quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Casa

"Tenho uma casa, porém, meu lar é onde eu estou. Meu coração leva comigo, o viajante, a minha terra - na minha memória. O mundo é minha janela, no meu ser, habito"

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Uma moira

As vezes me parece q uma das linhas/cordão/moira de todo o desejo de salvação da mente revolucionária vem da frustração sobre o apocalipse no ano 1000, a refundação de Roma e uma busca pelo messias no mundo, uma impessoalidade crescente- aonde os heróis deixam de ser as genes, as realezas, para se tornar o Estado e os maquiavélicos, até uma tentativa crítica do imperativo de Kant sobre o deus Natura dos Iluministas -, a alma pela natureza científica(e a Moral enquanto Racional e Positiva e Psicológica) e, finalmente, o Eu pela História, a morte do herói pela esterilidade do pensamento. Tudo em um Caldeirão Mágico de acúmulo de informação, estórias e dados, fontes de uma Babel da Ordem dos Paladinos da Razão e Prudência, em um balé chacina com a Revolução da Revolução, a Juventude Modificativa e a Velhice Permutativa/ frustrada / doutrinante. No meio, vendo arte ora grotesca, ora apenas puta, ora apenas novos mitos e heróis, de cinema, quadrinhos, séries, reciclados da tradição, meu tempo interno, o Tempo Real, sufocado pelo Tempo Sensível, que busca emular o Tempo Externo, mundano, gerando gerações fragmentadas de não poderem mudar o "mundo", ou deprimidas pela rotina áspera, acomodados em beber o néctar de um Belo transcendente, mesmo q grotesco ou fútil, mesmo que não mais participado, de mim, do eu.
E no grande esquema das coisas, do que me limito a pensar e escrever, jamais serei nada, serei pó a frustar-se, o deus matado jaz ao meu travesseiro frustrado, ainda que eu possa e saiba que Ele, o Real, exista, me demorarei a confessar. A dúvida, meu pêndulo, minha pouca honra memoriada de pequenos trapos de tradições, ainda me sustenta. Família, amigos e companhia, alguma responsabilidade que sabe meu nome.
Porém, meu caro, ser Moderno está aí, e jamais cerrando os passos, os olhos débeis: de pessoas, passando à créditos à forças à nadas, e nesta vibração modernidade, me aparento comigo, consigo, leitor.

domingo, 25 de novembro de 2018

Domingo Lobo James e Pânico

Jaime, o lobo
Perdeu seus dois olhos
Em batalhas antigas
Traído pelo seu próprio reflexo
Entorpecido pela bebida de sonhos loucos
Voando como borboletas
O guerreiro sem espada
A tempestade sem vento
Perdeu-se no deserto
Algum tesouro para lá estava
Observou o abismo, que permanece lá
Nele
Olhando-o todo o dia
Fazendo-lhe noite
O lobo caminha pela estepe, fria em seus pelos
Caminha entre as rochas
De uma esquecida cidade, Afrodite era seu nome
Já jaz ela morta, entre escombros
De último beijo perdido de Jaime
E lá, no poço daquele mundo esquecido de si
No fundo daquele poço
Cravada um sabre estava
No próprio coração do mundo
Ao qual já não via amor
Mas, via amigos
E pouco a pouco
Alguém podia lhe dar a mão, um abraço
Ou um simples obrigado
E isto, isto para Jaime
Sacrificava o mundo, iluminava tudo
Com alguma caridade aquecida
Jaime, o lobo
Ainda sem vistas
Podia enxergar de novo
Agradecer o poder do ensino
Sobre seus ossos esmigalhados de gelo
Lástima e saudade
Sobre um resto de fraqueza magra e pálida
Um pouco de nobreza nos olhos
Jaime, o lobo
Ainda vivia
Para ensinar os outros o caminho.


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Não podes escapar do olhar da Lua, pequena, não podes
Nem do meu
O assassino em cada esquina
Olhar de médio aberto
Nos semáforos de cada via caótica
Desta cidade que não dorme
Nem você, minha pequena
Minha pequena Lua
Brilhe para mim, com sua luz pálida ainda mais uma vez
Que abrirei meu coração para você
E gritarei para todas as estrelas terem inveja de você
Nunca mais saindo do meu peito
Este pânico
Será vencido
Eu vencerei a Lua
Eu deixarei de ser apenas aquele que chora
Que cai
Que se dobra ao destino
Calma, minha pequena
Eu poderei
Derrotar-me de minhas preocupações
Resistirei
Às sombras de cada beco, àquelas que surgem quando
Fecho os olhos abertos
Nesta caótica cidade
Não podes escapar do olhar da Lua, pequena
Então, abrace e enfrente
O Azul dos céus
Está contigo.

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Domingo,
Nada há
Fora, endomingado
Endomingamos, encomendas
De sono, missas e almoços da velha família
Agradeça, aos domingos
O resto de sua sanidade.

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Curitiba é

Curitiba é...
O silêncio e alguma angústia. Temos aqui um Kierkegaard em Kafka, uma cidade poderosamente que é seu tempo e clima, como muito de nosso vício brasileiro em Geografia, mas que nega o vazio de heróis com uma certa atitude irônica, um certo brejeiro, uma bruma nas estações... Um verão de chão português que cega, uma primavera de maneirismos e flores importadas, um outono louco, um inverno apaixonado e sempre esperado e esperançoso, de neve.
Em fumaça da boquinha, amarelo iluminado. Somos de amarelo, postes amarelos, sorrisos amarelos, uma certa hepatite do tio da esquina, para além da Curitiba Perdida - cada bairro e vila, um mister de rigor.
Linhas rigorosas em cada rua, curvas, morrinhos ao norte, rios ao sul, serra ao leste, campos à oeste.
Curitiba abarca um certo cosmos de nada, mas um nada de tédio, um certo domingo de café. Ela é uma xícara de café coado e vaporzinho de inverno iluminado, pelo poste amarelo e, claro, umas araucárias presas por aí, na cadeia urbana.
Curitiba é tudo que tenho, ou tive, é um lar desesperado, porém disposto a uma diversidade, mesmo e por nós sermos conservadores. Conservamos o blasé, uma certa tecnologia da ironia, um antifolia e utopia que é difícil medir, mas que sempre ali esteve, tirando uns momentos de alardia ou alergia.
Curitiba é minha Königsberg não no coração, mas no passo, este jeito de andar desconfiado, do polaco caboclo enluado.

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Segunda quase terminando com isso

O gosto inebriante do silêncio
Sem a falsidade das pessoas
Ou à minha.

-

A corda que afaga o pescoço
Decepção de cada sonho

-


E que em minha lápide 'teje
Perdido, perdeu-se,
Mas, ajudou a encontrar-se, alguém?

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"Querido Emanuel, digo-te estas palavras, antes que meus ossos partam pelas estradas que me escapam os anos:
-A ajuda deve ser feita, oferecê-la por simples ato de educação é um dos piores males dado àquele que já perdera o espírito...
-Meu mestre, ao senhor, posso ajudar?
-Emanuel, terei eu sido honesto contigo ou consigo, ou apenas na sombra de minhas palavra, sou apavorado pela face daqueles com quem falhei?
-Não sei, meu mestre. Ao senhor, meu silêncio.
E Emanuel, desapareceu no reflexo do espelho."
(Emil Hadaward, Livro II - Juventude)


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Não acredite no bem ou em que diz ser do lado bom. A bondade é uma ação, não discurso.


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É na fraqueza que deve-se ser forte.


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Conheci um homem que não se sentia mais capaz de amar mais nada. Tinha deveres, honra e buscava a caridade, mas, amor, isto ele já não podia mais. Hoje o encontro todos os dias, a cada vez que penso sobre mim mesmo.
É uma pena, não me desculpo ao gênero humano, acredito apenas em pessoas.


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É uma pena, não me desculpo ao gênero humano, acredito apenas em pessoas.


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O homem que perdeu sua intimidade, converteu a si mesmo em cetro vivo de força passiva e fúria lasciva.

sábado, 3 de novembro de 2018

Sexta feira de um feriado sozinho

A dor que não dói
A depressão
Percorre o rio que estou afundado
Não vejo o tempo
Não me importam horas
Ninguém, tudo me afeta
Para mostrar-me como
Ninguém, nada
Negação do princípio
Perdi minha pessoa
N'algum mar que afundo
Já não dói mais
Nada
Nada
Não chego a praia
E, se lá chegasse, seco de lágrimas estaria
Já não estou em nenhum lugar
Não sei que horas são
Meu copo está vazio, chame o garçom
Mas, o bar está vazio
A dor não dói mais
Estou no fundo do vale
E todo o mar de mim corre pra lá
Adormeço
Odeio cada luz do novo dia
A me mostrar
Este limbo que sou
Sou, nada
Nado
Buscando profundidades
Neste raso de mim
Já nada dói
E sigo o horizonte
De nada.

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Viver é também cultivar amigos

Sonhar é um pequeno sopro
Começar é difícil
Manter é o desafio
E cada semente espalhada, de sincera
Espera amada
Abraço ou agrado
Palavra gentil inesperada
É o cultivo de árvore
De raízes espalhadas
No ato infinito, da presença do ser
Consegue ouvi-los, os que aqui estavam?
"Caaarpe
Dieeeem"

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Ainda


21/09/18
As vezes você só
Não pode
Existir, escutar, ficar perto de alguém
Você se torna seu único companheiro
Mas, é um mau amigo, você sabe que é
Batendo, aí, pulsando essa vida
Toda a sua existência parece uma poeira
Mas, falar disto com outro, um vivo
É difícil
Ora simples vagabundagem, ora fraqueza
O peso dentro de si permanece
Mas, medido na balança, não passa de vazio
É o vazio mais pesado que existe no seu mundo
Você mesmo


E na existência perdida de sentido
Me sento embaixo de uma árvore
Vejo as nuvens passarem, sinto o vento na minha pele
Já não vejo mais a pessoa que sou
Aquilo que fui, por momentos me atormenta
Meu futuro, farpas que furam minha alma
Continuo, porém, continuo
Andando por aí, nesta cidade vazia

Algum fio me toca, algum laço por alguém
Alguém que jamais precisa nascer
Alguém que não precisa me ouvir sempre, mas
Preciso sempre saber estar comigo
Você sabe o nome deste alguém, confie nele
Se segure, a viagem é longa e apenas sua
Segure as pontas
Não é garantia de dar tudo certo,
Porém, também que dará tudo errado
E se, não der em nada
Olhe, olhe a paisagem
Algumas vezes, não posso existir
Mas, eu existo
E vou lutar com todas as minhas forças
Mesmo com o desdém daqueles que fingem a perfeição
Para manter-me ciente:
Sou pó
Mas, de poeira, também são feitas as estrelas.

