segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Cappello Nero procura #Agentes do Caos

 MUSIQUETA DA POSTAGEM
http://www.youtube.com/watch?v=lwHpLDgWonM


 "Procura-se Cappello Nero"
 Escrito no cartaz amarelado preso na venda do Seu Noel, na velha e triste Acapulco. O cheiro de praia trazia o deserto do interior, o velho Oeste que trazia apenas a areia e o cansaço. Era isto que eu queria, queria ser velho de novo, não imortal, queria poder ter vivido uma vida que não tinha mais, uma coisa que perdera há séculos...
                                Agora, eu era a Vingança. Um senhor dentro da mortalidade
E o cartaz ainda me intrigava, nunca vira ele assim - um dos meus nomes, meus vários -, estava preso naquela porta; logo, uma triste memória, enquanto pegava o navio para ir à Londres. Era perto do Natal, as guirlandas nas portas me deixavam um pouco triste, eu realmente devo ser um cara triste...
 Uma parte do cansaço vinha do fato de que há muito tempo eu procuro por alguém que me substitua. Sou membro de uma organização antiga, ou melhor, sou um dos fundadores desta organização. Podem chamá-la de Agentes, os Agentes do Caos. Tenho um nome perdido, em algum deserto do Velho Mundo eu perdi como meus pais haviam me chamado quando o sopro da vida tocou meus lábios - porém, isto não importa mais.
       Sou Cappello Nero agora, fui o primeiro Líder dos Agentes (nós não temos um chefe na verdade, mas, antigamente, isto foi necessário, as guerras foram sangrentas, aprendi muito, desde manejar uma arma à deixar a mulher amada...); me conhecem como o 1º Aluno, fui aluno do Fundador, posso aniquila-lo com apenas uma mão, porém, não tenho vontade de fazê-lo... Não tenho mais vontade de nada...
 Deprimido? Não, só cansado...
 Dizem que agora é o ano de 1889, não estou me importando a mínima com isto, já passei tantos calendários que não ligo mais pra nada... Apenas tenho uma missão agora: encontra um certo Lancester, ele será o meu substituto. Por quê? Quem liga... Agora eu não ligo mais pra nada... Ligamos quando temos uma vida, eu tinha uma, faz alguns milhares de anos... Hoje, sou apenas Vingança, perdi o que tinha, ganhei uma Missão
 ...
 Descendo do navio, um guarda da alfandega me sonda, eu não ligo, entrego os meus bilhetes e vou em direção à um bairro suburbano... As casas estão coladas umas as outras, colado está o fedor das indústrias e das crianças que morrem de tifo em minhas narinas... No coldre, escondido por um casaco, minha pistola, na cabeça, um chapéu negro - "o chapéu", ele é importante... Guardem ele na sua memória, assim poderão me reconhecer na rua -, levo apenas uma valise e um contrato dizendo:
 Existe apenas um único suspiro entre o Grande e o Pequeno, todos estão no mesmo ar, aquecessem no mesmo fogo, tomam da mesma água e andam na mesma terra. Não me importa o que haja entre os dois, pois agora, o que há entre mim e o deus é apenas uma assinatura.
 Ass.: ___________
 Desculpe, nunca fui poeta, então, inventei estas baboseiras... O tal Lancester tinha que admitir querer ser um Agente, depois, eu lhe daria meu chapéu... Estaria tudo acabado, pronto, era só isto que eu precisava fazer... Ele ficaria como meu substituto e eu me vingaria, teria alguns meses pra isto, mas, pra quem já viajou tanto pela Terra, alguns meses se tornam anos, quando se sabe o caminho.
 Estava num bonde, que nesta terra eles chamam de ônibus. Vi que a rua estava próxima, estavam morando na casa 20, na rua 5 com 78, logo, falaria com Eleven, o novo Primeiro Aluno...
 E então, algo é visto
 Como uma pequena centelha divina, um fogo azul se expande da janela do segundo andar
 Típico, era na casa 20
 Chutei o peito do menino que com jornais estava na minha frente, desci furioso a rua, as pessoas gritavam assustadas. Abria a porta com um soco, derrubei a velha senhora que tentava abrir, desesperada pelo que viu acima, nas escadas; todos se reuniam na porta, com medo - algo que eu perdera há algum tempo...
 -O vaqueiro subiu ali! -Gritaram, mandavam eu sair, não liguei.
 A porta do lugar estava intacta, nada havia ali, apenas um cheiro forte de gordura queimada. Com um chute, a entrada foi feita, olhei para o cubículo, olhei fixamente, mas não acreditava muito bem...
 Era aquela sensação, aquele impacto que se sente, estava perplexo... Eleven, menina de 13 anos, tinha uma faca na mão, deixou ela cair... Nos meus pés...
 Havia fogo ali, muito fogo, azul anil
 Não queimava nada, apenas uma cadeira de balanço e
 O corpo que lá ficava em descanso
 Mortal, silencioso
 Via apenas os chinelos nos pés do homem - parecia um homem, enfim
 Levei ela para fora, enquanto o corpo era consumido...
 ...39 nove minutos depois, olhei no relógio de bolso, estávamos na delegacia, estávamos perto de uma, o que explica a rapidez. Aqui os delegados não usavam estrelas, estranho.
 Eleven seria levada para internato para moças, me disse um jovem guarda, fiz cara de paisagem e olhei para a menina.
 -Tão jovem? Apenas 13 anos? - Falei no meu mau inglês
 -Senhor, deve haver um engano, ela tem 18 anos...
 Olhei pro meu papel no bolso do casaco, estranho... Não havia isto na ficha que peguei aleatoriamente no orfanato de Santa Cruz... A data não estava borrada, eu sabia disto...
 -Ela só é um pouco pequena para a idade, enfim... - Continuou o rapaz - D'onde o senhor conhece a jovem?
 -Eu?
 -Sim, o senhor... - O garoto segurou no seu coldre, pois vira o meu objeto de brilho metálico, um erro
 Senti que não sairia dali, não queria isto... Um bigodudo estava querendo me cercar, dei-lhe um golpe no pescoço, ele caiu; o jovem, tentando usar seu apito, foi recebido com um soco que o fez engolir o objeto de metal, corri pela rua. A suja via me fez desaparecer sem usar um pingo de mágica que está no meu chapéu...
 Por alguma razão, agora estava ali, ligado à moça, Eleven. Eu precisava ajudá-la para que eu fosse libertado para minha Vingança, esta era a hora.
 ...
 O Internato de Santa Joana D'Arc, escuro lugar, lugar fétido. Tudo fedia para mim, que permaneci anos no deserto, na Marcha para o Oeste, apenas algumas flores no jardim me eram caras, mas, isto não importavam...
 -Onde esta a nova moça que chegou aqui?
 -No quarto 22! -Respondeu a freira com medo, ela viu também a minha arma... Deveria escondê-la melhor!
 Sabia que não tinha muito tempo, tinha que ir logo, segui pelos corredores... Ouvi ainda a freira - uma boa mulher - dizer:
 -Ela está com alguém! Um homem negro!
 O temor em dizer a cor do homem me demonstrou seu racismo, coisa estranha desta época, algo bem condizente com os humanos... Eu já fora um deles, ainda era, na verdade... Um pouco mais... "Vivido", isto é fato...
 Abri a porta devagar, 38 em punho
 Olhei o homem, era um padre... Não um da Igreja Cristã, mas, alguma Batista, usavam roupas diferentes... A dele era negra, e não vermelha, como a dos outros...
 -Vire-se! -Disse
 Um foco luminoso tomou conta da sala, não atirei por impulso, nunca faria isto.
 -AAAAAAAAAAHHHHHHHHHH!!!!
 O grito da menina me fez atirar no pé do homem que tentava correr... Tudo ficara iluminado pelas velas novamente, olhei para sua face, me transmitia paz, porém, a paz dos mortos...
 -Calma amigo! Calma! - Me fez ver seu "livro santo", era preto, as páginas também... Muito estranho... Apenas a forca - o símbolo do martírio para as duas religiões - era amarelado e destacava-se com brilho incomum.
 Olhei a menina, estava babando, estava com os olhos virados e em choque...
 Sem me alterar no porte da arma, disse:
 -O que fez com ela?
 -Senhor, eu não fiz nada... Eu apenas...
 Senti ele tentar me acertar com o livro, atirei
 Uma, duas
 Ele pulou para um canto, caindo, levantando-se depois
 Estranho, não acertei, eu nunca erro, nunca.
 Dois pesos caíram no chão, o homem estava perto da porta, imóvel - suava de temor.
 Vi um par de sombras, parecidas com cães, logo, sumiram... Eu deveria achar estranho, mas, isto ficou comum pra mim...
 -Você... Você é um "deles"?
 -"Deles"?
 -... -Ele engoliu seco, jogou o livro no chão, uma fumaça danada saiu de dentro das páginas. Me mantive firme, olhando entre a fumaça, ouvi a porta bater, não atirei, seria fácil, afinal, a única saída seria meu único alvo para acertá-lo, porém, se o fizesse, acertaria uma área vital, não podia matá-lo, não ainda...
 As freiras vieram em seguida, olhavam desoladas a menina, como pedra, ela me fitava. Parecia morta, talvez estivesse; não liguei, senti que não precisava dela ali, o corpo apenas haviam, sua mente não estava sendo sentida por mim...
 -Qual o nome daquele homem?
 -O quê?! -Perguntou a madre que berrava para as outras por um pouco de água
 -O nome... Qual é?
 -... É... É Bournie, ele é pastor... -Ela segurou no meu braço, ainda disse, vendo minha pistola na mão - Senhor, espere a polícia! Digo que o senhor tentou ajudar a pegar aquele... Aquele feiticeiro! Espere a justiça, por favor!
 -Senhora, -eu a respondi - numa situação destas, eu sou a Justiça
 Sai, desci a rua, nada achei... Precisava achar aquele homem...
 A menina, a moça, Eleven Lancester, acabava de morrer no hospital, soube pelos jornais que tentavam relacionar isto com o caso de combustão instantânea ao qual viram no começo desta estória. É fato que eu vi o que aconteceu com ela... Havia fotos de mulheres nuas em volta do dono do lugar... Um homem que se vestia e portava como mendigo, pelo que disseram... Ele entrou em chamas antes de consumar o fato... Porém, não sei se por "alegria demais" ou se algo tinha ver os jovens olhos azuis de Eleven...
 Fato é que Bournie sabia, e se sabia, eu também saberia...
 Havia vindo para esta viagem sem uma vida, apenas com uma missão
 Agora, tinha uma, tinha que conseguir uma novamente
 A de Eleven, a menina de 13 ou 18 anos...
 Mesmo que para isto, a do tal Pastor, fosse tragada por meu 38!

