encontrar com alguém, depois de ter mudado os nomes dos espiões que atacariam ela, eu, um "simples funcionário público de Feist", deveria terminar meu serviço, os códigos pela morte de qualquer perseguidor e mais dois barris de rum repletos de ouro, um preço justo pela aparente "paz de espírito" de nossas vidas mediócres. Peguei a carruagem e fui me encontrar com a Chapéu, a última Mulher de Vermelho.


 MUSIQUETA DA POSTAGEM

 

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