sábado, 30 de setembro de 2017

Uma dança

Com seus gestos finos, ela atravessa
A gente, toda ela
Com pequenos passos em
Pequenos pés
Ela chega até mim, com uma tulipa no cabelo
E vestido carmim
Principessa da última noite,
Havia uma sombra ali no umbral
Quieta, silenciosa, enquanto nós dançávamos naquele
Carnaval
De máscaras, samba e calor
Não havia mais nada em mim
Que não fosse ela
Nem eu, que não fosse nós
Havia algo naqueles campos de gentes
Naquela festa infernal
O pecado morava ao lado, mas eu era seu vizinho
Elegantemente, nós rodopiávamos passos de dança
Pelo salão do bloco de rua
Havia algo naquele mundo de desconhecidos
E eu não sabia seu nome
Nem ela o meu
Adeus, minha bela dama
Jamais dancei
Como naquela noite


terça-feira, 26 de setembro de 2017

Jaqueta Chiclete de Morango

Pic, ploc
Fez o chiclete rosa que ela
Estourou na minha cara
Era um sol de Primavera
Era há uns 9, 8 ou 10 anos
Atrás
Mas, está aqui na minha frente
Sua jaqueta de couro emprestada, brilhava
No meu coração
Um vento gelado caiu de cá pra lá
Eu nunca perguntei d'onde veio
Ninguém sabe muito quem vai primeiro
Nestas coisas
Foi um bom momento
Guardei no coração
O colégio tinha acabado de
Acabar
Saímos por uns minutos, até vermos o sol
Poente
Ela foi pra um lado, eu, pra outro
Gostinho de chiclê, de morangos
Nunca mais nos vimos
Nem sei se ela se lembra
Pic, ploc
Oi, minha moça de jaqueta emprestada
Tu tá na minha lembrança

A tristeza é de quem fica,
porém, a lembrança também,
cabe escolher o que fica por um tempinho
e o que fica por mais tempo, aquecendo o coração

Falta

A gente enterra alguém aos pouquim
Cada passo em direção a cada levantar da cama
Sem aquele.

Não tema pela solidão de um romance
Tema pela solidão de um amor
A presença que não está mais lá
A luz que não abarca mais a noite

É puro crepúsculo, a juventude já não me engana
Tanto
Maduro não é maior, nem menor, é diferente
O som toca diferente
A letra cala na alma
Minha mente consente
Em você, nela
Nele, ni'mim

Não estou terra-arrasada, só não estou mais eu aqui
Tanto quanto costumava ser
E gosto disto
Não gosto da falta, mas, persistir com ela
Já é alguma coisa.
Porque só por ser inevitável
Não exclui teu ato de coragem
Só por ser comum
Não exclui a chamada a caridade
Só por ser areia na estrela
Não exclui a grandeza que
Desapercebido podes fazer
Compensa a falta sendo alguém pra alguém
No momento que precisar

Talvez ela passe, até
Você faça falta


Lágrima pesada

Acabei encontrando esta
Fotografia numa pasta
A madrugada, ouvindo Cartola e Nelson, 
Traz algumas coisas que pesam o coração
O coração pesado, derrama a lágrima
Que não sai mais dos meus olhos
É seco o que já não se tem mais, se
Perdeu em algum caminho de lá
Pra cá.
Até, amigo, até a próxima lembrança

Permanece enquanto eu permaneço, numa estrada de mil dias


domingo, 24 de setembro de 2017

Não, você já não me completa mais
Disse meu reflexo no espelho
Tentei dar um soco nele
Não atingi nada além de mim mesmo.


A horas que apenas tentamos sair um pouco
De nós, não ser ninguém, não ser outra coisa
Apenas gostaríamos de não ser nada.


E o terrível é pensar
Que o nada não existe

Tristeza abraço

Tristeza.
Uma vez você disse pra mim
Que viria me encontrar numa tarde
Pra irmos ao Parque das Rosas Azuis
Você veio na calada da noite, eu já estava em casa
Não estava com fome
Não estava cansado
Não tinha problemas sérios na vida
Você só veio, colocou a cabeça no meu peito e disse:
Meu amor, você sempre terá alguém comigo...