sábado, 10 de dezembro de 2011

Sam, o que matou a mãe #Agentes do Caos

MUSIQUETA DA POSTAGEM

http://www.youtube.com/watch?v=5AqeqAQ1ILI

 Nas florestas frias e tristes da Eurásia, há anos muito, muito no passado, viviam quatro pessoas: Mãe, Sam, o pequeno Sam, Ilía e Marie.
 -Vá comer! Larga isto!
 Foi numa manhã do segundo dia da semana, me lembro até hoje.
 -... -O menino em silêncio... Apenas ouvia, não a Mãe, uma mulher seca e de cabelo a muito loiro, hoje, grisalho, mas seu dinossauro de borracha, -na verdade, um soldadinho de chumbo que teve uma cabeça de dinossauro "implantada" nele- seu nome era Geoge.
 -Menino, amigo meu, vai comer, te fortaleces e preparastes para a guerra... -Falou o ser de dois palmos, com voz macia. "Sim, vou meu amigo", respondeu em pensamento o menino.
 Foi comer, passou o dia calejando as mãos na lavoura podre de batata-doce, ele, sua irmã mais velha Ilía, que parava muitas vezes, ia pra mata e chorava... Talvez sonhasse com Alvo, um menino da quermesse que uma vez deu-lhe um beijo na bochecha e outro, no pescoço, também Marie -a mais nova- estava com ele, uma doida, costumava se cortar com bonecas e gritava as vezes... A noite, quando o pai estava em casa, sempre a noite, sempre com ele; o pai, um lenhador bruto, fora caçar ursos no Oeste, voltaria há três dias, e de novo a pequena irmã choraria de noitinha, baixinho, mas, agora menos.
 Sua rotina, do menino e seu inseparável dinossauro só terminava a noitinha, quando terminava de recolher a lenha e voltava com a irmã Ilía socando manteiga, e sua Mãe olhando ela -com olho estranho-, e com copo de vinho amargo; de madrugada, a noitinha, enquanto o menino sonhava acordado com seu dinossauro -seu amigo- os dois em aventuras, a pilhar castelos e consumir reinos inteiros, com garrucha e sabre na mão, escutava, baixinho a irmã mais velha chorar... Sussurrar... Enquanto a Mãe usava um chicote (pelo menos ao que parecia), e falava coisas estranhas "-Minha cabrinha!", "Meu amor", "Meu docinho de coco"
 Então, algo que apenas iria virar uma nota na mente de todos, menos na minha, pois eu me lembro bem, me lembro do que fiz.
 ...Foi em dezembro, neve pálida na janela infecta, madeira podre, podres pessoas.
 "-Olhas o leite, meu amigo, olhas o leite!", a irmã Marie sempre ia pegar o leite que o vizinho deixava em um balde, perto da Estrada da Floresta. Ele era pago com minha linda irmã mais velha, mas, isto não vem ao caso... O leite deveria seguir um método, pois a Mãe gostava de tudo certinho, ela gostava de tudo limpinho - leite crú não, fervido com lenha que eu trouxera no dia anterior... Quem trazia o leite devia fervê-lo, sempre fora assim, todos seguiam o Método
 Dei o meu amigo Geoge pra Marie, a pequena e doce gritante menininha... Ela se divertiu com a conversa de meu colega, nunca deixara ela pegar nele, pois babava demais. Isto, foi de manhanzinha, enquanto a Mãe dormia, o leite que ela trouxe ficou lá... A minha lenha, também...
 A Mãe, imperadora quando o Pai não estava em casa, pega minha irmã pelos cabelos - sem antes me dar uma porrada e jogar Geoge longe, quase na lareira -, a matriarca têm a boca com bigode de leite, leite crú que ela odeia, porém, seu ódio maior é por nós, especialmente, por minha querida irmã Marie. Ela faz com minha irmã como faz com todos - tranca em um quarto, com uma portinha na porta de onde se coloca a comida e a água, apenas broa e água choca.
 ...Meu amigo, eu o catei e de tarde, ele disse "- É hora mexer na Preciosidade...". Digo, " -Tudo bem, esta mesmo na hora, só que não sofra".
 Minha irmã chega às duas da tarde, era pra "estar no leiteiro", sei que não estava, ela "ama" Alvo... Estava com ele fazendo coisas que minha mãe faz com meu pai toda a vez que ele volta, forte e de tremer a casa; só que minha irmã Ilía fez isto na floresta, eu sei, eu já vi da primeira vez...
 Não sei se era a idade, mas, minha linda irmã de cabelos loiros e com partes de carne bem distribuída brigara com minha mãe. A Imperatriz, surrou-a, já era a segunda vez que ela tentava intervir na sua forma de nos educar, a primeira fora quando ela queimou minha perna com uma labareda, afim de me deixar mais quieto, e me deixou. A face de minha irmã era de fúria, eu guardei esta face, guardei pra mim e a Mãe pra ela... Queria quebrar a face de uma garota tão jovial e linda, o que ela nunca fora... Foi atrás do chicote... Mas, desistiu...
 Guardado estava também um colar, um colar de vovó, único ser que me fez um carinho... Ela era dona de tudo, de toda a região... Morreu e não deixou nada pra filha, apenas dinheiro que não poderia tocar, senão quando todos os filhos se casassem... Porém, a Mãe vendeu todas as jóias, todas menos uma... O Colar, verde, como a esperança que minha irmã tinha no beijo de Alvo, ou minha mãe, quando eu me casasse.
 Lá na gaveta, tinha o Colar da esperança... Peguei o vestido de minha irmã, que se banhava, a chave da gaveta - que perto do chicote da Mãe estava - e fui de finhinho, passaria pela porta do lavatório... Chamei "- Ilía!", minha irmã me viu e sorriu, nunca esqueceria o sorriso dela ter me visto falar... Não fazia isto há anos... Porém, quando ela correu nua para me abraçar, corri com seu vestido e o Colar... Não entendendo, e bêbada de alegria, chamou minha mãe e foi atrás de mim...
 Em pelo, pisou na neve... Me seguiu até lá, até seu fim...
 No Poço, o fim, pendurei o Colar, minha linda irmã falou que eu estava louco, pois ficar perto de cair no Poço... Vestiu-se e abraçou-me, viu a joia, a Mãe berrava atrás, Ilía desesperada, tentou pegar a peça... Esticou-se, esticou-se... Quase pegou... Quase...
 A Esperança acabou... Caindo o Colar no Poço, minha mãe agarrou minha irmã pelos cabelos lindos e loiros, a jogou na pedra que construía o Fim da Esperança, em ódio, o cabelo de minha querida Ilía estava sangrando... Nunca mais o chicotinho estalara a noite
 Eu, corri de novo, me escondi entre as árvores antes de tudo ter ocorrido...
 ..."-Muito bem, amigo meu!", ouvi em minha mente
 Dia seguinte, Ilía estava coberta de neve, apenas um pouco de sangue se via... Passei por ela, fui em direção à Estrada da Floresta, pegar o leite crú... Vi o leiteiro muito bravo, com um pau na mão...
 -Onde está sua ir? 
 -O fim está próximo, já é metade de dezembro, o Período de Caça está terminando, termina hoje... -Ouvi a voz na minha cabeça dizer isto, disse, assim, em resposta ao homem que também nunca me vira falar e até que se parecia fisicamente comigo
 -Minha mãe pagará o que minha irmã não fez com você ontem, vá pra nossa casa, no fim desta estradinha, ela estará lá, preparada...
 Eu sabia que hoje era o dia da Mãe tomar seu banho mensal, o Leiteiro, não. Mas, desceu a via, foi ao encontro da Imperadora, eu sentei, esperei... O dia estava bonito, morto... Eu gosto disto...
 ...
 A velha se encontra com o loiro alto que dava leite para minha irmã, ele a toma saindo em panos mínimos... Ela grita, porém, vai deixando, vai deixando até... Até uma vez, duas vezes... Lá vem a terceira...
 A porta abre, no meio da sala suja em que se faz ato de consumação, encontram-se quatro pessoas - Eu, o Leiteiro, a Mãe e alguém que viera comigo, alguém que pouco conheço e que apenas via algumas vezes ao ano... Seu nome? Era Pai.
 A mão com um tacape derruba o Leiteiro que por cima da Mãe estava, ele é chutado várias vezes... Ela também, a Imperatriz também! Nunca vira aquilo...
 Em alguns minutos, o Pai pega o Leiteiro, a Mãe "dormia" descabelada no chão, eu, agachado, via tudo... O lenhador, caçador de ursos, pega o homem que parecia comigo e crava-lhe um galho, como se fosse um peru de Natal - inclusive, Feliz Natal, algo que nunca tive -, o homem bruto acende a fogueira, ouço grunidos...
 Vejo na mesa uma besta, a arma do Pai... A Mãe acorda, eu a olho, eu sorrio a primeira vez para ela, aponto a mesa... A raiva da Imperatriz é forte, ela cata a lançadora de flechas, sai na porta, um, dois, três... Os dardos atravessam a pele de urso do Pai, o forte homem cai...
 -Arrume-se...... Meu filho, vai!!
 "Meu filho", é a primeira vez que escuto isto... Saio apenas com Geoge, uma camisa e uma meia. A Mãe se veste e pega várias coisas, manda eu carregar... Estranho, enquanto pegava as coisas para ir, percebo que o corpo não está mais lá, apenas a fogueira, um "peru" lá está, a pele de urso, não...
 Saímos em direção a estrada... Eu carrego muito peso... Caio antes de chegarmos perto da ligação, a Imperatriz me bate, diz
 -Sam! Sirva pra algo, eu sempre soube que você fora um erro! Desgraçado! - Com um tapa, saio de perto das grandes trouxas de roupas... Olho pra ela, digo
 -Mãe, adeus...
 E o Pai com um machado a acerta, nas costas, a mulher cai - aquela simples mulher!
 Olhei pro barbudo que, tossindo sangue, levanta o machado... Ele desferirá o golpe em mim... Diz, porém
 -Bastardo!
 Não deveria ter dito aquilo... Muita pressão... Tanta que ele erra o golpe e cai, no corpo da mulher morta por ele alguns minutos antes...
 ...
 Eu subo a rua, na Estrada da Floresta... Algumas horas, frio e vento já não me afetam mais, estou sentado em minha trouxa de roupa...
 Até que passa uma carroça, na carroça, um ser com um grande chapéu e máscara de Corvo. Ele diz
 -Muito bem, amigo meu!
 Respondo
 -Obrigado! Sou digno de me libertar agora...
 -Se você o diz, - fala o ser mascarado - o é.
 A carroça sai pela neve, ela cai... Cobriu minha irmã linda, apagou a fogueira do Leiteiro, o casal que é meu Pai e minha Mãe... Minha irmanzinha, bem, ela está protegida do frio... Espero que abra a porta da casa...
 Eu, porém, não ligo pra nada
 A carroça segue pela neve, ela cai como cai o meu passado
 Passado de Sam

