domingo, 12 de agosto de 2018

Sobre os ombros



Sobre seus ombros
Estive cuidando seus passos
Mas, nunca recebi um nome
Nunca recebi nada mais, que um obrigado
Estive sempre aqui
Estive sempre lá, mesmo naqueles momentos difíceis
Naqueles secretos
Naqueles em que tudo desconheço
Pois, apenas te conheço, pequeno
Não mais, não menos que um pequeno grão de areia
Imerso em um mundo em que as pessoas
Parecem amar as trevas
Cultivar ranço
Adorar a fofoca
Mas, naquele oceano, pequeno
Veja, veja que estou em seus ombros
E você, você sempre poderá estar sobre os meus
Agora, meu filho
Agora escuta e escuta bem
Nunca te cobrei nada
Mas, o preço que tive
Foi sempre ver a lágrima tua como a última
O sorriso seu como o primeiro de muitos
E um abraço de vez em quando


Então, aquele pássaro voou
Aos altos céus
Na rapina de toda a presa de meus pesos
E lá, do Céu
Escuto aquela pequena voz, fraca
Em alguma doença manca
Alguma briga boba
Alguma piada ou trejeito engraçado
Hey
Piá
Acorda!

Sobre seus ombros


sábado, 11 de agosto de 2018

Sábado mais um Tomás o gato e raposa

O gato
Bichano, rabo pelúcia
Entre minhas pernas
Sumiu
Entrou em alguma dimensão
Escondida embaixo da mesa

O segui
E lá vi, entre aquela cadeira e papéis velhos
Um mundo inteiro de coisas, uma corrente inteira de minérios
Prontos a serem lapidados
Como jóias escondidas na pedra da mina:
Uma carta minha de quando criança
Uma velha foto que caíra da escrivaninha
Uma lapiseira buscada faz tempo
Pequenas coisas, pequeno universo
Da carta, havia apenas algo, entre os erros de português
"Deus, me dê força imaginar pro mundo inteiro ver"
Assinava uma criança cheia de sonhos
Dentro de algum adulto que agora, passados os 20 anos
Via na foto caída da escrivaninha, outra pessoa
Que também fizera promessa
Porém, entre a nostalgia salgada de mar e a fotografia
Timbrada de nó na garganta
Uma lapiseira, olha ela
Escrevia e tinha ainda ponta!
Ponta de uma lança, ao qual o papel há de respeitar
E nela, andante cavaleiro
De cavalo ou navio, veleja no mar da frase
Numa tarde, noite, de sexta-feira, dos 20 anos depois

E de um gato por inteiro, memórias que trouxe
Pensei ser ele mágico ou feiticeiro
Apenas queria comida, aquele fuleiro
Tomás, meu caro amigo Tómas
O gato que viaja minhas memórias em passeio

---

Entre tantos leões faceiros
Digníssimos de seu próprio cabelo
Entre as tartarugas refugiadas em seus próprios canteiros
Munidas de sua caça ao próprio dinheiro
Até alguns ratos, sentindo o que podem de todo cheiro
Ou serpentes a engolir veneno fofoqueiro
Uma raposa, uma raposa ruiva de rabo cumprido
Não tão boa quanto outra
Não de barriga cheia de galinha como aqueles
Está lá, espreitando as montanhas, sondando os vales nebulosos
E perguntando, perguntando sempre
Com um faro, ora falho, de lá pra cá
Toda a alma, meu senhor, não é pequena?

Sábado com algum french touch


Entre as torres da cidade
dormem os sonhos
dormem os amores
dormem lágrimas
o que corre sobre mim
cai como a chuva
da luz do crepúsculo
em cada pensamento
fugindo entre os olhos no mundo
fixa! Fixa!
no céu poente da memória


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N'alguma praia
entre o fim do mar
na linha do horizonte
entre a boca dos dois amantes
um fim inteiro de todo o amor
terminado entre o último abraço de ontem
e o amanhã solteiro
em seus pensamentos
Caminhando na praia
estavam os dois
perdidos em alguma dimensão paralela
nada falavam
tudo diziam
vi n'aquilo um verdadeiro amor?
ou, cúmplices de um crime
dois ladrões da alegria do mundo
no momento deles
abraçaram o tudo, inteiro
entre a distância de suas bocas, toque de suas mãos
entre a distância da praia à linha do horizonte
entre a distância de limite de seus fios de cabelos
até aqueles pequenos fios brancos
Tudo, inteiro
Apenas dois, pra dois
N'algo entra no mar
Cai no horizonte
E me beija
Me beija até tudo
Tudo estar completo
Que crime, isto
Que crime

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Na fumaça, em que todo o fogo
Está
Minha cabeça funcionando
Emitindo
Ideias como louco
Caçando seus moinhos
Conversando com seus demônios
Volvendo em seus ventos
Ares de pensamento
Da brisa até a tempestade, nas frases
Na caçada
De algum momento
Presente, parado no tempo
Registrável como poema
Ficção de alguma filosofia futura
Fumaça de nem sempre fogo
Ideia que nem sempre boa
Presente que esconde ora fundos vales
Ora serras
Nebulosas serras! Terras de Sóis, estrelas miradas
Artes passadas
Que em seus montes, ó serras! Que em seus montes me
Aqueça este inverno
Nas constelações
Torres das pontas góticas de uma capela
De todo o meu poema guarde
E ali, ali
No sacrário que me inspiras a escrever
Musa que aquece o coração
Da neblina, da fumaça do mundo inteiro
Escreva ao menos uma letra da verdade
Uma pequena coisa daquilo que passo
Da minha alma que presenteio
Mundo inteiro
Mas, sei, ora sinistro, funesto ou surdo mundo
Que jamais preciso dele uma resposta
Mas, que eu, Musa Sofia
O ajuntarei de perguntas
O questionarei nos poderosos, nas coroas e jóias
E buscarei nos passarinhos, no orvalho
Na rosa
Ou no ônibus de manhã, no salgado da padaria
Alguma prova desnecessária
Apenas porque já está lá
No meu peito
Que toda a real poesia da alma
Já encanta um pouco o verso inteiro
Queima cabeça! Queima! Que de sua fumaça, me faz verso!