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22/09

Já não posso ver mais minha casa daqui
Não existe mais a poeira sob meus pés
O vento é encapsulado
Respiro com dificuldade
Vejo seu rosto, mas, já não posso mais senti-la,
Batendo, como a guitarra de nossos corações
Ora ocos
Ora, queimando com o calor de mil sóis
Sim, estou no meu caminho de prata agora, Magnólia
Mas, ainda te amo
Ainda te amarei sempre que você olhar aquela cadeira
Aquela em que víamos as sete luas
Cobertas com seus céus azulados
Em Saturno,
Sobre a diabrura de alguma obra de astronomia
Sobre meus ombros
Todo o seu amor cego
Que tateava-me todo com seus abraços
Adeus, minha querida Magnólia
Nos veremos no céu, seja ele vazio, seja ele tudo
Seja ele o que for
Agarra na minha mão naquele sonho de verão
E vem,
Vem tomar um café comigo?

---



domingo, 7 de outubro de 2018

Nietzsche ou como o niilismo é o romance desgraçado

Imagine-se como um jovem, nascido em um momento da história humana jamais visto, aonde as conquistas do ser humano vão de observar os altos céus e construir aparelhos jamais operados ou imaginados. Porém, a miséria está por toda a parte, a desigual e degradante situação de alguns poucos miseráveis se compara ao interior dos homens, jogados às traças em sua força, condicionados à rotina, enfraquecidos. Sua força vem sendo paulatinamente retirada por instituições, o Estado, as igrejas e mesmo a cultura, copiada de outros países, já não nos responde mais nada... Estamos em estado terminal, gritamos por algum socorro, já ninguém nos escuta, aquilo que podia nos ouvir, já jaz morto.
Matamos Deus, ele não pode mais nos ajudar.
E como forma de compensar esta perda, este motocontinum que já não mais existe, começamos a nos juntar, servilmente, uns aos outros... E esta aglutinação, damos o nome de sociedade. Um enfraquecer as das pernas e músculos cerebrais, um outro nome para a derrota, é precisarmos do coletivo.
Não, ser este ser gregário, fraco e piedoso não era o que os antigos fariam, não. Aqueles que andaram por todos os continentes, exploraram terras que jamais foram vistas, com pouco mais que pedras e lanças, estes não adoravam deuses que podiam ser mortos, não, estes não eram apenas mais um na marcha da História... Havia algo ali, algo que nos foi consumido por esta estoica fé cristã. Algo que nos dava força e norte, nossa própria potência, nossa capacidade de transcender pelo cultivo da festa na amargura, a dança na morte, o combate no inevitável, mesmo que para fim algum.
Não, não há de certo um fim da história, a realização utópica é, no pior dos casos, apenas nossa força interior, nós podemos enquanto Eu. Mas, não apenas um Eu com todos, um SuperEu, que contemple-me enquanto tudo que eu possa realizar para dominar este mundo. Nesta Terra, voltada aos furacões e gélidas montanhas, mesmo em toda a selva de bestas selvagens ou desertos escaldantes, sempre haverá homens dispostos a transpor, a atravessar este Rio Caronte, porém, sem barqueiro, ele será o barqueiro.
Na água da História sem destino, não há estrada, há apenas um círculo, um eterno retorno de tudo isto, minha vida nasce miserável, vivo-a conforme a dança e as tradições, morro-a. Futuros pensadores dirão algum devir inexpugnável.
NÃO!
Supere a sua autofagia da rotina, se supere sendo a Montanha! Seja a própria força, pois, à força de tudo e sempre, em todas as épocas históricas, a minha busca e a sua, se ver honestamente os seus desejos primários, antes de sua educação que o enfraquece com regras de elegância, é o Poder. A potência, a própria superação de si, esta é nossa razão, faça sendo, aja e existirá, pois, não há motivo para isto no final de tudo, apenas agora, apenas neste momento, apenas um ideal morto, porém não mais estéril como o divino, há apenas, o realizar-ser.
O Supremo Senhor de Si, será aquele que transpor-se nesta trágica estrada e governar, tudo. O todo seu.

...
Assim, encontrei este trecho em um pequeno diário de meu avô, Joaquim. Ele não morreu na guerra, como contava sempre. Ele não morreu enquanto andava, na sua viagem rotineira pelas manhãs e fins de tarde, indo e voltando no seu trabalho nas lojas Departamentos no Centro da cidade. Não morreu quando enterrou Alípia, minha avó, nem mesmo quando viu o país perder a Copa e jurou nunca mais torcer por nada.
Joaquim morreu esta semana, em casa, dormindo. Era uma pessoa extraordinária, tinha amor pela vida... Uma força dentro de si, porém, um amor ao seu destino, que ele não me transmitiu, infelizmente... Vejo as coisas escritas aqui, me dão náusea.
Não existiu um caminho tão glorioso, talvez não mais existirá... Como foi com meu avô Joaquim. Tudo é palavra hoje, o homem se fez verbo, não mais existe gente nesta Terra, ao qual o sonho de potência, já se enterrou como pó de alguma estrela. Porém, ainda posso tentar, como ele, viver o melhor que puder, superar-me... É, farei isto.
Amanhã, falarei com Catarina, amanhã, levarei o cão a passear e começarei a ler meus livros da faculdade atrasados... Amanhã serei eu novamente e, quem sabe, poderei ser mais que eu!
Amanhã, serei livre!
E a força dentro de mim se renova, o ciclo da História quebrado, por uma simples busca de superação deste corpo, deste instinto gregário, que ajunta bobos e dançarinos... SIM! Dançarei! Como os servos de Pã, como uma bacanal, dançarei neste meu estado deplorável de ser, eu, mas, caminharei intensamente... Buscarei ser, Joaquim, para além dele, para além de mim.

...
E, então, Prometeu acordou de seu sonho.
Ainda estava preso, porém havia levado o fogo ao homem.
A águia lhe comia o fígado, mas, havia iluminado a visão de todos.
Já não havia mais apenas frio, o calor do sangue da tecnologia.
Técnica se tornou romance, e o romântico apertava os parafusos.
Do robô niilista que se tornou.
E, num futuro não muito distante, com um coração de um Replicante.
O caçador de androides se perguntava:
-O que sonham, as ovelhas elétricas?
-Com Joaquim - respondeu Nietzsche.


quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Quinta escrita




Nunca poderia escrever um romance
O tempo das palavras
Sua distância em períodos distantes
Bem, meu amigo, já se deixaram em mim
Recuou-se
Revolto
O mar das frases, dos capítulos perdidos
Sobre náufragos e astronautas, de algum planeta Terra
Escondido sobre minhas pálpebras
Sobre sua boca, que repete o que escrevo agora
Em sua mente, ou em voz alta
As letras de um poeta sem rima
Um romance abortado nos confins de um berço
Vazio
Nunca poderia escrever um romance
Me falta o tempo da palavra
Me falta o tempo
Tempo da alma
Alma em pedaços


De algum terraço
Uma moça me espia na janela
Eu sorrio pra ela
Nunca poderia escrever um romance
Pois, não tenho você
Poeta que está dentro de mim
Você se perdeu
N'algum de meus oceanos mentais
E agora, fiquei com as frases sem rima
Dissabores do mesmo tempero
Fagulha apagada da mesma vela
A iluminar seus ruivos cabelos
Em alguma lua de prata
Ou apenas ilusão
De um terraço que em que vejo
Pássaros na revoada

Voa, voa palavra
Escreve o poema sem rima
Avisa o náufrago de sua sina
Alerta o astronauta os perigos do vazio
Que dali, em meus períodos distantes
Dali escrevo meu romance
Já não mais sabendo entre eu, e a biografia
Recua
Recuo
Volta
Volto
Mar de oceanos de mim
Céu de você, que me lê

---
E na severidade, o místico entrou sobre os palácios da Terra, onde os doutores diziam serem a própria Lei. No seu lado sombrio, todo o oceano das amarguras das infindáveis rotinas, dos velhos amigos aos poucos abraços, um pouco de si, ainda aluminado, caminhava, em solo de fúria, por um vale de ois e tchaus nas lágrimas dispersas na chuva. Voa, pássaro, voa e tenta, pois é o que lhe resta

---
Sendo
Um lágrima na chuva
Adeus, eu mesmo.

terça-feira, 11 de setembro de 2018

Quarta silenciosa

A desculpa que cala a alma
Caldo do espírito, despeja a boca
Quase em vício
Quase em doença
Não admitindo que você é este si mesmo
Que erra
Mas, não sempre
Não sempre, pequeno ser
Há momentos para ser desculpados
Há aqueles em que você merece desculpa
Outros, apenas um abraço resolve
Apenas um pequeno gesto de si
Mas, aquele que falto no outro, no todo
Talvez doa mais
E a atenção dispendida para você
Machuca
Doendo a dor que causa no outro
Por simplesmente você existir
Ser irritante, esquisito, arrogante
Isto é um motivo pra se voar pela janela


Mas, não hoje
Me desculpo de novo, por estas linhas
Você que lê
Desculpe minha companhia, ela é apenas
Humana
Buscando ser livre
Mesmo sendo miserável, bloqueada e pequena
Humana
Viva
Errada
Ao qual, as vezes, acaba acertada

Desculpe o incômodo

---
No aro do óculos
Pia
Andorinha das ideias, gralha que foge aos braços
Seu contorno que me dá abraços
Salva-vida com palavras