sábado, 3 de dezembro de 2011

O Legado do Vestido Vermelho #Agentes do Caos

 MUSIQUETA DA POSTAGEM

 -Olá!
 -Olá! -Me diz a moça de vestido vermelho belíssimo, belo corte e belo porte, era muito equilibrado o corpo dela... Apesar disto, sabia que embaixo do vestido estava algo que teria de tomar cuidado... É, aquilo...
 Ela puxou duas cadeiras, em uma sentou e na outra pôs os pés com tênis de borracha e pano, pude ver suas pernas mais ou menos brancas... Dependia da onde olhava...
 Concentre-se. Isto não faz parte do negócio.
 -Então, por que me chamou? -Ela pergunta
 -Você sabe, esta na hora de fazer alguma coisa... O Panda Vermelho vai embora, eu, devo Continuar o Legado...
 -Se acha capaz? É um garoto apenas um homem...
 -Um homem com uma coisa de atitude suficiente no meio das pernas e que não vai deixar de fazer o que tem de fazer...
  -Ora, não me faça rir... -Ela ri, alto e grave, posso ver os movimentos que seu peito faz... Puxa pra dentro e pra fora, pra dentro e pra fora... Aquele ar... No vestido vermelho
 Chega então, o primeiro drinque
 .........
 Estava quase chegando à uma da manhã, nada mais falávamos sobre nada... Apenas via a face daquela linda mulher de cabelos castanhos e enrolados... Imaginava coisas, ela, imaginava me morder; sou leitor de mentes... Fazia alguns anos que tinha perdido alguém especial, não estava a fim de nada, mas, a gravidade da cama daquele hotel era mais forte que eu, ela me puxava... Ela me puxava...
                                 Dentro do campo daquilo que havia feito, ela ali, descabelada, lembrava de meus antigos demônios, mas, não tinha mais o que fazer a não ser, esperar o sol chegar...
 ...Um momento pequeno, algo sem importância, no entanto, sempre lembrei daquilo... Era quando eu era um amigo do Panda Vermelho, um velho engraçado... Porém, era agora um simples funcionário do Instituto de Mapeamento da Rede de Saneamento Municipal, ou seja, eu mexia pra onde deveria ir os excrementos de uma cidade inteira, UMA CIDADE INTEIRA...
 Até que, estranhamente, no ônibus em que estava me aparece uma mulher quarentona, ela já fora bonita um dia... Parecia, ao menos, diz ela com voz rouca de quem já engoliu muita coisa por aí;
 -Lembra de mim?
 -...Hm... Olá! Desculpe? -Ela sorriu amarelo com a resposta que dei e respondeu
 -Você deveria saber... Um dia, ia ser chamado... Preciso de você, precisamos de você...
 -Desculpe, ainda não lembro quem é você...
 -Ora! -Ela virou-se e olhei estranhado pra ela, vi o que ela me mostrava, lembrei... 
 -Ahhhhh! Sim!
 .......
 Era o mesmo hotel em que estive com ela uns quatro anos atrás, estava todo destruído, ou melhor, só virara um muquifo maior do que era antes, seu barzinho, no hall, mais ainda... Me contou a quarentona que precisava tirar um cara da sua cola, era um Agente do Caos, isto realmente seria difícil... 
 -Como é o nome dele?
 -Barbatos, Yamamoto Barbatos... -Sorri e até arrisquei uma risada com minha cara amarela de tédio da vida  diária, este era uma lenda; praticamente, todos os Agentes com quem lutei e que valeram a luta comentaram alguma vez dele... Magro, pálido, e cada parte de sua pele era um portal para o Inferno. Ele era um monstro poderosíssimo... Mesmo quando teve sua cabeça decepada, na China, sobreviveu e matou aqueles que o prenderam...
 -Nem pensar... Não vou me arriscar a lutar contra isto...
 -Eu posso pagar, quanto quiser... O que quiser... Sabe disto, sou um anjo, posso fazer o que quiser...
 -Você é uma bêbada, isto que é! Fui naquele seu papo quando fiquei contigo e nada ganhei!
 -Hey, não ia pedir ajuda pra você se não fosse meu último recurso... Você me ajudou com aquela ficada, sabia? Tive um belo ovo teu, vendi pra Eles, pros Agentes... Só não sabia que eles não iam gostar da sua cria...
 Tive vontade de estourar os miolos daquele monstro, mas, só tinha as mãos, não poderia fazer muita coisa... Ela era poderosa, ao que parecia...
 -Como alguém tão débil como você foi fazer negócios com Eles? E por que foi deixar logo um tipo destes bravo? Estou destreinado... Não posso fazer muito, nem tenho uma arma e...
 Ela me olhou com uma cara de morta, parei de falar, a olhei... Não via nada da linda mulher com que dormi anos atrás... "-E... O que aconteceu com você?", perguntei, "-Barbatos... Eu tive que me virar... Quase morri, mas me salvei... Salvei..."
                                     Tirou da bolsa que tinha um ovo enorme, ao qual nem sabia como ela carregava, ou como não percebi antes... Era um ovo negro, porém, como brilho dourado...
 -Isto, bem, é o seu "segundo filho"... -Fiquei sem reação, tentando articular as palavras caladas pelo susto, perguntei
 -Mas, o quê?
 -Você disse uma vez que podia continuar com o que o Chefe Panda Vermelho fazia... Ele sempre jogou pros dois lados, se é que isto existe... Jogue também, eu, não tenho mais tempo...
 -Como... -Olhei pra ela, me mostrou a agora quarentona e antes linda mulher uma marca, a Marca dos Agentes...
 -Vadia! Você quer é me encurralar e...
 -Não seja idiota... Estou te entregando isto pra que tenha algo pra negociar com Barbatos... Ele vai chegar logo, isto é um Selo... O selo que contém minha morte... Cada vez que respiro, pus cai na minha garganta, cada vez que suo, minha pele fica mais velha... Cada vez que choro, minha visão piora... Cada vez que me lembro de como era, bem, isto acontece com todos, mas... Eu perco meu futuro...
 -...Pare de filosofias!! -Meu berro fez com que todos olhassem para a estranha mesa... Ela me deu o ovo e mandou eu sentar novamente na cadeira, já que tinha me levantado quando berrei... Fiz isto, me deu uma arma por baixo da toalha, pude perceber e pegar...
 -O quê?...
 -Acabou meu tempo, Nolan! Vá logo, mas discretamente... Daqui há alguns minutos, saia da mesa e vá pro banheiro, como o ovo nesta bolsa aqui... Saia e cuide do seu filho...
 Refleti apenas por um tempo, vivera muito tempo negando a mim mesmo o que era, o que queria... Era minha chance de Legado, de não ficar apenas registrando e mapeando excremento...
 A comida chega, era um macarrão vagabundo. Dei algumas garfadas no sacrifício. 
 Esperei, levantei, entrei no toalete... Na mesa 7, se não me engano, um homem de bigode e um de chapéu de coco muito estranhos...
 ...
 Sai da cidade com tudo que tinha e com motor do carro quase quebrando de tanto forçá-lo...
 Descobri um tempo depois; o hotel queimou naquela noite, todos mortos, uma mulher de uns quarenta anos sem registro fora pro hospital... Estranhamente, morreu uns dias depois, uma enfermeira que não lembra o que aconteceu, foi a culpada... No corpo, um chapéu de coco misteriosamente colocado... Enfim, ela fora uma boa mulher
 O ovo demorou pra chocar. Quando chocar, não faço a mínima do que vai sair... Pensei no futuro dele, até em fazer uma omelete dele, ou, não sei... Ir na escola, a faculdade, sei lá... Seu futuro e o meu, ele lá, arrumadinho sempre num paninho no banco da frente do carro - com cinto de segurança!
 Sorria as vezes, pensava que ela, a mãe "por acidente", estava de vermelho. Era meu legado, afinal de contas, aquele vestido sempre me disse algo sobre mim mesmo...

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Sixx Valentine, a Menina Obtusa parte 2 #Agentes do Caos

MUSIQUETA DA POSTAGEM

http://www.youtube.com/watch?v=nsF45oe6d5o
http://www.youtube.com/watch?v=nsF45oe6d5o