Então, sempre esteve
Em algum momento, em alguma hora, desde o ônibus
Até o dia nublado, do mais belo tempo ensolarado
Nunca deixou de cumprir sua promessa
É uma pena, que você não tenha um corpo
Me casaria com você, sua fidelidade é impecável
Tristeza,
Não é o que nos joga no lago, nos afoga em nós mesmos
Ela só permanece
É o permanecer da mortalidade
É o desejo de incontáveis coisas desistidas
É uma força da natureza.
Não se escapa de ficar triste
O dia tem sempre o crepúsculo

Não cabe aqui a defesa da mortalidade,
Não termina com boa mensagem
Não existe caminho fácil
Viver é difícil
Mas, sua companhia em algumas horas é o que tenho
E precisamos, apenas precisamos
De um abraço.

E do seu cadavérico beijo, Tristeza
Me despeço, me dispo de mim mesmo
Aquilo é ainda um feche de luz, ou o fino do último raio?


sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Vitória dos cachos

Pedro adentrou pela Praça Vermelha
Em suas mãos, estava um cacho
De Anastácia
Pedro voltara vitorioso de sua guerra
Marchava com dez mil mechas e possuía onze mil mísseis
Buscava a moça de cachos pelas ruas
Frias e vazias
O general estava em si
E do seu mundo ele governava a si mesmo
Pedro andava pelas ruas soturnas
Elas estavam cheias de festança
Jamais ele vira tanta gente
Porém, com tanto vazio
Chegou a Grande Plaza, vendo a multidão
Ela não estava lá
Anastácia caíra no rio ou fugira durante
A revolução
Apenas ele, ali, sozinho na multidão
Governo de si mesmo
Vitória dos homens
Marchou mais do que qualquer outro
Não conquistou, porém, a própria felicidade
Ela, a batalha sempre perdida.


quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Cão Sem Dono



A mãe Márcia

Marcela estava triste
Com sua mãe, Márcia
Seu pai Pedro foi comprar cigarros
E jamais voltou
Marcela saiu pra se divertir
Encontrou com Fábio
Seu beijo acendeu uma estrela no Céu
Ou foi a bituca do amado?
Ninguém sabe
Nem Marcela, que dele ficou com o cheiro
Nas roupas ainda novas
Dadas pelo pai
Márcia ligou para Marcela, já não era mais sua filha
Primeira vez sentiu isto
Márcia sentiu sua filha no mundo
Só que não quis chorar
Já não tinha mais lágrimas, todas foram com Pedro
Comprar cigarros.
Estava feliz, talvez ela também pudesse
Um Fábio encontrar
Talvez até um Júnior


Vaga na Lua

Vou caçar uma vaga na Lua, por você
Uma órbita completa e metade dela
Sobre Júpiter

Lá estarei eu, esperando
Te olhando e cuidando
Se sobre as estrelas do Firmamento
Eu fiz a minha barraca
Nas minhas explorações do Universo
Aonde está o meu céu?

Já não sei mais, algumas coisas confusas acontecem
Outras profundas nos levam pra lá
E pra cá
O tempo parece comprimido
E no espaço de meses
Pareço viajar anos
Já não sei mais, talvez seja ao contrário
Ou já esteja feito

Nem mesmo a Lua permanece parada
No Firmamento
E em sua órbita ela orbita
Eu, estou lá
Olhando algumas coisas
Aquecido
Buscando uma pequena vaga naquela cratera lunar
Astronauta d'eu mesmo

Nossa viagem só termina quando
Terminar,
E, se você não encontrar uma Lua
Talvez, encontre alguém
O Universo é enorme e existem muitas Estrelas
Astronautas lhes conhecem, Astrônomos as descobrem
E algumas, só algumas, dado a finitude
De nossas vidas, comparadas a elas
Pode-se tropeçar em uma
E da vaga na Lua, vê-las brilhar
Em você.


