sábado, 23 de abril de 2011

O Aliado em GranPinus #Agentes do Caos

 O Barão está apreensivo, suas moedas e notas de réis estão nos bolsos dos rebeldes, eles guardam eles em seus bolsos e pagam as senhoras de vida fácil nas cidades ao sul, no outro estado já... Ele salvara o lugar onde vive, salvou a capital de GranPinus, Nossa Senhora Curtiba, era seu nome na época. Seu nome já ninguém lembra, sabe-se que tinha a alcunha de Barão do Cerro Azul, nem sabem -assim como eu não sabia- que ele deu todo o seu tesouro, vindo de anos de acumulação da família para os Pergattos e Woodys do sul, de Gauchia, o estado dos gaúchos, para que estes não tomassem a capital de assalto e liquidassem os poucos moradores que ainda não fugiram de lá... Grande gesto, pena ele ser um poder aqui, o governador Pitágoras quer sua cabeça, o presidente de San Paul, Jorge Véio, também...
 Ele não sabe, só lembra de sua família em Curtiba, podem estar bem ou não... Ele, só olha pra Serra do Mar, enquanto passeia pelos seu trilhos em direção ao porto... Cortam as montanhas, a força do humano, porém as maiores forças não estariam em cortar a rocha... Mas, em fazer, no pensar.
 Muitas ideias, muitas balelas correm na mente do nobre de título comprado... O trem fretado para... Eles descem, há estranheza na pequena comitiva, o Barão mais três empregados, todos pegos em casa três dias depois de terem "salvado" pagado as três tropas de rebelados. Descem do trem, há névoa pelas montanhas... Paisagem bonita, como sempre, o humano vê as montanhas e as respeita, há solenidade no local, como um sepulcro...
                Será mesmo.
                -... Traidor... -É a última palavra de Faisão Autores,
                um secretário do governador Pitágoras lera
                numa carta; ele falava não sobre um acordo com os rebeldes,
                mas sobre uma estratégia, falava de golpe...
 O Barão até que queria, mas sempre foi meio lento, não queria luta, mas, era um daqueles que poderia fazer coisas ruins para manter seus sonhos de "Igualdade e Fraternidade" (alguns humanos hoje ainda sonham assim, enfim, é um jeito de deixar as coisas boas, não?), entretanto, numa pequena casinha na Serra, seus sonhos acabaram: um, dois, as pistolas disparavam no máximo dois tiros, só faltava ele e mais um empregado, Matheus, um antigo escravo liberto... Ele estava confiante, e não era fé...
 Os olhos azuis do Barão olharam os guardas armarem mais uma pistola, uma apontava para Matheus, velho amigo de infância... O velho pensou até em reagir, porém, tinha medo... Poderia pegar a espada de um dos guardas, tentar reagir, era bom de esgrima, ele poderia pegar a pistola, ele... Bem, não há heróis no final... Não pode fazer nada...
                                   Pá!
                                   Seu amigo se vai, o velho Barão vai ao encontro dele,
                                   consola-se em sua morte na poça de sangue
                                   de seu amigo morto...
                                   Ele sorri, diz: "-Confia! Chamamos quem precisávamos!
                                   Ele é um Deles, tem um corvo consigo"
 O Barão se lembra...
 *Dois meses atrás, os rebeldes sobem para o estado de Santa Maria Catarina, divisa ao sul de GranPinus*
 Escritório do Barão, N.S. Curtiba, no que viria a ser o Colégio Estadual, vinte anos depois... Um lugar de madeira, cheio de pompa, peso e cheiro de velho... Sim, o autor deste texto estudou lá e sabe como é um lugar sonolento! Porém, naquela manhã fria, há 130 anos, não era...