 E então, numa sala de cinema eu a encontrei.
 Estava vendo algum filme sobre uma noiva que se vinga com técnicas samurais, algo que professores do meu antigo curso deveriam abominar, pois o gosto culto pela arte estava nos empoeirados museus e não nas coisas básicas de cada fim de semana... Eu gostava da violência e "epicidade" dos personagens, porém, não estava muito interessado no filme, pois havia, a um certo tempo, uma estranha luz azul na minha cara, a partir de uma cena de luta, nada mais vi por causa dela. Era ela, seu nome era Azulli.
 Saímos pra comer algo em alguma lanchonete, perto e que só servia pastel... Estava frio e minha garganta ameaçava adoecer... Não via os olhos dela, ela usava uma grande franja de negros cabelos que quase ia até seu nariz, que era meio grande... Ainda queria descobrir d'onde vinha aquela luz azul, todos olhavam a luz azul no meio do peito dela, ela era contrastante ao silêncio que fazia enquanto eu pedia respostas comuns ao flerte: idade, que eu uso pra ver se não cometo crime, signo, pra dar uma despistada e ver se é exotérica, músicas e cantores, pra me surpreender com os gostos de música pesada e outros, de "mocinha"... Este tipo de papo que sempre é lembrado pelos velhos quando -por algum mistério da sorte - ficam se aguentando e se apaixonando na vida diária e chata... Porém, eu não ligava pra aquilo, nem estava pensando em ter aquilo com ela, porém, a luz azul ainda me intrigava...
 -Por que foi ver aquele filme?
 Minha pergunta não teve resposta... Estranhamente, ela me sorriu, enigmaticamente, me disse:
 -Porque as borboletas não voam para trás?
 Nunca entendi isto... E olha que ela me disse várias coisas... Mas, isto, isto eu não entendi...
 Senti algo estranho entre nós, entre uma batatinha e outra, uma resposta esquiva e outra, pensei na gente na cama, pensei no beijo, no calor e no procurar... Mas, isto, eu nunca iria entender... Não, ao menos, antes de terminarmos o refrigerante Soda Corda...
 Um macaco de terno entra em nossas vidas, sim, isto não é um eufemismo racista... Um enorme gorila de terno, que eu conheço e chamo de Frank Calisto, lá estava o desgraçado, berrando:
 -Aí está você!!!
 Saco de meu bolso esquerdo uma arma de bolso -"Segurança primeiro, 38 na mão!" como diria meu mestre-, respondo o animal:
 -O que há? Um homem não pode chamar uma garota pra um pastel?
 -Saia daí! Skelter! Fuja enquanto pode!
 -O que há, cara? Ficou com medo de mocinhas? Me deixa em paz... Preciso "daquilo", sabe? Me deixa que eu te deixo sem uma bala na fuça...
 Ele sorri, diz com sorriso amarelo e sacando uma navalha:
 -Você não sabe onde bota o bedelho, né? Esta pequena matou muito e destruiu tudo... Sabe, né? Tá com ela?
 -...
 Meu tempo de experiência com o Panda Vermelho me fizeram ser muito cauteloso, mesmo com ela, que na época não fazia ideia de quem ela seria.
 -É verdade? -Olhei pra ela de relance, sem deixar de ver o macacão
 -... -Silêncio, ela ficou em silêncio...
 -Ok, -disse em resposta a ela - Pode levar...
                         Ela foi agarrada pelo macaco, depois, não sei o que houve
                         Ela brilhou, um pouquinho mais... Eu vi algo, como nunca tinha visto
                         Homem negro, vestido com batina e sobretudo, atrás dela...
                         Ninguém via, só eu...
                         Eu o conhecia, de fotos em livros secretos, em juras que não poderia cantar nem se fosse de uma banda de canções pesadas... Aquela cara escura com olhos claros - brilhantes, digo, como faróis... Seu nome era Pastor Bournie, um ser misterioso, que comandava muitos e muitas coisas...
 Ele tocou os ombros do pobre Frank, sim, pobre, mesmo ele já tendo tentado me matar... Eu vi aquilo com desprazer... Sua cabeça foi acertada com um soco, todos na lanchonete chinesa correm, os dois brigam e o sangue é espirrado, porém, de Bournie só sai fumaça dos furos, de Calisto, líquido vermelho e grudento...
 Azulli, - sim, eu descobri o nome dela antes, só pra explicar - permanecia parada e com olhos brancos... Puxei ela pra mim, estranhamente, não fez nada, a não ser ficar em estado catatônico... Nós caímos num dos bancos da lanchonete, os dois lutadores, se engalfinhavam, pensei até em usar a minha arma... Mas, contra um gorila e um ser com Bournie? Nem a pau!
 Finalmente, com um soco, o Pastor derruba Frank, ele pisa em sua barriga, eu tentei ajudá-lo - só pensei... Na verdade- Olhei pra Azulli... Vi que, logo, eu seria o próximo, beijei medrosamente sua boca, fiz o mais heroico:
 Sai correndo.
 ... Assim, conheci Sixx Valentine, ainda a chamava de Azulli, nome que ela nunca me contou por que tinha... Apenas poderia ser um apelido, por sua chama azul que crescia... Crescia dentro de todos, dentro de mim, mais ainda...
 ...
 Um prólogo, no mínimo, rotineiro...
 Peguei um ônibus, sujo e triste chuva caía lá fora, dentro de mim também... Olhei pro lado, lá estava ela, com sua franja, olhando pra um celular, talvez na Rede...
 -Olá! -Lhe disse
 -Oi! - Me respondeu...
 -Sobre aquele dia...
 -Gostei do beijo... Foi quente... -Olhou e sorriu... Vi a luz brilhar de novo... Temi por algo como Pastor Bournie aparecer... -Sabe seu amigo? - Ela me disse
 -Sim...
 -Hm... -Ela sorriu
 -Entendi... Você vai fazer o mesmo comigo? -Antes que eu terminasse, ela respondeu:
 -Acho que a sua boca é muito boa pra ficar fora daí! ^-^
 Seu sorriso fez-me ver a luz azul de novo...
 Assim, conheci Azulli, no segundo encontro... Uma menina que nunca me pareceu direta, um ângulo reto... Sempre, meio obtuso
                                E azul, debaixo da franja.


terça-feira, 8 de novembro de 2011

A vida de Vishy Ravana é uma roda #Agentes do Caos

MUSIQUETA DA POSTAGEM
http://www.youtube.com/watch?v=Nfha8kxY7EE


 Era uma manhã de outubro, uma triste manhã que terminava naquele triste cidade de Khartoum City, mas havia no chão outra coisa, aonde pessoas passaram uma vez, um punhado de gritos era coletado por soldados que, atirando com fuzis ou fincando com baionetas, acertavam os chamados "infiéis"... Estas famílias que, antigamente, conseguiam fazer suas rezas cinco vezes por dia, hoje, e aqui nesta cidade, não faziam nada mais do que se esconderem em guetos feitos nos bairros mais distantes do rio, única fonte de água limpa naquele calor dos infernos... O abismo entre "aqueles" e os "outros" havia se tornado insustentável... Por motivos da crença, este elemento estranho de não se ver e dizer que é observado, pensar que alguém liga para sua existência, matava-se naquela cidade, mas, isto não me interessa, aqueles prisioneiros e seus carrascos eram minhas peças, precisava de sua dor.
 Quatro líderes da religião perseguida estavam para ser enforcados, na praça central de um bairro vigiado... Levei um fuzil e uma barra de chocolate, um era pra daqui a alguns instantes, o outro, pra depois, ou vice-versa...
 Leram algo, não sei o que era... Puxaram a corda que dispara a alavanca que faz um mecanismo de morte, os corpos caem em sequência... Um barulho surdo é feito por meus peões... Para eles, talvez fosse uma porta que se abria pro seu Céu...
 Há um barbudo lá, um gordo e um magro... Minha mira, está neles, nas cordas que os carregam pra outro mundo, se é que este existe... No meu fino instante, em que todo o povo dali, naquele gueto, presta atenção em silêncio e temor, escolho quem para sobreviver?
 O gordo se debate, vejo que não aguenta a queda do palanque... O barbudo, esta muito confiante em sua "missão" e deixa o corpo cair levemente para o sono derradeiro... Aquele ser magro, de nome Salim, ele parece bem... Seu irmão, o líder que morreu sem ganhar a minha chance de piedade - pois, quebrou o pescoço, o idiota -, ao seu lado deu-lhe o temor da morte...
 Faço minha escolha, dou dois tiros...
 Um, mata o gordo, o outro, liberta Salim... Há alvoroço, gritos de alegria e surpresa... Sou visto pelos soldados que faziam a segurança do local, tiros saem de seus fuzis... Eu, vestido como os perseguidos, sou por eles protegido - caem sobre as balas e com paus enfrentam espadas e fuzis...
 Corro, corro pelos tiros que não me acertam. Minha barriga arde em chama vermelha, minhas mãos também... Meu nome é Vishy, o Homem Azul...
 *              *          
 -Vishy? O Azul? - Grita aquele ser estranho... Ele está na Embaixada da Laurásia, escondido e dando ordens, é uma cabeça; basicamente, o corpo daquele serzinho de um metro e meio não representa em nada a sua "fúria interna", é um demônio... Perverso matador de crianças que de tão cheio de si, acabou só com a cabeça e uns bracinhos e perninhas... Estranho ser, tem prisioneiros, a Família Carneiro - o pai esta amarrado em uma cadeira, os três filhos, em uma jaula, a mãe, ainda uma bela mulher de 30 e poucos, esta de roupa emborrachada vermelha, esfrega-se no queixo da cabeça voadora para lhe dar prazer... Ou, ele cortaria suas crianças... Eram apenas turistas, agora, são prisioneiros como são os perseguidos desta cidade quente e empoeirada
 -Vishy Ravana... Este desgraçado tem que morrer! -Diz para um subordinado, enquanto este limpa o chão e a mulher come um banana, ao qual dá pedaços para os filhos na jaula... Ela chora... Ele a vê e ri sempre, mas não agora, não com aquele ser andando por aqui, em Khartoum City.
 -Senhor... Por que tem tanto medo deste ser?
 -Por quê?! -Grita o ser - Imbecil!!! - Ele chuta a cabeça do guardinha, uma cabeça chutando outra...
 ...Mas, tudo para, até a cabeça de pensar bobagens... Uma gota de suor salgado corre por minha testa e pela de todos que estão naquela sala, do prédio da Embaixada da Laurásia, que ficava perto de uma certa praça, onde momentos atrás, ouvi-se tiros... Ao qual o leitor sabe de quem são
 ...
 Ouve-se sons para fora do cômodo, depois silêncio... O Homem Azul entra... Sua aparência é assustadora... Agora as roupas brancas típicas da região estão em frangalhos, seu manto negro se mistura com a pele tão branca que é azulada... Em cada mão, um círculo com sete outros dentro, no peito, queima uma gigantesca réplica dos desenhos das mãos... É a chamada "Roda da Fortuna", se ainda me lembro do nome antigo...
 -Você esta vivo?
 -Não, estou como uma Vingança... Eu vim te matar, demônio! -Responde o Homem-Azul ao Homem-Cabeça;
                Aquele que é simplesmente um membro ambulante pula, aperta um botão e logo um sinal toca, soldado aparecem e revela-se a armadilha... Tiros são ouvidos e toda a Família Carneiro vão morrendo, sobram dois filhos... Vishy libera uma luz da mão, quebra as grades da jaula e leva um casal de filhos que sobreviveu... As poças de sangue do soldadinhos, pai e mãe, além do irmão fazem os pequenos chorarem...
               A corrida não é importante, importante é a chegada.
 Aquele homem de sobrenome Ravana, o de pele azul, está cercado numa igreja, a basílica de Krizevci... Ninguém vai mais lá depois da guerra das religiões, só há pó do deserto ali... O sol é quente, mesmo às 4 da tarde... Quinze anos têm os dois irmãos, Vishy olha-os, não sente nada por sua tristeza... Diz
 -Vocês precisam estar vivos... Fiquem vivos...
 -Quem... Quem é você? -Diz a menina, a mais corajosa, logo, a que mais chorou.
 -Meu nome é Vishy Ravana, sim, é estranho...
 -Nossos pais... Você? - O menino pergunta, ele é um pouco esperto, mas esta em um estado quase catatônico...
 -Não trago mortos de novo a vida... Eu só tenho um poder limitado... Mas, isto não importa, vocês têm que ficar vivos, para contar a uma pessoa especial sobre aquela cabeça maldita!
 -Quem? Algum rei ou deus?
 -Não, um Agente do Caos, não sei o que eles são... São pessoas, acho, apenas isto... -O homem azul olha para o nada, lembra de quando os Agentes salvaram sua vida na Ilha de Experiências de um cientista louco, algum desgraçado que cortava pessoas e as misturava com animais... Porém, no caso dele, ele foi combinado com que eu chamo de Angélico, um ser antigo e destruidor... No entanto, Ravana não era um Agente do Caos...
 -Você é um deles? É seu amigo? -Pergunta a menina... Estranho, mas creio que o homem azul tinha uma força no seu olhar de cor mais azul, os dois estavam calmos...
 -Não, mas acho que nunca serei... -Ele responde...
 O ronco de sete tanques e mais de cem soldados fora da Igreja se faz... São máquinas da 1ª Guerra, os Mach gigantescos de ferro, semi-robôs com canhões aonde poderia ser uma "cabeça", eles são as armas mais mortais daquela região... E, logo, o general de Artilharia Pesada, liga de seu telefone vermelho na cabine da arma
 -Alô! Senhor Bes Head! Estamos prontos!
 -Atirem! Atirem com tudo!! - A cabeça de perninhas grita... Ele sorri...
                Tudo começa, e a Igreja vai indo pro chão...
 -Ahhhhhhhhhhhhhhhhhh!!! -Gritam as crianças... Ravana sabe que é o fim, ele sabe que precisa deixar as crianças vivas, para contarem e ele realizar sua vingança... Contra o ser que o criou, contra o maldito que em sua pele escreveu os círculos da destruição...
             "-Os círculos!!!", pensa o homem-azul, ele retira seu manto preto, olha para os dois que gritam enquanto tudo explode, diz;
 -Vocês nascem de novo aos quinze anos... Não morram por simples coisas... Como eu, que salvo suas vidas agora! -E então, ele joga seu casaco em cima dos dois, apenas isto...
 As pedras caem... É o teto vindo abraçar mortalmente... Ele abre os braços, os círculos brilham, as rodas de fogo rodando por toda a parte...
 tudo queima
 pouco a pouco, ele brilha mais ainda
 explode, tudo explode
 a igreja de Krizevci se transforma em pedaços
 os pedaços acertam os soldados
 todos caem, todos morrem
 ...
 -Então, vocês confirmam o que escrevi aqui? -Pergunto para as crianças, os dois estão em silêncio, no hotel que fica na cidade parcialmente destruída no centro por uma "misteriosa" explosão; ainda sujos, com um aceno de cabeça confirmam tudo... Me levanto... Com esta história que relatei aqui já escrita e corrigida no computador à vapor...
 Coloco minha máscara de gás, aquele jovem sonhador...  Ao menos, conseguiu minha ajuda... Da parede do quarto, eu invoco um rinoceronte, me transformo num corvo e pouso sobre seu ombro... Esta quente e a cidade cria seus jovens tornando-os órfãos, como um dia foi Vishy Ravana, que "...Tinha na pele círculos desenhados e no coração circulava apenas lágrimas.", sim, acho que isto é um bom final para o meu diário sobre ele... Agora, é hora da cabeça voadora rolar!