---

Nesse arremedo de gente solitário
Não se concerta o que não tem peça
Felicidade, não acredita
Amores, já deixaram todos de lado
A guerra, já perdida
Sobrou eu, o pensar e a morte.
O corpo é um túmulo, amarrado
Dentro de si mesmo
Por uma inócua sede de ficar vivo
De ver como tudo fica
De resto, não acredito nas pessoas
Não acredito que existam
Não posso mais vê-las
A atualização foi feita com sucesso
Um homem moderno
Vendo discursos prontos, vendo palavras belas
Vendo ideais
Apenas imagens, sem coisas
Formas mal feitas
Para cabeças sem essência
Para povo sem gente
Humanos sem pessoas
Nesse arremedo de gente,
A peça se perdeu, pra se concertar
Os atores são péssimos, a harmonia não existe
Pego-me em Deus, no silêncio
De algum olho amigo
Mas, ao leitor que lê
Espero, sei na verdade, que não vês nada disto
Que és real e ambicioso pra ti mesmo
Que sou um fraco, tratável nas pílulas
Apenas um vagabundo
Apenas um gato vagabundo
Miando poeminhas
Apenas um homem moderno
Remendado
Finamente
De gente
A peça não se fabrica mais
E os atores são péssimos


Diálogos de um cego em si



sábado, 1 de setembro de 2018

Sábado das minhas sombras me olhando 1

Ao cara que cavou um buraco
Foi morar lá
Afogando-se na própria merda
Apenas se tampou a vala
Seguiu-se em frente
---

A fé que deixou
De ser certeza
Passou pra algo de crença
Misto de desespero
Em um concreto do muro de fraquezas
Por atenção, fama, pavor
Puro mundo temporal de forças
Que jamais venceria
Sem um pouco de humildade e caridade
Mas, pra quê?
Somos modernos e evoluídos
Dizem até que somos livres
Só não o sendo de nós mesmos
---

Ajoelhar-se por algo que preste
Se a nada se prosta
Apenas vai amar a ti mesmo
Numa masturbação infinita de si
Como fim e destino da humanidade
Mas, que morrerá em tal cidade, em tal ano
Será logo pó
As lembranças de ti acabarão
Os amigos também irão
Logo, eu deveria também viver o agora
Sim! Pego minha bike e vou embora!
Mas, o mundo feito de eternos agoras
Já não me basta mais...
Olho o passado, curioso de seus antepassados
Desconfio do futuro, agindo no pouco que posso
Porém, ultrapasso o tempo
Ajoelhando em silêncio, no cálido d'alma
Concordando que miserável que sou
Posso ter algo de heróico
Se amar, ensinar ou algo assim
Transcender um pouco
Aquilo que vejo e sinto
E apenas repousar Nele
Pois, as feridas que tenho e as que faço
Estão todas no gênero humano
Mas, eu
Eu ajoelho à Ele


domingo, 12 de agosto de 2018

Sobre os ombros



Sobre seus ombros
Estive cuidando seus passos
Mas, nunca recebi um nome
Nunca recebi nada mais, que um obrigado
Estive sempre aqui
Estive sempre lá, mesmo naqueles momentos difíceis
Naqueles secretos
Naqueles em que tudo desconheço
Pois, apenas te conheço, pequeno
Não mais, não menos que um pequeno grão de areia
Imerso em um mundo em que as pessoas
Parecem amar as trevas
Cultivar ranço
Adorar a fofoca
Mas, naquele oceano, pequeno
Veja, veja que estou em seus ombros
E você, você sempre poderá estar sobre os meus
Agora, meu filho
Agora escuta e escuta bem
Nunca te cobrei nada
Mas, o preço que tive
Foi sempre ver a lágrima tua como a última
O sorriso seu como o primeiro de muitos
E um abraço de vez em quando


Então, aquele pássaro voou
Aos altos céus
Na rapina de toda a presa de meus pesos
E lá, do Céu
Escuto aquela pequena voz, fraca
Em alguma doença manca
Alguma briga boba
Alguma piada ou trejeito engraçado
Hey
Piá
Acorda!

Sobre seus ombros


sábado, 11 de agosto de 2018

Sábado mais um Tomás o gato e raposa

O gato
Bichano, rabo pelúcia
Entre minhas pernas
Sumiu
Entrou em alguma dimensão
Escondida embaixo da mesa

O segui
E lá vi, entre aquela cadeira e papéis velhos
Um mundo inteiro de coisas, uma corrente inteira de minérios
Prontos a serem lapidados
Como jóias escondidas na pedra da mina:
Uma carta minha de quando criança
Uma velha foto que caíra da escrivaninha
Uma lapiseira buscada faz tempo
Pequenas coisas, pequeno universo
Da carta, havia apenas algo, entre os erros de português
"Deus, me dê força imaginar pro mundo inteiro ver"
Assinava uma criança cheia de sonhos
Dentro de algum adulto que agora, passados os 20 anos
Via na foto caída da escrivaninha, outra pessoa
Que também fizera promessa
Porém, entre a nostalgia salgada de mar e a fotografia
Timbrada de nó na garganta
Uma lapiseira, olha ela
Escrevia e tinha ainda ponta!
Ponta de uma lança, ao qual o papel há de respeitar
E nela, andante cavaleiro
De cavalo ou navio, veleja no mar da frase
Numa tarde, noite, de sexta-feira, dos 20 anos depois

E de um gato por inteiro, memórias que trouxe
Pensei ser ele mágico ou feiticeiro
Apenas queria comida, aquele fuleiro
Tomás, meu caro amigo Tómas
O gato que viaja minhas memórias em passeio

---

Entre tantos leões faceiros
Digníssimos de seu próprio cabelo
Entre as tartarugas refugiadas em seus próprios canteiros
Munidas de sua caça ao próprio dinheiro
Até alguns ratos, sentindo o que podem de todo cheiro
Ou serpentes a engolir veneno fofoqueiro
Uma raposa, uma raposa ruiva de rabo cumprido
Não tão boa quanto outra
Não de barriga cheia de galinha como aqueles
Está lá, espreitando as montanhas, sondando os vales nebulosos
E perguntando, perguntando sempre
Com um faro, ora falho, de lá pra cá
Toda a alma, meu senhor, não é pequena?

Sábado com algum french touch


Entre as torres da cidade
dormem os sonhos
dormem os amores
dormem lágrimas
o que corre sobre mim
cai como a chuva
da luz do crepúsculo
em cada pensamento
fugindo entre os olhos no mundo
fixa! Fixa!
no céu poente da memória


---

N'alguma praia
entre o fim do mar
na linha do horizonte
entre a boca dos dois amantes
um fim inteiro de todo o amor
terminado entre o último abraço de ontem
e o amanhã solteiro
em seus pensamentos
Caminhando na praia
estavam os dois
perdidos em alguma dimensão paralela
nada falavam
tudo diziam
vi n'aquilo um verdadeiro amor?
ou, cúmplices de um crime
dois ladrões da alegria do mundo
no momento deles
abraçaram o tudo, inteiro
entre a distância de suas bocas, toque de suas mãos
entre a distância da praia à linha do horizonte
entre a distância de limite de seus fios de cabelos
até aqueles pequenos fios brancos
Tudo, inteiro
Apenas dois, pra dois
N'algo entra no mar
Cai no horizonte
E me beija
Me beija até tudo
Tudo estar completo
Que crime, isto
Que crime

---
Na fumaça, em que todo o fogo
Está
Minha cabeça funcionando
Emitindo
Ideias como louco
Caçando seus moinhos
Conversando com seus demônios
Volvendo em seus ventos
Ares de pensamento
Da brisa até a tempestade, nas frases
Na caçada
De algum momento
Presente, parado no tempo
Registrável como poema
Ficção de alguma filosofia futura
Fumaça de nem sempre fogo
Ideia que nem sempre boa
Presente que esconde ora fundos vales
Ora serras
Nebulosas serras! Terras de Sóis, estrelas miradas
Artes passadas
Que em seus montes, ó serras! Que em seus montes me
Aqueça este inverno
Nas constelações
Torres das pontas góticas de uma capela
De todo o meu poema guarde
E ali, ali
No sacrário que me inspiras a escrever
Musa que aquece o coração
Da neblina, da fumaça do mundo inteiro
Escreva ao menos uma letra da verdade
Uma pequena coisa daquilo que passo
Da minha alma que presenteio
Mundo inteiro
Mas, sei, ora sinistro, funesto ou surdo mundo
Que jamais preciso dele uma resposta
Mas, que eu, Musa Sofia
O ajuntarei de perguntas
O questionarei nos poderosos, nas coroas e jóias
E buscarei nos passarinhos, no orvalho
Na rosa
Ou no ônibus de manhã, no salgado da padaria
Alguma prova desnecessária
Apenas porque já está lá
No meu peito
Que toda a real poesia da alma
Já encanta um pouco o verso inteiro
Queima cabeça! Queima! Que de sua fumaça, me faz verso!

quarta-feira, 25 de julho de 2018

Quarta feira depressiva nos vales de minha alguma alma

Olho para gente ao meu redor
Vejo montanhas e oceanos
Mas, vejo apenas
Não sinto
Há apenas matéria nessa gente
Essa modernidade evoluída
Foi do fora, pra dentro e diz que dentro
Não há nada
Não mais motivos para ser você
Apenas mais um
Não apenas aceitar ser pequeno
Mas, ficar sendo pequeno
Mínimo, calado. Em seu lugar
Aceitar o que te dizem e revoltar-se
Do jeito correto, naquele ou outro
Caminho
Te chamam de burro, vagabundo
Ou romântico
E deve ficar quieto
Não existe eu, não há fora e dentro é aparente
Tudo um jogo de espelhos, prisão ou depressão
E no vale de lágrimas, a maior parte
Das mesmas coisas, do mais do mesmo
Você se aquieta, você apaga. Morre
No deserto do que os outros dizem ser correto
Errado, injusto ou até mesmo... Real
Mas, o real te bate as tripas
Te aparece nos momentos chave
Em que heróis do cotidiano
Dos feitos de pequena escala, mas de profundo toque
Dependerão de você
Então, o mundo cala
Ele não ajuda, envergonha.
O nada não serve a nada
Apenas a si mesmo
O falatório do meio, dos doutores, televisores
Alguns amores
Nada te ajudará quando o Real te demandar:
-Seja agora, ou cale-se para sempre!