 -Como assim Matheus? Um bruxo? é isto? Vamos pedir ajuda de tais coisas?
 -Sim, sim Barão! É o jeito!
 -Mas, você viu o que aconteceu a Nassau, ele tentou usar a força das máquinas dos goblins, há cem anos... Acabou traído por eles, e hoje os Senhores de Engenho possuem as máquinas Leviatãs, com as quais dominam o norte! Não podemos arriscar!
 -Meu sinhô, sei que você não quer isto... Mas, este ser era um padre... Em tempo muito remotos... Quando as bandeiras destruíram o Guaíra, mataram índios e jesuítas... Ele fugiu, sabia coisas dos índios, conviveu na floresta, viveu lá... Se tornou parte dela! E com o perdão da ousadia... Já lhe mandei chamar... Tropeiros irão pra lá, em uma missão difícil, impossível, mas, já foram!
 -Como assim? O que estás a falar? -Os olhos azuis do Barão esbugalharam-se, sua vontade era mandá-lo pro lugar onde as vacas soltam estrume...
 A raiva durou um dia, noutro, ele esqueceu... Era uma falsa esperança, nada havia, só os rebeldes subindo...
 Falsa esperanças se tornam as vezes a única coisa...
 *E na poça de sangue de Matheus, voltamos naquele momento, na Serra do Mar*
 A arma aponta para o Barão, ele lembra da conversa de dois meses atrás, agora está perplexo...
 Faisão Autores aponta a arma pra ele... PÁ!
 ...
 Há medo, coisas voam, soldados sobem ao alto, as árvores estão vivas!!!
 ...O tiro sangra, apenas um casco de árvore, pois a bala foi desviada, um galho bateu na mão do atirador, logo depois, outro atravessa-lhe o peito, o barulho e a loucura fazem o Barão correr... Ele corre loucamente para dentro da floresta, na loucura, no sentido da sobrevivência, como se hoje, agora, ao seu lado, uma bombinha estourasse e você, na inércia do medo, corre-se, pra salvar-se... E danem-se os outros!
 ...Dez minutos depois...
 Uma sombra cai sobre o Barão, tem uma veste de padre, um chapéu de palha... Ele o vê, tem medo...
 -Você é o Barão? -Diz a voz com sotaque de guarani com português...
 -Sim, sou! -O velho diz, depois de momentos de medo... Na verdade, uns dois minutos de silêncio
 A pele dele é verde, ele sorri não com dentes, mas espinhos de árvore! Mostra seu braço, tem um corvo tatuado nele... Como Matheus avisara... Mal sabia o velho, este era um Deles, um de Nós, um Agente.
                             Dois dias depois, já em Curtiba, ele reencontra
                             com a família, nunca mais seria o mesmo...
                             Agora, há mais coisa em jogo, o Barão perdera
                             algo mais que o amigo naquele dia...
                             Todo o dia ficamos cada vez mais vazios...
                             talvez, isto seja envelhecer, ficar vazio
                             E não deve ser tão ruim... Ao menos, no caso deles
 O Barão de Cerro Azul agora possui um aliado, seu nome é apenas Padre... Ele tem muito mais que vinhas e poder sobre galhos, representa algo, representa quando um homem que tem apenas desejos e era levado para a inércia para uma morte da qual não vale nada, apenas para ficar em livros de História, decide fazer a sua História.
 Mesmo que este conto não seja aceito por algum purista, que vale é que ele ficou na minha gaveta, por anos, desde que sai do Estadual... E agora, conto como surgiu a força do Barão em Brasilis. O nosso Aliado.
 Tomar seu próprio destino, seu caminho.


