terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Efeito-de-parada

"Uma ideia antiga era a de que nós somos muito ligados ao presente, como se no passado tínhamos um tempo mais lento, o ritmo da vida era mais demorado. Conforme foram passados os séculos, começamos a pensar que na verdade o que faz as coisas na vida passarem tão rápido é o fato de um certo 'efeito-de-parada', quando olhamos nossas vidas agora, até mesmo a nossa era atual, tudo parece rápido, vivo, ríspido, o Universo se mostra na sua magnitude e nos sentimos pequenos e sem ação, porém, se olharmos para o passado, em outras épocas, tudo parece maior, as vezes grandioso ou épico, outras triste e solitário, não estamos vendo a velocidade que as pessoas daquela época viam em suas próprias vidas, estamos escolhendo os momentos que as vezes elas nem ligaram para observar... Um dia, pode ser que nos olhem e riam da nossa cara, fazer o que, o tempo e as memórias são ironias agridoces" (personagem Jauna, "O Novo Imperador Nyxk")

domingo, 21 de dezembro de 2014

A corrida é correr (citação)

"Além disso, não precisamos correr sozinhos o risco da aventura, pois os heróis de todos os
tempos a enfrentaram antes de nós. O labirinto é conhecido em toda a sua extensão. Temos
apenas de seguir a trilha do herói, e lá, onde temíamos encontrar algo abominável,
encontraremos um deus. E lá, onde esperávamos matar alguém, mataremos a nós mesmos.
Onde imaginávamos viajar para longe, iremos ter ao centro da nossa própria existência. E
lá, onde pensávamos estar sós, estaremos na companhia do mundo todo."
(Joseph Campbell, O Poder do Mito, 1988)

domingo, 23 de novembro de 2014

Sobre a Nostalgia da Lua

Em um mundo de tantos sonhadores e pragmáticos, é única a certeza de que a visão de que não temos mais tempo de vida se sobrepôs ao que fazer da vida.
A dúvida, percorre todo o corpo do humano moderno. O humano é moderno porque não é contemporâneo, ele não passa pelos olhos nostálgicos que buscam algo mais nem por sua rotina rígida e fixa do nascer e procriar


Meia Noite em Paris (Midnight in Paris) por filmow

A dúvida, logo, é o fato do humano moderno, desde que descobriu que havia vários com a mesma dúvida entre a nostalgia e a rotina, esta última foi a primeira, armada das máquinas e da urbanização dos anos 1900. Ela transformou o espaço e a atividade agrícola em citadinos e organizados para a produção, porém, isto apenas é parte do processo, em geral, você para na questão das indústrias, de como o capital e o social dominaram toda a mente, mas, não é apenas isto, é o contato que me vale a pena.
 Imaginemos a Lua, a Lua é a Mãe da Nostalgia e o Sol é o Pai da Rotina, uso pai e mãe, homem e mulher, mas, isto é pequeno, não é para ser levado como sexista ou algo assim, apenas alegoria, claro. Voltemos a Lua, ela é um Contato forte, parece que nossos eventos passados, que criam Eras Passadas, a infância, aburrecência, o casamento, etc., criam uma Imagem Mental - ou melhor, um Filme Mental - que concorda com vários de nós, mesmo de culturas e tempos diferentes. Ficamos ligados à este contrato espiritual da Lua, da Nostalgia do que passou, mesmo que vivemos estritamente pragmaticamente, pelo Sol (ao qual discuto em outro texto futuro), ainda assim estaremos ligado dentro do aspecto ou de uma das Potências humanas que considero mais importantes: a Memória.
A Memória é muito dita na História e em outras Ciências Sociais, pouco importa as academias, se elas não se valem da busca das verdades de cada um, mas de forjar a sua verdade imperial, porém, a verdade da ciência é para ela a sua Memória, isto que a fez dominar o mundo, imperialmente hoje, diferente da Reflexão que é pontual e casual, da Religião que é excludente do não-fiel, mas confortante, a Ciência bebe da fonte do Método e o Método é definido por sua própria acumulação, ou seja, sua Memória, porém, quem é cientista não é nostálgico, pois a acumulação de sua forma de conhecimento constrói o novo conhecimento, sua rotina é permanentemente ligada ao passado e isto não é nostalgia. Não se pode saborear aquilo no que se está preso, a Liberdade é o primeiro prazer, o segundo é Se prender de novo.

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Processo em aberto na Vara Civil

"-Uma opinião sobre eleições?
-Sim, se possível, estou aqui na coletiva...
-Hm... Bem... Não sei, eu preciso mesmo? É só um voto... Nem sei se meu candidato é bom mesmo, não sei...
-Bem, se você não valoriza o seu direito conquistado com luta, não deveria expô-lo
-"Expô-lo", nossa, que palavra difícil, bem... Eu votei na...
-Bem, isto é terrível, decepcionante até
-... Eu não queria falar você que está falando do seu e...
-Olha, se você tem esta visão e jogou seu voto fora, olha, pessoas como você não deveriam votar... Ou, ao menos, ler mais sobre o Seu candidato
-... É... Sua coletiva não está quase acontecendo?
-Sim, claro, falarei à todo o mundo agora, com licença, velho amigo
-Ok... Escolha bem as palavras
-Claro, pois você não escolheu bem o voto
-..."
Assim a Dr.ª Liberdade de Expressão começou a pensar em processar a Opinião por desacato de autoridade...

domingo, 21 de setembro de 2014

"Você não pedir para uma semente brotar apenas com a sua vontade, da mesma forma que não pode impedir uma árvore de crescer apenas com a palavra; acontece o mesmo com as pessoas" (Ororo Termitta, "Palavras de Sabedoria Orientais")

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

A Beleza é um momento...

"A Beleza é um momento interessante na vida humana, é algo que posso dizer ser o reconhecimento de uma certa felicidade, pois, aquele instante, o justo delírio causado por aquilo que te fez ver o belo, pode ser guardado em sua cabeça por décadas, séculos, anos à fio. Pois, não vemos a idade das coisas que nos atingiram no coração, vimos o nosso sentimento, ali, naquela coisa: uma música que materializa um choro, um filme que representa uma época de nossas vidas, uma foto que guarda um amor, a Beleza é isto, um momento trancafiado. E em nossa era, aonde da Física até toda a história ou conto tem como foco o Tempo, ou melhor, como não temos tempo, o momento proporcionado pelo Belo me parece algo digno... Alguns podem dizer que admirar-se com algo é escapar da tal Realidade, única, indivisível e intensa, porém, não acredito nisto! E recomendo que você desconfie! Se o Tempo e a Realidade fossem as mesmas coisas, se vivêssemos exatamente o que o relógio ou nossa agenda diz, nos sentiríamos completos, como um livro... Não caia, por favor, no erro que a Biologia nos deu: não somos apenas coisas que nascem, crescem, reproduzem e morrem, tente aproveitar algo belo durante o processo, ou tenha certeza que tentou" ("Pisica mea, Diana și Luna", Leona Zori)

sábado, 30 de agosto de 2014

Música Mundial: país Moldávia

Música Mundial - país: Moldávia
"República da Moldávia (em romeno: Republica Moldova; pronúncia AFI: [reˈpublika molˈdova]) é um país sem costa marítima da Europa Oriental, limitado a norte, leste e sul pela Ucrânia e a oeste pela Roménia (pela região também chamada Moldávia). A sua capital é a cidade de Quichinau (Chişinău, em romeno)." http://pt.wikipedia.org/wiki/Mold%C3%A1via
Também a é a música do Epic Sax Guy lol


quarta-feira, 25 de junho de 2014

Poema número 5

Ela permanece
Quem?
Ela ficava me olhando ali, enquanto lia a primeira edição de "Origem das Espécies"
Ela permanece ali, me olhando volúpia com os olhos da serpente de cabeça redonda
Ali, permanece olhando quase que em cima da parede, eu me lembro
Ela estava lá, quando passei numa rua de luz da lua
Lá, na esquina, me esperando de vestido verde da esperança
Quando passei pelo sorveteiro e deu nó na garganta
Estava ali, comendo sorvete na cara de outra ou de outro, ali, gulosa como a gargantua
Ela permanece, eu não conseguia achá-la
Acordei, numa manhã bem cedo, busquei ela numa compota de doce
Mas, não, ela não estava lá, porém, permanecia
Não lembrava mais seu nome, mas, a minha barba continuava a crescer e ficar com
Pelos grisalhos
Não olhava mais pra ela, mas, ela permanecia ali, toda a olhada no espelho
Olhar escapava pelo canto em busca dela, no meu ombro
Mas, não, ninguém estava lá, porém, ela permanece
Te odeio consciência, mente e lembrança opaca
Pois, há toda a luz que meu cérebro de macaco dá, vinte e cinco escuridões
Volúpias, risonhas e me olhando com olhos verdes nas paredes
Surgem
E ali, permanecem, ali
Porém, eu não estou mais. Quando passei a fugir delas, me entreguei ao bom combate
Acabou. Ninguém mais permanece
Se foram comigo, me levaram no pé da cama, de mansinho, com beijinho
Agora, eu permaneço em você.



