domingo, 28 de abril de 2019

Tagarelice, Testamento, Escrita dentro

Cada vez mais acredito na auto educação. Exige mais disciplina e a pressão social do meio - amigos, colegas e professores - do é difusa ou diluída pelo contexto das obras de referência.

Não é apenas estudar e ler, é saber quando calar a boca e refletir, silenciosamente e consigo (se bem que as vezes parece que se topa com gente de interior vácuo), porque coisas como este mural são como amplificadores de vozes: milhões de vozes, esperneando em busca da atenção que não dispendem consigo, repetindo chavões e slogans.
Talvez esta seja apenas uma voz mal-educada, verdade, assim como isto não vai ser lido e talvez seja só esta "tara pós-moderna" com opinião, mas em alguns momentos quero ver uns vídeos de gatos ou memes normais, usar as redes sociais pra rir... Porém, realmente eu deveria ficar no silêncio, assim se ouve, mas tente aguentar a tagarelice infernal.


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Por dentro tudo, por fora, nada.
Na tensão em ser e parecer
e sendo inútil,
me despeço nestes passos
Perdidos em algum deserto
De prédios
Sem almas abertas
Só portas trancadas
Na janela escancarada
Deste farrapo aqui
Triângulos místicos pitagóricos
Não fazem efeito
Slogans de Marx e Mises
Biografia patife de Nietzsche
Nada surte efeito
Neste rigor consigo
Misericórdia débil com outro
Imbecil coletivo
Estou sempre tido incluído
Enquanto, nenhum fármaco
De mister
Parece reduzir a dúvida
Cartesiana
Sobre onde termina meu eu
Começa o seu
Mas, indo além
Terei eu confessado em Hipona?
Terei eu os cavalos de Vontade Potente?
Terei?
Sem ter tido, sofro em ser
Reduzo à aparência
Coletando evidências
Escrevo esta carta testamento
Pretérita
Que dentro do peito não pare a guerra
Pois, a paz de, me diz Tostói
Nele está
E rogo fortaleza
Rogo por você, leitor em sua mesa
Sê diferente, sendo honesto
Com você.



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Escrever, sem parar, em busca
Da tensão, linha presente
Numa mera aparência imprimida
Impressão do mundo
Impressa nestas palavras

Achei ser doente uma vez, pela palavra acometido
Mas, não mais
Minha doença nada tem haver com a cura
Que a escrita me traz
Sem parar
A tensão permanecerá
Entre o ser e o buscar o todo
A tensão elétrica das máquinas não irá parar
A abertura do espírito, por alguma música da alma

Posso permanecer azedo
Paralisado
Conformado, estatizado
Libertado estarei aqui
Nesta pena
Nesta pena e café
Ao meu lado, triste gato, ágora cachorro
Pássaros na janela
Sol lá fora
Assim como a lua caminha
Numa natureza
Ou na cidade-fortaleza sob meus pés
Os passos de uma escrita ilimitada
A partir da palavra indizível
Indescritível
Que é viver
Vivo impresso
Impreciso
Na tensão, sem parar
Escrever, é lutar
Dentro de si, pros outros.

Poente, Fantasma, Ronda da Madrugada

Poente.
Odeio... Estar assim
Morto de esperar
Esperanças afogadas
Nas lágrimas que já estão secas
Como um riacho que não mais
Desemboca num mar
Não mais quero morrer apenas,
Quero virar solo, ser útil
Porém, silencioso
Porque o som do meu peito
Dói numa desarmonia de minha alma
Irrefletido num espírito
Que se perde
Entre os dentes
Vociferando palavras erradas
De um cara errado
Deprimido, entre o sol
Poente

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O fantasma atormentava seu coração
Mas, eterno é o presente
Que se lembra da solidão
Dos passos cansados,
Ar parado no peito
Quando, insuspeito
Abriu-se às vestes
De um abraço solar
Abraço amigo
Fazia tocar, o coração fantasma
Desperto estava
Naquele presente