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Sixx Valentine, a Menina Obtusa parte 1 #Agentes do Caos

 MUSIQUETA DA POSTAGEM



 Era um ângulo desajustado aquele serzinho. Não variava de mim em estatura, mas a chamava de minha pequena. Seus cabelos, longos e negros, sua franja que cobria parte da testa, me faziam passear pelos seus vales ébano - com minha boca e nariz, tocava seus pelos da cabeça e do corpo nesta viagem inebriante e quente, porém, nunca achei direito o que queria, nunca tive tempo para isto.
No entanto, isto será contado apenas depois, bem depois. Primeiro, eu, Helter Skelter, preciso contar a História, enfadonha e triste como tudo neste livro, no entanto, cheia de um mistério em cada palavra que ainda faz seu autor –ou quem quer que esteja a copiar isto daqui- a ler e reler nas noites de uma sexta-feira, buscando uma referência ou segredo para presentear os leitores mais assíduos, ou seja, os que prestam e que se conta nos dedos do pé de uma serpente.
 Pois bem, no fim do século das Revoluções, aquele que foi cheio de guerras e sangue, ideologias e depressões, ao qual poderíamos chamar de qualquer um, pois sempre tendemos a pensar que a nossa era passada foi a com maiores mudanças, e que mesmo assim -com esta questão quase que filosófica que coloquei, ou seja, sem importância - defino como o século XX. Fora numa cidade que esqueci o nome, mesmo tendo amado loucamente aquela moça... Só que à sua sombra ao qual me apaixonei não importava muito de onde vinha, só que a amasse...
 Ela tinha problemas, sim, tinha.
 Sua frase mais bela da vida era dita todo o dia de manhã, e era apenas um "-Bom dia!"
 Deixou na adolescência o cabelo crescer, na infância, não mais sabia que brincar e pular... Até que um diz, lá pelos oito, uma sombra passou pelo quarto de sua mãe, ela entrou, silenciosa a menina sapeca viu uma cena que não entendeu
 Um ser com olhos vermelhos agarrava sua pobre mãe pelos longos cabelos, em cima dela, fazia estranhos movimentos repetitivos...
 Ele se assustou e se vestiu... A menina, pequena e ainda em silêncio, ouvia sua mãe gritar... O líquido vermelho que sai de suas pernas manchava seus pequenos pés... Era inocente a criança...
 -Olá! -Disse o ser que se revelava um enorme homem com uma toalha branca como roupa, além de uma barba ruiva estranha...
 ... -Silêncio foi a resposta da pequena Valentine. Ele elevou sua mão com garras, vermelhas pelo sangue das partes da mãe, um movimento, corte preciso... A pequena garota ainda tentou correr... Sua nuca acertada tomba o corpo de apenas um metro no chão do corredor, ele vai em direção a filha, a mãe o segura -ainda "pintando" o chão com o meio das pernas -, ele a joga para o lado e dá um golpe final
                        Luz, MUITA LUZ
 ...
 O ser vai andando para trás, ele está queimado da metade do corpo para cima, os olhos estão inflamados, sua cabeça é uma ferida com pus... A janela do quarto, cai o corpo do ser maligno...
 A mãe grita, a filha em silêncio.
 Três anos depois, a mãe também está em silêncio, a casa amarela em que eles vivem está toda em silêncio.
 Até que em uma segunda, ou terça, não me lembro como ela contou... Só lembro dela dizer: "-A mãe tentou voar...", meu amor continuou, "...Só que ela não conseguiu". Um suicídio e uma ida para um orfanato, aí o cabelo dela voltou a crescer, e ela também, espichou... 
 Duas coisas ainda tenho que comentar
 Primeira, é que o ser maligno era o pai de minha querida
 Segunda, ainda mais importante, é que do pai veio uma herança, que da mãe passou para a filha, e dela, bem, nela ficou o presente, um livro de páginas negras, que assobiava histórias assustadoras, canções que a pequena Valentine ia ouvindo aos poucos, escutava assim como toda a sua família desgraçada... Mas, nela houve algo diferente...
 Cada ponta do seu dedo tinha uma grande força que crescia, cada pequena extremidade que a menina, até o cabelo negro de morte, tinha como um conto de horror; nomes, pequenos sentimentos ruins -ou que fugimos na maioria das vezes - haviam ali
 Na mão esquerda, a falta de criatividade
 Direita, a fúria
 Seios, ou peito, suspiro da paixão
 Sob os pés, a preguiça, e a procrastinação no olhar
 E embaixo de cada fio de cabelo, um pequeno ser de chama escura, um pequeno pedaço de solidão, silenciosa como a fala da menina para o mundo, silenciosa como um túmulo, como era para o mundo ... Em odesso, língua da família da menina, Sixx, seu primeiro nome, quando lhe conheci melhor
 Assim se constitui-a os poderes de Sixx Valentine, a menina de cabelos negros. Mas, não só do que podem fazer se fazem os personagens daqui, e sim do que fizeram e nunca do são realmente.
(...)

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Há última tulipa #Agentes do Caos

MUSIQUETA DA POSTAGEM

 Eram tempos difíceis, havia alguma neve no chão da cidade, a pequena cidade no País dos Moinhos. Pequenos flocos que ao respirar queimavam... Eram cinzas, não neve, agora posso ver com clareza.
 O canto das metralhadoras saboreava o sangue dos guerreiros aos ventos... Os antigos soldados dos castelos murados caíam como goiabas podres aos meus pés... Castroland, antiga terra dos reis fugidos de Holanda agora estava seca e estéril naquela guerra, não mais haviam ali as tulipas, apenas ramos mortos na terra morta... Eu fora poeta na capital, agora era um cabo qualquer, que escapava pelas trincheiras da guerra da Junta. Minha família, a ruiva Miriam, a pequena e loira Melissa e o leãozinho Marcos tinham ficado presos em um trem nas Cavernas de Ponta Grossa... E meus pés me levavam para eles, de alguma forma...
 Minha tropa marchava para lá, nossos aviões bombardiaram tudo... Meu medo de minha esposa jovem e meus gêmeos, qua há três anos iluminaram a minha vida sombria de um casamento falido, estarem todos sobre as pedras em chamas impelia meu corpo na frente da Companhia, a 27ª Companhia Armada Volante –nome bonito pra quem era escolhido para morrer na linha de frente, a bucha de canhão que antes desta maldita guerra tinha um nome e uma casa, agora, apenas uma corrente de metal identificante para ajudar na hora da ida para a lápide.
 Durante a madrugada, lá pelas 3 da manhã, chegamos na cidade... A arquitetura holandesa em chamas, nada mais das fábricas de sapatos ou de baionetas... Eu visitara com meus filhos este lugar, quando eles nasceram, há alguns anos... Só reconheci –no breu iluminado pelas chamas – o chafariz da cidade, seco, como minha esperança a cada passo dado pela fina camada de cinzas que respirava pelas narinas.
 Ouvi um berro... Isto já era de manhã, começavam os raios do sol chato do fim da primavera. Era perto de um estábulo, ou algo do gênero...
 -General!
 Minha posição de sentido foi dada com indiferença pelo homem loiro e magro, era o General Güstaf, o Ceifeiro; seu nome não era há toa, acabara de cortar com uma foice negra que partira de sua mão direita a veia do pescoço de um soldado da Junta... A sombra voltou para a sua mão, perguntei-lhe, com medo e respeito, se havia alguém vivo na Estação ali perto:
 -Não, apenas corpos queimados, a maioria eram de pessoas que estavam indo para Londinus, porém não conseguiram chegar nas fortalezas da Cidade do Norte... Nossos aviões os acertaram em cheio...
 Contive as lágrimas, ele percebeu... Não tinha medo de sua foice sombria, nem das asas de espinhos ou dos olhos escarlates que diziam que aquele demônio com o qual trabalhei – servi – seis meses possuía. Temi por outra coisa, ele parecia que se alimentava de sonhos, de ilusões, vi em seus olhos e me contavam os camaradas; meu corpo de poeta e o que restava de minha crença em espírito estavam ali, na frente de um ser muitíssimo estranho e forte...
 Me mostrou uma marca no braço, era um Corvo, disse:
 -Limpe tudo aqui, as marcas de sangue e pedras soltas... Junte tudo, os pedaços destas construções e sangue destes guerreiros trarão quem quer que queira de volta...
 E eu fui arrumando, ainda insólito era minha ação, sem vontade, ou apenas agindo.
 Cada pedra e cada mancha de sangue limpa, corpo levado para um canto, madeira posta de lado, fui colocando tudo dentro daquela pequena praça em frente ao estábulo... Tirando metralhadoras inimigas, jogando pra lá e pra cá, ia me limpando dos meus medos, da minha preocupação, lembranças boas e ruins de minha família e, finalmente, de minha esperança... O dia estava claro e estava com um sono muito pesado quando terminei, porém, era estranho: ninguém dera minha falta na Companhia, não vieram me procurar. Talvez fosse a névoa que tomava conta do lugar, deixando-o mais soturno, apesar da luz invadir os destroços e o resto de cidade que ainda havia... Ou fosse eu, que de alguma forma me desapareci
 E então caiu um livrinho no meu pé, me abaixei, peguei e tentei olhar d’onde viera, nada havia, apenas uma sombra que se moveu pela fumaça em cima da costrução que limpava, pensei em segui-la, mas antes, dei uma olhada no livro: chamava-se “Odisséia”, li o título e, como estalo, lembrei de minhas aulas de catecismo, quando aprendemos sobre os livros impuros... Este, era um deles, logo, li ele na minha adolescência com as pernas tremulas e medo de que algum professor me pegasse em tal pecado mortal; lá estava ele novamente, aquele pequeno livreto...
 Eu tinha sonhado uma vez, antes de me enveredar por poesias e constituir família, eu havia sonhado realmente... Sonhos e mais sonhos de poder e glória que as carinhas de minhas crianças haviam apagado... De certa forma, algo que tinha gostado...
 Meus olhos, por isto, pelo Desejo, pareciam brilhar de novo... Sorri com os dentes verdes e comecei a andar para alguma direção oposta a guerra, oposta àquele cemitério dos bons soldados doadores...
 -Papai! –Escuto de repente e me volto para as névoas... Lá estão eles, lá esta ela, uma coisa que chamei de família, algo que matou meus desejos carnais, porém, liberou outros –nem melhores, nem piores, apenas, diferentes, talvez...
 Seus olhos sombrios e brilhantes demonstravam que algo estava errado com aqueles seres... No entanto, sabia que era minha família, minha âncora... Dei um passo para frente, olhei-os nos olhos, vi algo que antes não admitia:
 -Me trouxe quem eu queria de volta... – Sussurrei estas palavras para mim mesmo, em um pequeno momento de suor e frio na espinha, olhando para a minha antiga mulher, filho e filha, sombras coloridas em tons de lembrança... Nada como isto: apenas pó.
 Eu me encontrara novamente, dei meia volta e deixei-os lá, apodrecendo... Meu nome agora era Ulisses e estava indo de volta para Minha Casa
 E Minha Casa era Minha Vida.
 Ao qual, pelas sombras da neblina de uma destruída Terra das Tulipas desapareci.
 Minhas últimas flores de jardim, morreram secas sem que eu as tivesse regado.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