(Escher)

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Da essência da cristalização

A nave de força arredondada vai descendo a atmosfera escura do Planeta Bgloom lentamente, os instrumentos são anulados devido a quantidade extrema de cinzas do tipo preta. Quando se pode ver a superfície do planeta, gélida e desértica, o comandante da expedição, Tombias Biastom, ordena para seus seis comandados:
 -Ativem os discos, vamos descer! Encontraremos com a embaixadora nas coordenadas em nosso UPS (Sistema de Posicionamento Universal), só olhar os pontos vermelhos, vamos logo!
 A descida é complicada, os ventos gelados não cessam e todos já começam a colocar seus capacetes prateados e ligar a térmica dos colãs, pois, mesmo não saindo dos discos, a calefação é desligada para a energia ser toda direcionada para os estabilizadores do disco, que, neste momento, fica na vertical, pois, poderá cortar os ventos do planeta mais facilmente.
 Pouso, hora do dia 12 horas, nenhuma luz aparente, apenas, tudo é preto e branco - um filme noir.
 Descem cinco e vão até uma escotilha que emana uma luz rósea, primeira cor que eles vêem. Abrindo tal escotilha, um tubo-escorregador os leva até um salão amplo, tudo ainda é cinzento, porém, menos do que antes. Então, um enorme abelídeo surge e Tombias, tocando no peito magro e elevando a mão em direção ao ser, diz:
 -Nós saudamos o Gentil e Sincero Embaixador Colomai Iu Iu Xi.
 A criatura, sem dizer uma só palavra, retira uma espada de brilho azul das costas e toca na cabeça do capitão: "trato feito" surge no leito óptico dos tribulantes.
 -Aonde está - continua o comandante - a Embaixadora?^
 -...
 -Estou aqui, comandante Tombias Biastom! - Uma jovem de capa roxa, cabelos brancos e marca na bochecha esquerda de floco de neve (o que a identifica como um clone especial) surgiu, sua presença forte e de mesma espécie, alegrou o capitão:
 -Olá! Eu a saúdo, Embaixadora Zira!
 -Zira Iu Iu Xi, senhor!
 -Ó, ok!
 Feitos os cumprimentos, o grupo desce por outro escorregador, no fundo do salão vazio. O ambiente muda, uma cidade azul surge, tudo brilha palidamente, as ruas, aonde passam outros abelídeos em trajes brancos, parecem não se importar com os alienígenas transitando em suas vielas. Reunidos em uma das construções azuis, Zira relata que:
 -Os Bgloons agora que foram descobertos pelo nosso Império, gostariam de usar nossos recursos poderosos para descobrir algo importante para a sua cultura, que, como vocês vêm, ainda não atingiu o mesmo estágio que a "nossa".
 -Sim, eles querem saber sua origem - diz um dos integrantes da expedição
 -Algo comum, para gêneros menores como eles - relata outra. Tombias sorri de canto de boca.
 -Exatamente. Porém, eles não são tão ignorantes senhora. Se eles pudessem descobrir o que existe na mais profunda das regiões deste planeta, eles o fariam, porém, não o podem... É algo antigo demais, quase mais do que nosso próprio Império...
 -... – O embaixador Colomai, em silêncio, a tudo escuta, emite apenas assobios de sua respiração.
 -Então... – Prevendo o mal-estar, o capitão se levanta da onde estava sentado – Vamos logo a tal lugar!
O grupo se dirige até as estalagens da cidade, aonde encontram centenas dos chamados bisões-bgloom, enormes quadrúpedes marrons e redondos.
 -Agora, capitão e mais um vem comigo, o resto irá com o embaixador.
 -Ótimo, conversaremos bastante! – O grupo ri com a piada de uma dos membros da expedição, menos Zira e o próprio Colomai.
 Os bisões abrem suas costas, aonde cabem várias indivíduos. Uma vez lá dentro, pode-se ver o ambiente externo através dos olhos do ser, que é controlado em seus sistema nervoso de inúmeros cabos com bolas nas pontas. A viagem começa e Tombias, depois de saírem dos limites da cidade, começa uma conversa com a embaixadora:
 -Então, dona Zira... Você e Colomai...
 -Foco na missão, senhor capitão.
 -Ok... Mas, você sabe que isto não é permitido em nosso quadrante, não com raças diferentes e...
 -É estranho o senhor falar destas ideias... Da onde elas vêm? Qual é a sua essência? O General que guarda este quadrante? Sua escola de oficiais? Seu planeta natal? De onde o senhor vem?
 -Olhe, eu não quero falar disto, mulher. São assuntos pessoais, não tem nada haver com a busca que fomos requeridos.
 -Ora, então, pode usar esta resposta pra sua pergunta de antes.
 -...
 -E o que é isto nas suas costas? – Perguntou a outra que estava ali – É um dos famosos ferrões-gélidos dos Bgloons? São tão mortais como se diz?
 -Sim... São... Nesta cultura, eles usam seu veneno em pistolas ligadas com suas costas, algo estranho... Porém, graças a uma rocha sedimentar específica que existe neste mundo subterrâneo deles, o Monril, eles conseguem criar estas facas e espadas... Se nós formos tocados por elas, nosso organismo reage com congelamento, porque ela tem a capacidade de se esmigalhar muito facilmente e absorver calor... Isto explica o por quê deles usarem isto pra quase tudo, deste tijolos até fios para suas roupas...
-Também vi – continuou a outra, pois o capitão em silêncio apenas espiava com os ouvidos – que você não usa os capacetes, não está com frio?
-... Vocês devem ter lido na minha ficha, mas, eu sou feita com parte de Monril.
-Isto não estava na sua ficha. – disse o capitão
-Estranho... Quando fui criada isto era comum, nós os Replicantes éramos feitos para os planetas que seríamos mandados...
-Sim, senhora, disto sabemos... Assim como vocês não poderiam ficar longe dos Nyxk genuínos de raça pura incubidos de serem os embaixadores de cada planeta... Aliás, como vai o Grande Platinaro?
-... Vai bem. Está na Grande Cidade-Caverna do planeta, Olmai
-... Você tem quantos anos, Zira? – pergunta o outro membro
-Setenta*, ainda sou jovem... Mesmo para um Blgoom...
-Entendo... Mas, o Grande Platinaro não dá notícias ao nosso General há quase cem anos... Estranho que nunca tenha...
-Cuidado agora! – Disse Zira, ao chegar em um grande salão com o bisão – Temos de fazer silêncio agora, aqui é um Território Inimigo...
-Não foi relatado que teríamos combate... Não trouxemos armaduras! Apenas pistolas de carga rápida! – Disse o capitão Tombias – Isto me dá poder para anular esta missão...
-Tudo bem, Capitão... Apenas, temos de fazer silêncio. Os Bgloons não tem boa visão, devido à baixa luminosidade, então, sentem os sons, estamos todos com roupas coladas ou algo assim, além de sermos mais leves... Talvez não façamos barulho.
-Ora, mas, ainda assim eles podem nos ouvir? E estarão com suas espadas, ferrões, que seja???
-Sim, claro.
 A moça pegou em sua mão o Livro Vermelho que tinha no bolso, sagrado para ela.
 Desceram, em um lugar mais isolado, longe da enorme Cúpula Verde que indicava o tal Território Inimigo. Nisto, o Capitão já enviava mensagens visuais nos capacetes dos outros membros, instruindo todos da situação. Então, entregando um comunicador de mão para Zira, ele perguntou:
“-Razão território inimigo”
E teve como resposta:
“-Fanáticos
Aqui ser local sagrado Bgloom
Mais sagrado
Porta Origem Bgloom
Fanáticos proteger porta
Chamar  ‘A Porta’”
Havia uma escotilha próxima, porém, escondida entre rochedos e ervas daninhas rosas, porém, havia um problema: abrí-la faria barulho e atraíria os Fanáticos, porém, não havia outra maneira de acessar a tal Porta, aonde estava a origem.
Colomai, Tombias e Zira seguraram cada um uma ponta da pesada escotilha e foram abrindo-a devagar... Nisto, o barulho do metal rangendo foi sendo substituído por um assobio, depois, outro, mais e mais em sinfonia. Sinfonia da destruição, vários Bgloons trajando roupas verdes desceram das encostas, então, viu-se que os membros da expedição estavam cercados em uma depressão.
Colomai, Tombias e Zira entraram pela porta enquanto os outros três membros da expedição atiravam com as pistolas para o alto ou na direção dos Fanáticos, apenas para assustá-los. Eles não paravam, nem falavam, apenas assobiavam com suas respirações e sacavam suas espadas. O brincalhão foi o último a entrar na escotilha e levou uma estocada no ombro, caiu dentro do buraco, não houve tempo nem de fechá-lo, já descia pelo escorregador, mais longo que os demais.
-AIIIIIIIIIIIIii Tá Frio!!!! – Gritava o homem, enquanto os tripulantes tentavam fazer curativos e analizavam a ferida.
-... Ele vai... – Perguntou Tombias
-... Vamos, temos de ir – Disse Zira, inflexível – Ele não fechou a escotilha, eles estão descendo...
-FAÇA ALGO!!! – Grita uma das moças do grupo
-... Isto apenas alivia a dor... – Zira pintou de um vidrinho um líquido rosa, depois de algum tempo carregado, o brincalhão disse:
-Estou bem, estou bem, vamos!!
-Obrigado! – Disse Tombias, antes do grupo começar a correr dentro do túnel escuro, Colomai já estava na frente, ao qual se ouviu uma porta se abrindo
Entraram no que parecia apenas mais um salão, porém, Colomai, abaixando a cabeça de abelídeo, buscou algo como um botão enorme, tocou-o e um espelho virou para baixo, iluminando uma série de pequenos pontos de luz branca: eles estavam embaixo da Cúpula Verde, porém, estava isolados da Cidade Inimiga - podiam ver nitidamente os Bgloons acima de suas cabeças andando, porém, eles não pareciam vê-los.
 Colomai começou a assobiar, sacou seu Ferrão-gélido e a pistola ligada nas suas costas.
 -Vamos, Tombias! Quem quiser lutar, fiquem com Colomai-San!
 Todos os membros dos viajantes foram com Zira e Tombias, o embaixador fechou a pesada porta, eles, então, seguiam por uma enorme série de caminhos circulares, em uma espiral de grandes paredes.