Palavra e a Arte inútil

Escrever é um ato inútil, para tal
Talvez o escritor seja valorizado demais.
Escrever tem tons de doença, cada frase, cada palavra
Se encaixa como uma ordem
Não é pintura, não é arquitetura, muito menos
A beleza de um bom prato de comida, ou perfume
Não é a paisagem que eu vejo todas as manhãs
Que acordo com alguém estímulo
Não é a chuva que lembro dos dias funestos
Não, não é. Escrever nunca é algo, sempre fora.
Você fala do passado, terminado o processo


É a arte em término em si
Codificada numa língua, numa palavra
Jamais um pássaro voa duas vezes pelo mesmo caminho
Jamais uma frase uma vez dita
Volta a nossa boca
Seu peso cai sobre os ouvidos e você percebe
Que cometeu o erro da Verdade
Não admitimos a força da Palavra
Pois, não sabemos a Arte de compreender o outro


Numa conversa, num abraço, a força de um texto
Interajo com o mundo
Pois, nele estou
E na Geografia das palavras não ditas, esquecidas
E escritas
No frio do inverno, no calor do verão
A doença da escrita permanece
Fiel companheira
Jamais retornando pelo que jamais será não-dito.
Adeus mundo, minha palavra já está em você
Cuide bem dela,
Pois ela foi a minha melhor coisa naquele instante
Ou, pelo menos, a única.

Adentro na Vila

Adentrei na vila, após descer do ônibus
Teu cheiro ainda estava no meu caso, jasmim com morango
silvestres como fogo, melancolia trazia o meu peito
Ouvi então os corais pelas casas,
Vi um grupo de jovens vileiros, conversando sobre suas batalhas
Eu já era um derrotado, segui pela rua noturna
Vi dois seresteiros, desafinando canções antigas
E a noite estava quente
Mas, a brisa trazia consigo a paz
Antes da tempestade que ficou meu coração
Quando você não estava mais nele
Apenas eu me vi ali
Comigo.
E de todas as cartas que, aquele poeta suburbano poderia
me mandar
A última foi a mais impaciente
A mais sem imaginação
Eu estava sozinho, mas quando olhei minha armadura
Numa rachadura, dela nascia uma tulipa azul
Que jamais havia visto na temporada
Dos poetas mortos, caçados da adolescência
pelos corações da Vida Adulta

Adentrei na vila naquela terça-feira, ferido pelas minhas escolhas
Governado pela derrota de teus olhos, o problema era:
Os olhos eram meus em um espelho
Jamais foram de ninguém


terça-feira, 19 de setembro de 2017

Cada lágrima que se derrama é uma parte dum oceano de lembranças que preenchem nossa vida.

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Homem Fragmentado

Em um limiar aonde a Esperança
se encontra apenas a Misantropia.

O machado que corta a si mesmo
E dois, em vários
Eu sou um como o Homem Fragmentado.

Faça Arte

Se não pode fazer nada de
Útil com o que sente
Faça arte
E renegue a sua insignificância

A estrada foi fechada
O sol está na sua cara, 
O inverno mais seco em décadas
E você apenas está úmido
Por dentro, uma única lágrima

Nada além de afogar-se
Em seu próprio Fosso
Do próprio Castelo
Sem príncipe, sem princesa
Você só sente aquele peso
Do seus ossos e corpo

Andando pé-a-pé pela ponte
Da muralha
Apenas vejo rostos conhecidos
De memórias que tento afogar
Elas sempre voltam
Como uma flecha com ponta curva

Não se mostra o que não se é
Se finge muito bem
mas, um dia as muralhas do castelo caem
Por mãos de seu dono ou dos bárbaros
E o rei está nu
de fronte ao pior inimigo possível
Si mesmo.

Faça Arte, mesmo que simples
Resista a sua insignificância
Aceitando-a
Não seja artista, pois este já humilde não é
E do insulto vive sua vida
Pra ver se em seu castela nascem flores
Que só são pinturas, sempre o serão.


domingo, 17 de setembro de 2017

pesquisador humano de animais humanos

Pessoas são como cães
alimente algo nelas, e florescerá, claro, as vezes o que não quer
eduque ou as vezes puna, e os costumes se constroem
Pessoas são como cães, as vezes gatos
se isolam, tentam encontrar sua própria canção
Não existe som nenhum.
Os poucos pássaros que vejo em seres humanos
Que formam laços fortes e viajam
São invejados pelos outros
Mas, não é inveja sincera, ninguém dos gregários está disposto
A sair
Pessoas possuem certa animalidade gregária
Criam filosofias como Vontade,
Potência, piadas
Não se escapa da condição animalesca humana

Sua superioridade sobre outros animais
Sempre dita hoje, como Cultura
Personalidade
Em sentidos práticos
É a coletividade e eficiência da Violência
Podemos matar, juntos ou sozinhos um número fantástico de seres
Isto nos difere
Fator negativo, fator que subtrai a vida
Não há lirismo, não existe poesia

E em nosso Mundo Racional
Não persegue-se mais Deus, nem a Verdade, apenas foca-se
Nesta vida medíocre e animal
Relego-me a minha insignificância
Minha luta é olhar pra você na fresta da janela
Voyeur da existência
No deserto ele fala sobre outros
Enquanto o eu já conforma-se, no animal que sou
Pesquisador poético de animais humanos.