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sábado, 16 de abril de 2011

Um dia no banco #Agentes do Caos

 Estávamos eu e Ricardo no carro, modelo antigo, eu de tênis de pano preto, ele seduzindo... Muito amor corria por aquela cena... Como suor, lágrimas e risos. Dirigia, eu, com a metralhadora... Sempre me lembrou um "T", a forma desta arma, não sei, talvez seja o ácido. A festa, a paixão.
 *Isto foi às 9 da manhã, perto do centro.*
 Lá estou eu... Sentado no banco do banco, trinta anos de serviço hoje, segurança respeitável, de bigode branco e três netos, estou feliz, mesmo minha velha com tossinha e eu com esta dor nas costas desgramada! Arma 38 pesando, estranho, acho que é a idade... Tanto tempo de trabalho, nenhum tiro... Bom.
 *Isto foi às 10 da manhã, no Banco Rapina SA*
 Ai minha Nossa Senhora! Tenho que comprar as roupas dos meninos! Num sábado quente, chato e mormaço por tudo; eu aqui, sapato de salto, vestido vermelho, ai como esta horrível! Por que não o de bolinha! Lá vou eu, tirar meu dinheirinho do trabalho da madame, depois, calças boca de sino... Onde é que vamos parar? No meu tempo nossos bailes de formatura, quando tinha, eram com terninho e vestido e, as vezes um casaquinho! Este meu filho Ramiro! Só tá fazendo isto pra aquela safada da Ana!
 *Isto, às 10 e 15 da manhã, numa rua movimentada do centro, próximo a um banco*
 Enfim, estava eu lá: Banco Rapina SA, rua Cândido Anjo, centro, quase 10 e meia... Esperando encontrar certas pessoas que me levariam ao tal Mestre... Era minha missão, deveria cumpri-lá, encontrar o tal Panda Vermelho, eliminá-lo! Sei que era difícil, mas tinha que tentar!
 Minha barba coçava e pensei em ir embora, já há duas horas esperando, o velho guarda já me olhava estranhamente... Na pasta, nada de mais, só uma pistola e uma granada, eu era do Maio Vermelho, mas, era mais dos Agentes, deveria cumprir minha própria missão -quero liberdade destas coisas!
 De súbito, entraram dentro do banco dois caras, um maior, mal encarado, outro, menor, mais frágil... Este segundo tinha uma maleta grande, o outro, era mal educado, empurrou uma velha de vestido vermelho...
 A velha esbravejava...
 De repente, o grito: "-Isto é um assalto!", muitos gritos se seguiram, o velho pegou sua arma, o mal encarado colocara sua mão no bolso interno, tirou a pistola e liquidou o senhor... Eu abaixado e perto do antes vivo guarda, vi em sua face com grande bigode branco as manchas de sangue espalhadas... Triste...
 Pensei na arma na pasta
 O mal encarado pegara a velha que antes falava aos montes de refém, o mais frágil, sacou uma metralhadora da bolsa, gritavam por dinheiro, a atendente respondera ao pedido... A ordem, na verdade. Colocava as notas e os dois mais irritados, eu, com a pistola da pasta na cabeça: e se...