O Nome da Bolha #Agentes do Caos

 hoje é segunda feira e estou sem muita coisa pra fazer no escritório
 há nove mil anos, os bárbaros tentavam sobreviver em suas cavernas e primeiras cidades, hoje, nós tentamos nos proteger de nós mesmos... Nunca vou entender como cheguei neste ponto... Um ser sensível demais com a própria vida e intolerante com a dos outros...
 Sentado em um banco de praça, minha cabeça de bolha não coça... Literalmente, a fina faixa de água esta sobre um pescoço vazio, o terno completa o traje. Você, o leitor, não tem como imaginar... Gosta de histórias que falem a sua língua, que mantenham você aquecido na fogueira de um dia escuro de inverno... Infelizmente, todo o dia e toda a hora que corre até que a minha bolha na cabeça exploda e eu desapareça -desmaiando no meio da rua, enquanto vou para o trabalho - será exercida para ir contra isto...
 Meu nome, bem, é ninguém... Na metade de nosso século, com as Crises Sociais, houve uma série de rebeliões e guerras biológicas e atômicas nas enormes favelas e cidades de aço e bronze, o mundo foi pintado de cinza e vermelho, o pó verde matou meus filhos e meu pai, eu fiquei vivo, depois que minha baioneta calou muitos de seus netos e filhos... Então, entrei para o Programa K.A.O.S, do senhor  Reiza-Fu, um milionário oriental... Congelaram uma imagem de minha mente, agora não sofro mais, fui reanimado numa bolha, meu corpo é uma sombra, minha língua não existe... Não falo, não me expresso... Apenas o trabalho me define, o pensamento de Classes esta ao extremo... Não preciso mais nada que o meu trabalho, o Homem com Valor é aquele com o Trabalho dentro de Sua Classe, só isto... Todo o resto, fora apagado, o mundo é agora igual e bom, pois não conhecemos o que é o mal.
 Parece filosófico, mas, não há nada o que fazer quando não se pode expressar além de pensar - e filosofar. É hora de ficar calado, pois o horário de almoço acabou, vou para o elevador no prédio à frente do parque, minha bolha treme, subindo para o 6º andar, na sala 66, ali esta a Repartição de Assuntos do Ciberespaço número 333, mas, não fazemos nada além de escrever dados...
 Uma cidade inteira nisto, corpos mortos, apenas bolhas nas cabeças... Nossa materialidade esta em escrever e repetir o que o Povo do Passado, vocês, fizeram, nossas ideias, permanecem conosco, presas em nossas bolhas, guardadas para nós, pois estamos tão inseridos no Sistema, na Classe das Bolhas, que não conseguimos falar sobre nada além de algum "ploc, ploc!".
 Minha vida fora boa antes, agora, ela é normal... Nada de mais... Olho para o computador com uma tela fundida a um teclado de touch screen, parece uma vírgula, nunca erro uma digitação, pois a máquina me corrige sempre. Nunca errar, pois nunca se tenta fazer nada além do normal, aí está a humanidade desta bolha que vos fala...
 Leio e digito algo... É uma palavra estranha, não é nem Amor, Liberdade ou Fraternidade; assim como não tem nada haver com divindade ou razão... Apenas um pequeno trecho de um livro antigo, da metade 1500 da Era Cristã... Sobre um cavaleiro, seja lá o que isto for...
                  Escrevo, falo a pequena palavra...
 Todas as outras bolhas me olham, eu sei disto. Quando começo a ditar a frase, o pequeno conjunto de caracteres vai tomando o ar de silêncio sepulcral e, de repente, vai tomando conta um medo coletivo, levantam-se os outros e cada um, muito trêmulo, segura um material de escritório...
 Um gordo, ao qual almoço sempre, me acerta no braço... Quase sou furado, mas com meu susto e o ataque dele, todos em mim se aglutinam... Correm para cima de mim e eu corro -como bom humano-, na direção contrária...
 Sigo pelas vielas escuras e mofadas, por becos feitos pelos biombos em que trabalhamos... Minha corrida é cega... Pois, nunca correra de algo, nunca tivera por que correr e temer, estava em um mundo perfeito, sem medo e dor, era uma bolha
                   Bem, eu era...  Na corrida pelas escadas e para pegar o elevador no outro andar, encontro mais atacantes, o aviso fora dado, via as telas que todos olham
 Estou sendo caçado, pelo quê? Por ser diferente...
 Correndo contra o tempo e contra todos... Sem fé e com medo, começo a sentir a minha cabeça de bolha flamejar... Nada faz sentido, pois nada esta em um Sistema... Tudo esta... Esta na minha cabeça, cabeça de bolha!
 Pela praça em frente ao prédio, uma multidão de seres bolha caçam a minha cabeça... As novas ideias fervem em minha mente... Não posso aguentar!!
 Vejo alguém na minha frente... Seria uma alegoria desta história maluca? Um Panda Vermelho, de terno, e meio humanoide, ele talvez sempre estivesse ali, eu que nunca o vira... Ele sorri para mim e diz;
 -Não posso te salvar, mas, sou o teu alter-ego... Uma pequena máscara que te protege deste sol... Você tem um nome agora, chama-se Soad, ou, na minha língua, sabão... Limpe esta sua cara e derrote-os, você é apenas uma frágil bolha, é um mortal, tão fraco e tão simples de abater que apenas dentro de sua bolha considerou-se imortal... Mesmo sem emoção alguma, sem palavra alguma, o seu pensar, se achar importante em algum Sistema ou algo do gênero o fez pensar que sua vida não teria fim, pois tinha que vencer algo ou alguém... Ela tem, é agora... E o que fez antes da bolha explodir?
 ... ... ... ... ...
 -Soad...
                Ploc!
 A bolha tremeu e explodiu... A pressão fora muito grande, era algo demais para qualquer um...
 O corpo caiu e a multidão atrás do "revoltoso" parou, estavam portando todo o tipo de coisa, mas nada tentaram fazer para o corpo que cai... Pararam e voltaram para suas vidas, para o seu escrever eterno...
 O sol batia face do Panda Vermelho, seus grandes dentes a mostra em uma cabeça desproporcional ao corpo humanoide brilharam com o pôr do sol - ele ficara por horas ali, observando a "capa" morta do antigo ser bolha. Disse;
 -Escolheu bem até, escolheu ter um nome... -E desapareceu na sombra da Cidade
 Da Cidade das Bolhas, a mais frágil e mais poderosa de um Sistema de Classes de bolhas
 Apenas uma Bolha que teve um nome.



