quarta-feira, 15 de maio de 2019

Honesto, andar, Galope do Enforcado

Ventrículo, de seu coração
Pesa ao levar a água
Que compõe o meu sangue
Você que se esconde nas sombras de meu ser
Busco imediatamente, como procuro
Palavras para descrever que:
O que é original é prisioneiro de si
O honesto, é livre ao mundo
Corre fluído, máximo possível expresso
Nesta língua que escrevo
Aviva do ventrículo ao poeta
Que pelo poema, se fará o mais falante
da mudez que existe na palavra
Que diga tudo o quanto possível
Naquele que pode não ser original
Mas, honesto consigo.

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O que faz andar é aquele passo ainda não dado.

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Enforcado na beira-da-estrada
Passei por ele, condenado
Eu a cavalo, a galope
Ele, porto de pássaros, pendurado
Livre de meus passos, preso em meus pensamentos
Já dele não obtinha respostas, era mudo
Surdo estava seu peito
Como eu cego do que tinha feito
Pensei mesmo que ele era mais livre
Pois eu, preso neste terreno de possibilidades
Delas, só abraçava a angústia

Condenado, ele era eu
Na beira de uma estrada
Me achei cavaleiro viajante
Como enforcado pedante
Entre Quixote e Judas

Passou-se o tempo em meus passos
Já nada mais ali havia pendurado naquele poste
Nem eu, meu cavalo
Não saberia dizer se sonho ou não
Me ver enforcado cavaleiro, errante-pendurado
Sabia daquela estrada
Ela ainda estava lá
Era minha vida
A única mantida, contida
Entre cavalos e cordas

O próximo passo
É aquele que ainda será dado.

"Galope do enforcado"

Moro no bosque, Domingo furioso

Eu moro naquele bosque
Perto da serra
Onde um riacho se esconde
Entre o meio de meu peito
Silenciosa, melancolia
Alimenta meu espírito
Com aquilo que não tive
Obtendo
Alguma ou outra alegria
Mas, apatia
Tudo apatia

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Na fúria, de um domingo
Qualquer
Famílias voltam com sua criançada escandalosa
Em pais mais escandalosos
Tudo, um bravio de bestas
Mecânicas, ônibus, parques moldados
Tudo, um qualquer
Sol de outono coroa a cabeça com calor
A gritaria das máquinas e crianças permanece
A serra de minha casa está longe
O lar do meu peito, desbastado de novas
Árvores está
No mundo
Máquinas e crianças-pais, tagarelam
Tagarelar pra não deixar-se o silêncio
Tomar de si
A voz mecânica
E num coro preso, sem tom ou som
As vozes se abafam, na barulheira
De domingo

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