quarta-feira, 25 de junho de 2014

Poema número 5

Ela permanece
Quem?
Ela ficava me olhando ali, enquanto lia a primeira edição de "Origem das Espécies"
Ela permanece ali, me olhando volúpia com os olhos da serpente de cabeça redonda
Ali, permanece olhando quase que em cima da parede, eu me lembro
Ela estava lá, quando passei numa rua de luz da lua
Lá, na esquina, me esperando de vestido verde da esperança
Quando passei pelo sorveteiro e deu nó na garganta
Estava ali, comendo sorvete na cara de outra ou de outro, ali, gulosa como a gargantua
Ela permanece, eu não conseguia achá-la
Acordei, numa manhã bem cedo, busquei ela numa compota de doce
Mas, não, ela não estava lá, porém, permanecia
Não lembrava mais seu nome, mas, a minha barba continuava a crescer e ficar com
Pelos grisalhos
Não olhava mais pra ela, mas, ela permanecia ali, toda a olhada no espelho
Olhar escapava pelo canto em busca dela, no meu ombro
Mas, não, ninguém estava lá, porém, ela permanece
Te odeio consciência, mente e lembrança opaca
Pois, há toda a luz que meu cérebro de macaco dá, vinte e cinco escuridões
Volúpias, risonhas e me olhando com olhos verdes nas paredes
Surgem
E ali, permanecem, ali
Porém, eu não estou mais. Quando passei a fugir delas, me entreguei ao bom combate
Acabou. Ninguém mais permanece
Se foram comigo, me levaram no pé da cama, de mansinho, com beijinho
Agora, eu permaneço em você.



(Escher)

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Da essência da cristalização