 -Aonde vamos, Zira?
 -Aqui na superfície o que procuramos já está gasto, temos de ir mais no fundo desta coisa...
 Depois de alguns minutos, muitos assobios acima deles. Quanto mais se aprofundavam na estrutura espiral, maiores as paredes ficavam em algo surrealista, a luz ficavam cada vez mais fraca, então, chegaram ao fim da rampa espiral:
-Acho que... É aqui... –Disse Zira
-Você nunca veio aqui, Zira? – Ficaram todos surpresos
-Não, apenas Colomai conhecia esta terra... Ele... Ele já foi um deles...
-... – O capitão olhou firmemente para a moça, nisto, o brincalhão atingido pelo ferrão caiu
-Vamos, logo, se formos rápidos em registrar e detectar isto, poderemos levar ele para a sua nave.
-... Ok. Coloque isto. – Deu para Zira um monóculo, era um Conector com o banco de dados da nave, que possuía um Códex da maioria dos idiomas conhecidos pelos Nyxk.
Começaram a olha para os enormes símbolos nas paredes, Tombias tentava contato com o módulo que trouxera eles para a superfície, que não respondeu, porém, ainda estava enviando as informações:
-... Incrível... – Disse Tombias – Isto é... Isto é do Império Sasquito... Eles foram inimigos dos Nyxk, só que há mais de cem mil anos... Deve ser uma das Colônias Perdidas deles...
-Sim, mas, aqui diz que aqui só haviam os tais Luminófagos... Comedores de Luz...?
-Era uma raça exploradora dos sasquitos, eles não tinham capacidade organizativa e apenas se alimentavam de luz ou qualquer outra emissão de energia estelar... A maioria morreu como parte de sua programação evolutiva-social, mas, em alguns planetas, eles resistiram...
-É estranho isto – disse Zira -, se eles se alimentavam de luz, como sobreviveram aqui? Não existe luz na superfície de Bgloom em grande quantidade desde que uma chuva de asteroides criou um cataclisma em forma de tempestade de cinzas, tudo ficou mais frio, menos o subsolo
-Os luminófagos vivem em cavernas ou... Bem, como esta registrado aqui, nestas Naves-Colônias... Só que, como você disse, eles não podem sobreviver sem fontes de luz
-Olhe aqui! – Gritou outro membro, ao qual os três com os monóculos olharam
-“Então, depois que os céus brilharam em chamas e a comida secou
Nós e o Rei mandamos uma mensagem para os Mestres
O silêncio foi a resposta da primeira vez, da segunda e das mil vezes
Estávamos no fim, não havia mais que o Rei e alguns cens
Então, nós achamos a saída, a Pedra Fundamental nos salvará
Se não salvar, nós cairemos com a glória de
Ter tentado
...”
Seguem-se especificações técnicas de procedimentos de auto-destruição da nave.
-A Pedra Fundamental é aonde os Luminófagos guardavam a energia em excesso que eles guardavam... – Disse o capitão, consultando o banco de dados – Ela foi carregada e detonada, alterando as criaturas jovens... Então... Surgiram os Bgloons...
-... Eles são, criações, então? – Perguntou Zira. Neste momento, ouviu-se o barulho da porta e assobios, vários, descendo a rampa em espiral.
-Eles... Estão vindo... Estes malditos são apenas, apenas experiências erradas! Escravos de um império inimigo!!! –Gritou o capitão Tombias – Soldados, podem atirar para matar!!!
 Zira Iu Iu Xi, se afastou para um canto, enquanto a horda de Bgloons verdes invadia aquele fim de estrada, nisto, todos que podiam portar uma pistola atiravam na direção dos seres, porém, para cada um que caia, outros se vinham, em desespero. A moça caiu com a face cortada na frente do capitão, atingida por três facadas, seus Livro Vermelho caiu nos pés de Tombias que, gritando atirava na face de todo Bgloom que podia...
 Uma porta se abriu atrás de Zira, sumindo nas sombras...
 O capitão se desvincilhou de um morto aos seus pés e viu os outros companheiros caírem e a embaixadora em seu sumiço mágico, sua pistola estava sem carga e ele sangrava devido a um corte de raspão no pescoço. Os outros, mortos ou morrendo não gritavam mais alto que os assobios, não havia sinal da nave na superfície, o SOS em silêncio.
 Dentro da câmara, que revelou ser uma outra série de túneis, estava Zira e Colomai, que estava sem um dos braços e sangrava roxo. Tombias pôde fechar a porta da passagem dificilmente, pois, as patas dos Fanáticos dificultaram o serviço.
 -O QUE ESTÁ HAVENDO AQUI, ZIRA?
 -... Capitão Biastom, você veio aqui procurando um membro da sua espécie, e em sua superioridade nojenta, não observou que apenas nós vivemos aqui... Apenas nós, os Bgloons!!!
-Você não é um deles! Eles são simplesmente uma subespécie! Ou melhor, são os restos de algo que nem existe mais, de um império do passado, dos inimigos do passado! NOSSOS inimigos! Eles são apenas criações, como...
-... Os Replicantes... – Disse Zira
-...
-Zira é como eu e meu povo, homem-espacial. Você revelou-me isto e agradeço. Agora, os Fanáticos cairão no nosso mundo por pregarem a mentira... Nós somos apenas criações de algo antigo... Sim, somos. Porém, nós evoluímos. – a voz fantasmagórica de Colomai assustou o Capitão Biastom, quase sem palavras e ouvindo a porta se abrir, apenas perguntou:
-... Por que só falou agora? Quando vamos morrer?
-Eu não falo com seres inferiores. É da minha cultura.
-...
 A porta se abriu, uma estaca atravessou o peito do capitão.
-... E, nós não morreremos!!! Não aqui!
 Zira sacou sua espada e, com brilhos vermelhos nas mãos, bradou a lâmina lançando a Energia Casmótica dos Replicantes como ela, uma energia que faz parte de seu DNA de clone de batalha, de criatura. Girava lançando lances de luz mortal, cortando os Bgloons, quando, no fim, girando como tornado, matou os mais Fanáticos, gritou para os poucos restantes:
-AQUELES QUE QUEREM MORRER, CONTINUEM EM SUA FÉ!
 ...
Os seres restantes correram.
O capitão morria, mas, antes de ir totalmente, perguntou:
 -Minha nave está bem?
 -Sim, libertaremos seu módulo, ele poderá voltar para sua Casa nas Estrelas – Disse Colomai.
 -... Então, tudo para saber a Origem... Valeu a pena, monstro?
 -...
 O capitão pesou a cabeça, não ouviu o embaixador pedir para Zira colocar o soro nas suas feridas mortais, apenas, descansou em tela preta naquele fundo noir.