 Alarme toca, o gerente acionara, os dois bandidos são amadores, porém, viram o gerente fazer o sinal, o botão embaixo duma mesa. O frágil pula o guichê e, com olhos brilhantes, descarrega nele e em outra funcionária... Pânico.
 O seu amante mal encarado berra em reprovação: "Temos que ir! Chamamos a atenção!!!"; o outro, ainda meio desnorteado de sua chacina, demora entender, mais pega um monte de pacotes de dinheiro, o outro, também, começam a ir pra porta... Vão passar por mim, eu...
 *Cheiro de incenso no ar*
 -Olá! -Me diz com sotaque francês. Viro pra trás, pras cadeiras e me espanto: um homem com cabeça de gato preto! Terno e coletes pretos, cara de gato preto, só os olhos, isto sim, mudavam de cor... Eram cinzas.
 -Meu nome é Neuf, e sou seu contato. -Me diz o ser.
 -O quê?
 -Seu trabalho, lembra? Deveria ficar quieto... Só isto... Este é o jeito, este é o recado.
 Percebi erros.. Comecei a lembrar que há coisa no mundo que não controlamos, tudo, na verdade, não há controle, não há ninguém por aí... Há Caos? É isto? Devo me ater ao que então?
 Fiz esta pergunta a ele: "-Devo me ater ao que então?"
 Já tinha saído...
 Eu ouvi tiros, sirenes haviam tocado... Levantei calmamente, vi a cena tranquilamente, como a um filme: o frágil corria pra dentro de novo, ele chorava, a metralhadora zuniu perto da porta, ele correu mais um pouco, vi ele lateralmente... Pápápá!
 Tiros fizeram ele se contorcer, ele derrubou a arma, caía... Andou metros, até mim, caiu em meus braços, chorava... Vi o medo, vi seu erro, vi sua paixão... "-Amo Ricardo...", ouvi ele dizer... Guardas entravam, militares e civis, com suas metrancas, pedindo para sairmos...
 ...
 Engraçado, levantei, deixei ele lá, minha roupa ensanguentada... Só pensei na Mariazinha, lembrei que amei ela uma vez... Deixei minha pasta lá, com a arma, granada e papéis do grupo... Possivelmente, achariam aquilo e diriam: "Terroristas", meu amigos estavam ferrados... Eu seria perseguidos pelos dois lados... Mas, e daí, estava aéreo naquele instante, estava muito estranho... Acho que descobrira algo, e não era a roda...
 A liberdade, enquanto passava pelos corpos da velha e do mal encarado, era estranha, cada um tem uma história e cada um se perde nela, como uma ópera trágica e estúpida, uma comédia pros outros... Caminhamos por ali e acolá, sem muito o que fazer a não ser caminhar...
 Eu segui a rua, caminhando, triste pelas perdas, na verdade, feliz, por não me perder... Ao menos, não perder o meu corpo...
 "E as metralhadoras cantaram", como ouvi uma vez.