A nave de força arredondada vai descendo a atmosfera escura do Planeta Bgloom lentamente, os instrumentos são anulados devido a quantidade extrema de cinzas do tipo preta. Quando se pode ver a superfície do planeta, gélida e desértica, o comandante da expedição, Tombias Biastom, ordena para seus seis comandados:
 -Ativem os discos, vamos descer! Encontraremos com a embaixadora nas coordenadas em nosso UPS (Sistema de Posicionamento Universal), só olhar os pontos vermelhos, vamos logo!
 A descida é complicada, os ventos gelados não cessam e todos já começam a colocar seus capacetes prateados e ligar a térmica dos colãs, pois, mesmo não saindo dos discos, a calefação é desligada para a energia ser toda direcionada para os estabilizadores do disco, que, neste momento, fica na vertical, pois, poderá cortar os ventos do planeta mais facilmente.
 Pouso, hora do dia 12 horas, nenhuma luz aparente, apenas, tudo é preto e branco - um filme noir.
 Descem cinco e vão até uma escotilha que emana uma luz rósea, primeira cor que eles vêem. Abrindo tal escotilha, um tubo-escorregador os leva até um salão amplo, tudo ainda é cinzento, porém, menos do que antes. Então, um enorme abelídeo surge e Tombias, tocando no peito magro e elevando a mão em direção ao ser, diz:
 -Nós saudamos o Gentil e Sincero Embaixador Colomai Iu Iu Xi.
 A criatura, sem dizer uma só palavra, retira uma espada de brilho azul das costas e toca na cabeça do capitão: "trato feito" surge no leito óptico dos tribulantes.
 -Aonde está - continua o comandante - a Embaixadora?^
 -...
 -Estou aqui, comandante Tombias Biastom! - Uma jovem de capa roxa, cabelos brancos e marca na bochecha esquerda de floco de neve (o que a identifica como um clone especial) surgiu, sua presença forte e de mesma espécie, alegrou o capitão:
 -Olá! Eu a saúdo, Embaixadora Zira!
 -Zira Iu Iu Xi, senhor!
 -Ó, ok!
 Feitos os cumprimentos, o grupo desce por outro escorregador, no fundo do salão vazio. O ambiente muda, uma cidade azul surge, tudo brilha palidamente, as ruas, aonde passam outros abelídeos em trajes brancos, parecem não se importar com os alienígenas transitando em suas vielas. Reunidos em uma das construções azuis, Zira relata que:
 -Os Bgloons agora que foram descobertos pelo nosso Império, gostariam de usar nossos recursos poderosos para descobrir algo importante para a sua cultura, que, como vocês vêm, ainda não atingiu o mesmo estágio que a "nossa".
 -Sim, eles querem saber sua origem - diz um dos integrantes da expedição
 -Algo comum, para gêneros menores como eles - relata outra. Tombias sorri de canto de boca.
 -Exatamente. Porém, eles não são tão ignorantes senhora. Se eles pudessem descobrir o que existe na mais profunda das regiões deste planeta, eles o fariam, porém, não o podem... É algo antigo demais, quase mais do que nosso próprio Império...
 -... – O embaixador Colomai, em silêncio, a tudo escuta, emite apenas assobios de sua respiração.
 -Então... – Prevendo o mal-estar, o capitão se levanta da onde estava sentado – Vamos logo a tal lugar!
O grupo se dirige até as estalagens da cidade, aonde encontram centenas dos chamados bisões-bgloom, enormes quadrúpedes marrons e redondos.
 -Agora, capitão e mais um vem comigo, o resto irá com o embaixador.
 -Ótimo, conversaremos bastante! – O grupo ri com a piada de uma dos membros da expedição, menos Zira e o próprio Colomai.
 Os bisões abrem suas costas, aonde cabem várias indivíduos. Uma vez lá dentro, pode-se ver o ambiente externo através dos olhos do ser, que é controlado em seus sistema nervoso de inúmeros cabos com bolas nas pontas. A viagem começa e Tombias, depois de saírem dos limites da cidade, começa uma conversa com a embaixadora:
 -Então, dona Zira... Você e Colomai...
 -Foco na missão, senhor capitão.
 -Ok... Mas, você sabe que isto não é permitido em nosso quadrante, não com raças diferentes e...
 -É estranho o senhor falar destas ideias... Da onde elas vêm? Qual é a sua essência? O General que guarda este quadrante? Sua escola de oficiais? Seu planeta natal? De onde o senhor vem?
 -Olhe, eu não quero falar disto, mulher. São assuntos pessoais, não tem nada haver com a busca que fomos requeridos.
 -Ora, então, pode usar esta resposta pra sua pergunta de antes.
 -...
 -E o que é isto nas suas costas? – Perguntou a outra que estava ali – É um dos famosos ferrões-gélidos dos Bgloons? São tão mortais como se diz?
 -Sim... São... Nesta cultura, eles usam seu veneno em pistolas ligadas com suas costas, algo estranho... Porém, graças a uma rocha sedimentar específica que existe neste mundo subterrâneo deles, o Monril, eles conseguem criar estas facas e espadas... Se nós formos tocados por elas, nosso organismo reage com congelamento, porque ela tem a capacidade de se esmigalhar muito facilmente e absorver calor... Isto explica o por quê deles usarem isto pra quase tudo, deste tijolos até fios para suas roupas...