(Ashe Ametista - Inspiração para Zira Iu Iu Xi)
*Nota: a contagem dos anos nos contos deste universo são relativos a nossa vida humana na Terra, tanto um Nyxk quanto outras raças possuem suas próprias contagens e períodos de vida ao, tento, nestas histórias, relatar parcialmente.





sábado, 24 de maio de 2014

 Os pequeninos pontos brancos com grandes olhos rubros subiam por seu corpo... Seu nome era Falésia e ela era um simples clone de companhia para a poderosa embaixadora Liandaar, no Planeta Cogomolom.
 Os pequeninos eram feitos da próprio fuligem e cinzas pálidas que formavam aquele mundo: sem nenhuma forma que não fosse de óleo, máquina e enxofre, tudo era fabril e exausto, tudo exalava um cheiro pútrido, menos, ora, menos os pequeninos seres feitos de fumaça e que moravam no único ponto não tomando de chaminés e nações doidamente fabris: o Pico Mais Alto.
 Falésia, estava fraca pelos ferimentos que sofrera, vários pontos vermelhos saiam de suam roupa - traje de resistência à tamanha sujeira dos Cogomolons -, estava morrendo, pois, não sentia as pesadas luvas de boxe espacial que usava, algo que nunca aconteceu. Os pequeninos subiam em cima dela e, em último momento, pensava ouvir uma voz máscula:
 -Não se preocupe... Mestre das Grandes Mãos...
 Notou que o pequenino que estava entre seus seios, olhava-a com dois pontos azuis, como se entrasse em sua cabeça, dizendo:
 -Agora, agora que você que nos protegeu está partindo, nós, que temos a forma perfeita, devemos vingar a sua vida de glória... Nós não ligávamos de vivermos à margem das terras mortas que nosso país está... Porém, eu e meus primos te vingaremos, ó Grande Guerreira, ó Grande Chena!
 Então, ela sentiu uma enorme tranquilidade e percebeu: meus ossos estão derretendo... Alguma toxina? Ácido dos pequeninos? Estão me comendo...?
 Foi sumindo, entre as dezenas que carregavam a moça. Logo, não havia mais nada dela... Apenas, pequeninos.
 ...
 Começou a crescer o pequenino de olhos azuis... Sua forma começou a ser bípede e musculosa, sentia as veias sendo construídas nele... Os pequeninos podiam se expandir naturalmente, mas, não daquele jeito... Ele estava evoluindo para algo diferente: não só ele, mas, todos os que estavam com Falésia.
 -Agora! - Gritou o de olhos azuis. - Nós somos os Grandes Defensores desta Montanha e de todos aqueles que ainda permanecem no mundo sem luz e cinza! Nós...
 Ele olhou para a única coisa que sobrou de Falésia, as luvas de boxe espacial, aonde estava escrito: "Bou"
-SOMOS OS BOUS!!!
 Atrás deles, criaturas de pelos brancos e nuas, estava uma enorme máquina de combate e mineração, morta com uma estalactite gigantesca no seu centro nervoso de aranha-robô, guinchava, morrendo.
 ...
 -E então, Liandaar... O que fará agora? - O mestre dos Cogomolons, uma criatura bípede, baixa, magra e amarela, açoitava a embaixadora com uma farpa vermelha de luz.
 -Você não pode me matar, Líder... Sabe que se isto acontecer, outros virão, uma hora ou outra, das estrelas... E liquidaram seu governo neste país, ou mesmo, acabem com este mundo!
 -Minha cara Liandaar... Não seja tola... Somos um dos países mais industrializados de nossa confederação: ataque-nos, destrua-nos e não terás mais colônias pela Galáxia!
 -Mas... Como você poderia fazer isto? Não pode impedir outros de vender ou trocar conosco...
 -Não, não posso... Mas, posso alimentar os rivais e inimigos de nossa Confederação...
 -...
 -... Pense - riu o ser de amarelos dentes, palitou com farpa de metal eles e tocou no corpo da embaixadora:
 -Nós, nós os Cogomolons uma vez já fomos assim, Arcanjos de força e dominância... Somos da mesma raiz de DNA... E vocês... Vocês são tão puros... Porém, tão sórdidos!!
 -Do que está falando?
 -... Não imaginava que nós iriamos te pegar, não?
 -Pelo quê?
 Outro deu um tapa em sua face. O Líder fez ele parar com um gesto e um olhar.
 -... Falésia, Liandarr... Sua guarda-costas!
 -Aquela cabeça de vento? O que está dizendo? Ela estava em pesquisas no Monte Mais Alto e... O que aconteceu?
 -Não seja imbecil... Nós estamos há meses enfrentando um grupo de terroristas jamais vistos...
 -Não é Movimento Verde?
 -Ora, você sabe muito bem! Eles são... Diferentes... Não são iguais a nós...
 -Como?
 -Chamam-se Bous... São enormes, brancos pelos e olhos vermelhos, amarelos e azuis... Caçam nossos homens, soldados, exploradores e operários descuidados... São como sombras... Apenas matamos um ou dois, mesmo com mini-tanques, escopetas voadoras e limpa-trabucos...
 -E daí? Mais uma experiência louca de vocês... Seu povo retarda...
 -Naquele que matamos... -disse o Líder, ajeitando o bigode e passando a mão no capacete com ponta no alto do cocuruto - Achamos o DNA de Falésia...
 -? O quê? O que está sugerindo...?
 -Eles não são normais... Parecem ter o mesmo DNA dos Cogs - abriu uma bandeja e lá estava, um pequenino, assustado e amarado... - Eles podem mudar sua forma, mas, nada de drástico... Parece, bem, parece que estas criaturas se transformaram nestes Bous... Eles usam a técnica do Boxe Espacial, além de serem muito ágeis... Como o seu clone! - Cravou o seu capacete pontudo no meio do pequenino, que morreu depois de um espasmo
 -... Então, ela escapou da morte...
 -O quê?
 Nisto, o Líder recebeu um recado no seu comunicador, olhou para Liandaar e mandou os guardas soltarem-na, dizendo:
 -Agora, isto é problema nosso, não?
-Sim... Ela era minha experiência... Nós íamos elemina-la, mas, algo não acabou com seu corpo totalmente... Não sei...
-... -Olhou o Líder para o chão - Quantos sabiam disto? Nas minha costas? Vou punir a todos!
Liandaar o olhou e apenas disse:
 -Meu caro Líder, quanto você acha que sabe só porque manda nas coisas?
...
https://www.youtube.com/watch?v=xrD9rCR-0rU

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Teoria Blondiana da Moral

  (veja o filme, não veja o final só!)

Primeiro, isto é um exercício, não é e não será por muitas décadas um exercício de Filosofia, nem de Sociologia, muito menos da Político-economia que se pratica na Humanidade baseada nas Potências dos indivíduos ora perdidos numa coletividade caduca, ora elevados a condição de sábios de um Destino que lhes é aplicado.
 Logo, início meu argumento dizendo que esta teoria se baseará não em um livro, nem em um autor, nem mesmo em um texto de letras, mas, em um filme: Três Homens em Conflito (Il buono, il brutto, il cattivo), de Sérgio Leone, dos anos sessenta do século XX, calendário de Cristo. Não estou inventando a roda ou algo do gênero, pois, não escrevo novidade nem uma interpretação fora do meu contexto caduco, porém, não posso deixar de realizá-la nem dela ser minha, em um sentido de Nietzsche de indivíduo e obra, porém, mais no que posso chamar de "minha condição individual" interpreto a moral humana que fui confrontado até agora em três pontos, condições, categorias (ou não), gêneros, sexos, diferenças.
 Ponto 1: o ser humano cria diferenças, porém, qual é a origem das diferenças? Encontro assim meu primeiro tópico, o Bom. O Bom é o igualmente, o meu, o teu, o nosso. A alteridade é aqui, mesmo que haja o tal respeito antropológico (racista ou racialista, de certa feita), a visão do outro como outro, logo, ele não sou eu, logo, pressuposto, não é do Bom. O Bom não é mérito, mérito origina da Condição de alguém, não do nosso. Logo, o Bom é ecológico, forma sistemas, estruturas, categorias, epistemas (quando já velho), paradigmas (os "cientistas" de hoje gostam desta palavra hoje aqui no Brasil), ou seja, ele Mantém coisas, elementos e ideias. Ele sustenta biologicamente as coisas.
 O Mau, logo, deveria ser o contrário do Bom, não? Ele não mantém, ele é o Caos, ele desordena, é a Quebra do Paradigma, não? Ele é o Outro, o não nós?
 Não.
 O Mau é aquele que é a Mudança, porém, não é a Mudança em si, pois, esta é tão efêmera e dura tão pouco, que é quase irregistável: a História, assim, cai na condição de Falsidade? Não, mas, da ficção ela é irmã, como já dizem muitos pós-caducos hoje em dia. O Mau é uma condição abstrata, ele é virtual, ele não existe de fato, ele se adquire como uma forma determinada com certos discursos, porém, é metamorfa quando o tal objeto que-não-é-Bom modifica-se.
 "-Ora, não entendi"
 Explico: o Mau é aquele dos Olhos-de-Anjo, ele adquire a condição de Pairar sobre o espectro da Moral como em semelhança a Tentação Cristã, porém, ele tem sempre caras e bocas, ele não é para o Inferno, ele não é o que podemos chamar de Ruim, mas, ele é a Condição da Mudança, que, quando muda, passa a ser o Bom, o Novo Bom.
 Isto não é dialético, porém. Não existem expirais malucas pairando nas nossas cabeças que não sejam colocadas lá, por uma tradição Newtoniana, Galiléica, Zaratrusta (não a do alemão bigodudo), o Mau pode ser discernido do Bom porque eu posso dizer que ele não é a nossa ideia, nosso estilo, nossa tribo, nossa economia-modelo, porém, ele de fato não é nada, é uma Condição. Talvez, o Mau seria a Utopia? Não sei, o sonho é por si só ficção, porém, não posso dizer que o Mau seja Utopia, mas, que a Utopia pode estar no Mau.
 O Feio, ponto 3.
 Finalmente, o que condiciono, aquilo que eu doto de alto. Você é baixo, você é um cachorro! Você é bonito, feio, lírico. O Feio condiciona as coisas através de Mecanismos do Bom, porém, sempre com a Presença do Mau: com o Feio, eu entendo os outros dois - pois, logo que o Bom Permanece, o Mau é Presente e, ambos, são condicionados pelo Feio.
 O ato de dar o sentido, não só cognitivo, nem sensitivo, nem biológico, é fruto de várias discussões do hoje em dia deste texto, vários ditos têm sobre isto, porém, nenhum que ainda possa dotar o humano por causa da Condição Individual do Feio: ele é aquilo que dota algo de si mesmo, logo, as coisas não são dotadas por si mesmo de algo. Então, como existe Mau e Bom? Pois, isto nada tem de condição ou funcionamento mecânico. Nós, desde que fazemos coisas com pedras lascadas, bambu e naves espaciais, sempre precisamos da mecânica da "Condição leva a Efeito", não, isto não possui uma Lógica neste argumento que apresento (neste trecho), pois, a questão de se dotar algo pela questão do Feio, não está em ritmo com colocar a letra A leva até a letra B, o Feio é aquele que, de fato, condiciona os elementos, Bom e Mau, a agirem em certa medida, porém, o Mau, o Bom e o Feio existem uma interdimensão dificilmente não intercalada, dificilmente, não categorizante ou divisora que não anule a existência de duas, ou mesmo, das três.