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Há um silêncio pela casa
Ronda a madrugada
Firma na noite
Não é alvorada, nem tu
Oh face iluminada
Deixa de ser contada
Há um silêncio da penumbra
Mesmo com a lâmpada ligada
Tudo permanece ali
Eu, ali, preso
No eterno presente
Na função arbitrária
Julgamos um passado que esquecemos
Esperamos futuros possíveis
Mas, estarei eu sendo juiz implacável
Sem direito à me deixar em paz?
Mas, estarei eu sendo possível
De sustentar pernas, sonhos e bocas
Quando às tempestades passar?
O presente, lhe sou preso
O presente, lhe sou grato
"Sê tudo naquele que crê"
Que pra Ele se deixe o julgo,
Mas, dá força
Pra segurar minha espada
De ferir a mim mesmo
Que eu esteja presente no que sou,
No erro
No acerto
Posso estar presente, pra mim mesmo?
Peço, rogo
Naquela morada há silêncio
Naquele lar, o meu coração
Ouço a harmonia da canção muda
O eterno presente é caminho
Não apenas, um simples fractal
Pois, sou passarinho
Pois, voo na noite
Daquele silêncio, um mundo um cantinho
Naquele aquietamento
Não sou o universo
Escuto o verso
O presente da alma




Escuta, amigo
Escuta o silêncio

quarta-feira, 24 de abril de 2019

Veste, Rosário, Raminho, Lua e Sol

Nas vestes de sua boca
Teci a minha renda
Do soldado cansado descansa
Rendido aos teus braços
De menina, que aguenta.
No perfume no ar
Que tu voz desperta
Há não mais que esperar
Àquela rosa
Que vi naquele pequeno
Jardim d'espírito meu
Me chama
À aventura
De ver o céu, contar as estrelas
E ver que nele falta uma
Sol que é você

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Douta moça, sábia
De um deserto em rosário
Levava nas contas
Cada livro e mister
Orava por mim
Orarei por ela
Neste deserto, que em horas
Tem flores carmim
Outras é o vermelho do sangue
Pude escrever neste oásis
Temporário de palavras
Pois, as palavras são vento
Mas, o vento infla os peitos
Respirando e dando efeitos
Mando a ti este feito, sábia
Em meu rosário conto os pontos
Cardiais do nosso caminho
À Ele
Em nossos vacilantes passos
Sempre vacilantes
Estarei sempre contigo
Sábia
A ler-te os livros
Das palavras ao vento
Agradeço, obrigado
De um transpassente
De um deserto, que também
Há de ter suas flores
Com rosários"

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Numa noite, um passarinho
Levava um raminho
Na boca
Era o mar da escura treva
E ele atravessava-o
A achar terra
Meu passarinho voou
Um galho achou
Dele plantei minha árvore
Dela fiz minha morada
Meu passarinho, minha amada
Vive comigo
Eternamente, enlaçado
Nos ramos de meu lar
Naquela nova Terra
Ao quais os mares
Já não mais cobriam
Apenas banhava
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Aspecto de uma Lua
Que beijava o oceano, numa mágoa
das cinzas praias
Viu-se, pouco a pouco
Ser Lua Nova
Sua luz, vinha do Sol
Seu coração, aquecia
Mostrando novamente
Sua face com aluz dos dias
Oh Sol, tu que me beijava na boca...
Poderei eu, disse a Lua,
Te acompanhar nos dias?"

quinta-feira, 18 de abril de 2019

Insônia, Espião, Lanterna inspirada

Insones, suicida
Cada gota que caiu
No mar da tua vida inútil
De um mundo de falatório
De uma gente má com algum outro
De fé e esperança que chamo de amigo
Mas, que no fim, estamos sozinhos
O caminho é solitário de gente
Só Deus é presente
Ai de mim, pensar em expulsar
Mas, duvido de mim
Não mais que em mim
Nesta egolatria alcoólatra
Ídolo do Eu
Subjetivo aparente, insones

Não acordo, pois nunca dormi
Não sorrio, pois pouco me alumina
Não beijo, pois amar é uma lembrança
Já não abandono o barco, este barco
Do negativo
A negação de que posso, virou a droga
De que tenho
Disponho-me como algo possível de ser feliz
No passado
O futuro, me traz pavor
... Já não penso, atuo
Já não ajo, vejo
Não me escuto, estou em silêncio