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segunda-feira, 11 de abril de 2011

O pequeno caso do Cão Calixto #Agentes do Caos

 -Desejo um teletransporte!
 Falou minha filha de quinze anos.
  -Não posso te dar o mundo criança, entenda! -Falei pra ela, olhos d'água, barriga a sangrar e havíamos -eu, ela e sua mãe morta, pintado uma triste figura em Abul Akara.
 ...
 Abul Akara, uma das primeiras cidades planejadas com mãos de ferro por um ditador muçulmano no século XVIII, ele foi deposto depois, mas, tinha feito um trabalho espantoso: no meio do deserto pedregosos da Etiópia, ergueu uma cidade de cobre e ferro, forjada em canos que a atravessavam, fazendo pontes e rios de metal, uma obra monumental, tudo em busca de uma coisa: água. E por pouco mais de trinta anos, eles foram os mais ricos da região, qui'sabe do continente.
 Mas, a água acabou, as pessoas se foram, o dinheiro se foi, o ideal morreu. E agora, rei Abul III?
 ...
 "Agora ele come mato pela raiz!", falavam os três grandes seguranças do Palácio de Cobre.
 A mãe, morta e desonrada pelo pior deles, o pai, morrendo, atirado pelo mais contrariado em trair o rei, a filha, chorando ao lado do pai, era desejada pelo outro, o terceiro (mais quieto, mais sádico!).
 Cheguei neste momento, sorrateiro, passei minha cauda pelo que violentou -o mais mau-, minha cauda de ponta de flecha cortou sua garganta; me senti justiceiro, engraçado. O segundo, o atirador, reagiu e quase me acertou, dobrei meu corpo como borracha e mordi sua cabeça, minha boca de cão deu conta de arrancá-la. O terceiro, já com os membros pra fora e com a filha do rei deitada perto da varanda, próxima a "perder a inocência", morreu de susto: foi correr e caiu da varanda.
 ...
 Sou um anjo de deus pra menina, ela me olha com cara de admirada, a anos que ninguém me via assim... Desde que minha mãe cuidava de mim, a uns cinquenta anos atrás, na Baviera... Eu era uma criança diferente, chifres e pele escurecendo, mas não só a pele, estava virando couraça, caía e doía. Nasci Michel Leiblfing, agora sou me chamo Calixto... Sou um meio homem, meio cão, tenho quase dois metros, preto, cauda de ponta, chifres curvados e triste, triste porque entre os que lêem este texto, há muitos que só vêem minha parte externa, meu corpo e músculos, e poderes; minha feiúra e forma, com seus olhos, tentam falar o que sou, através do espelho das suas casa, vocês -leitores- tentam colocar-me, não sou uma forma que vocês podem definir por vocês, sou o que sou pra mim, já me basta. Não bastou pras crianças que me perseguiam, pro pastor e padre que perseguiram com todo o vilarejo e mataram minha família e meus irmãos... O sangue de minha irmã escorreu pela boca não de minhas presas, mas da lâmina dum ferreiro qualquer da cidade.
 Hoje, posso estar meio perdido, estou até livre. Sou um Deles. Dos Agentes.
 ...
 1888, Cairo, Egito, embaixada de Bretan.
 Os agentes da Rainha querem que eu entregue os dois, pai e filha, o primeiro com a barriga remendada por mim esta um pouco mal, mas sobrevive, o segundo "prisioneiro", não quer ir, quer ficar comigo; crianças, sempre amando aquilo que não conhecem, nesta idade... É, meus quinze anos se chamavam Frida e foi em Feist.
 Abul III e seu grande bigode tinha muita coisa escondida em sua barba, os projetos da cidade eram o que mais queriam os agentes Tom e Hoppik de Bretan, tais coisas não existiam em papel e eram a única moeda do último rei de Abul Akara. Havia um acordo, passaríamos mais dois dias ali, eu estava com um manto na hora das negociações, pra variar, os anglicanos me achavam estranhissimo.