sexta-feira, 18 de abril de 2014

Distribua o ódio por aí

 Aristides era um homem com uma dúzia de ovos na geladeira vermelha. Não aceitava bem o romance pela vida que os outros europeus, como ele, gostavam de ver em tudo, o dramalhão da vida moderna, seu tédio incontrolável e também como tudo tinha o sentido de ser extremamente tedioso e sem sentido não lhe interessavam. Aristides era um homem bom, apesar de não ir numa igreja.
 Então, durante um dia em que via desenho animado, teve a ideia de que poderia ganhar muito dinheiro se construísse algo realmente útil para a Humanidade que não fosse máquinas que curassem câncer ou uma nova ideologia para jovens se matarem. Aristides conseguiu, com o uso de alguns fios, placas de eletrônicos e um acordos com forças como a Sombra das Pérolas, fazer algo lindo e que poderia nos ajudar em vários momentos de nossas vidas: a máquina de ódio.
 Mostrou para Mariane, que ele pegava nas horas de café do escritório. Ela sempre odiou Júlia por ter um corpo melhor, Ricardo por ter lhe deixado e Felipe por ser um mau pai. Então, ela usou a máquina, abriu-a e, como disse o seu criador, pensou em todo o mal que sabia e queria e... Pronto! A máquina guardou todo o sentimento de Mariane e ela se sentiu leve, mais bonita e amada.
 Casou-se como Aristides em dezembro, mês das noivas. Eles eram felizes, ela nunca falava nada ao contrário do que ele queria e ele também podia fazer o que quisesse que ela nunca esquentava, "tudo esta bem, ele me ama".
 Ricardo era chefe de Aristides e sempre cobrava o fato das suas roupas desalinhadas com o tédio in office e seu horário atrasado nos eternos quinze minutos que nos separam da cama, o banho e o metrô lotado de gente. Aristides, porém, sabia que Ricardo era um homem ambicioso e desejava crescer, ele era detido pela política atual da empresa e da Economia (sempre em crise, não?). Numa das broncas, depois do almoço, Aristides perguntou para o chefe e seu bigode se ele gostaria de mudar sua vida, conseguindo tudo que quisesse quando não mais odiasse o que fazia. Ricardo, disse sim, claro.
 Ricardo, dizendo que ia ficar na hora-extra, encontrou com o homem e sua maleta cheia de engrenagens dentro, olhou lá pra dentro e, se sentiu mais leve. Dentro dos dois anos seguintes, Ricardo havia deixado a empresa em que trabalhavam, deixando seu cargo para Aristides. Montando sua própria empresa, o homem se tornou um dos mais meteóricos sucessos daquele ano. Se jogou do alto do seu prédio empresarial em dezembro, creio, sorrindo.
...
  Comprou, com o novo emprego, um terno cinza e novo, menores nas mangas e tal. Aristides estava feliz, porém, não tinha muito o que fazer nos meses de festas de fim de ano. Era sempre aquele caso de ir pra casa dos pais velhos e cheios de rancor... Dois dois lados. Então, resolveu animar um pouco a vida da família, depois do jantar, chamou os pais e os poucos irmãos e distribui a todos eles cartões com números, disse, tirando a sua pasta com a Máquina do Ódio de uma bolsa:
-Agora, vamos ver quem vai ser mais feliz!
 Tirou o pai, a mãe e depois a irmã. Todos iam num quartinho dos fundos, pensando em tudo que acontecera. Nunca as festas foram tão boas, Mariane estava grávida, seu pai se curou do câncer e largou sua mãe, que casou com o médico da filha, Felipe. A alegria estava instalada no outro fim de ano, de dezembro.
...
 Passara-se um ano sem que Aristides falasse mais da máquina, ele estava até que bem, com aquela criança chorona, a mulher silenciosa e o emprego dois cargos superior. Porém, um dia, precisaram sair e uma babá veio para a casa deles, acho que o nome dela era Lilica - belas pernas em botas e arquitetura: aconteceu na terceira visita.
 Ela se sentia horrível com tudo aquilo, estava gostando do velho Aristides ponta firme. Ele, porém, não queria largar a mulher tão cedo, filho pequeno e deveres morais. Então, ela disse que o odiaria para toda a vida, ao que ele respondeu:
 -Podemos mudar isto, sabia?
 -Como, Ary? Como? - Gritava
 -Assim... - Ele tirou do baú do quarto do casal a pasta, trancada com a senha 251.
 -O que é isto?
 -Algo para você esquecer, meu bem...
 -... Droga? Não posso hoje, tenho prova.
 -Não. Não sou disso, minha lindinha, olha aqui...
 Abriu a maleta e as engrenagens douradas e rubis começaram a tremer com o movimento:
-Olha e pensa em mim... Faz isto, por favor, e nós estaremos bem para sempre! Sua linda!
 Lilica olhou, com a cara inchada do choro e da noite. Disse:
 -Esta bem, entendi.
 Arrumou-se, foi embora e Aristides sorriu.
 Mariane chegaria no outro dia, velho Felipe morrera e tal. Ela chegou de preto, porém, se sentindo pesada, estava estranhamente olhando as coisas mais cinzas e 3D, tudo parecia, também, mais colorido, as coisas pareciam importar mais... Ela daria um beijo em seu filho e, bem, Ary estivesse lá, nele também.
 Subindo e entrando pelo apartamento, viu algo estranho, tudo parecia mais colorido... No quarto, um enorme escrito em vermelho sangue por toda a parede:
 -ARY, ME PERDOA, MAS PENSEI EM MIM E NÃO EM VOCÊ
 Aristides não estava mais ali, a pasta estava aberta e as engrenagens todas paradas, a criança dormia no outro quarto.



 
(Keaton)