-Também vi – continuou a outra, pois o capitão em silêncio apenas espiava com os ouvidos – que você não usa os capacetes, não está com frio?
-... Vocês devem ter lido na minha ficha, mas, eu sou feita com parte de Monril.
-Isto não estava na sua ficha. – disse o capitão
-Estranho... Quando fui criada isto era comum, nós os Replicantes éramos feitos para os planetas que seríamos mandados...
-Sim, senhora, disto sabemos... Assim como vocês não poderiam ficar longe dos Nyxk genuínos de raça pura incubidos de serem os embaixadores de cada planeta... Aliás, como vai o Grande Platinaro?
-... Vai bem. Está na Grande Cidade-Caverna do planeta, Olmai
-... Você tem quantos anos, Zira? – pergunta o outro membro
-Setenta*, ainda sou jovem... Mesmo para um Blgoom...
-Entendo... Mas, o Grande Platinaro não dá notícias ao nosso General há quase cem anos... Estranho que nunca tenha...
-Cuidado agora! – Disse Zira, ao chegar em um grande salão com o bisão – Temos de fazer silêncio agora, aqui é um Território Inimigo...
-Não foi relatado que teríamos combate... Não trouxemos armaduras! Apenas pistolas de carga rápida! – Disse o capitão Tombias – Isto me dá poder para anular esta missão...
-Tudo bem, Capitão... Apenas, temos de fazer silêncio. Os Bgloons não tem boa visão, devido à baixa luminosidade, então, sentem os sons, estamos todos com roupas coladas ou algo assim, além de sermos mais leves... Talvez não façamos barulho.
-Ora, mas, ainda assim eles podem nos ouvir? E estarão com suas espadas, ferrões, que seja???
-Sim, claro.
 A moça pegou em sua mão o Livro Vermelho que tinha no bolso, sagrado para ela.
 Desceram, em um lugar mais isolado, longe da enorme Cúpula Verde que indicava o tal Território Inimigo. Nisto, o Capitão já enviava mensagens visuais nos capacetes dos outros membros, instruindo todos da situação. Então, entregando um comunicador de mão para Zira, ele perguntou:
“-Razão território inimigo”
E teve como resposta:
“-Fanáticos
Aqui ser local sagrado Bgloom
Mais sagrado
Porta Origem Bgloom
Fanáticos proteger porta
Chamar  ‘A Porta’”
Havia uma escotilha próxima, porém, escondida entre rochedos e ervas daninhas rosas, porém, havia um problema: abrí-la faria barulho e atraíria os Fanáticos, porém, não havia outra maneira de acessar a tal Porta, aonde estava a origem.
Colomai, Tombias e Zira seguraram cada um uma ponta da pesada escotilha e foram abrindo-a devagar... Nisto, o barulho do metal rangendo foi sendo substituído por um assobio, depois, outro, mais e mais em sinfonia. Sinfonia da destruição, vários Bgloons trajando roupas verdes desceram das encostas, então, viu-se que os membros da expedição estavam cercados em uma depressão.
Colomai, Tombias e Zira entraram pela porta enquanto os outros três membros da expedição atiravam com as pistolas para o alto ou na direção dos Fanáticos, apenas para assustá-los. Eles não paravam, nem falavam, apenas assobiavam com suas respirações e sacavam suas espadas. O brincalhão foi o último a entrar na escotilha e levou uma estocada no ombro, caiu dentro do buraco, não houve tempo nem de fechá-lo, já descia pelo escorregador, mais longo que os demais.
-AIIIIIIIIIIIIii Tá Frio!!!! – Gritava o homem, enquanto os tripulantes tentavam fazer curativos e analizavam a ferida.
-... Ele vai... – Perguntou Tombias
-... Vamos, temos de ir – Disse Zira, inflexível – Ele não fechou a escotilha, eles estão descendo...
-FAÇA ALGO!!! – Grita uma das moças do grupo
-... Isto apenas alivia a dor... – Zira pintou de um vidrinho um líquido rosa, depois de algum tempo carregado, o brincalhão disse:
-Estou bem, estou bem, vamos!!
-Obrigado! – Disse Tombias, antes do grupo começar a correr dentro do túnel escuro, Colomai já estava na frente, ao qual se ouviu uma porta se abrindo
Entraram no que parecia apenas mais um salão, porém, Colomai, abaixando a cabeça de abelídeo, buscou algo como um botão enorme, tocou-o e um espelho virou para baixo, iluminando uma série de pequenos pontos de luz branca: eles estavam embaixo da Cúpula Verde, porém, estava isolados da Cidade Inimiga - podiam ver nitidamente os Bgloons acima de suas cabeças andando, porém, eles não pareciam vê-los.
 Colomai começou a assobiar, sacou seu Ferrão-gélido e a pistola ligada nas suas costas.
 -Vamos, Tombias! Quem quiser lutar, fiquem com Colomai-San!
 Todos os membros dos viajantes foram com Zira e Tombias, o embaixador fechou a pesada porta, eles, então, seguiam por uma enorme série de caminhos circulares, em uma espiral de grandes paredes.