Pois, quanto falatório seu espírito aguenta
Antes de virar um calado
Pó de sapato
De alguma montanha agorenta?


"A sorte favorece os audazes", li uma vez
Enquanto atravessava de navio, um canal
Perdido no tempo dos meus pensamentos.


---

Um Quixote sem escudeiro
Um homem num deserto de gente
Coberto de poeira, sua preguiça do mundo
Seus mestres, apenas trouxe decepção ou ranger de dentes
É poeta, porém ruim
É artista, porém frustrado em outros caminhos
Nada tem de muito valor
Nada fez de muita coisa
Nada fora do mundo do básico, do discreto e até fácil
Serei nada?
Talvez
Mas, sua obra pode ser apenas estender a mão
Apenas ouvir
Apenas falar o que tem de ser dito
E isto, meu caro, seus diplomas e fariseus não darão
A paciência
O silêncio respeitoso, numa modernidade que apenas
Valoriza o grito, o militar e o reagir
A ajuda é necessária e a estrutura se faz
Resistindo
Resistindo a si mesmo, ao maremoto do mundo
A fúria de si mesmo
Ao abraço que aquieta a dor do outro, mesmo que por segundos
Um cavaleiro não se faz apenas de espadas
Mas, em andar e errar
Aceitar ser errante
Lutar em combate quando mesmo o espírito se fragmenta
Em lágrimas
Em injúrias de si contra si
Continue, continue a viver
Segure mais um pouco
Sustente mais alguém, levante mais um caído
Caia, mas, ajude
Do jeito que for
Se apenas puder escutar, se apenas puder caminhar com outro
Faço-o
E seu existir, fará sentido pra ele
"Abster-se de si, enxergar o outro"
Li em um escudo uma vez, num campo de batalha
Sempre vindouro
----


Se eu pudesse dar um pequeno conselho de escrita, diria: não mate o seu narrador interior. Não permita que coisas como a escola (universalizada, ou em raros casos, em grupos fechados), os amigos ou pseudo-amigos, os jornais e especialistas - falsos ídolos de idoneidade, destruam a sua capacidade de ler e escrever o próprio mundo, seja por imagens ou figurinhas, cantando com a família ou discutindo com humor numa mesa de domingo, nos causos intermináveis. Sua vida será sua, ela pode ser uma prisão ou um castelo, pode viajar ou lutar em cada minuto, mas, é sua e responsabilidade sua, ser capaz de narrar a si mesmo e não escapar e deixar-se levar pelo falatório, demoníaco, de quem não tem nada haver contigo, mas, pensa saber mais ou que tem o direito de ordenar a vida, não te dar conselhos, mas, ordens.
Escrever um texto decente ou minimamente comunicativo, algo que nunca fiz direito, ou que evito reler por sempre achar incompleto - a vida é incompleta, e é bom que seja assim -, passa por esta capacidade de criar o que existe em uma dimensão nova, diferente. Não é pensamento, nem crença ou fé, é transmissão, é palavra, imagem, é agir no papel passivo para criar um despertar em quem lê. É contar a história ou estória viva, lançar das palavras todo o sangue e ossos, arrasar pelas frases sua ideia, suas memórias contidas e trabalhadas. Lutar, escrever é uma épica aventura de si mesmo para o outro.
E se você não observa ou sente o outro, nunca poderá escrever algo decente ou, até mesmo, falar algo que preste. Poderá fazer outra coisa, várias coisas, o mundo é diverso e pleno de várias atividades, porém, narrar algo, não serás capaz de fazer, talvez em outro momento, quem sabe? Quando seus olhos abrem e você vê aquilo que está fora, poderá escrever sobre o que está dentro e narrar a mínima folha caindo entre o Céu de infinitos grãos de estrelas, como a mais fantástica coisa contida do abraço de seus pais até o tempo de abraçar seus filhos, da ida a escola até a ida para o túmulo, do ver aquela pessoa até beijá-la, naquele dia, na chuva.
Escrever é narrar outro, sabendo que é você, o responsável por aquele mundo, de frases, suspiros e, quem sabe, bocejos. Narração sua, guarde-a, lute-a, faça-a.

quarta-feira, 18 de julho de 2018

Sábado de luz opaca cor de nada nata

Um leão enjaulado por si
Agora, fraco e pálido em algo que nunca foi
Enforcar-se na corrente em sua pata, má ideia seria?
Menor vergonha de si para quem importa
Maior paz por achar destino rápido
Olhos de uma profundidade anímica


Vejo um leão em si, enjaulando-se num circo

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"A experiência que tenho mais próxima do articulável através de palavras com a música é a da sintonia. Não compreendo muitas línguas em seu sentido e significado estrito, mas, sinto que existe, através da música, sua sinestesia ou capacidade cinematizar os sons, uma ligação, uma sintonia. A partir do momento em que se domina várias línguas, sinto que esta capacidade vai diminuindo ou se estreitando, parece ir direto à instrumental, eletrônica ou concreta. O homem comum parece ter mais sintonia com o som que o douto, talvez."
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"Uma pessoa que entrou em guerra consigo, com sua própria mente. A batalha que não termina com a consciência de si"

sábado, 7 de julho de 2018

Segunda Dor nas Costas d Nervoso

A poesia está no silêncio
Do olhar perdido de um horizonte
Aflito, apaixonado ou
Na ironia de cada dia
Em seus braços nos levando
A vida
E cada esquina que passo
Cada cheiro, toque que tenho
Estou lá
Na minha presença de si
Consciente em algum nível
De minha estrofe interna
Meu verso amarrado, atado ao peito
Minha âncora fixa entre a palavra não dizível
E toda a estrada entre eu e você
Que me lê
Pequeno leitor, de um mínimo escritor


A poesia está no silêncio do grito
Sufocado do silogismo, lógica épica
Canção de março, água de abril
Frio do inverno, amor de verão
No seu abraço, ah, naquele mesmo
Na memória, na lembrança
Que é calada
Mas, que guarda
O mundo inteiro


A minha presença, agora velho
Enrugado e sereno
Entre as rabugices, entre as fúrias juvenis
Vai apagando uma ou outra coisa
Vai deixando
A memória, eu
Minha presença vai ficando quieta
Me torno poesia
Me tornarei estrofe dos outros
Alguns me amando, outros me odiando
Mas, eu, enquanto a um velho cão neste mundo
Abarco ele inteiro
Observando-o, de revesgueio, canto de olho
Silêncio
Da poesia
À memória
À história
E filosofias

---
Cada homem vive em contar sua história. Se não pode resgatá-la, se você simplesmente a odeia, se coloca-a sobre a esfinge de sistemas ou condições simplesmente materiais, alheias a você e sua responsabilidade, já não está mais neste mundo, mas, apenas grita e chora nele, em um amor pelo desespero. Busca matar deuses, pois você em si já não reconheceria nada ou nenhum deles, sua história é meramente um dado, uma estatística, um verbete de enciclopédia ou alguém que poderia ser lembrando apenas num momento sem emoção, ao lermos algum obituário antigo.
-Morreu hoje, fulano de tal, uma boa pessoa
Não tente mudar o mundo, não é necessário ou possível e apenas te representa o ego que alguma ideia lhe pôs e você acredita que elas estão fora de sua cabeça, na fala dos outros. Busque contar sua história e ser uma pessoa que tenha medos, arrependimentos, algum carinho e virtudes que possa guardar em seu tesouro.
Pois, talvez o que se chama espírito apenas seja a arca que abarca meu mundo. Indizível, mas, que conto, ponto a ponto, nas minhas histórias

---

quarta-feira, 13 de junho de 2018

Romântico vazado



Ato de destruir leva pouco tempo,
Termina com obra longa
Confiança, um castelo, um Império
Tudo cai rápido, mesmo que demorado
Mas, a memória, algo fica
Permanece, algum sorriso
perdido no canto do rosto
Alguém olhando perdido um espaço
Um lugar qualquer, cheio daquele
significado perdido, permanente de sentido
Esquecer não é destruir
É calar


Descanso, depois da vida
Terá caos, naquilo que já vivo?
Amar é perder-se
Ou descansar eternamente?

---


No toque de suas mãos, completo
Meu olhar no seu
Inteiro, descubro cada mistério
Escondido no seu corpo
Contido em sua história
Meu pedacinho brilhante de memória
Meu momento crescido de fascinação


Mas, estava apenas ali
Na sombra ausente do passante
Naquela rua chuvosa
Naquele aceno em algum ameno
Aperto do peito
Saudade, saúde, momento

Cima, embaixo
Descubro na aventura de dois
Sendo um, eu mesmo
Algum caminho feito a pares de passos
Na poeira da cidade perdida
Na trilha da montanha
Naquele pôr dos mil sóis
Entre dois olhos
Completos
---
Em algum canto de lá
Uma moça sentada, perdeu os olhos
Nos meus
Sai da sala, ela não mais lá
Estava
Estando num ponto qualquer
Algum canto de cá
Quentinho no peito
---


Solto
Num vôo cadente
Entre os lábios, sou palavra
Poema contente
Ou tragédia latente
Ruído em ironia
Ou grito da epopéia
Romance de alguém, pira incendiada
Prometeu que leva a luz sagrada
De algum versinho galante
Pra você, pra mim
Perdido entre alguma flor
Sol adormecido numa lua acordada


Palavrinhas em verso
Rimas de sorriso de canto dos olhos
Valorize o que te guarda, não o que te usa
Abraça o que fala com você
Não o que fala de si por você
E em uma ou duas palavrinhas
Um amigo agradece cruzar seu caminho

terça-feira, 5 de junho de 2018

Terça de 26 um terço

Não lute com o seu passado, ele sempre vence. Tente conversar, o quanto a aguentar o seu espírito

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Tristeza
De ser quem tu és, de estar onde não está
De nada ver em seus anos que
Punhados de areia perdidos
Entre atos e omissões
Nada a mais
Tudo a menos
Contudo algo, entre símbolos e poemas loucos
Reside, resiste
Neste corpo de vinte e tantos
Tão poucos, tão tantos
Anos.
Parabéns, poeta perdido em seu tempo.