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Sobre portas com tijolos

Algoro prometeu para si mesmo que nunca mais entraria numa fria como aquela de novo, não acabaria por se ferrar como se ferrara daquela vez. Entrou e saiu, e era isto, em um pequeno ponto do espaço da superfície terrestre, ao qual se ocupa a Geografia, se juntara com um ponto da abóboda celeste, ao qual os astrólogos rendem homenagens noturnas em seus telescópios.
Algoro tentara, em vão, abrir a porta daquele seu quarto imundo, dando de frente para uma parede, a janela, sempre com a mesma paisagem, congelada, também não lhe era permitida pular: era um fundo de papel, atrás, mais parede.
Sempre era fim de tarde, uma hora do dia que Algoro gostava, porém, que agora lhe rendia o ódio eterno, pois, nunca deixava de ter o quarto do apartamento aquela cor laranja sonolenta - não mais renovadora.
Tudo tremeu.
Então, o homem de terno riscado abriu a porta e por ela uma luz saiu, cobriu todo o seu corpo.
Lá estava ele, no Mundo novamente, uma linda moça de olhos verdes, de roupas antigas de arqueóloga o olhava:
-Minha nossa! -disse ela - Então, é verdade! Vocês existem mesmo!
 -Sim... - Respondeu Algoro, enfadado - "Quais são os teus desejos mais profundos, teus amores mais secretos e tuas vontades mais aberta?"
 -...
 -Diga logo, quero acabar logo com isto - Algoro não aguentava mais a luz do Mundo, ele vivia sempre na mesma tarde de 2014...
 -... Meu Alex, ele morreu para nós chegarmos aqui... Foram os caingangues e seu maldito pajé e...
 -Não me importa! O que quer com isto?
 -... TRAGA ELE DE VOLTA!
 -... - Algoro pegou algo que ele, com seus olhos doloridos, pensou ser um galho, suas unhas cortaram a madeira até deixá-la na forma de uma hominídeo. Disse: - Está feito! - E o boneco pegou fogo.
 Então, como um flash e sem dizer adeus, Algoro voltou para seu lugar, a sua tarde.
 ...
 Acho que não se passaram nem alguns dias, ou séculos, tudo tremeu novamente.
 -"Quais são os teus desejos mais profundos, teus amores mais secretos e tuas vontades mais aberta?"
 Havia ali um homem, ele estava vestido como um explorador, como aquela dos olhos verdes, só apenas de camisa... A última que vira. Ele olhou para ele com uma cara de fúria, em suas mãos, uma navalha ensanguentada, chorando, disse o homem:
 -... Eu tive de fazer isto... Sei que Aline nunca usou o seu poder corretamente... Mas, enfim... Ela era alguém que... - E lacrimejou - Eu amava... - E chorou.
 -Fale logo o que quer!
 O homem o olhou com uma cara de louco, pegou sua navalha e cortou o peito de Algoro. Não saiu sangue, mas, gás verde:
 -Não pode matar algo que não é deste mundo... - Sorriu Algoro, deu um safanão no homem, que desmaiou na hora.
 Ficou naquele lugar iluminado demais por cerca de uma ou duas horas, até o homem acordar. Nisto, como não conseguia andar muito pelo cômodo em que estava, apenas viu algumas coisas, como, a casa bagunçada, uma carta na mesa, a foto do homem com a moça de olhos verdes que vira antes... Tudo desinteressante para Algoro, queria sair dali...
 O homem, que Algoro colocara em um sofá, acordou, assustado por ainda estar vivo:
 -Você tem de pedir primeiro. - disse o homem de terno riscado para o desesperado.
 -... Eu, eu quero...
 -Diga
 -Eu quero nunca ter conhecido Aline... Quero ter ficado com Paula, ter virado um professor de escola, como queria nos meus quinze anos!!!
 -... -Algoro observou aquilo... Era algo grande. Mas, o fez: ficou de frente para o homem, meteu a mão em sua carne, arrancando-lhe o fígado, aonde estavam todos os sentimentos. O pedinte caiu aos seus pés, gritando de susto, não de dor.
 -Agora, se você não conheceu aquela moça, ela não deve morrer... - Algoro puxou um pequeno fio de cabelo seu e sobrou ao vento.
 -Esta feito - disse e voltou para seu mundo.
 ...
 Finalmente, passou-se vários séculos, talvez, pois, ninguém tinha mexido com Algoro ainda. Tudo calmo e quieto, ele pode contar pela enésima vez a quantidade de tábuas no teto, quantas baratas misteriosas moravam ali e ouvir o lamurio de suas próprias lembranças.
 Tudo tremeu, então, como sempre acaba acontecendo, Algoro tinha uma vida rotineira, como se vê.
 -"Quais são os teus desejos mais profundos, teus amores..."
  Um dedo feminino pintadinho de roxo nas unhas o interrompeu, por um instante, pode ver o rosto que fizera aquilo: a mulher que ele amava, com seus olhos de tão negros que são azuis e cabelo de caramelo...
 -Oi, Gogo!
 -... Você...
 -Sim, sou eu... Finalmente, finalmente te achei! - As lágrimas corriam o rosto da jovem, logo, ela abraçou-a e começou a ter algo estranho, algo, talvez, sentimentos? De novo? Esta coisa ruim que pesa no peito e no pé do olho esquerdo.
  -O que você... O que vai pedir? - Disse o homem de terno riscado.
 -... Te amo, meu Gogo... Mas, você naquela tarde pediu para libertar aquele homem... E, nunca mais voltou... Então, meu Gogo... Me perdoe...
 A moça chorou, então, saiu de uma quarto um homem com tipo... Tipo explorador; pegou no ombro da moça de olhos negros e disse:
 -Paula! O que você fez, Paula? Você mexeu com isto??
 -... Alex? - Perguntou o homem de terno riscado.
 -... Si.. Sim... Mas, o que vai fazer agora?
 Algoro apenas olhou para a cena.
 -Qual é o seu desejo... Paula?
 -... Que seja feliz... Apenas isto - a moça com lágrimas, deu um beijo na testa do gênio. Tudo sumiu num clarão.
 Algoro, acordou em seu quarto de apartamento, levantou-se, contando as baratas no chão e as tábuas no teto. Então, tudo tremeu novamente, porém, agora era de manhã.


segunda-feira, 24 de março de 2014

Namoro Campeão

 A pequena Aquila amava Sumô dos Reis.
Andava desde pequena, com seu pai fracassado e sua mãe indolente pelas vielas da cidade, vendo  algumas lutas e amando a potência dos corpulentos corpos se batendo.
Porém, chegou a adolescência e Aquila quis namorar, pois, não gostava de ficar andando sozinha, já que ninguém mais ia com ela as lutas. Encontrou um namorado, Rufo: magro, falante e mais tolo. Nesta época ela pintou o cabelo de rosa - a cor do Sumô dos Reis - e começou a sentir algo que subia do meio das pernas até a altura da barriga, suando-lhe a cabeça, pôs uma ideia nela: -Quero meu namorado campeão de sumô!
Tentou, então, pôr ele numa academia, haviam várias naquela época áurea em que projetávamos carros voadores. Mas, bem, Rufo saiu no primeiro ou segundo dia, disse o treinador de testa longa: - Muito magro para qualquer coisa, sangue ruim mesmo, voa que nem papel.
 Então, ela tentou engordá-lo: em redes de junk mais do food. Rufo comia, passava mal, mas, não engordava... E já estava lá pela sexta semana de namoro, nem um beijinho, só abraço e mão dada, sonho na cama dele. Em um dia, quando comiam comida árabe com fritas americanizadas, pôs-os-bofes indo correr pro banheiro.
 Aquila, apenas com raiva ficava, queria uma namorado campeão, mas, passou a querer Rufo também, com o calor da barriga: "Rufo Campeão" via nas faixas dentro de sua cabeça.
 Foi na casa do garoto, pois, como dizia sua vó Varia: Vaso Ruim é culpa de Artesão de Mão Ruim. Jantaram um rico peru com salmão que ela comprou de surpresa, junto com fritada que a família já prometera: nada, nada de nada fazia no pai, mãe, irmã de Rufo, todos magros, imensamente magros - via-lhes no branco dos olhos, o outro lado. Desesperou-se.
 Buscou em sites e e-mails perversos para professores de biologia até que, em um pequeno banner que sempre se repetia em suas procuras, resolveu clicar: "RESOLVEMOS SEUS PROBLEMAS! TODOS" e, embaixo, letras miúdas: "Mera Empreendimentos: Sua Rede de Resolver Tudo". Clicou e pegou umas pá de vírus, mas, pôde arranjar, lá pela terceira ou quarta página, o endereço de uma filial perto de sua casa, em sua média-cidade de interior.
 Chegou numa pequena porta, dois cômodos, a secretária pediu para que ela entrasse, já dizendo saber-lhe o problema. Tinha óculos de aros negros e cabelos escuros, era visivelmente ocidental, talvez italiana? Aquila entrou pela porta de rede e viu uma velha cigana, lá, com badulaques e ouros, pediu logo:
-Me dê o cartão que passo aqui, pagamento antecipado!
Fez isto, desconfiada da proposta da resolução de tudo, ao qual a velha, que era muito parecida com uma versão velha da secretária, respondeu:
 -Olha, tudo bem, uma vez pago e feito o contrato, nós realizamos o ato!
Sorriu a moça dos cabelos rosas que já descoloriam, contou-lhe o causo.
 A velha abriu uma gaveta e disse-lhe:
 -Aqui está, pega esta jujuba.
 -Por quê?
 -Ela pode resolver seus problemas, porém, já lhe digo: não é possível amar aquilo que você quer, ou você quer algo, ou o ama. Os dois, é apenas e só impossível, lembre-se disso.
 Quando a moça pegou a bala, a velha disse, com face triste:
 -Você tem calor demais em você, tenho algo pra isto...
 A face de Aquila negou aquilo e, a velha cigana, abaixando a cabeça e prostrando-se ao chão, disse, caminhando de costas:
 -Se teu cartão não aceitar a transação, Morte baterá em sua casa! Ciao!
  A alegria cobriu a face de Aquila e, ligando para Rufo, disse: -Pode ir na Luta Regional de hoje? - Negativo, prova amanhã, de biogeografia. Tudo bem, amanhã foram nas semifinais.
 Estava lotado, como sempre, até eu estava lá, sentado numa fileira a observar a história dos dois. Logo, depois do primeiro combate, Rufo lhe disse:
 -Aki-aki, sabe... Estamos já a quase dois meses, quero meu direito de homem... E sei que você também quer um...
 Ela pôs o dedo em sua boca, levou-o pela mão até uma parte atrás das arquibancadas e deu-lhe um tremendo beijo - o primeiro deles, de verdade, você sabe, daqueles.
 Tremendo a mãozinha, pôs na boca de Rufo uma balinha:
-Muito bafo, meu... Amor...
 Com esta palavra banida, deu outro beijo no rapaz que ficou corado. Voltaram para seus lugares, o rapaz suava constantemente com face esquentada e avermelhada, não parava de pensar em Aki-aki. Enquanto andavam, ele engordou dez quilos, quando sentou, vinte.
 No segundo round da segunda luta, ele berrou:
 -TE AMO AKI-AKI!
 Em pés largos chegou na plataforma de combate, lá, tirou a camisa do corpo setenta quilos mais gordo. O lutador da Zona Sul da Região se irritou com ele, pois estava ganhando: quando tentou empurrá-lo, sua mão foi quebrada, ao seu grito outro veio a sua ajuda, seu inimigo de ringue. Rufo deu-lhe um golpe e arrebentou-lhe a cabeça em dois.
 Aquila, sorriu e chorou, foi até o ringue, levantou o braço e gritou para o mundo:
 -TEMOS UM CAMPEÃO!
 Ainda não, pois, com os dois presos, ainda dois haviam para fazer a final no outro dia.
 Luto na tv on-line nacional, fogos de artifício foram jogados em cor rosa-púrpura das casas com seus canhões particulares. Foi tudo muito bonito, mas, Aki-aki não aceitava aquilo, e, vendo seu namorado na delegacia em única visita pedida por ele, vigiado por dez homens e a espera do juiz com julgamento (possivelmente capital), apenas lhe disse palavras de conforto:
 -Luta por mim? Seja meu campeão?
 E os músculos de mais de cem quilos daquele brutamontes colossal eram fracos para seu coração, que brilhava vermelho como se ofuscasse os olhos. Dez policiais de cabeças arrasadas e uma moça de cabelos rosas sequestrados. Com a parede da delegacia arrebentada, corriam os dois amantes para o Estádio de Sumô dos Reis.
 Em um cenário todo de preto em luto, entra o brutamontes de trezentos quilos a mais de seus mínimo peso. Aos gritos de justiça, vários ex-campeões e os dois combatentes da noite se unem contra o amante - ele põe a amante na beira da plataforma e se lança de barriga.
 No estrondo, pequeno pulo para cima da cadeira. Os campeões vão se rendendo a golpes esmagadores de um Rufo apaixonado que apenas sorri para sua amada, enquanto se banha de sangue e ossos quebrados. Ela, Aquila, vê tudo e... Em uma rápida fagulha, lembra do que a velha cigana disse, então, a própria Aki-Aki grita, desesperada:
 -EU TE AMO, RUFO! - Ela vê o namorado olhar para ela, já estava com mais de trocentos quilos, a plataforma quebrou e ele estava vermelho de chamas
 Sorriu, cochichou algo baixinho pela garganta fechada pela gordura e massa atômicas...
 Rufo explodiu.
"Voa que nem papel" - lembrou-se Aki-Aki agora toda vermelha


