domingo, 7 de outubro de 2018

Nietzsche ou como o niilismo é o romance desgraçado

Imagine-se como um jovem, nascido em um momento da história humana jamais visto, aonde as conquistas do ser humano vão de observar os altos céus e construir aparelhos jamais operados ou imaginados. Porém, a miséria está por toda a parte, a desigual e degradante situação de alguns poucos miseráveis se compara ao interior dos homens, jogados às traças em sua força, condicionados à rotina, enfraquecidos. Sua força vem sendo paulatinamente retirada por instituições, o Estado, as igrejas e mesmo a cultura, copiada de outros países, já não nos responde mais nada... Estamos em estado terminal, gritamos por algum socorro, já ninguém nos escuta, aquilo que podia nos ouvir, já jaz morto.
Matamos Deus, ele não pode mais nos ajudar.
E como forma de compensar esta perda, este motocontinum que já não mais existe, começamos a nos juntar, servilmente, uns aos outros... E esta aglutinação, damos o nome de sociedade. Um enfraquecer as das pernas e músculos cerebrais, um outro nome para a derrota, é precisarmos do coletivo.
Não, ser este ser gregário, fraco e piedoso não era o que os antigos fariam, não. Aqueles que andaram por todos os continentes, exploraram terras que jamais foram vistas, com pouco mais que pedras e lanças, estes não adoravam deuses que podiam ser mortos, não, estes não eram apenas mais um na marcha da História... Havia algo ali, algo que nos foi consumido por esta estoica fé cristã. Algo que nos dava força e norte, nossa própria potência, nossa capacidade de transcender pelo cultivo da festa na amargura, a dança na morte, o combate no inevitável, mesmo que para fim algum.
Não, não há de certo um fim da história, a realização utópica é, no pior dos casos, apenas nossa força interior, nós podemos enquanto Eu. Mas, não apenas um Eu com todos, um SuperEu, que contemple-me enquanto tudo que eu possa realizar para dominar este mundo. Nesta Terra, voltada aos furacões e gélidas montanhas, mesmo em toda a selva de bestas selvagens ou desertos escaldantes, sempre haverá homens dispostos a transpor, a atravessar este Rio Caronte, porém, sem barqueiro, ele será o barqueiro.
Na água da História sem destino, não há estrada, há apenas um círculo, um eterno retorno de tudo isto, minha vida nasce miserável, vivo-a conforme a dança e as tradições, morro-a. Futuros pensadores dirão algum devir inexpugnável.
NÃO!
Supere a sua autofagia da rotina, se supere sendo a Montanha! Seja a própria força, pois, à força de tudo e sempre, em todas as épocas históricas, a minha busca e a sua, se ver honestamente os seus desejos primários, antes de sua educação que o enfraquece com regras de elegância, é o Poder. A potência, a própria superação de si, esta é nossa razão, faça sendo, aja e existirá, pois, não há motivo para isto no final de tudo, apenas agora, apenas neste momento, apenas um ideal morto, porém não mais estéril como o divino, há apenas, o realizar-ser.
O Supremo Senhor de Si, será aquele que transpor-se nesta trágica estrada e governar, tudo. O todo seu.

...
Assim, encontrei este trecho em um pequeno diário de meu avô, Joaquim. Ele não morreu na guerra, como contava sempre. Ele não morreu enquanto andava, na sua viagem rotineira pelas manhãs e fins de tarde, indo e voltando no seu trabalho nas lojas Departamentos no Centro da cidade. Não morreu quando enterrou Alípia, minha avó, nem mesmo quando viu o país perder a Copa e jurou nunca mais torcer por nada.
Joaquim morreu esta semana, em casa, dormindo. Era uma pessoa extraordinária, tinha amor pela vida... Uma força dentro de si, porém, um amor ao seu destino, que ele não me transmitiu, infelizmente... Vejo as coisas escritas aqui, me dão náusea.
Não existiu um caminho tão glorioso, talvez não mais existirá... Como foi com meu avô Joaquim. Tudo é palavra hoje, o homem se fez verbo, não mais existe gente nesta Terra, ao qual o sonho de potência, já se enterrou como pó de alguma estrela. Porém, ainda posso tentar, como ele, viver o melhor que puder, superar-me... É, farei isto.
Amanhã, falarei com Catarina, amanhã, levarei o cão a passear e começarei a ler meus livros da faculdade atrasados... Amanhã serei eu novamente e, quem sabe, poderei ser mais que eu!
Amanhã, serei livre!
E a força dentro de mim se renova, o ciclo da História quebrado, por uma simples busca de superação deste corpo, deste instinto gregário, que ajunta bobos e dançarinos... SIM! Dançarei! Como os servos de Pã, como uma bacanal, dançarei neste meu estado deplorável de ser, eu, mas, caminharei intensamente... Buscarei ser, Joaquim, para além dele, para além de mim.

...
E, então, Prometeu acordou de seu sonho.
Ainda estava preso, porém havia levado o fogo ao homem.
A águia lhe comia o fígado, mas, havia iluminado a visão de todos.
Já não havia mais apenas frio, o calor do sangue da tecnologia.
Técnica se tornou romance, e o romântico apertava os parafusos.
Do robô niilista que se tornou.
E, num futuro não muito distante, com um coração de um Replicante.
O caçador de androides se perguntava:
-O que sonham, as ovelhas elétricas?
-Com Joaquim - respondeu Nietzsche.