---
Alguns lutam e ficam nas sombras, para outros brilharem

sábado, 2 de junho de 2018

Sábado Personalidade/Memória

Personalidade/Memória
Eu sei que sou pelo que fui
Eu sei que sou pelo que fui fazendo
E sei o incompleto do que fiz
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Sopro
Em meus passos, atrás das orelhas
Passando pelo correr de sangue do pescoço
Sopra
Da memória, me escapa
Aquele dia de sol ardente
Mas, brisa fria
Correndo, soprando
Alma de meu caminho
Estrada de minha história
Sopro
Agora fraco, agora frágil
Entre os braços escapo
Alguma lágrima de algum outro lugar
Algum em outro algo
Alguma outra brisa fria, num sol ardido
Alma do meu perrene e agora
Pouco ar
Pouca alma
Mas, movimento
Entre minhas idéias, um alento
Entre os ares das páginas de livros
Um caminho
No meu auto-amor, um robô
Movido por sopro
Ora suspiro, ora palavra, ora afeto


Hora que a alma vai, com sopro
De uma beijo
Dá as memórias
Da melancolia à melhora
Ainda sopro
Ainda respiro
Entre os braços

"O Real me dá asma", disse Cioran

---
Às novelas
Dos ventos da noite
Que adormecem meus pés
Mancham meus dedos
Nesta sujeira do inverno
Nesta neve suja, que enerva
Entre pensamentos, atos e omissões


Tormento de um resfriado
Grito de algum vizinho
Latidos de cães para os gatos
Eu, sou aquele felino
Observando tudo, correndo por aí
Na noite
No véu da noite
Te respiro, doença que é
Esta vida, as vezes
Outras, umas tantas
Pequenina aventura diária
De um gato preto feiticeiro
Caminhando entre as colinas de concreto de uma cidade
Qualquer
Poesia barata
Guardada no bolso, olhando
Entre os rostos perdidos do desterro
Algum futuro barato, vendido por aí
Algum latido embusteiro
Algum aperto no peito

Doença no inverno, sujeira do tempo
Correndo entre o relógio
Como as patas do gato preto


sexta-feira, 25 de maio de 2018

Sexta não sinto nada

Entre o frio dos dedos
Secos decompondo neste ar
Gelado, certo e ríspido
Caminhante dentro de alguma noite
Rotineira, canseira
Já estou naquele frio
Falta-me empatia
Falta-me você, que vejo no espelho refletido?
A existência não me escapa
Me fogem os outros
E já a moral deste desinteresse se perdeu
Dentro de algum ar gélido
Algum sorriso sem mérito
Ou apenas um caminhante de pouca glória
Ando com o caído e o carrego
Só que sou também em queda
Reajuntando pedaços
Serei de caridade no Inverno?
Carregarei nos verões? Lembrarei das feridas?
Talvez a melhor humanidade esteja em nós
Olha a tua cicatriz de ontem
Viva por aquilo de si
Repire o gelado, sustente
Force o último círculo infernal até que ele,
Estourando
Traga te ao reflexo de si no outro
Desinteresse daquilo que te mandam
Foque naquilo ou procura eternamente
Aquilo que és

---
Pedra que corta o mar. Onda que passa. 
De mundo inteiro, de pensamento total. 
Consciência de erros e omissões.
 Confessando, quieto. 
Ao espírito que me escuta d'alma. 
Corta o mar do mundo a gente. 
A gente fica pedra, fragmento.

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Deixa as notificações no canto
Pra fingir movimento na vida
Segue gente aleatória
Pra viver a vida deles
Nas pinturas, enganosas dos fatos
Ouve mentiras pra sua alma
Mas, sorri, mera polidez
Se esconde na tolerância
Quando nunca a entendeu:
que outros também
Deveriam tolerar-te
Bem-vindo a modernidade
De aparências, estilos e opiniões
Aventuras mortas, enlatadas pra se comprar
Seja com dinheiro, seja com amigos
Que confia por conveniência
Quem confia por conveniência
Todos dando importância às neuroses
Todos caminhantes na maré dos fatos
Poucas almas, poucas histórias
Mortas, sem likes
Passadas sob algum trator da história
Miradas como meu espírito desnudo
Nas palavras
Vociferando aos coelhos e gatos
Algum Franscisco imbecil coletivo
Fingindo que vive sendo especial
Olhando nos cantos algum sinal
De notificação de celular


Suas definições de vírus atualizadas
A alma humana computadorizada

sábado, 12 de maio de 2018

sábado sexta

Olhar pro lado e sentir que nada tem
Não tenho amigos que já não incomodei
Ou luzes que apago com minha sombra
Reduzo-me ao silêncio
Não quero incomodar
Mas, meu grito sai por palavras
Abafado, quieto
Ninguém se importaria
Em dois anos apenas lembrariam
Aonde aconteceu a despedida
Não, apenas uma lembrança
De um homem-máquina sem motor
Vendo-se como sucata
Atrapalhando vocês
Com sua estranheza
Palavras e modos
Desculpe, mais uma vez

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Existo por apenas duas horas em cinco dias da semana. Na hora da aula ou explicar. De resto, sou uma parede quando não se olha.

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"A coisa que te guarda
Que cria abismo na real
É a distância da tua boca da minha
Afetando, num inferno astral
Todo o contínuo espaço-tempo de nós juntos"

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Entre o vento e uma boa coxinha
Existem mais mistérios que nos múltiplos
Cálculos estelares
De meus cálculos renais
Seguindo compassos
De dança cósmica
Entre um sorriso amarelo
Em crise depressiva
Ou um abraço
Que já nem sei mais perdido
Ou festivo
Ou mesmo, faustivo
Contratando socialmente com o Diabo
De um afago a uma indiferença
Entre o vento
E uma boa coxinha
Existe um mar de picuinhas e gracinhas
Numa aula perdida
Nos arredores de Curitiba

terça-feira, 1 de maio de 2018

Terça ainda vivo

Seu vestido amarelo estava
Bonito, como um mar
De estrelas
Na minha cabeça
Entre suas pernas
Entre seus passos
Via o mundo
Seu vestido estava amarelado
Agora
Já não mais ouvia o assobio no peito
Toda a vez que nos víamos


Antes, eu era o marinheiro buscando o tesouro
Agora
Pirata entre os rochedos,
Vasculhando Sete Mares, gastando meus Cinco Anéis e todo meu ouro
Aonde está a bússola que me mostrava o Norte?
Aonde está o Sul?

No firmamento, já não existe mais nada
E eu
Agora
Fiscalizava a vida alheia, nestes inúmeros perfis
Nesta inúmera alegria registrada
Desconfio que ela nem existiu
A imagem da beleza não é da alegria
Felicidade não se captura
Ela usa um vestido amarelo
Sorri pra você
Te pergunta as horas
E sai
Agora, não reconheço aonde termina a luz do sol
E aonde começa o meu crepúsculo

Estou amarelado
Pelo tempo, desbotado
Por mim, minhas próprias horas


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em dois momentos era apenas
um cruzado, vagando por terras insólitas
galgando a minha Fé
queria encontrar Deus, mas, ele não me achava!
E pela ponta de minha espada, cruzava
Entre os diversos pontos daquela árida emoção
um ou dois momentos de Glória


"-Não, Eduardo, você não está lá... Nunca foi um cara destes!"
Engraçado, pensei que pessoas mortas não falassem
"-Minha morte é entre eu e você, jamais entenderá o que é ser vivo"
Talvez, talvez eu apenas esteja esperando do Céu... Como um cavaleiro
"-Cale a boca!"
E jamais voltei a ver aquilo de volta
joguei as chaves de minha consciência em algum canto
Tranquei-a com duas fechaduras
Irritei algumas pessoas e dei algumas aulas
Já não esperava muita coisa
Apenas em dois momentos era apenas
Um falido, vagando por terras insólitas
Galgando a minha Fé que já não existia firme
Não encontrava Deus, pois ele sempre esteve lá. Só que apenas olhava
E pela ponta de minha caneta, escrevia
Entre os diversos pontos daquela perdida emoção
um ou dois momentos com a Glória
----

-Você é muito triste e depressivo!
Talvez só esteja imitando o mundo. Alegria se acha em pouca gente, estupidez, vilania e fraqueza, o tempo todo.
Admitir sua mortalidade é um caminho pra se libertar
Pena que a liberdade seja dolorosa e responsável por si
Não mais soldados, não mais fantasmas
O fogo do dragão queima a sua carne e não mais do herói...
Basta trilhar e voltar agora, se ainda consegue dar alguns
Passos
-... Cala a boca

sábado, 28 de abril de 2018

Sábado Solidão

"Te amo, meu amigo
Mas, eu não me amo"

---
Cada vez mais, meus passos me perseguem pelas ruas
Perguntando quem sou
Respondo que eu era
E eles apenas aceitam, com o eco do passado


Os passos que já não tocam o solo
Mas, cantam melodia d'outrora
Som da memória

Me caçam pelas ruas,
Me toca em cada solo
Em rostos que procuro na multidão
Cheiros que contaram outros perfumes
Noites em que já não era mais tão frio

É a caçada eterna
Da memória
Perseguindo meus passos, que me perseguem
Cada
Passo

----
É pela lança de alguns heróis que realizo a aventura moderna
De dormir em confortável cama,
alimentar daquilo que nem crio
Apenas ideias funestas e sonhos perdidos
De um mundo de muito possível, pouco real
Mas, nas armas da fantasia existe algum sono
Algum momento de sonho
Algum caminhar sem se mexer
A tela apaga
A música termina
E teus olhos voltam ao normal


No final, todos somos estranhos em sermos tão normais
E patéticos

---
Compreender cada passo
Como o último
Que coisa estranha, ele sempre é
Pois, é perdido
Andando errante pela cidade
Vendo a paisagem do campo
Minha janela de espaçonave
É da condição humana demandar, perder
Perder-se


Encontrar-se, as vezes, em algum ato misterioso de outro
É nele que vejo o que posso ser
E por inveja ou carinho, o que quer sejam
Ah, me perco!
Mais um pouco
Entre cada um daqueles pequenos passos
Guardado em algum canto do Universo
Vazio, sem ânimo e furioso
Mas, único verso
Passo.