Disco Inferno http://www.youtube.com/watch?v=dewzOxQ52kg

sábado, 22 de março de 2014

Pra que escrever ou pensar?

Extremamente ficciocionalizado dentro de uma ampulheta que conta os traços das opiniões sobre a baixa dramaticidade das histórias.
Entretanto, até quanto as pessoas admitem a ficção? Até qual o limite pretende-se ser enganado com mundos de autores? E quando os literários dizem que você não criou mundo algum, mas, que sim, desenvolveu-se apenas dentro de um prospecto de dada época e lugar? Seria nossa vida e existência um mínimo pó de estrela e devemos nos contentar com isto? Qual o limite do Sistema e do Eu? Não acredito mais nos filósofos, nem nos cientistas, nem nos sacerdotes, elas já estão muito seguros de si para pensarem para mim algo que eu realmente acredite.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Olá amigo

"Mas, o que aconteceu com você? Que a todos dizia o que fazer e quando dizer
Mas, o que houve contigo, que, na semana passada, obrigou a pular dum prédio um amigo
Porém, vivo está, chorando ficou, quando de um olhar mais severo deu a ele
Mas, o que aconteceu com você? Que possuía uma coroa de ouro feita pelos gnomos do Passeio Público
Dado pela beleza das suas ordens
Bem, talvez, o que aconteceu com você é que decidiu fazer outra coisa
Decidiu que estava sem sentido e decidiu escrever um novo trilho
No papel branco da folha
E, mais uma vez, pensou ter ordem ao caos
E a todos ordenar
Mas, o que aconteceu com você?
Que pensou que podia voar
E pulou da Ponte do Capanema. Caiu na real?"

(Lucrător Prosper, "Cadeia do Ipê Roxo", Curitiba, 2017)

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Espaço mudo

 Faz tempo que não recebo nada além de uma pequena luz pálida azul que corta minha tela esférica de minha nave. Olhando para o escuro eterno, minha tela projetada na janela coloca pontos e diversos elementos, talvez não tanto para a navegação, mas, para que eu não me mate de tédio.
 Tédio, a grande palavra da exploração de todos os tempos de nossa raça.
 Não há muito o que fazer além de anotar algumas ideias numa tela, tudo é quase que automático e alguns robôs vem e vão, com sua pequenês servil, levando para lá e para cá, arrumando alguns pinos e pontos-fundidos. Dei nome a cada um deles, os dezessete, que, solenemente, não me respondem, sabe, coisa de segurança: colocar voz em uma máquina sem sentimentos é perigoso pra cabeça...
 Então, em uma sinfonia insone, enquanto eu dormia com meu tapa-olhos, começa um tremendo barulho de luzes vermelhas piscantes e amarelas, a cor do perigo. Depois de cinco anos, algo acontece: as máquinas, enlouquecidas, correm de um lado para o outro, sacando facas elétricas de seus gabinetes que eu nem sabia que existiam, a máquina em forma de H põe-se a mexer-se, começa a sequência de ativação dos canhões de plutônio irradiado e dos círculos benzidos de energia eletromagnética, armas mortais. Uma única ordem aparece em toda a tela projetada pela nave, tomada agora de uma escuridão tenebrosa:
-SOREN, SOREN IAMATO, PREPARE-SE PARA O CONTATO
 Três gavetas abrem em meu quarto, uma com uma câmera ocular, indestrutível ao vácuo, ao qual coloco como uma lente, uma pistola-baioneta e uma pequena cápsula, se tomá-la, explodo atomicamente.
 Tudo fica em silêncio, em tremendo silêncio, as máquinas entram em modo espião, as câmeras em modo noturno e todo o som da nave é ampliado em alto-falantes em meu quarto: não são passos, são barulhos de arrasto, então, a porta da nave externa abre-se, ouço grunhidos e, logo, vários arrastos entram...
 A porta abre-se para o salão central, firmo o passo... Ele treme, firmo de novo, ele treme e continuo pelo estreito corredor até o salão central.
 Eles demoram a vir, o arrasto continua por uns dez ou quinze minutos, não lembro de ter nenhuma ideia ou sensação de heroísmo naquela hora, estava com pistola no coldre e a lente coçava; a cabeça vazia, mas, na espinha um pavor, tudo parecia mais escuro e a porta do salão, maior, a disformidade do pânico.
 Abre-se a porta.
 Um gás invade a sala, fecho meu capacete oval, tudo fica amarelado e meus olhos turvam, grito para o computador iluminar, as projeções no ar começam a vermelhidar... Na porta vultos enormes aparecem e, de repente, um entra... Um lindíssima mulher de olhos gatunos, uma lince de cabelos castanhos...
 -Fale comigo - estremeço a voz
 -Gkltar glutar... - Grunhidos que não compreendo... Entretanto, ela mostra para que eu retire o capacete, não aceito, acenando com a cabeça, o que ela não entende, fazemos mímicas estranhas entre nós...
 Algo voa dos outros vultos, acerta minha cabeça, neste momento, os robôs diminutos e com suas rodinhas, saem das paredes e tiram suas facas, toda a nave é iluminada, de forma que os vultos se revelem e, talvez, fiquem cegos... Olho para a linda moça por uma última vez, até que meu capacete se quebre e o gás entre... Desmaio

 Ela me dá um beijo em um enorme deserto... É tudo muito amarelo e nada parece acontecer além dela me olhar com olhos castanhos-azuis... Ela seria uma mestiça? Um feito-em-laboratório? Não sei, não me importa...
 Me toma pela mão e me leva entre enormes construções estranhas, parecidas com árvores, sequoias de pontas coloridas, apenas vejo pessoas de branco nelas. Ao fundo, em montanhas vermelhas, pontas se acendem para o céu, como nossos foguetes na Velha Terra. Então, seguimos entre alguns arbustos dispostos em círculos e ela me mostra uma pequena lata avermelhada, eu a abro e o ar amarelo escapa dali...
 -É isto que me deixou assim?
 Ela apenas aponta para a lata, ninguém fala ali, o silêncio é tenente, mestre daquele sonho inteiro, apenas escuto minha respiração, apagando... Ora, acordando.
 Saco a minha pistola, ela me olha atentamente, sinto que os outros, todos vestidos de branco, também me observam atentamente... Sinto que posso ainda ter contato com alguma forma física de mim mesmo, então, coloco a pistola no coldre novamente e, pensando muito bem naqueles instantes, tiro de um pequeno bolso a pílula e coloco na boca... Ela age em cinco segundos, se meu coração parar, e isto é que ele não faz naquele momento
 Olho para os olhos dela, ela me fita profundamente, sinto que nós temos uma certa semelhança... Talvez o "tal espírito" que os filosofógrafos buscavam em tantas colônias e teorias... Não sei como comportar-me, nem ela...
 Então, tomo ela me meus braços e os outros movem-se para tirá-la de mim, sou mais rápido e beijo-a profundamente.