MUSIQUETA DA POSTAGEM

domingo, 25 de setembro de 2011

Luz nas lentes de uma máquina refletem seu Sistema #Agentes do Caos

1897, e a prisão em que ele estava queimou; correndo enquanto a confusão se dava na cidade fria e cheia de pinheiros, ele conseguiu fugir...
 Agora, meu suspiro à vapor se dá ao mesmo tempo que olho a sua face, ele me vê e teme: treze anos depois, está de frente para um ser de metal com canos de exaustão, mesmo eu, ficaria com medo. Diz ele:
 -Por que esta aqui, Nomoté?
 -Por que você roubou aquilo, Bento? -Minhas lentes estão ofuscadas pela luz das lamparinas elétricas da rua... Não o enxergo, é uma questão de tempo até que descubra.
 -O Coração do Panda não é tão importante... É só uma pedra velha e empoeirada, pensei que não nos importássemos com este tipo de coisa, pensei que quiséssemos liberar o caos no mundo... A Contra-Arte, foi o que busquei... Meus livros, meus negócios com a Máfia Polaca, tudo isto e ainda quer me matar?
 -Você não entende... As colinas dos campos não têm mais flores, apenas olhos que nos espreitam... Há muitas coisas envolvidas, a Crise dos Orwell, a Grande Guerra no norte... Há ainda alguém querendo este Coração... Alguém que pode levantar os corpos, alguém que...
 -Quer trair? É isto? Sou seu amigo... Instalei você aqui... Me ajudou a muito tempo... E agora a traição pra mim... Não adianta, não? Nós somos apenas formigas, e você são elefantes... Defende a Liberdade, mas é só outro grupo que quer Criar um Sistema! Malditos sejam!
 -Não fale assim... Ainda há chance... Sua mulher se foi há treze anos, teu filho também, não pode fechar a mão só porque quer mais alguns trocados... -Minha voz mecânica presente algo, treme, escuto algo, pela luz, nada vejo
 A 22 canta, diz meu amigo:
 -Morte a ti! Malditos sejam os Agentes do Caos!
 A 22 canta novamente, meu antigo amigo corre, um acertou um gato que por uma cerca passava -ouvi seu "miau"- o outro, em meu braço, na parte de metal nada fez... Estava preparado. Ouço os paços, retiro o cano do bolso do casaco, a escopeta cortada sai do dispositivo da mão direita, monto, calmo, atiro
 Pá! na perna do meu outrora amigo, outro em sua bacia... Ele cambaleia... Meus tiros foram favorecidos pela minha troca de posição, sai da luz, mas vi chegar  a sua ajuda mafiosa, o carro para e sai dois, pistola e metralhadora, droga!
 "...Podemos realmente estar criando Algum Controle...", penso ao imaginar como o Novo Século nos deu poder, o Caos do Progresso nos fortaleceu, mas, alguns querem mandar... Eu recebera uma carta sem nome outro dia... Dizia que "eu devo continuar", mas, o quê? Por que o Caos e não a Paz? Será que eles são diferentes? Não somo disciplinados desde pequenos a pensar "na paz" que não nos acostumamos a "parar a guerra" quando nas portas de nossas casas ela mata nosso companheiro de colégio? Preferimos matar para que outros não nos incomodem... Temos que manter por sangue nossa própria paz... Aceitar isto, bem, acho que talvez eu tenha aceitado, enquanto levava aquela rajada de metralhadora e morria um pouco mais... Só por dentro, naquilo que minha mãe crente chamava de alma
 Desviando para uma marquise, para não levar mais tiros, vi o meu alvo entrar no carro de seus "amigos"; em um momento de fuga, os outros dois pararam, eu sai e corri, atirei naquele da pistola... Tinha que parar o carro, ele saia, mesmo acertando ainda o pescoço daquele com metralhadora... Não pararam, saíram e quase os peguei:
 -Parado! -Berrou o da pistola, mirando para a minha cabeça... Ele sangrava pela boca, me movi rápido e tirei como uma espada uma escopeta de dois canos, a faca na ponta corta a face do capanga, talvez ele tivesse filhos, mas isto não era da minha conta. O caro sai com os dois ferido e atiro... A fumaça toma conta, mas apenas destruí a parte traseira, ele ainda anda... Assim como a vigília-de-rua. Minha resposta é sair correndo.
 A corrida foi por dias, de uma pequena pensão para outra, sempre com entrada pela janela, pagando para uma prostituta alugar o quarto. Mas, não poderia deixar o tal Coração nas mãos quem me odeia, é como deixar que a ex-mulher dê o beijo por sua namorada, ou pedir pra uma gato dar comida a seu cão, porém... O por quê de meu desejo de protegê-lo era estranho... Apenas uma pedra desejada por outro, apenas um símbolo para que alguém revivesse um antigo guerreiro, eu, sendo um ser de metal e sangue por mim mesmo revivido, poderia muito bem me acostumar com alguém que compartilhasse a imortalidade comigo... Porém, não sou imortal, ao que parece, sou só mais um número no sistema...
 Em um domingo, chega uma carta sem nome que me diz: "Você é apenas um número, para outros, para quem você teme que exista... Pra que se sub julgar a um Sistema, quando ele apenas existe na sua cabeça? Pode ser um número para o seu temor, mas não o precisa ser para você mesmo". Saí do quarto, desci as escadas da vazia pensão e fui me escondendo pela rua, a algum tempo tinha o endereço, faltava-me... Faltava-me o eu.
 Entrar e subir as escadas do domingo em que todos vão pela manhã na missa... Alguém tenta me receber com alguma pistola, logo, vejo que não consegue, o que levara um tiro no pescoço n'outro dia estava com uma sacola de pão, ao qual seu sangue se misturou...
 -O que?!... -Entrei e chutei as bolas, ele caiu, meu velho amigo, jogado num canto...
 -Então... -Fala com dor, meu pé tem chapas de metal - Você quer acabar comigo? Por uma droga de pedra?!! Trair-me por Eles?!!
 -Não, não por Eles... Por mim...
 Ele viu que nada poderia fazer, apontou para uma gaveta em um móvel velho, lá estava seu Coração, num velho móvel... Abri, nada havia... Só outro entrou na sala, tirei a pistola e o recebi com uma balaço no rosto... Meu amigo foge, a única fuga que poderia:
                      Tenta voar... Mas, não é ideia, nem pássaro que caga na cabeça
 Cai de maduro, no paralelepípedo duro da cidade grossa... O frio entra em minha mente... Não consegui.
 ...
 A porta abre novamente, minha mão poderia atirar, mas não, ele tem uma máscara alongada e vermelha, se diz Um de Nós, eu acredito, ele mostra no pulso um sinal de corvo...
 -Eu falhei, veio me buscar pela minha traição?
 -Acha mesmo que Ele queria ter o Coração? Ele quer mais que Sam o leve...
 Sam, um aliado nosso estranho... Não sabia que era ele... Mas, ainda não entendia...
 -Por que matei meu amigo? Um capricho?
 -Ele não foi morto, ele quis se libertar... Sua mão parou no gatilho antes de fazer qualquer coisa...
 -Então, o que eu procuro?
 -Bem, o Coração já está ali, no espelho, veja que ele é apenas uma fina folha de prata, quebre-o e terá a pedra... -olhei para a velha peça refletora, fui até ela, ouvindo os gritos de passantes que olhavam meu amigo morto na calçada... -Achou o que queria? O que queríamos era isto...
 Por momentos, vi o rosto com a máscara refletido, virei para trás e ouvi o bater de asas de um corvo...
 O veneno da dúvida me corroeu e eu quis ser um dos que morrem anonimamente de novo, logo, percebi que, como meu amigo, apenas alguns poucos se importavam pelo que eu fazia... No fundo, estávamos todos numa Enorme Rede... Mas, e daí? Seria que o quê vi no espelho era apenas uma chapa de metal e carne, ou a minha chapa de metal e carne...
 Talvez os dois.
 Escuto o subir das escadas.



MUSIQUETA DA POSTAGEM
http://letras.terra.com.br/iggy-pop/406114/#traducao

sábado, 17 de setembro de 2011

Um último voar de borboleta #Agentes do Caos

 Ela me olhou com seus olhos de maré, novamente, estava perdido entre o ali e o aqui. Apenas os lençóis revirados e lenços cobrindo as faces na cidade Borboleta. Apenas uma chama azul corria no centro dos prédios, Azulli, a pequena com cabelos negros e franja, alguma altura, pouca massa no corpo, nada de mais, ela não soube a sua importância, nem ela, nem a nossa ciência Patafísica
 Nada como um dos dias mais escuros que já vi, um dia estranho em que a cidade de Allan Poe escurecia as suas vistas e os fluxos contínuos de carros e máquinas humanas, as pessoas da megalópole, eram as únicas que davam um pouco de lanternas àquela situação... Azulli andava por pedras lisas da grande cidade do continente sul-americano, seus pés brancos tocavam descalços o chão escuro... Tudo parecia um gigantesca globo em tons de cinza que saía do chão até o chão, logo, a única que vi foi ela, toda muito confusa, aquela era um dos seres mais impressionantes que os Agentes do Caos haviam visto, ela era um deles, talvez um dos maiores, mas não sabia disto -acabava por não conhecer a nós mesmos, como é comum-, apesar deste "erro" comum, eu não liguei, pois minha arma feita com ossos do Antigo Tubarão me deixavam invulnerável, os olhos delas em sua franja, idioticamente imortal
 Ela andava pelos subúrbios, pois pelas ruas sujas da cidade que cresceu pelo trigo, ela não tinha um quinhão do pão; sozinha, cheguei por trás, minha espada estava guardada, dentro da calça, como um pequeno alfinete... Meus dedos foram como cordas de violão tocadas em seu corpo...
     Um pequeno chamar e ela se assustou, me conhecia de algum lugar... A Máscara de Dopp, o doppelganger, me disfarçou e eu cheguei perto dela, meu nome era Denis Raven, um amigo de escola. Ela me abraçou e falou que era muito bom encontrar-me... Eu, por dentro da máscara, sorri quando ela me tocou com seu corpo branco e com alguns pontos de pelos pretos...
 Levei-a para um pequeno hotel na cidade velha, a Casbah, os tons cinzas misturavam com o amarelo e eu via sua face pálida se misturar com o vermelho cada vez que com um gracejo lançava meus tentáculos sobre Azulli. Logo, cheguei em um ponto, no 3º andar, quarto trancado e algum tempo de conversa... O ponto era aquele, chegava a hora de consumar o ato!
     Lancei minhas mãos grandes sobre ela e a coloquei de costas para mim, peguei um tubo de borracha que guardava no osso da perna direita e cravei atravessando seu corpo, saquei outro do outro membro e coloquei na outra direção, sua dor parecia não me incomodar... Fui até a cozinha e peguei uma panela, colocava alguns fios para poder gerar um transferidor, pois precisava curar ela, a garota havia explodido um bairro inteiro -foi divulgado no jornal que havia sido uma explosão de gás, um bueiro que voava pelo céu e desencadeou a situação... Eu sabia que não... Ela era um ser que em meus estudos de patafísica e de filosofia, descobri que se chamava Copo, um ser que acumulava seus sentimentos em uma timidez e um silêncio tão perturbadores, que apenas o amor - paixão poderia fazer com que fosse possível capturar sua força... Sua expressão, seu Sentir, a capacidade mais poderosa que encontrei...
           Eu, uma máquina, apenas via que nela eu poderia capturar o meu poder, mas nunca imaginei aquilo: "Ela era bela"; sou uma máquina do século XIX, sou Mach III, não deveria sentir nada... Não tinha mais que metade do meu rosto de carne que implantei dos mortos, os esquecidos por todos, ao quais os seres humanos pregam que devemos temer em tornar-se um, e igualmente tentam amar seus parentes mortos, em um contrassenso que me faz duvidar de uma das duas atitudes humanas sobre os falecidos...Eu, uma máquina, não morria, apenas continuei minha caminhada até o começo de um novo século e, novamente, começo outro...
                        Olhava pra ela no entanto, para Azulli, ela olhou com ódio por um espelho, logo, percebi que minha máscara caiu, ela já não mais parecia o que ela queria ver... Senti um arrepio... As luzes ligaram sozinhas e era dia, começou o quarto a dar saltos, rápidos, e sedentos, não sabendo eu se eram meus olhos ou algo assim, retirei a escopeta portátil de meu braço... Mirei nela, ouvi apenas em minha cabeça, como se eu dissesse a mim mesmo:
 -Não pode derrotá-la, ela acredita em você, sua crença o destrói, robô e Ser Racional, o Ser Humano Máquina.
 De repente, quatro sombras saíram de seu corpo e cresceram a minha altura, que não era pouco... Eles tinham caras de corvo e pegaram minha arma. Minhas tentativas de soltar-me foram inúteis... A mão desceu sobre minha face... Desativei
                             Desativei por um tempo, havia apenas algumas horas eu planejava conquistar a menina e conseguir sua força... Conseguir me tornar humano... Mas, a Fada Azul não recompensou esta marionete, pois, sentada em um banco, com quatro sombras ao seu lado e no seu olho a cor de dentro branco estava... Estava meu sonho... Manda a sentença a garota:
 -Você viveu para enganar, enganar-se... Viveu achando que em algum momento da vida iria se tornar um ser poderoso, pensou que poderia conseguir realizar seus sonhos... Não pode, pois ninguém sonha na verdade... São apenas memórias organizadas em sua mente... O que ocorre é o que faz com mãos e pedras, durante o tempo que esta acordado... -Ela chegou perto do meu ouvido:
                                          -Eu, Azillis, sou teu fim, pois você e suas pedras param por aqui... Sonhou mais que agiu, não usou nem a proporção 3/4 dos camundongos... Como ratinho na ratoeira, te liberto!
 O golpe na costela e eu senti o cabo de borracha entrar, o outro, eu conseguia sentir... EU SENTIA!!! Porém, estava beira da morte, não me adianta nada agora, se por fios eu tenho sangue, se por circuitos, tenho nervos... Tudo se resumi a um pequeno momento tolo...
 Os peças explodiram, quando por alguns segundos não vi mais que minha cabeça voando em um explosão... Girou, girou e girou... Havia um Parque Verde lá, olhei para cima e vi uma pequena borboleta azul voando... A Morte me beijou ali... Com sua boca fria, havia por um momento, sonhado e agido
         Agora é tarde, pois a borboleta continuou a voar e nada mais vi, a não ser sonhos.