O suicida abraça em si
O futuro como eterno passado
O fundamental lhe é invisível aos olhos
Duvida poder ouvir Ele efetivamente
Duvida sobre o presente
Como que fosse teoria hipócrita
Da gente hipocondríaca
Atrás de sua porta da alma
Não, o inferno não sou os outros
Débil
É o eu
O arrogante não o vê
O arrogante real, já se perdeu
Eu, aqui no meio
Silencioso
Insone
Suicida
...
São seis horas da manhã, suportei mais uma noite sem sono. Descanso depois, num canto da minha rotina, no abraço que não tenho.
Durmo, vejo o mundo, durmo-o
Insone, na Alma do Mundo

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Expiatório
Atrás da porta, na fresta da janela
O espião avista a pena
Que escreve à linhas retas
O que o Mistério lhe fez por tortas
Arregaça, escritor
Que escrever a teoria é pôr-na linha
Aquilo que é disperso
Fala, cantor de gente
Mas, ajoelhará ao Temor
Ri, só ri criança
Que a risada é a constante
Nos liga a todos nós em todas as fases
Meio maligna, mas honesta
Como o choro jamais será igual
Pois, o choro é rio meandro
Afunda por várias partes
Mas, meu riso, no espanto
Treme o universo do homem
Aquele que acaba nas estrelas
Que não é o nosso
Daquele que ri,
Mas, que também pode chorar

No papel, cai lágrima
Que expia ao espião
Será o riso? Ou o coração?
Da janela, jamais saberemos
Abre a porta o personagem
A pena, jamais para...
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Inspiração, numa inadequação.

Frente fria, numa gente de coração quente.

Lanterna sem bateria, refletindo em espelhos, pra tentar achar qual não o é: bater no verdadeiro, que mostra a terra. A alma do mundo, porém, é única real, topa no meu peito, me puxa aos ouvidos e diz:
-Olha, a linda flor de cerejeira, é linda por você estar aqui e vê-la! Aquieta o peito, que o perfume está aí, fora de você, tenha-se respeito!
Afago a barba, tomo o café quente sem queimar a boca, durmo, no torpor do sabor. O sol daquela manhã é belo, mas agradeço pelo todo, ser bem maior que o mundo.


Jardim descobri a Rosa

Andei pelo jardim, passeando em trilha de sombras mestres
filósofos mortos há muito
andaram, refletiram, decuparam
um mundo ocupado de si

Só eu me senti só
clamei às estrelas, mas, elas sempre serão em silêncio
clamei em mim mesmo, inocente de minhas forças
perdi-me em abraçar o mundo
pedi mais uma vez, a totalidade
de todas a frases, nos livros e palavras
ao vento, minha prece se fora
parei de pedir, vivi
e num ato, naquele jardim
vi uma rosa
ela me olhava, com olhos profundos
de algum mar distante
que naveguei por algum momento, instante
em que lhe disse: -Bom dia, querida rosa, em que pensas?
- No sol que brilha no Céu, na Lua que corre ao mar a noite, mas, que eu, aqui, ainda estou, instante
permaneço, parada
mas, nada de mal seria isto, pois mesmo
assim, vejo todo o mundo!
Naquela rosa plantada, colhi o broto
de uma justa poesia
nestas linhas, partilho a minha filia
e dei àquela rosa daquele jardim secreto
sempre, todo o seu bom dia


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"Odeio sempre este sol, me faz lembrar quem eu sou"


domingo, 7 de abril de 2019

Girassol na Praça, Caminho de Amar, Sob o Mal

O amor não era pra ele, preferiu continuar caminhando. Olhou a paisagem, sorriu, guardando nisto cada lágrima do vazio que sofreu. Deitou-se, dormiu, na eternidade.
Amar não fora coisa dele, nunca foi bom nisto. Esperou, errou, jamais se perdoou.
Estes dias, o vi dormindo na relva daquela paisagem, ficou preso num novelo de sonho.
Amar não era coisa que acreditava, a porta se fechou, a luz apagou, e ele dormia.