 Tudo clareia e estamos no salão, a fumaça se dissipa e há um enorme ser caído aos meus pés, é um enorme ser lesmiforme, com braços peludos e face de uma boca e dois olhos, acho que são olhos. Ele está de certa forma desmaiado... Os outros me olham, estão com carapaças negras de adornos amarelos... Eles retiram pontas que seguram com seus três braços peludos, os robôs se lançam enquanto gritam um avisto: "ARMA TÉRMICA REGISTRADA"
 Fecho os olhos e abaixo minha cabeça, eu fui um péssimo embaixador para a única raça inteligente encontrada por nós em cento e cinquenta anos... Então, quando olho para o ser caído aos meus pés, ele sorri pra mim e pressinto ser ela...
 Veja só, nunca me apaixonei na Velha Terra nem em Tritão, nem em Zéfiro, ou outra colônia... Estranho este mundo...
 A arma dispara e meu peito explode em faíscas vermelhas do meu sangue, os robôs trucidam os seres que grunhem algo... Enquanto eu estou caído, tendo voado pelo salão e batido na parede, olho para a cara do ser na minha frente, ferido, acho que vi um sorriso...
 O flash da cara da mulher da ilusão me vem, então, sinto um enorme fogo subindo e, bem, logo, tudo fica claro e eu sou o primeiro a encontrar o som no espaço.


domingo, 26 de janeiro de 2014

Soco

 Retirou levemente as bandagens que cobriam suas mãos feridas, enquanto via os seus colegas, mortos em sua frente, abraçados com suas baionetas cravadas nos enormes robôs de brilho pálido e amarelado do Imperador.
as forças rebeldes estavam liquidadas e aquela moça, que lutava boxe e fora famosa um dia, não mais dizia nenhuma palavra, passava levemente a mão no cabelo rosa que crescia de novo... Não havia muita coisa além de olhar levemente para a poça que a chuva fazia, olhar sua cara careca.
 -Sou uma estranha aqui... - Disse, para os mortos, levantou-se e arrastou enormes luvas com caveiras desenhadas.
 -Se não temos nada pelo que lutar, talvez não seja preciso mais viver. - Falou para o abismo que aparecia na sua frente, era uma vala aberta por um bombardeio de Bomba Nadsat que transformou o céu em um grande espaço laranja, como o macacão dela, Varia Mari
Lá embaixo, alguns caídos pelo ataque posterior, e posterior, e posterior, não sei mais. Apenas vi que Varia andava em círculos, pensando qual seria o melhor momento para pular, quando, de repente, veio uma memória e a li:
 Espelho de cristal dado por seu namorado que era um gato refletia seu sorriso cômico cheio de dentes, pegava grandes luvas com caveiras desenhadas e colocava, firmemente sobre as mãos, aquela arma para seu Coliseu seguia com intensidade batia, lá estava ele, Rudolfo Pentaleão, o último campeão de boxe do Império...
 Um, dois, três assaltos e não havia mais Pentaleão, apenas seus dentes no chão deste fluxo de consciência que a memória final de Varia...
 Um belo cinto de alumínio e aclamação, correu para o quartinho aonde trocavam de roupa e a tirou, lá estava seu namorado, taciturno e olhando-a com olhos de sereia, olhando como se quisesse algo mais dela. E ela tirou a roupa e o beijou. O sol da manhã seguinte entrando pela claraboia foi o que os acordou, ela estava preguiçosa, mas, em pelo levantou enquanto ele segurava sua mão, sem soltar:
 -Esta guerra... Está chegando em nós, não? - Disse, soltando a mão dele e penteando os cabelos
 -Sim, está... Mas, nós venceremos ela antes... - Respondeu o namorado, pondo sua máscara de felino, que era moda naquela época daquele povo.
 -Somos vinte contra cem, o que podemos fazer?
 -Ter motivos para lutar, oras...
 - E qual é o seu?
 -Depor o Imperador...
 Ela permaneceu em silêncio, pôs um colete azul, bufou cansada por estar cedo e ter compromissos logo. Não disse adeus direito para ele, tomou café verde e beijou levemente a mão dele.
 Foi o dia do Grande Ataque, aonde as forças do Império arrasaram com Bombas Nadsat a capital dos rebeldes. Varia pegou um trem algumas horas antes, para promover sua vitória, aquele que ela não deu adeus direito, não.
...
 Olhou firmemente para os corpos lá embaixo, estavam cinzas ora laranjas.
 Deixou o corpo cair
 Todo o peso de tudo que tinha parecia enorme.



 Abracei-a com meu enorme braço, continua bela quando assustada, esta Varia. Com seu grito, revelei quem eu era dizendo algumas palavras:
 -Olá, Varia! Como está a minha campeã?
 A surpresa dela ao ver que eu, Rudolfo Pentaleão estava vivo fora enorme.
 Passado o susto, voltamos a andar, não havia muita coisa em pé, mas, achamos uma venda aonde deram água e suquinho para a moça. Seguimos pela cidade até encontrarmos uma patrulha de homens com cara de máquina, eles falavam com sotaque da Capital do Império e olhou Varia de perto...
 Passamos por eles, Varia estava exausta, queria descansar... Começou a clarear uma luz solar branca, que cortava as faces, ordenaram para que nós fossemos de volta para nossas casas, entramos em qualquer uma ainda em pé
 -Sabe... - disse-me ao achar uma cadeira - queria meu cabelo de volta, mas, com as bombas não dá... Passei um bom tempo da Guerra olhando-me em espelhos depois que perdi os cabelos, é fútil, não?
 -Por quê? Eu era barbudo e cabeludo e agora sou um ovo avermelhado... - Rimos, mas, não muito
 -Porque era por isto que lutava... Não era por alguém... Pensei nisto hoje, antes de... Bem, de você aparecer...
 -Mas, qual o problema de lutar pelo seu cabelo?
 -Mas... Quando minha terra natal explodiu... Bem... O que eu amava morreu em mim para virar isto: cerrou os punhos e me mostrou
 -Eu sempre li em livros e diziam pra nós na escola que, bem, deveríamos ter coisas grandes e honrosas para nos preocuparem... Depois de um tempo... Não sei... Não sei se isto realmente é real e de verdade
 -Então, se não lutarmos por grandes coisas, lutar pelo que?
 Olhei para o chão, era cinza como tudo, mas, ainda tinha manchas de laranja.
 -Pelo que lutou pela primeira vez? - perguntei
 Vi um fluxo vindo e entrei nele, lendo-o:
 Estava jovem a dona Varia Mari quando seu pai, numa cama, olhava-a a dizia, vestido de uma máscara de urso:
 -Filha, teu irmão é doente, tua mãe morta, o que fará para sustentar suas pernas?
 -Não sei, pai - Chorava, parou e falou: - Você me ensinou a lutar!
 Como se já soubesse a resposta, falou:
 -Olhe minha face
 Ela tirou sua máscara e viu a cara desfigurada do pai
 -Isto é pelo Boxe que lutei minha vida inteira, ele pôs comida para vocês por muito tempo e agora me matou...
 -Eu sei...
 -E quando meu pai morreu, do mesmo jeito que eu, também era assim...
 -Mas, o que vou fazer mais do que lutar?
 -... - o pai ficou em silêncio, apenas apontou para uma caixa enorme aonde as luvas que eram mais gigantes para ela naquela época estavam num baú no pé da cama
 Começou assim, de liga em liga, até o pai morrer por seus ferimentos, nunca mais disse uma palavra.
...
 No fim das contas, entendi, quando olhava para o corpo curvado de Varia naquela cadeira, a luz do branca do nosso sol cai-a-lhe nos olhos, acordou, me olhou e fixou enquanto eu dizia:
 -Esta na hora de irmos, Varia... Esta na hora de morrer
 Ela tocou na barriga e lá havia sangue, laranja, ainda brotando. A dor voltou e ela cuspiu em cima de mim...
 -Você me lembra ele... Pantaleão...
 -...
 -Nunca pude dar um adeus direito pra ele... Quando, a cidade explodiu e... E...
 -... Eu sei.
 E minha mão tornou-se cara crapulosa e curva, arranhava a parede, fendia pouco a pouco ela e tomava a sua energia, sentia que deixava ela mais e mais cansada... Estava tocando sua face, cortando a sua vida, quando ouvi ela dizer:
 -Lutei por você, lutei pelo meu pai... Lutei por rebeldes, lutei mesmo contra robôs... E...
 Minhas caras tornavam-la mais e mais pálida, o sopro ia vindo e eu começava a me sentir enlouquecido com aquele tom de rosa e laranja, aquela pequena era ótima... Senti quando ela me tocou na face, olhei-a nos olhos, os meus vermelhos e os dela verdinhos
 Disse qualquer coisa, ouvi apenas, em meu inebriante ato:
 -... mim
 Cai para trás a seguir, o soco foi tão forte, que eu não enxergava nada, ela corria pela porta iluminada, eu tentei me levantar, mas, cai novamente, estava morrendo... Com um soco estava morrendo...
 Minhas garras apontavam para a porta, quando vi o corpo de Varia iluminado pela luz, vi então ela como quando ganhou do seu amor Pantaleão o campeonato, vi ela rosa, laranja e dando porrada...
 Cuspi laranja, entrei em coma e morri, não sei se por sorte ou esperança