 -Aonde vamos, Zira?
 -Aqui na superfície o que procuramos já está gasto, temos de ir mais no fundo desta coisa...
 Depois de alguns minutos, muitos assobios acima deles. Quanto mais se aprofundavam na estrutura espiral, maiores as paredes ficavam em algo surrealista, a luz ficavam cada vez mais fraca, então, chegaram ao fim da rampa espiral:
-Acho que... É aqui... –Disse Zira
-Você nunca veio aqui, Zira? – Ficaram todos surpresos
-Não, apenas Colomai conhecia esta terra... Ele... Ele já foi um deles...
-... – O capitão olhou firmemente para a moça, nisto, o brincalhão atingido pelo ferrão caiu
-Vamos, logo, se formos rápidos em registrar e detectar isto, poderemos levar ele para a sua nave.
-... Ok. Coloque isto. – Deu para Zira um monóculo, era um Conector com o banco de dados da nave, que possuía um Códex da maioria dos idiomas conhecidos pelos Nyxk.
Começaram a olha para os enormes símbolos nas paredes, Tombias tentava contato com o módulo que trouxera eles para a superfície, que não respondeu, porém, ainda estava enviando as informações:
-... Incrível... – Disse Tombias – Isto é... Isto é do Império Sasquito... Eles foram inimigos dos Nyxk, só que há mais de cem mil anos... Deve ser uma das Colônias Perdidas deles...
-Sim, mas, aqui diz que aqui só haviam os tais Luminófagos... Comedores de Luz...?
-Era uma raça exploradora dos sasquitos, eles não tinham capacidade organizativa e apenas se alimentavam de luz ou qualquer outra emissão de energia estelar... A maioria morreu como parte de sua programação evolutiva-social, mas, em alguns planetas, eles resistiram...
-É estranho isto – disse Zira -, se eles se alimentavam de luz, como sobreviveram aqui? Não existe luz na superfície de Bgloom em grande quantidade desde que uma chuva de asteroides criou um cataclisma em forma de tempestade de cinzas, tudo ficou mais frio, menos o subsolo
-Os luminófagos vivem em cavernas ou... Bem, como esta registrado aqui, nestas Naves-Colônias... Só que, como você disse, eles não podem sobreviver sem fontes de luz
-Olhe aqui! – Gritou outro membro, ao qual os três com os monóculos olharam
-“Então, depois que os céus brilharam em chamas e a comida secou
Nós e o Rei mandamos uma mensagem para os Mestres
O silêncio foi a resposta da primeira vez, da segunda e das mil vezes
Estávamos no fim, não havia mais que o Rei e alguns cens
Então, nós achamos a saída, a Pedra Fundamental nos salvará
Se não salvar, nós cairemos com a glória de
Ter tentado
...”
Seguem-se especificações técnicas de procedimentos de auto-destruição da nave.
-A Pedra Fundamental é aonde os Luminófagos guardavam a energia em excesso que eles guardavam... – Disse o capitão, consultando o banco de dados – Ela foi carregada e detonada, alterando as criaturas jovens... Então... Surgiram os Bgloons...
-... Eles são, criações, então? – Perguntou Zira. Neste momento, ouviu-se o barulho da porta e assobios, vários, descendo a rampa em espiral.
-Eles... Estão vindo... Estes malditos são apenas, apenas experiências erradas! Escravos de um império inimigo!!! –Gritou o capitão Tombias – Soldados, podem atirar para matar!!!
 Zira Iu Iu Xi, se afastou para um canto, enquanto a horda de Bgloons verdes invadia aquele fim de estrada, nisto, todos que podiam portar uma pistola atiravam na direção dos seres, porém, para cada um que caia, outros se vinham, em desespero. A moça caiu com a face cortada na frente do capitão, atingida por três facadas, seus Livro Vermelho caiu nos pés de Tombias que, gritando atirava na face de todo Bgloom que podia...
 Uma porta se abriu atrás de Zira, sumindo nas sombras...
 O capitão se desvincilhou de um morto aos seus pés e viu os outros companheiros caírem e a embaixadora em seu sumiço mágico, sua pistola estava sem carga e ele sangrava devido a um corte de raspão no pescoço. Os outros, mortos ou morrendo não gritavam mais alto que os assobios, não havia sinal da nave na superfície, o SOS em silêncio.
 Dentro da câmara, que revelou ser uma outra série de túneis, estava Zira e Colomai, que estava sem um dos braços e sangrava roxo. Tombias pôde fechar a porta da passagem dificilmente, pois, as patas dos Fanáticos dificultaram o serviço.
 -O QUE ESTÁ HAVENDO AQUI, ZIRA?
 -... Capitão Biastom, você veio aqui procurando um membro da sua espécie, e em sua superioridade nojenta, não observou que apenas nós vivemos aqui... Apenas nós, os Bgloons!!!
-Você não é um deles! Eles são simplesmente uma subespécie! Ou melhor, são os restos de algo que nem existe mais, de um império do passado, dos inimigos do passado! NOSSOS inimigos! Eles são apenas criações, como...
-... Os Replicantes... – Disse Zira
-...
-Zira é como eu e meu povo, homem-espacial. Você revelou-me isto e agradeço. Agora, os Fanáticos cairão no nosso mundo por pregarem a mentira... Nós somos apenas criações de algo antigo... Sim, somos. Porém, nós evoluímos. – a voz fantasmagórica de Colomai assustou o Capitão Biastom, quase sem palavras e ouvindo a porta se abrir, apenas perguntou:
-... Por que só falou agora? Quando vamos morrer?
-Eu não falo com seres inferiores. É da minha cultura.
-...
 A porta se abriu, uma estaca atravessou o peito do capitão.
-... E, nós não morreremos!!! Não aqui!
 Zira sacou sua espada e, com brilhos vermelhos nas mãos, bradou a lâmina lançando a Energia Casmótica dos Replicantes como ela, uma energia que faz parte de seu DNA de clone de batalha, de criatura. Girava lançando lances de luz mortal, cortando os Bgloons, quando, no fim, girando como tornado, matou os mais Fanáticos, gritou para os poucos restantes:
-AQUELES QUE QUEREM MORRER, CONTINUEM EM SUA FÉ!
 ...
Os seres restantes correram.
O capitão morria, mas, antes de ir totalmente, perguntou:
 -Minha nave está bem?
 -Sim, libertaremos seu módulo, ele poderá voltar para sua Casa nas Estrelas – Disse Colomai.
 -... Então, tudo para saber a Origem... Valeu a pena, monstro?
 -...
 O capitão pesou a cabeça, não ouviu o embaixador pedir para Zira colocar o soro nas suas feridas mortais, apenas, descansou em tela preta naquele fundo noir.




(Ashe Ametista - Inspiração para Zira Iu Iu Xi)
*Nota: a contagem dos anos nos contos deste universo são relativos a nossa vida humana na Terra, tanto um Nyxk quanto outras raças possuem suas próprias contagens e períodos de vida ao, tento, nestas histórias, relatar parcialmente.