 Resolvi achar "algo melhor", fui até o necrotério, busquei o que mais estava inteiro... Deveria ser um oficial inglês, morto em serviço... Estranho este termo, morremos em serviço de quê?
 Desci a rua, estava ainda me acostumando ao "recinto", o "pote", ouvi um estouro, era na embaixada! Corri, com dificuldade, afastei curiosos da frente: uma bomba explodira! Senti cheiro de coisa ruim, e de enxofre também, claro. Não fui em direção a embaixada, mas ao lugar onde os agentes colocaram o rei e sua filha, estava tudo quieto lá... O que era estranho. Subi e meti o pé na porta, a Colt disparou, acertou meu ombro, mas o corpo que eu usava estava morto, continuei, tiros no peito, não liguei, catei o atirador pelo pescoço, bati sua cabeça na parede: morto. Veio outro e me deu uma cadeirada, vi por baixo da casaca do morto: Marseille, então, acabei numa droga de trama internacional! Odeio estas coisas! Levantei e zonzo, me defendi, dei um soco e o outro caiu, corri pra ver se tinha algo, no quarto do rei em que estava, só encontrei os dois miseráveis... Fui para o do canto do corredor, o da filha... Tiros de carabina, me abaixei, não poderia perder este corpo tão fácil! É difícil encontrar um do meu tamanho... Vi o miserável correr pra escada do outro lado, ele queria descer e ir pra rua, pulei da varanda que existia no meio do vão das duas escadas em círculo... Caí em cima dele, quando tentou me atirar, vomitei sobre ele fogo negro... Corpo demoníaco tem que ter suas vantagens!
 Subi as escadas de novo, vi que os funcionários estavam mortos... Abri a porta do quarto, ela não estava lá, eu falhei. Sem férias em Istambul, mas lá estava um caos mesmo... O que é bom, já que eu sou um Agente do Caos, claro, nunca fui bom em piadas... Enfim, tinha que achar ela, terminar a minha missão, a missão que eu dei a mim mesmo, que eu deveria cumprir: achar eles, achar ela...
                                                           * * *
 Lutei com muitas coisas, a principal é comigo mesmo, isto sempre me fez achar que sou mais humano que besta, isto que me fez entrar pr'os Agentes. Minha liberdade e minha auto-crítica muitas vezes evitaram de conseguir ficar tranquilo, estável, mas, talvez seja isto que me faça humano... Meio humano de corpo, meio demônio das ideias, mas, somos assim.
 Desci a rua, estava em obras... Havia oito anos do ocorrido, tinha a cara de um homem duns trinta anos, barba por fazer, terno e casaca pretos, minha sombra revelava minha real forma, mas ninguém me notava, todos dormiam em suas camas. Obras de planejamento urbano, o prefeito D. Dumas fazia muito bem o seu trabalho, a "custa do sangue de alguns, o progresso", ouvi uma vez.
 Casa fácil de entrar, sem muita segurança. Entrei, tinha um guarda velho na porta, derrubei ele, só coloquei clorofórmio na sua cara, silenciosamente. Fui pros quartos, o velho rei Abul, agora só Abul, não mais rei e sim arquiteto... Passei reto... Entrei e a vi... Ela derrubou as coisas no chão, estava linda, com a pele brilhando a luz da lua...
 "-Michel... É você?", disse ela; me reconheceu pelos olhos, disse depois, enquanto estávamos deitados na cama... Depois... Olhei pra ela e beijei-a.
 ...
 ...Sai, de manhanzinha, silenciosamente como entrei... Queríamos só uma noite, acho que estava bom. Ela também poderia achar, eu fui algo que veio, ficou e foi pra ela... Continuei pela rua, continuei a lutar comigo no mar de mim mesmo, meu mundo.



