domingo, 25 de novembro de 2018

Domingo Lobo James e Pânico

Jaime, o lobo
Perdeu seus dois olhos
Em batalhas antigas
Traído pelo seu próprio reflexo
Entorpecido pela bebida de sonhos loucos
Voando como borboletas
O guerreiro sem espada
A tempestade sem vento
Perdeu-se no deserto
Algum tesouro para lá estava
Observou o abismo, que permanece lá
Nele
Olhando-o todo o dia
Fazendo-lhe noite
O lobo caminha pela estepe, fria em seus pelos
Caminha entre as rochas
De uma esquecida cidade, Afrodite era seu nome
Já jaz ela morta, entre escombros
De último beijo perdido de Jaime
E lá, no poço daquele mundo esquecido de si
No fundo daquele poço
Cravada um sabre estava
No próprio coração do mundo
Ao qual já não via amor
Mas, via amigos
E pouco a pouco
Alguém podia lhe dar a mão, um abraço
Ou um simples obrigado
E isto, isto para Jaime
Sacrificava o mundo, iluminava tudo
Com alguma caridade aquecida
Jaime, o lobo
Ainda sem vistas
Podia enxergar de novo
Agradecer o poder do ensino
Sobre seus ossos esmigalhados de gelo
Lástima e saudade
Sobre um resto de fraqueza magra e pálida
Um pouco de nobreza nos olhos
Jaime, o lobo
Ainda vivia
Para ensinar os outros o caminho.


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Não podes escapar do olhar da Lua, pequena, não podes
Nem do meu
O assassino em cada esquina
Olhar de médio aberto
Nos semáforos de cada via caótica
Desta cidade que não dorme
Nem você, minha pequena
Minha pequena Lua
Brilhe para mim, com sua luz pálida ainda mais uma vez
Que abrirei meu coração para você
E gritarei para todas as estrelas terem inveja de você
Nunca mais saindo do meu peito
Este pânico
Será vencido
Eu vencerei a Lua
Eu deixarei de ser apenas aquele que chora
Que cai
Que se dobra ao destino
Calma, minha pequena
Eu poderei
Derrotar-me de minhas preocupações
Resistirei
Às sombras de cada beco, àquelas que surgem quando
Fecho os olhos abertos
Nesta caótica cidade
Não podes escapar do olhar da Lua, pequena
Então, abrace e enfrente
O Azul dos céus
Está contigo.

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Domingo,
Nada há
Fora, endomingado
Endomingamos, encomendas
De sono, missas e almoços da velha família
Agradeça, aos domingos
O resto de sua sanidade.

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Curitiba é

Curitiba é...
O silêncio e alguma angústia. Temos aqui um Kierkegaard em Kafka, uma cidade poderosamente que é seu tempo e clima, como muito de nosso vício brasileiro em Geografia, mas que nega o vazio de heróis com uma certa atitude irônica, um certo brejeiro, uma bruma nas estações... Um verão de chão português que cega, uma primavera de maneirismos e flores importadas, um outono louco, um inverno apaixonado e sempre esperado e esperançoso, de neve.
Em fumaça da boquinha, amarelo iluminado. Somos de amarelo, postes amarelos, sorrisos amarelos, uma certa hepatite do tio da esquina, para além da Curitiba Perdida - cada bairro e vila, um mister de rigor.
Linhas rigorosas em cada rua, curvas, morrinhos ao norte, rios ao sul, serra ao leste, campos à oeste.
Curitiba abarca um certo cosmos de nada, mas um nada de tédio, um certo domingo de café. Ela é uma xícara de café coado e vaporzinho de inverno iluminado, pelo poste amarelo e, claro, umas araucárias presas por aí, na cadeia urbana.
Curitiba é tudo que tenho, ou tive, é um lar desesperado, porém disposto a uma diversidade, mesmo e por nós sermos conservadores. Conservamos o blasé, uma certa tecnologia da ironia, um antifolia e utopia que é difícil medir, mas que sempre ali esteve, tirando uns momentos de alardia ou alergia.
Curitiba é minha Königsberg não no coração, mas no passo, este jeito de andar desconfiado, do polaco caboclo enluado.

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Segunda quase terminando com isso

O gosto inebriante do silêncio
Sem a falsidade das pessoas
Ou à minha.

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A corda que afaga o pescoço
Decepção de cada sonho

-


E que em minha lápide 'teje
Perdido, perdeu-se,
Mas, ajudou a encontrar-se, alguém?