---m

domingo, 22 de abril de 2018

muito fraca

Pior faca na carne é ser comparado
A vida é um mal único
Em gotas, amarga
Distrações e sorrisos são bons, amenos,
Até, nos aquietam, por tempos em tempos
Mas, não
Eu sei o que você é pra mim
Talvez não devesse estar aqui
Meu silêncio teria agraciado tantas vidas
E sempre lhes penso, lhe peso
Ao ver o quanto incômodo trago
A cada vida que encho de tédio, amargura e rancor
E se, houver um dia um ser divino que tenha isto como proteção
Serei eu seu arauto, um tipo de santo
Insosso, raso e frágil
Como uma lâmina que nunca quebra
Porque já está corrompida por dentro
E já não liga
De se humilhar, se achar implacável consigo
"Um mané"
A comparação é ruim a um fraco
Ele já está entendiado
Cada prece de ajuda, já apática ou automática
No sistema social
Não, a vida é um mal único
Em gotas, amarga
Alguma distração, algum abraço, algum calor
De resto
Apenas o resto
O que não é escolhido, porque não tem nada
Porque não interessa.
Calma, apenas uma lamúria de um fresco
Vejo a peregrinação dos santos na estrada
E não me sinto mais um deles
Amém

negação

Negação
Em entrar em si mesmo e ver que só é apenas um monte de não
Desinteresse
Tédio
Negando a si mesmo, perdeu-se no mundo
Cheio de gente
Mas, já nenhuma lhe aparecia alguma coisa
Ou ele aparecia algo
Não parece
Não presta pra nada
Um simples desocupado, disse o professor
Está cheio de palavras, mas o sentido
O sentido não interessa
Não quer mais que interesse nada de si
Não faz por merecer nada
Apenas viciou-se, na negação
Ele a busca, a deseja ardentemente
Apenas para ver se está vivo
Ou já está morto
Dormindo, entre lençóis de sua casa
Que já não é mais sua
Já não é mais nada
Já não tem interesse
Nunca foi interessante
Apenas, peculiar
Não...
A angústia já lhe abraça todo o tempo
E estas palavras, seguram o pouco de vento
Que sobra soprando em seu peito
Não...
Já nega a si mesmo a tantos anos
Que o relógio já não mede nada
Apenas, apenas nada
Nem mapa ou perdido está
Viveu na inércia, trazia em sua lápide
Não fez nada
Não mereceu nada
Não interessou a ninguém
Mais do que a conversa ou a piedade descrita.


E agora,
Nega
Adeus

domingo, 15 de abril de 2018

esfinge

O poema se perdeu na rua 
ele se perdeu enquanto olhava para a cara da esfinge
ela me gritava e me puxava pelos olhos, cada pálpebra
pequenos riscos de fogo
o som que saia da minha boa, já não mais voz
meu coração batia, não era sangue
líquido frio
estava frio e zonzo, estava ali
mas, não estava 
Pro inferno, podia dizer
mas, meu espírito já não aguentava
já não estava
e cada penhasco que é cada rua movimentada
via apenas o ônibus pra se lançar
os olhos da esfinge me equilibravam
entre tortuosos de tontura 
a lembrança de si 
a escravidão de si 
o poeta se perdeu em alguma rua 
entre versos ridículos, de métrica falida e aquele beijo engasgado 
ele estava lá, lhe dei a mão 
ele não me vira 
era fantasma que arranhava

Fragmentos de domingo 19

Pois, a chuva está vindo, meu amor
e eu já não temo mais ficar molhado
perto de você, má amie
apenas a giro das tempestades e as órbitas
de planetas em mundos sombrios,
dos globos oculares
do peso dos corpos
e aquela escuridão torna-se
doce
e aquele fingimento
sadio
só que eu não estou na chuva
estou estranho
um estranho na perdição de si
Um estranho antes da chuva

----
"Há uma tendência a dificultar tudo"


Sonhos, abraços e beijos
Coisas agradáveis são difíceis,
Coisas mais sinceras
As aventuras são difíceis
A intolerância, a ignorância e estupidez
Gratuitas
Ainda assim, o tudo pode ser belo, estimulante
Ainda que minha vida esteja cinza
Parca
Perdida
Em algum momento ela estava lá
Viva.
Mas, a vejo agora numa vitrine
Um pedra perdida
Em si mesma
Alguns momentos ela ressurge, ela voa
E por estas linhas que você lê
E eu escrevo
Algo nasce em algum rio
Algo corre entre uma nascente e algum delta do engasgo
Por aí
Algo corre
O tempo escapa pelas mãos
E tudo fica difícil


A aventura se cala
A vitrine se despedaça
E eu já não sei quem olha no espelho
E quem já foi olhado


Olha, uma pequena luz
Perdida em algum lugar
Belo, estimulante e moral
Apenas sentimentos de um desocupado bardo

-----
Escondi uma pérola aos porcos
Aos poucos
Era um deles



sábado, 7 de abril de 2018

Seis poetas de sábado

Estava andando pela rua cheia de matos, quando
Súbito ouvi seus passos
Cantava sobre o vento
Riscava sobre a estrada se seu olhar
Eu a vi, mas já não havia vida mais lá
E pelo encanto, por magia tremida da terra
Fui varrido para dentro dela
E já não havia mais nada ali
Já não havia mais eu
Apenas ela
Apenas tudo, mas apenas no passado de seus passos
Que eu caminhava e existia
Não era uma sombra, mas a inflexão
Entre seus lábios a cada palavra a te ouvir
Entre seus cantos de olho, lá eu estava
No pequeno assobio do vento
Estava em todo o lugar com ela, mas
Já não estava
Não mais


Meu nome era Tobias,
Um grande gato amarelo e gatuno
Que pelas pradarias te via e encontrara
Escondida em uma brisa de passos


----

Rute olhava o Céu
Era o seu maior crime, em um mundo feito de pedras
Ela foi presa numa torre, mas de lá ainda olhava o infinito
Buscando respostas
Buscando a si
Rute era mal vista, ninguém gostava de Rute
Mas, ela andava por ruas vazias
E se sentia presa por forças invisíveis
Rute, uma alma que viajou
Estava nas estrelas
Mas, também estava ali
Enquanto caia
Rute voava pela janela, já não era mais
Rute
Já não existiam mais sombras de ninguém
Quando viram Rute desaparecer
Ela já não mais olhava
o Céu




-----

Foi a última vez que vi Tomé
Me falava de sua última viajem de ácido, ou pra Barcelona
Já não me lembro, já não lembro o que havia no meu copo
Ele entrou num ônibus
E as portas se fecharam fazendo um som estranho
Tomé estava dentro de uma enorme serpente metálica

De toda a tua técnica empregada
De toda a força que lhe torceu o metal
De toda a matéria morta para fazer seus motores gritarem pela cidade
Apenas via meu amigo ir embora
Apenas senti um pequeno bater de asas de borboleta

E quando vi, estava no furacão
Estava no olho daquela cama, que me puxava
A gravidade do sono dos justos
E eu nem era tanto assim
Cansado, caí, tombei
E nunca mais vi Tomé
Ele agora estava lá
Eu ali
Em algum lugar
Todos nós estamos
Mas, você escuta o bater das asas?

----

JAMAIS FUGIRÁ DO MEU JULGO
FARISEU DOS INFERNOS
Gritou o homem nos montes nos primeiros anos de nosso calendário
JAMAIS FUGIRÁ DE MINHA JUSTIÇA
Ó INFIEL
Disse algum europeu no medievo
JAMAIS FUGIRÁ DE MEUS GRITOS DO QUE É VERDADE
Ó IGNORANTE
Me disse aquele pequeno homem com suas estatísticas e ferramentas de medição
JAMAIS FUGIRÁ
DE TODO O MEU APARELHO
Me disse o censor, antes de cortar minha cabeça,
Botá-la numa caixa
Deixá-la "bonita, formal e justa"
Fazer com que eu clamasse palavras que não reclamara
Que não entendia
Apenas em um grito uníssono
Apenas um grito
Apenas mais um na história humana
Dos enormes pesos dos olhos dos outros
Sobre sua fronte
Sobre seus olhos, apenas a tormenta


Não poderás fugir de nós
Oh, jovem das trilhas
Nós temos agora o Aparelho
E você, apenas a sua consciência


----

Estava mascando chiclete
Andando de bicicleta
Na praia mais linda dos teus olhos
Perdidos no mar de abril


Quando se ama,
Não se perde
Se acha tudo
Até o erro é doce
Até o amargo é apenas uma pedrinha
Só vejo pontes quando amo
Jamais muros
Jamais as muralhas se elevam

Estarei amando?

Estava
Não

E daquele chiclete grudado embaixo da mesa
Daquele café que te fiz
Daquela luz da praia que agora
É o pôr do Sol numa montanha qualquer
Vi um pequeno túnel
Uma pequena trilha de pedras
De mãos dadas
Abraços
E amigos

O amor não é misterioso
Só se vive sendo muito mais no corpo d'outro
As vezes, por fortuna, aquele também responde
O sinal do farol
Senão, a vida se vive
No mar persegue
Meu tesouro
A minha pérola de seu olhar
O seu sorriso que apaga toda a chama do peito
Toda aquele turbilhão que sai,
Que te sente
Sente ao ver, ao tocar, sentir com cada parte
Está ali, naquela trilha
Já não vejo apenas pontes, construo o que quiser
Já consigo firmar meus passos no horizonte
E nós, dois equilibristas da Vontade
Afastamos e voltamos
Como a maré que nunca te deixa
O mar
De meus olhos
Meus desejos

Imensidão de oceanos
Profundidade de carícias
Universo de mim em nós
Me compra um chiclete?