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domingo, 3 de abril de 2011

Sam e Nick #Agentes do Caos

 *Caminhão, cheiro de peixe e gás fétido nas minhas narinas... Acho que é minha consciência*
 Estou ouvindo "666" no rádio e ainda não é domingo, não é 9 da manhã... A hora que ia a Igreja com minha mãe. Estou com certo saco cheio de hoje, estou "endomingado", como ouvi uma vez por aí.
 Nenhuma frase é minha, nem os pensamento parecem meus as vezes... Mas, estou aqui, com a 32 na gaveta, meu nome é Nick Charlie e eu estou num dia ruim.
 TocTocToc... Batem a porta e eu berro: "-Entre, porco, esta aberta!"; era o toque secreto, mantivemos ele por anos, mesmo quando nos pegaram.
 Um, dois, três, quatro, porra! Acho que tem uns dez tiras pra me pegar!!! Não sou tão bom assim, sou um fracassado, ao menos, um gordo de terno cinza, sem barba e com camisa listrada com seu suspensório parece mais um pai de família que assassino -no meu caso, também era detetive além disto. No meio, o filha da mãe, sorriso amarelo: sua conta deveria estar cheia!! Sua vadia também!! Descarreguei os xingamentos habituais, ele fingiu arrependimento, ficamos assim... Os homí me levaram, depois de algumas porradas, a farda cinza dele me parecia estranhamente com nuvens de chuva... Estaria eu
                                                          Revivendo o passado? O tempo de criança de
                                                          periferia? Não, é só o efeito da porrada; porrada  
                                                          na cabeça do trouxa que uma vez confiou em
                                                          alguém.
 Besta.
 Só isto, sou uma besta.
 Enfim, me levaram num Cachambó pelas estradas, via as pessoas, sabia que estava ferrado, mas, por que não lutar?
 Acho que não há o que lutar... As vezes não há, na maioria das vezes ninguém luta, preferimos o calor das cobertas, das pernas abertas, da vodca, do colo da mãe... Gostaria do colo da minha mãe... Mas, ela morava longe, fumava e não falava comigo faz um tempo. Ninguém dava atenção ao gordo que era bom em trigonometria e que agora era um detetive suburbano.
 Duas horas rodando, não fomos pra Delegacia, típico, no meu caso, fomos pra um barracão perto do rio, aquele fétido e com água que nem se mexe, só enche e torra o saco! Detesto rios!
                                                            Jogaram, amarraram e começaram
                                                            Água, tapa, porrada na barriga; água, tapa,              
                                                            Porrada na pança gorda; água...
                                                            Vocês entenderam, tortura básica. Sim, isto  
                                                            Existe.
 Usavam umas máscaras de bichos -cachorro, urso, passarinho e coelho, etc-, os malucos, não sei se era pra eu não reconhecer-lhes ou sei lá o que! Sei que estava com dores pelo corpo e muito cansado... Cansado de sempre levar este tipo de coisa... Principalmente depois que peguei o caso de encontrar "o Garoto Sam", tirá-lo das garras duns tals Agentes... Já era a terceira vez em seis anos! Tenho que tomar mais cuidado!... Claro, se eu sair desta...
 Perguntaram o que tinha quem conhecia, esta ladainha de sempre... Levei porrada, até uns choques, ia falar, mas então, alguém chegou e eles pararam; olhei sem forças para cima... Olhos inchados, coxas doloridas -eram as coisas que sentia naquele momento, o resto, dormente... Homem -ou coisa- alto, cabelos longos, não... Ela, tinha a máscara de gás, uma marca Deles, desde o início do século, quando tentaram por higiene "não se misturar" a nós, acabou que a moda ficou.
 Fina e magra, ela me deu duas escolhas, pôs a perna no meu ombro... Se não estivesse de calça! Deveria ser bailarina.
 -Uma chance por fora! -Ela me disse. Tinha que pegar o garoto e trazer pra eles -então alguém tinha pegado... Humm, interessante!-, "-Por que?!", perguntei; "-Porque você e ele estão conectados!", ela respondeu... E eu... Eu...
 *Cheiro podre acaba, estou num lugar quente, pedregoso, não um deserto, um lugar abafado e mórbido*
 Só consegui sentir isto.
 Então, ela e seus capangas abriram uma porta no fundo da sala em que estávamos, era uma coisa estranha -uma máquina que parecia uma de lavar, só que com fios e luzes, também tinha uns quatro fios que acabavam em um capacete, como uma panela-; colocaram ela em mim, nem soube o que houve... Corrente elétrica de energia correu o meu corpo, como quando coloquei a chave no interruptor do meu quarto... No prostíbulo, em que minha mãe era camareira.
 -Tiramos uma "foto" sua... -Me disse a magra senhora, que usava camisa vermelha até a cintura. A Agente.
 -Como assim?... -Disse ainda meio zonzo.
 -Se você chegar a sofrer ferimento mortal, não se preocupe, deixa conosco... -Sua misteriosa frase não saiu de minha cabeça por semanas.
 *É como se eu viajasse num balão... E tem um velho aqui, ele parece triste; me disseram que ele já esta aqui a muito tempo, mais tempo a voar que qualquer outro, tenho medo dele por isto... Ao mesmo tempo, seus olhos tranquilos me deixam tranquilo, vamos atravessar a fronteira de manhazinha; o velho nem desceu do balão quando me pegou dos outros caras, no deserto... Subi por uma corda... Que aventura! Uma estranha aventura*
 Lá estava eu, duas semanas depois, era "diferente", estava com meu carro preto e seguia rumo ao Oeste do estado, precisava encontrar um velho num balão. Meu nome é Nick Charlie e nunca deixo um caso sem resolver.