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"Querido Emanuel, digo-te estas palavras, antes que meus ossos partam pelas estradas que me escapam os anos:
-A ajuda deve ser feita, oferecê-la por simples ato de educação é um dos piores males dado àquele que já perdera o espírito...
-Meu mestre, ao senhor, posso ajudar?
-Emanuel, terei eu sido honesto contigo ou consigo, ou apenas na sombra de minhas palavra, sou apavorado pela face daqueles com quem falhei?
-Não sei, meu mestre. Ao senhor, meu silêncio.
E Emanuel, desapareceu no reflexo do espelho."
(Emil Hadaward, Livro II - Juventude)


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Não acredite no bem ou em que diz ser do lado bom. A bondade é uma ação, não discurso.


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É na fraqueza que deve-se ser forte.


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Conheci um homem que não se sentia mais capaz de amar mais nada. Tinha deveres, honra e buscava a caridade, mas, amor, isto ele já não podia mais. Hoje o encontro todos os dias, a cada vez que penso sobre mim mesmo.
É uma pena, não me desculpo ao gênero humano, acredito apenas em pessoas.


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É uma pena, não me desculpo ao gênero humano, acredito apenas em pessoas.


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O homem que perdeu sua intimidade, converteu a si mesmo em cetro vivo de força passiva e fúria lasciva.

sábado, 3 de novembro de 2018

Sexta feira de um feriado sozinho

A dor que não dói
A depressão
Percorre o rio que estou afundado
Não vejo o tempo
Não me importam horas
Ninguém, tudo me afeta
Para mostrar-me como
Ninguém, nada
Negação do princípio
Perdi minha pessoa
N'algum mar que afundo
Já não dói mais
Nada
Nada
Não chego a praia
E, se lá chegasse, seco de lágrimas estaria
Já não estou em nenhum lugar
Não sei que horas são
Meu copo está vazio, chame o garçom
Mas, o bar está vazio
A dor não dói mais
Estou no fundo do vale
E todo o mar de mim corre pra lá
Adormeço
Odeio cada luz do novo dia
A me mostrar
Este limbo que sou
Sou, nada
Nado
Buscando profundidades
Neste raso de mim
Já nada dói
E sigo o horizonte
De nada.

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Viver é também cultivar amigos

Sonhar é um pequeno sopro
Começar é difícil
Manter é o desafio
E cada semente espalhada, de sincera
Espera amada
Abraço ou agrado
Palavra gentil inesperada
É o cultivo de árvore
De raízes espalhadas
No ato infinito, da presença do ser
Consegue ouvi-los, os que aqui estavam?
"Caaarpe
Dieeeem"

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Ainda


21/09/18
As vezes você só
Não pode
Existir, escutar, ficar perto de alguém
Você se torna seu único companheiro
Mas, é um mau amigo, você sabe que é
Batendo, aí, pulsando essa vida
Toda a sua existência parece uma poeira
Mas, falar disto com outro, um vivo
É difícil
Ora simples vagabundagem, ora fraqueza
O peso dentro de si permanece
Mas, medido na balança, não passa de vazio
É o vazio mais pesado que existe no seu mundo
Você mesmo


E na existência perdida de sentido
Me sento embaixo de uma árvore
Vejo as nuvens passarem, sinto o vento na minha pele
Já não vejo mais a pessoa que sou
Aquilo que fui, por momentos me atormenta
Meu futuro, farpas que furam minha alma
Continuo, porém, continuo
Andando por aí, nesta cidade vazia

Algum fio me toca, algum laço por alguém
Alguém que jamais precisa nascer
Alguém que não precisa me ouvir sempre, mas
Preciso sempre saber estar comigo
Você sabe o nome deste alguém, confie nele
Se segure, a viagem é longa e apenas sua
Segure as pontas
Não é garantia de dar tudo certo,
Porém, também que dará tudo errado
E se, não der em nada
Olhe, olhe a paisagem
Algumas vezes, não posso existir
Mas, eu existo
E vou lutar com todas as minhas forças
Mesmo com o desdém daqueles que fingem a perfeição
Para manter-me ciente:
Sou pó
Mas, de poeira, também são feitas as estrelas.

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22/09

Já não posso ver mais minha casa daqui
Não existe mais a poeira sob meus pés
O vento é encapsulado
Respiro com dificuldade
Vejo seu rosto, mas, já não posso mais senti-la,
Batendo, como a guitarra de nossos corações
Ora ocos
Ora, queimando com o calor de mil sóis
Sim, estou no meu caminho de prata agora, Magnólia
Mas, ainda te amo
Ainda te amarei sempre que você olhar aquela cadeira
Aquela em que víamos as sete luas
Cobertas com seus céus azulados
Em Saturno,
Sobre a diabrura de alguma obra de astronomia
Sobre meus ombros
Todo o seu amor cego
Que tateava-me todo com seus abraços
Adeus, minha querida Magnólia
Nos veremos no céu, seja ele vazio, seja ele tudo
Seja ele o que for
Agarra na minha mão naquele sonho de verão
E vem,
Vem tomar um café comigo?

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