-----

A palavra que escrevo
É de um desocupado
Escrevendo nas paredes, tentando gritar
Naquela cela dentro de si
Que para outros é tão macia, quanto qualquer
Outro navio
Partem para aventuras, escrevem para mim
Apenas os vejo
Não estou com eles
Apenas os vejo contando sobre o resto de suas vidas
O desprezo do desocupado
Daquele que apenas nunca verá nada de belo
Pois, apenas está sobre as feias
Tripas do desassossego


Aquele homem magro, chamado Eduardo
Estava entre os últimos que embarcaram no trem
Ele olhava para mim com olhos fundos de polaco
Azedo entre as palavras
De um desocupado
Não via nada mais que uma prisão
Aonde eu via uma estrada
Aonde eu estava?
Estava ali, a olha Eduardo com tons sérios
Enquanto seus olhos fechavam
Cintilantes de uma noite de 20 horas acordado
Eu o olhava fixamente naquele trem
Em cada palavra
Do desocupado
De si mesmo
Negava ocupação

E, no espaço vago, desocupado
Eu estava olhando Eduardo
No reflexo do espelho
Às 6 horas da manhã
No lugar vazio, o Eduardo
Sentando
Não-existindo
Entre alguma perdida manhã de sábado

quinta-feira, 5 de abril de 2018

O mundo tem algo de uma valsa entre os pesados e cansados agoras, os infinitos depois, os meus e nossos nuncas e aquelas memórias que me fazem neste mesmo mundo.

terça-feira, 3 de abril de 2018

Estado moribundo

De todas as bandeiras que levantei
Desde o Bósforo até Viena
Dos florentinos e venezianos que abracei
Daqueles estandartes que ajudei a levantar
Do braço cansado, do soldado caído
Eu, aquele que pensava ser o Leão, Águia e Touro
Me vejo agora cercado
Me vejo agora simples porco-espinho
Uso-me de minha polícia, de meus megafones e tambores
Observo as raposas, elas ali, me olhando nos olhos
Mas, de nada faço que não permaneço,
Apenas estável
Apenas Estado
Estado que existe, mas que bandeiras poderá levantar?
Aonde a Vontade não passa de ser
Sua mera bula de remédio, seu mero espelho de tela
Matei muito, fiz-te matar
Hoje estou aqui, amortecido
No vinho de outrora resiste o livro de história
Que a criança lê, o jovem finge que ignora
O Estandarte ainda ali, caído na mesa
E a espada desembainhada lá fora

segunda-feira, 2 de abril de 2018

Engraçado é, quando se escreve algo belo, algo que só você vê o belo e se compreende:
Talvez nunca estarão na mesma sintonia de meus versos, talvez nunca compreendamos a alegria daquelas palavras unidas.
Mas, ao verdadeiro criador o vento se paga, se vale
E indo por ele, minhas palavras, agora em bits e chips, energiza a s'alma.
Boa noite e boa semana, duas pessoas que lerem isto.

Bolso de jaqueta

Um anel de alguma coisa de antes
Uma chave
Uma moeda que peguei de uma estrela
Tudo que guardo no bolso
Nada de muito valor
Nada muito como eu
Apenas coisas, apenas pequenas marcas
Um cheiro de morangos, um abraço marcado, caminhar
Sem rumo definido, por um bairro perifério
Marcas
São todas pequenas, as minhas fronteiras
As fronteiras do mundo de um pequeno e medíocre
Poeta ruim
Uma geografia de paisagens bucólicas, coisas que
Só a mim, tem sentido,
Coisas que passam, passarinho
O anel que seu usou, a moeda que nunca pagou nada
Uma chave sem porta
Um bolso, tudo num bolso de um planeta azul
E nas fronteiras do mundo de minha memória
Me lembro do que faz brilhar este pequeno ponto azul
No mar vazio
Do tudo.

segunda-feira, 26 de março de 2018

domingo, 25 de março de 2018

Testamento



Testamento

Se reclamas de minha escrita triste
Me prova a felicidade
Ela está morta, mais do que Deus.
O filósofo estava errado, em sua loucura
Ela morreu no momento em que criaram o espelho
E na melancolia, não acho nada
Não estou pelo desejo, não vivo mais neste maldito mundo
Que me cerca de coisas, pessoas-coisas
Com suas ideias coisas, com seus ideais feitos no plástico
Roubei meu ideal dos tempos antigos, ele ainda era de latão
Ou madeira? Não me lembro
Se reclamas de meus escritos melancólicos
Não digo que saibas a sua terapia
Achas que escapo do mundo, encarando-o em meus olhos
Achas que você saberá do mundo, vivendo-o animalmente?
Achas?
Não acho jamais algo mais
Já não me acho melancólico, blasfemo os românticos
Queimei a juventude primeira, esperançosa por pastéis e mocinhas saltitantes
Das cinzas fiz uma lâmina do melancólico e nela
Formei a minha prisão, que retorno condicional
Algumas vezes
Ainda não total libertado
Desta vaidade que é a juventude


Ah, vil juventude
Pelotões de hipócritas dos soldados de Mudar o Mundo
De governá-lo, de comprá-lo, de vencê-lo
Existem aos montes, nos velhos de idade
Aos estúpidos internéticos intergaláticos
Ah, vil juventude, saudade de você...
É a potência constante na História, é um amor de Hegel
Mas, cai conforme caímos
Conforme a dor nas costas vem, ou a bebida já deixa mais mal do que bem
Ah, vil juventude, agora estou em sua ressaca
Blasfemo-a antes do fim
Antes de passar aos cânions estéreis da maturidade
Antes de poder valorizar cada jardim

Ah, vil maturidade
Sim, gostaria de tê-la valorizando
Achar a flor rocha no deserto cinza, o jardim de delícias escondido e nele dormir uma noite que fosse
Mas, apenas tenho o abraço dos meus cachorros
O olhar de meus gatos
E o desprezo dos amantes ou tolerância de poucos amigos
Tenho momentos reais de alegria
Tenho a ponte entre a potência juvenil e a firmeza do maduro
É tudo pó
Sejais pó
Já não vejo mais estrelas no mundo, pois,
E isto nem sei se esperança débil dos 20 anos o és
Talvez elas estejam em mim
Por um momento
Momento de alegria por você
Para você e em mim
Que você tenha estes momentos guardados ou esqueça-os
Mas, exista-os
Exista na alegria, resista na alegria de ser um pouquinho mais
Que um jovem que não valoriza
Que um velho que guarda demais
Que um poeta que apenas exila
Apenas fique
Firme
Faça mais

Mundo nos arrependimentos

Não me critique pela esperança que não tenho.
Me importo com você, não sigo os aqueles
Que achando que suas vidas valem mais, não ligam mais
Estão anestesiados para quem está perto
Mas, lutando as batalhas por aqueles que estão longe
Eu vi nos mapas, olhei nas estatísticas
Vi pinturas e desenhos animados
Não existe ninguém ao longe
E, se estão, são poucos
Poucos que valem, poucos no vale
Poucos lá pelas causas maiores que si mesmo e um
Pequeno círculo
Defenda o que vê e te faz bem
Pois, seu braço poderá estar tatuado ou levantará baioneta
Por um líder que jamais falou sua língua
Jamais disse algo com seu nome
Mas, que você ama mais que seus pais, seus filhos
Não penses que é egoísmo
Não estou a pensar em mim
Estou a te perguntar:
Fazes o que seus braços ocupam neste espaço infinito?
Ocupa-se dele
Teoriza o mundo
Mas, o culpe-se pelo que não fazes
Antes de julgares o que não fez
Luta pelo pão, pelo outro próximo de ti no ônibus
Aquele bom dia, ou boa tarde


Mas, a esperança, ela já não está mais comigo
Meus braços estão cansados, minha respiração está em silêncio
Teorizo o mundo, já não vivo nele
Não ajudei o suficente
Mas, eu os tenho, ainda estou nele
Sei que no mundo, isto eu vi, algo que é
É o arrependimento
Ali, batendo atrás de cada porta
Tocando em cada janela
Gotejando em cada chuva

Mundo nos arrependimentos

Mofo



Moro num quarto mofado
Durmo num mofo só
2 por 2
Mofado de mim, mofado de outros
O mundo dos fungos
Se alimentam ou fazem fotossíntese, já não me lembro mais
Mofado do mundo estou
E nessa cela do eremita urbano
Inútil de tudo, não representante de nada
Mas, representando todo o esteriótipo
Permaneço
Tento e esqueço
De mim mesmo, pensando em mim
Agindo em mim, reine sobre mim
O mofo
O nada do mofo
Sendo algo
Mas, nada
Na cela, o ermitão encontra a sua morada
No meio da cidade vazia
De sentido, ele nada
Nos mares do ar estático de seu cômodo de casa
Ele está, dormindo
Esperando algo acontecer, que não acontece
Esperando o príncipe que jamais virá, Adormecido
Esperando que volte a ser o príncipe, jamais saíra da Fera
Na profundeza de sua alma
O mofo
Sim, o mofo lá está


Morro num quarto mofado
Durmi num mofo só
2 por 2
Mofado de mim, mofado de outros
O mundo dos fungos
Se alimentam ou fazem fotossíntese, já não me lembro mais

sexta-feira, 23 de março de 2018

No vale da sombra



Olhei fundo dentro dele e vi
Todo o homem, humano, mulher, que seja
Agiu sobre a ponta
Pensou sobre a fagulha dentro de si, buscando iluminar-se
Mas, o que não agiu, o que manteve
O que imaginou
O que estava lá e já não mais estará
O sonho não-expresso
O amor não relatado, a conversa não dita, a obra não-criada
Mas, lá estrada
Lá, na sombra
Pensamento da sombra
Oculto no resto, naquele iceberg
Ou como naquelas vil montanhas
Ou naquilo que olha agora, naquele mundo de floresta tropical
Naquela grande cidade de mil rostos desconhecidos
Lá é aonde está o ser
Oculto
Oculto do mundo
Mas, existente na alma de
Existir


Grande ou pequeno nos livros e relatos
Viajante das nuvens ou além delas e mesmo nas cavernas
A sombra daquilo que não está
No código do vento, a palavra
Na pintura dos olhos e gestos
No sono perdido nas segundas, sábados ou quem sabe domingos
Estaremos lá, te olhando
Estarei lá, vendo a mim mesmo
Vivo lá, dentro desta sombra de cada um
De mim

E pelos vales ocultos daquilo que imagino
Às vezes sinto, as vezes como uma espada lâmina-fel
Por hora como abraço fiel
Ou naquele último papo, que não sabemos ou mantemos em segredo que será o derradeiro
No oculto da existência
Na sombra da existência
Tudo se mostra, tudo se cai em véu de uma imensidão
Sou imenso enquanto existo
Sou menor enquanto vejo
Sou enquanto estou