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sexta-feira, 1 de abril de 2011

Voando num balão #Agentes do Caos

  Que dia ruim.
 Estou aqui, no meu balão, voando pelas terras, sempre indo e vindo pela ali e por aí; tenho uma luneta, um brinquedo de gato e um caderno escrito a caneta nanquim. Vejo os prédios sendo erguidos, assim como as grandes nuvens estratus, aquelas só horizontais, todos castelos, muralhas, um pra cima outro pra baixo;
 E eu continuo indo
 Caderno de nanquim, prum semi-analfabeto, uso pra lembrar, ele me lembra moça morena, e pequena loira, a morena era professora, letrada na Polônia, me mostrou o balão -meus pés- e me deu uma jóia, pequena pérola loira que cabia no mundo dos meus braço e que eu levantava e fingia que voava... Acho que eu é que me divertia. Perdi meu caderno de nanquim.
 Brinquedo de gato, pro velho de cinco dezenas de idade, uso pra brincar, lembrar do tempo em que cuidava de leão, fazia jogos e pulava com nariz vermelho e cara branca, na prisão mental duma lona era o mais triste e mais "alegrante" dos atores simples e pobres da terra, simples e pobre, da qual fiz parte. Cuidei de leões, o brinquedo de grandes gatos, como um osso de borracha, já perdi o gosto do brincar, quando tem um descuido, quando esquece algo e deixa pra lá -na mente esquece algo-, perde quem amou... Se há amor, já aqui não há.
 Com a luneta eu vejo o mundo, as coisas que podemos ver, ouvir, falar dele é o que vivemos, nada de imaginar mundos... Eles imaginam mundos e são apenas mais uns, ou outros que morrem por aí... Eu não imagino mundos, eu os vivo. Vemos castelos nos conjuntos de prédios, nas águas dum rio vejo veias, sangue da terra, nuvens como grandes colunas, coisas que sustentam um céu vazio, pra mim vazio.
 Três pequenas peças, três pequenas chaves, três pedras num rio fundo.
                                                                               *
  Era numa sexta, de manhã e frio, sempre frio, não? Enfim, estava sentado no meu escritório lendo o novo gibi do Capitão Marreta, tudo tranquilo e mórbido. Tocou o telefone:
 -Nick, detetive particular!
 -Hey, Nick, preciso de você!
 -Não trabalho com estas coisas, se quer isto, ligue pros números das moças colados nos orelhões!
 -Não é isto, idiota!
 -O que é?
 -Dizem que você tem uma habilidade, um segredo que consegue guardar e que usa pra alguns trabalhos... Preciso...
 Desliguei o telefone. Sai, apertei o botão do elevador, luz vermelha pra cima, luz verde pra baixo, fui pro terraço... Cheguei lá, subi mais uns lances de escada, sai no último nível do prédio, fiquei olhando do alto toda a extensão da cidade que podia ver dali -estava cercado por uma muralha, pra fora, se pudesse ver, veria serras e favelas, um mar, praticamente; talvez eu estivesse numa ilha e não soubesse, talvez cada lugar se comunicasse como uma ilha, mas, não sei, ninguém acredita mais em sonhos, parecem apenas re-memórias, eles são só coisas que temos a noite... Porém, ninguém dá atenção ao que sonha, ninguém lembra o que sonhou as vezes por não querer lembrar o que viveu.
 Pulei, voei e não senti a queda, estava na minha banheira preta, meu velho carro beberão numa estrada vazia, segui reto, sempre reto, até encontrar o que procurava: um balão. Eu o segui e ele percebeu, vi nele o sinal no braço direito, ele corria pelo ar, eu, pela terra. Fomos assim por uns dois, três, até quatro quilômetros; chegávamos na cidade, preciso pará-lo!
 Pá! Com a 45 acertei o balão, ele começou a cair, cair e cair...
 O sol estava chato, era nove da manhã e minha testa suava a água salgada, olhei pro campinho de futebol -alguma periferia qualquer, daquelas que você vê na tv e vive nela, mas age como se vivesse em outro lugar, imaginar o seu espaço como "algo melhor" (afinal, o que você acredita é melhor mesmo)-, pessoas se reuniam em volta dele, olhavam o que acontecera, eu fiquei berrando pra darem licença e olhei pra dentro da cesta da máquina voadora: nada tinha.
 -Mas, que porra! -Gritei. Estava quase lá, quase peguei ele dessa vez.
 Pisei em alguma coisa, olhei, era uma nanquim, fiquei feliz e procurei na cesta, tinha um ossinho de peixe de borracha, devia estar perto, muito perto: dois de três! Tava com duas peças dum vaso de porcelana quebrado! Tava quase lá!
 Eu iria conseguir! Peguei e entrei no carro; meu serviço era pegar um sonho, uma mera lembrança, que fugira dum poderoso ser, um cara estranho que usava máscara de gás, sempre... Eu era Nick Charlie e estava na cola dum fantasma; você não acredita e não gosta, acha que ficção é só mais baboseira e o mundo real é mais interessante, mas até que o real pare de parecer fantástico e eu consiga ver este reflexo -que as vezes é um saco- vou continuar a ver como se estivesse num balão de hélio sobre céus e muralhas, pode ficar com a realidade se quiser, porque na maioria das vezes ela é só sua, então, não seria ela a sua ilusão?


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