MUSIQUETA DA POSTAGEM
http://pt.wikipedia.org/wiki/Pataf%C3%ADsica

http://www.youtube.com/watch?v=kAjl21R7yBM&feature=fvsr

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Pílulas de Vida #Agentes do Caos

 "Quando você cai de um penhasco com as asas de Ícaro, de cera, se acha a maioral, não?"

Mesmo que ela não quisesse, já sentia-se ligada ao cara, ao tal do Ulisses Joyce
 Porém, não havia muito sentido isto, pois ela voava com suas asas de metal ainda, em movimentos constantes de uma borboleta flamejante. A chama azul que emitia a sua alma infante não condizia com aquele lorde que esbanjava opulência e nunca, jamais, tinha vertido uma única lágrima de alegria... Havendo apenas conduzido seus líquidos dos olhos por motivos tristes, ou ainda, de ira. Tinha uma pele de bronze ele, ela gostava de sua barba ao sol... O que naquele tempo havia muito, pois ainda não se falava dos buracos no céu, nem dos grades tubos que vomitavam a fumaça negra que copulava com as nuvens e nos dava como infante o câncer em nossos pulmões.
 Ela, em um dia de paixão exacerbada, ao andar numa rua de Julgamento -viela suja e suada de proletários de uma fábrica próxima de barris e de piche-, cai no chão... Ela parece desorientada... Sente o cheiro do perigo e tentando correr, é agarrada por homem franzino e muito estropiado, ele a joga no chão e logo mais três se juntam a ele... Ele esta com uma cara triste, mas ainda assim, tira o pequeno vestido branco da moça e, os quatro carrascos tiram dela aquilo que ela nem ligava muito... Algo que por sua ignorância de nunca frequentar uma Escola ou Oficina de Ensino, nunca lhe fora revelado ser preciso guardar para que o marido -disposto de toda tradição e pompa deplorável- "fizesse o serviço"... Mas, nada destes Valores que sempre xingamos em tudo e todos e depois, em época próxima, acostumamos e aceitamos estava ali em discussão com aquele moça... Dor, apenas isto, dor visceral e por dentro das dobrinhas da pobre ex-moça...
 LEMBROU UMA VEZ
 ...A menina de franja cospe a pílula branca que a dei... Esta mais pálida que a fórmula que a dei, ou mesmo um céu de setembro... Os olhos negros e brilhantes me fitam, nunca percebi como eles eram profundos e me tomavam por completo... Não pensei em mais nada, peguei outra pequena pílula, agora vermelha, e dei a ela...
          *
 Passou-se alguns meses depois, logo, era uma pessoa muito magra aquela que um dia parecia um ser alado e brilhante. Quieta, a idade não correspondente em um número de anos, mas de peso das tristezas e perdas, caiu seu belo corpo em um monte de ossos e carne parca.
 Ulysses a encontra, tem um óculos redondo e uma careca crescente, porém, ainda admira a coragem dela... Ela, tentava arrumar o cabelo embaraçado, o vestido de bolinhas sujo, fora de moda... Nada tirava a sua cara de tola...
 O Maior Amor dela diz:
 -Minha querida, fora eu.
 -... - A mudez dela é profunda... O silêncio que fez assustou até mesmo a este narrador; quieto, sofrido, cada costela do corpo magro que uma vez fora belo foi pegando fogo, a pele parecia querer que o resto fosse vomitado... Porém, não foi... Ela, em silêncio
 -O que acha que podes fazer, além do ódio e a sua cobiça de Vingança? -O homem baixo e de chapéu de coco a assusta
 -Por quê?
 -Você me pergunta razões? Bem, eu deitaria com você... Entretanto, queria terminar uma história, você seria uma personagem perfeita... Acompanho teus passos e escrevi grosso romance sobre tua vida... Desculpe, nunca tive muita imaginação, logo, usei você... Fora uma simples e tão boba personagem...
 LEMBROU DUAS VEZES
 ...Ela me olhava e chorava, não aguentava mais ficar sentada naquela cadeira... Pensei em parar com aquilo, não dar a 3ª pílula, a verde e comprida... Minha instabilidade passou e ela percebeu minhas mãos suando por fora do terno... Ela aperta minha mão, com olhos ainda em lágrimas... Diz:
 -Um beijo em sua face pelos seus pensamentos... Um beijo em sua boca, para que me deixe ser o que preciso ser...
 Dei a pílula
                  *
 Dois meses, parcos dois meses num início de século em que as máquinas substituíram os homens, as ferramentas da Rede de Cobre, os cérebros, os cães, as crianças... Apesar d'eu ter um cão chamado Rufus. Neste impressionante sistema gangrenado e que parecido mal distribuído para uns, muito pouco para outros e nada pra alguns, nada como uma Prisão Municipal, e lá a ex-moça, ex-velha e agora destruída residia... Sobre as cinzas paredes e o sol escaldante de um verão chato, ela reflete sobre como acabara ali... Ela não sabe... Só lembra que uma vez tentou voar quando criança... Pois, pensava que era uma borboleta...
 Houve uma visita, no início de setembro, era o governador... Homem magro, um pouco alto, óculos redondos... Imagens que se formam, novamente, algo que se diz como esperança se alia as lembranças de uma amor rubro e sanguíneo, assim como faz suas bases sobre uma pureza branca a muito perdida... Ela o olha, sorri, o velho não a reconhece... Ela nada mais é que um farrapo humano em tempos de Terceira Peste, porém, Ulisses Joyce tem medo, algo tão visceral como fora aquele irromper da proteção do feminino dela forçadamente para o seu puro prazer... Ele não sabia o por quê, mas, tratou de fugir dali e ficou num hotel naquela noite...
 A prisão era protegida, porém, não tanto como deveria ser... Uma faca improvisada, uma pequena distração - uma presa em chamas -, tudo para que o leão saia da jaula e pegue seu domador, aquele que criara a sua Fúria.
 Descobrir o Hotel, fácil, apenas um era 5 estrelas na pequena Julgamento, algo para o crime... As mãos, os dentes, os joelhos, apenas o corpo que o demônio caído havia maculado com um plano de escrita... Um escritor que usou uma vida para ascender a altos céus e discursos para  ascender à altas cadeiras não mereceria mais que isto... "Um corpo e alma por corpo e alma, um dente por dente, literalmente", foi com este pensamento que ela achou e entrou no quarto.
 Escuro, um recinto escuro, um careca dorme e acorda... Vê um fantasma de seu passado... Este ser pavoroso a luz uma vela, diz:
 -Por quê? Porque eu te amei demais, te odiei demais... Logo, minha paixão deve ser respondida com este último beijo...
 Ela salta sobre o homem, ele, em pânico, tenta alcançar uma mesa, aonde na gaveta, um 22 pode salvá-lo, ela o abraça e beija mortalmente, mais e mais sangue se espalha... Abre-se a gaveta, a garganta já pedindo arrego... Ouve-se um estrondo
 LEMBROU TRÊS VEZES
 -...
 Fiquei sem palavras... Olhava para ela, em estado catatônico... Repeti seu nome muitas vezes:
 -Karmem! Karmem! Mily? Pode me ouvir?
 O terno suado me fazia parecer um pinguim... Nunca deveríamos ter tentado aquilo... Eu quase chorei sobre as asas de Ícaro de minha maior criação... Presas, as grandes fagulhas de metais brilhantes, nada ali fora feito por mim... O que fiz foi fabricar com ela uma grande coisa, sem nome ainda, mas que me fez lutar em diversas batalhas... Nada demais seria se ficássemos cada um com suas memórias, mas, ela me mostrou o que tinha por dentro, por cada pílula que dei, cada coisa que lembrou... Não sabia se eram dela, ela era uma criação, uma máquina que voava pelas ideias de muitos e que esbarrara por acaso com um louco.
 -Estou bem... -Ela sorri e me beija
 -O quê, ou o que é aquela mulher? Quem é Ulisses?
 -Ele, ele é o que cada um de nós poderia ter sido... Ele é o que esta em nós, muitos nomes, para a mulher e para Joyce nós temos... Os mais comuns, damos muitos valor, os mais complicados, são esquecidos...
 -Então, só foi um sonho?
 -Nada é um sonho quando se acredita que ele existiu... Assim se fez com sua vida, assim eu fiz com a minha...
 -O que existe além do que nós vemos?
 -Ora, tome a pílula e veja... Cada uma te leva a um lugar e vida específica...
 -E por que tudo pareceu com a tal mulher e o tal Ulisses?
 -Hm... -Ela sorriu e se espreguiçou, lindo e com um bom corpo, completou - Tudo as vezes é um sonho, e os sonhos não tem regras...
 Um beijo e eu tentei dormir, tentei sonhar aquela noite... Ou acordar de um sonho



MUSIQUETA DA POSTAGEM

http://www.youtube.com/watch?v=0t5nJsH9rM4&feature=player_embedded