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Na Praça, no sábado,
Vi um girassol, cair do céu como uma neve, andou por aí como menina.
Cresceu à luz solar
Bailou como mulher, com ursos e lobos, aprendeu psicologia com raposas,
viveu a voar, com os passarinhos roxos,
Azuis e amarelos, aqueles
Que hora me pousam no bolso
Aquele girassol, me contou um segredo:
"Da vida não tenhas medo, de mudar o seu caminho, desde que no vento
Leves consigo sempre ao sol"
Saiu ele, com capinha e espada, à lutar no seu passinho
Eu fiquei, ali mesmo, no bolso, passarinhos

Fiz da conta um colar
E dos anos minha estradinha
Passei entre vários matos e muito aprendi
Na minha pracinha
Hoje, o vi,
O girassol menina, com seu reininho
de amiguinhos e flores
mandei um oi, tomamos sorvete e comemos pipoquinha
E num domingo mágico qualquer
Deu-me nova luz, aquela amarela, plantinha

Olha, girassol, olha
Que a luz é eterna
Enquanto caminhas

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Não busque as emoções e sentimentos. Livre-se do julgamento, daquilo que pensas precisar fazer para amar, pois, isto será veneno.
Provamos o amor por atos, não palavras. O sentimento virá, pois o amar é maior que uma palavra: Amar é um caminho, o meio à vida.
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À guerra dentro da cabeça
Da gente
Quando passou a tempestade
Teu navio está naquela névoa
Aquela mística nuvem, que encobre as paixões
Que me fez perde o desejo de mim
Que me fez odiar o cheiro do mar
Que, naquelas noites de domingo intenso
Me afoga no oceano que sou
O combate cessou, não há mais tambores
O sorriso da moça, me veio a cabeça
Naquele dia de chuva
Ensopado até os ossos, aquele momento icônico
De qualquer história contada
Pois, a história é contada sempre, queira o que diga
O estúpido acadêmico, sacerdote
Que jamais será capitão de nada
Será sempre após, sempre um depois
Antes, antes houve a crise, a revolução
Agora, haverá os mortos
As lágrimas
A ferida dói depois do corte
E quando você vê, sente
Mesmo naquele momento, a adrenalina passa
(Seja isto o que for)
Mas, daí, enquanto o navio está
Névoa matutina
O sorriso parece pequeno
Pois, questiono o que eu fiz
Ser culpado pelo temporal que quase virou o navio
Encharcou-me até os ossos
À guerra me levou
Dentro da gente
Dentro do peito, os tambores vibram
Chamam pela batalha que passou
Que eu sobrevivi
E que talvez, torça o nariz, como torço o espírito
Por ter superado
Levado com leveza
Beijado a princesa
Ou, apenas, ficado

Daí, ela veio
Como de mansinho, não me convenço
De merecer agrado
Busco motivos, pra no oceano morrer afogado
Mas, ir para a guerra, meu amigo
Meu criado, minha Alma
É lutar, não brincar com o cajado
Livra
Leve
Tenta voar como o pássaro, capitão
Pois, você consegue
A ferida doerá apenas depois do corte
A lágrima, depois do não-dito
Mas, o sorriso
Aquele sorriso
Dela, da sua Alma
Aquele sorriso é ao Infinito
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Os males se espalham pelo mundo, queimam a tudo, corrompem o que foi belo, o que estava em nós, aqueles que eram bons. Duvidaremos, porém, não é errado, temeremos, porém, temer Aquele que É nos trará coragem, buscaremos algo que sustente, mas, a verdadeira base é a estrada.
Sim, o mal é em maior número, mas, diga, meu amigo, aquilo que é bom, mesmo que único, mesmo que secreto, mesmo que você não creia em nada que lhe faça ajoelhar-se e ser humilde, mesmo que você nunca o veja operar, ele está lá. E a bondade está em menor número, porém, é insuperável, frutifica, pois não precisa nada mais que se deixe por ela infundir, é duradoura, mesmo com todo o açoite, toda a mágoa, toda a solidão... Você poderá durar, não será bom sempre, não seremos nunca, mas, nosso mal não remediará o bem, pois, mesmo perdidos, podemos achar o caminho, e se perdidos novamente, ainda estaremos seguindo.
Admita-se aberto e receba.