domingo, 17 de fevereiro de 2019

Três aforismos, Flores de Emma, Trecho de sexo, Fome

Amigos são pilares que sustentam o céu

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Em nossas feridas podem nascer flores de aço

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Triste, porém, vivo

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Apenas sinta, meu amor
Apenas sinta, em seu corpo que adormece
Em seus olhos que se mexem, sonhando em quando éramos jovens
Ou quando éramos um simples corpo
Em busca do infinito?
Descanse, meu pequeno pedaço de céu
Enquanto te vejo aqui, nesta cama fria
De um mundo mais frio
Pois, meu sol está indo embora
Mas, ele está no meu peito
Em busca do infinito?


Apenas sinto, meu amor
Minha pequena Emma, nossos anos acumularam
Nos dedos enrugados selados numa aliança
De uma liga metálica
Que preenche todo o vácuo de nossas vidas
Apenas sinto, meu amor
Por todas as desculpas, por toda aquela palavra que não pude dizer
Mas, que agora é apenas um pequeno nada
Frente a nós, simples poeira, das estrelas
Do universo de tudo que existe
Em busca do infinito estava?
Toda e qualquer estrada, tem suas feridas estancadas
Quando nascem as flores de aço

Durma, que eu sonharei sempre contigo
Até nos vermos
Emma
De seu pequeno, Romeu, aos 78 anos

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O homem que jamais sorriu
Triste, porém vivo
O aço de sua face, festim das chamas
Olhava cinicamente
A mulher a sua frente
Perdida na solidão do desejo
Apenas entregava seu corpo
Queria entregar tudo para ele
Jamais sorrindo
Já não mais ela perde-se
Encontram-se
Furiosamente
No duelo do deserto de seus espíritos


Cai o raio de sol, corta seu rosto, o homem, com o calor
Treme a mulher, pelo fio condutor do suor
Um beijo sela, aquele ato de ferver os mares aos céus
Numa única...
Encaixe cósmico

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FOME
SINTO FOME
Entre as estepes, cacei meus sonhos
De ser o imperador de toda a terra conhecida
Entre meus dois olhos!
Nos mares, cacei os tesouros
Escondidos nas ilhas mais secretas, das brumas
Dos cabelos daquela pessoa mais linda
Nas cidades mais cheias de gente,
Pensei ser eu alguma coisa, quando não era nada!
SINTO FOME
E ela é de vida
Viver em cada momento uma vida, gastar à força meus anos
Consumi-los numa fagulha
Nenhuma vela acendeu
Nenhum foguete se levantará
E a Guerra Mundial cessará
Nas sombras criadas pela luz
Síntese eletrônica de meu coração
SINTO FOME
Já somos máquina, robôs da história
Folias de outros reis
Espíritos que perseguem a si mesmos, exorcizando-se
No baile de máscaras que é o mundo
SINTO FOME
Das vidas que me fizeram querer
Mas, não ter


Assim, vomitou os anos o jovem com fome.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

Homem na Lua, Viajante, Estrada da menina

Entre o espaço de seus olhos
Viajei por todos os oceanos, das profundas Marianas
Aos altos céus de Everest
Cruzamos os olhares naquela esquina de Paris
Naquele ônibus em São Paulo, na capital dos desolados
Na pequena estrada de alguma vila, em Portugal
Ou nas plantações de flores secretas, no Paquistão
Entre o espaço de minhas mãos
Te abracei e senti o toque do mundo inteiro
Me sustentando às pernas
Os ombros cansados se repousaram
Minha voz se calou
E eu viajei
Entre o espaço de seus olhar, com o meu
Meus pés se firmaram no solo
Caminhando por uma estrada de outro
De outros mais que caminharam
Que falharam ou governaram
Que venceram ou resistiram


Entre o espaço de seus olhos
Já não mais precisei me ver no espelho
Pois, estava completo, contigo
Vi eu mesmo


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Saudação de um homem na Lua

-Dentro do seu corpo
Dentro de meu corpo
Um raio de fogo percorre do pecado até minhas entranhas
O festim de um foguete
Iluminando a noite escura
Aqui ao sul dos trópicos


-Te vejo vir, com seu jeito
Com seu todo o seu você
Não posso mais sentir ou demonstrar o que sinto
Calou minha boca
Fazendo falar a minha alma

-Também já não posso mais, resistir a tal fusão
Que traz a sua boca
Para a minha
Forja o aço de uma lança, que furou o céu
Que chega a até a Lua
...
Agora estou aqui, nesta terra pálida de cor açúcar
Como tua pele
Vejo a Terra, ela é azul, solidão verte dos mares
Mas, a força, a força de tantos que estão aí
Enterrados
Eu os sinto, eu os vejo, eu estou com eles
Estarei com eles, como estou contigo, Aquela que Olho

E na Lua, o Olhar se perdeu
Aquela que olhou, espera por ele
Assim como ele espera por ela
O tempo para para os dois
Quando vêem um ao outro
Mas, a Lua e as estrelas continuam em seus movimentos
Misteriosos

Dentro dos corpos celestes, haverá luz?
Dentro das vistas dos homens, haverá escuridão?
Agora estou aqui, nesta pálida terra cor de açúcar
Devaneios mil, azul de meu peito, cor anil

Minha alma fala
Quando a boca cala
E a palavra escreve




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Caminha, jovem menina
Caminha, corre
Busca aquilo que falta no seu peito
Que a estrada se faz na caminhada
Na batalha que forja
Aquilo que na paz falta
Não desista
Continua
Que a vida é contínuo
Pode sofrer
Mas, ainda há pelo que sorrir
Sempre haverá
Sempre caminhará
Mesmo que com passos lentos na velhice
Ou afobados, na juventude
Fugindo d'onde está
Ou atacando com a carga de um cavaleiro
O inimigo a sua frente
Estará ali, menina
Dependente de seus passos


Agora, me abraça
Dorme bem comigo em sua cabeça
Pois, estou aqui contigo
Sou aquele que segura sua mão sempre
Que você precisa sempre estar contigo
Me vê no espelho,
E neste olhar amigo espera
Eu que sou você
Te fazer um pedido:
Continua e caminha
Que só na estrada se faz e se enfrenta o perigo

Vento


Eduarodo, nunca vai poder falar à ninguém
Vivemos no silêncio
Tumular de nossos sentimentos
Alguns apenas sentem demasiado
Isto é errado
O que não indica se é profano ou sagrado
Ora o que se sente transcende o habitual
É arte
Ora converte em espúrio, o banal
É grotesco
Porém, é silêncio que todos temos
Para com todo o outro
Não para com Ele, que tudo conhece
Se crê nisto
Em débeis frases congelamos o pouco
Do sentido que compreendemos
Alguns, com sua estrada, buscam
Fazer uma escada para o sol
Iluminar a tudo consigo
Outros, cavam a terra, em busca de dureza
E de pedra, erguer castelos e famílias
Outro erra, viaja como a água
Espalha continente, de sentimento
Eu, Eduarodo, apenas sou o vento
A brisa que traz algum alento
Alguma primavera
Mas, sou ar, so'vento
O vazio em que me atormento
Pura tempestade tumular
Daquilo que todos não podemos dizer
Daquele que não pôde mais amar.


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Suicidou-se
No copo de água que era sua alma
O inútil perdido na terra do tempo

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