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Sol que ilumina a tormenta

A paz de uma vida atormentada
É o silêncio da busca pelo último suspiro
Em cada momento não vivido
E lembrado como se fosse o único.
Não existe mais nada a não ser o silêncio
neste frio espaço sideral
Compreendo pouco o que meus olhos não vêem
No frio do escuro
Do espelho pétreo do nada
Daquele sol queimante lascivo
Naquele ônibus que parte do Centro pro
Bairro
Observo rostos vazios
Nada me contam, nada me dizem
Eu não digo nada também
pela janela nós vemos uns aos outros
Passarem seus dias, na iminência
De morrer de felicidade.
Vejo as bocas que nada mais falam
A não ser dos beijos que não deram, ou se arrependem
Juventude alongada, nada mais pensa que não seja
Dominar o mundo que nunca será seu
Não, a paz de uma vida atormentada
É o silêncio do barulho da cidade
Ouço apenas barulho, não escuto pessoas
Pois, elas já se foram
Seus corpos ali, suas mentes
Tomando o ônibus do Centro-bairro
Eu talvez, também
Minha vida atormentada
Meus passos cansados
Já não tenho mais pegadas
Que veja e reconheça como minhas
Somos todos um pouco dos outros agora
Atormentados
Num mundo de jovens bobos, velhos imbecis
Bocas que jamais beijam mais de uma vez
Olhares que se perdem nas janelas
E sol
O silencioso sol
Que ilumina a tormenta


segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Venha Ulysses número 33

A vida não é bela
Beleza há no combate
A vida nos dá papéis, nós
Os representamos, meio
A contra-gosto


Esperando que ora do aço
Do saber, ora
Da Falsidade da juventude
Daquele pôr do sol com chuva, ou mesmo
Daquela despedida no terminal
Adquira algum sentido
Não, do fel da vida
Nossa consciência nada tira
Além de ver os ratinhos, os
Outros, executar balé Cômico
Trágico, Satírico ou Romântico


Não, meu caro Ulysses, não
Houve espera por você
E apenas no diminuir do eu, que
Acrescento a vida.


Ao combate, Ulysses!
Recupera teu reino, recupera
Tua vida!
Que é na batalha dos vivos que
Forja-se o guerreiro, não de deuses,
Mesmo perdido, mesmo Quixote, mesmo David
É pelo que faz do papel no palco
A diferença entre o quente
E o morno.

Marketing da Liberdade

O marketing da Liberdade
É fantástico
Vende-te a si mesmo como Livre
Como potente, mesmo que pequeno no Universo
Eu sou eu porque estou Livre e me faço livre
O marketing tem algo fantástico
Ele sempre comparativo é
Quero parecer ao meu amigo mais livre
Do que sou
Sou preso
Pelo meu amigo, por sua existência
E enquanto não destruir a ligação
Não destruo a mim
Mesmo, inliberto.

Porta

Roberto passava pela porta
E Ricardo o olhava, compenetrado em seus movimentos
Sabia que era a última vez que iam se ver
A noite havia acabado, o vinho, terminaria em alguns goles
E a porta quando se fechou
Parecia eternamente aberta
Deixando ele escapar por entre seus braços
Ricardo não chorou
Pôs sua coroa e olhou a fronte no espelho
Muitos anos haviam se passado
Desde a última vez que se vira
Estava mais velho, aquele homem
Anos acumulados naquela cabeça
Ideias que se foram
E a porta ainda permanecia em sua cabeça
Ela aparecida na sua face
Ricardo perdeu seu reflexo por um instante
Buscou-o no pensamento do espelho
Só lhe veio Roberto
Por um momento, só por um momento
E se foi
Ela parecia aberta, mas, estava fechada
Pôs sua coroa e olhou o dia
A noite havia terminado.