Sou enquanto estou?
Jamais da sombra eu poderia fazer a montanha revelar sua dimensão
Jamais o iceberg levanta os pés sobre os mares
Ou da floresta densa, da cidade imensa
Olha e me diz:
-Calma, eu existo, você está aqui
É na falta que existiremos
Nesta existência que busca
Que busca
Aventura
Por si mesmo
Existe enquanto sombra do não-ditos
Fingindo valer-se de vários mitos
Sobre seus grandes feitos
Grandes e pequenos, Napoleões e pó

Não, não ajo apenas
Não, não penso apenas
Nem na atuação dos tagarelas, nem na injustiça das querelas, nem dos abraços carinhosos
Não, eu sou.
Sou na sombra
Sou naquilo que não esteve e jamais saberá
Existo
Mesmo no que não existiu

Apenas enquanto eu estou aqui, te peço
Olha na janela do seu lugar,
Acha a paisagem que lhe agradar
E veja a imensidão de tudo que está

Lá estará, estaremos todos, um pouco de muito de nós
Na imensidão do não dito


terça-feira, 20 de março de 2018

Autoembuste

Autoembuste
Caminhando na estrada dum véu da noite sai do meu peito, caça
Minha sombra
cai sobre mim
A espada das não-realizações, não necessárias de serem grandes
Apenas aquelas pequenas, apenas aquele pequeno abraço
Não, sem mais abraços, sem mais constelações
A sombra cai sobre mim
Com seu peso não gélido, sem dos fogos do inferno
Não, não sinto esta cacofonia
Sinto apenas a liberdade do tédio que vem de vocês
De você, homem-palavra,
Verbo-incompleto, você é apenas uma ideia
Não, ainda que a fosse seria melhor


Autoembusteiro que sou
Saboto-me naquele precipício, naquela faca que corta minha veia, naquela corda que me suspende no ar
Naquilo tudo, ainda não escapo
Desejo a Morte, da solidão, de meus inimigos e de minhas não-realizações
Armado dos arrependimentos
Guardado algum sorriso, não, ele é falso agora
Saboto-me entre os campos de trigo
Sou o joio
Precipito o filho pródigo, mas apenas sinto que dei
Pérolas aos porcos
"Sou eu o suíno", diz minha própria sombra

E a noite cai, meu guarda-chuva faz de sua ponta
Som rítmico na noite
Jamais fria, jamais quente, não mais tediosa
Apenas, nada, o nada de nada
E a Fúria
Apenas ela, me segura nas bases das pernas
Precipício da Terra

Desejo a morte e a cumpro
A morte da poesia
Das estrofes
Dos versos
Mortificação da poesia
Abraço o autoembuste
Limpo o cuspe dos gentis da face
E fingo que escrevo estas linhas que você lê
Saboto-me naquele precipício que são as palavras
E a sombra sorri

domingo, 11 de março de 2018

Olhos de Saturno



Não desista.
Enquanto olhas, Saturno continua
Entre anéis, vidros gélidos e pó de estrelas
Continua lá
Galáticos movimentos, formigas no meu sapato
E toda a força de mil-sóis
E todas as palavras entre raposas
Leões parvos e homens-tartarugos
Todas estarão lá
Continua, teu ouvir
Tua palavra, tua força
Não olhas a cara do ímpio e abaixe
Lute, acredite
Lute ensinando, lute reagindo, lute mesmo no silêncio
Luta, luta minha querida
Respira
Sobe e desce
Continua


Que te vejo agora, presa numa cama
Ainda te amarei pra sempre
Aurélia de minha juventude
Pois, a memória de meus passos
É a estrada de meus feitos
Arrependimentos
E do caos insólito, vi você
Camarada naquela rua
Encontrada na barriga de sua mãe
Na chuva
Me dizendo, ah, minha Eduarda:
-Estou grávida

E de Saturno, permanecerei te cuidando
Pois, a memória de meus passos
É a estrada dos meus feitos

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

O homem que perdeu a si mesmo
Penso
O astronauta aos Portões de Aúrion
Vendo a finitude do avanço humano, a chegada
Às portas de todo o céu
Última galáxia do último véu da noite
Perdido estava
Para todo o sempre
Em sua humanidade
Em ser

Coração de Lídia


O coração de Lídia se viu na encruzilhada
Dos meios das infinitas pontas
Dos cantos dos olhos das pessoas
Lídia via entre as diversas pontes
Entre as diversas fagulhas de espírito
A vida entre cada uma delas
A voz temida da morte, em Lídia já não mais cantava
Naquele voo ela caminharia para as estrelas
Libertaria o seu coração
E, foi, indo
Foi, indo
E
O braço forte de Ribeiro a segurou
Soldado de várias tomadas e batalhas, o bombeiro
A olhou, nos olhos azuis de seu céu
Naquela tarde de fevereiro
Naquele momento, no penhasco
E o abismo falou de volta
E a calda dos corações raivosos, cantou
Pela fraternidade daqueles dois
E, no passo
E, no pé
Em falso
Ambos despencando, ambos deixando o meu olho vidrado
Na tv; vendo Ribeiro e Lídia
Vendo a igualdade de minhas vidas, de minhas mortes
De tudo o que persegui, por aquele momento
Do suspiro trancado
Do beijo esquecido
Do motivo abarcado nos inúmeros esforços inúteis
Na inutilidade, naquela melancolia
Naquele sorriso, naquele abraço
Voaram
Por um momento voaram
Mas, a vida lhes trouxe de volta
E num abraço dentro da janela se foram
Sem jamais eu soube
Quais eram seus verdadeiros nomes
Qual era o verdadeiro eu
Só apenas sabia, sabia apenas
Que eu me segurei aquele dia
E
E me segurei naquele impulso
Da vida diária dos pulsos
Daquele ar flutuante que voa
Pelas janelas do céu


Construções

Gostar de alguém é querer construir com alguém e não de alguém, não a pessoa como exercício de seu egoísmo em mudar, mas mudando o mundo com ela. Do seu para o nosso, respeitando-se enquanto dois juntos. Amar é doar, mas não doar-se além da conta, de perder a capacidade de enxergar: o que o outro me oferece? Estaremos construindo pontes, estradas ou castelos?
Palavras de homem que já não amará mais, de sua muralha braveja o deserto de si mesmo
Na estiagem da multidões de eus, sem alguém.

sábado, 10 de fevereiro de 2018

Processador Quebrado

Eduardo Van Dick tinha um problema, seu processador estava quebrado.
Era uma manhã fria, mas o sol viria e toraria toda a lataria dos enormes aranha-céus vivos de Beirute, quando todos estaria atrasados para seus café-da-tarde, porém não poderiam ainda terminar seus turnos nas fábricas de dados. Eduardo não estava entre eles, ele era um acadêmico, ou o que restou deles, neste mundo louco de ciborgues, beatrônicos e animais-humanóides, ele escrevi com certa irregularidade para um Diário do Fim do Mundo, uma faculdade disposta a recolher algumas peças de conhecimento em Humanidades para depois enviá-las para a Grande Mãe Data, que escolheria o que significava para a vida fraterna ou não.
Porém, Van Dick tinha o problema de estar quebrado, ele não sabia o porquê. Se foi a sua noitada jogando Dom Dons ou a comida gordurosa processada em tonéis de carvalho, nada disto parecia responder seu principal problema:
-Meu processador parou, Tio - disse o jovem magrelo
-O quê? - riu o forte homem negro a sua frente, seu tio Amálio estava ali para buscar alguns quadros com fotos, valiam fortunas nos hipersites - Você está errado, Eduardo, isto é impossível... Como você está aqui, andando e falando se ele está quebrado?
-Não sei... Mas, olha só - abriu o peito e próximo do estômago, nada lá, nem um tipo de luz, barulho ou bugiganga louca, apenas o mais puro silêncio.
-... Olha, é melhor chamarmos alguém, talvez a polícia
-Sério? É tão grave?
-Bem, eles cuidam disto... Você deveria contar a sua mãe e...
-Não, tudo bem, eu chamo, obrigado tio!
Van Dick chamou a polícia, com a pouca coragem que tinha, apenas depois de perguntar a mesma coisa para uma colega e comentar com um professor. Duas horas depois, andando pela grama do campus politécnico, ele vê dois policiais, uma Quero-quero humano e um ciborgue:
-Olá, senhor... Eduardo Van Dick (eles usaram o scanner nas miras foscas no meio de suas testas). Estamos aqui para levá-lo
-O quê?
-Sim, o senhor possui problemas de manutenção - disse o ciborgue, sabendo que era difícil que um cara de metal como o jovem confiasse em um "mudado". - Será tudo coberto pelo Estado.
-... Bem, então, está bem... Que a Grande Mãe me guarde!
-Amém! - responderam, estranhamente, ambos
Eduardo foi sendo levado para uma nave urbana, porém, quando ele ia saindo, viu uma moça, uma moça-coelho de lindas formas, porém, jovem e cabelos azuis, ressaltando mais as poucas coisas animais. Ele a olhou se sentiu a paixão, que todo o dia tinha por alguém nos autotrens, sempre diferente, Eduardo pensou ter achado a resposta, pensou que o processador tinha funcionado e...
Entrando dentro do veículo, dirigiram por algum tipo de autoestrada estranha, que os repórteres não mostravam... Senti alguém me olhando, creio que estou sendo vigiado.
O rapaz passou por uma triagem e, nu ao mostrar seus ainda poucos implantes ciborgues, foi trazido para dois Guardiões de Data. Eles eram normais, digo, pessoas normais e olharam o herói, dizendo:
-Não há mais nada no seu processador. Isto é uma mentira e você será multado por perder o tempo do Estado.
O jovem Eduardo arrependido e humilhado, voltou pra casa, ficou uma semana de cama, um pouco triste, mas, pode voltar pro emprego... Como se nada tivesse acontecido.
...
Eu sei o que houve, meu nome é Felícia Van Dick e eu sou a sua esposa. Ele não se lembra, o mundo não se lembra bem, mas, a mãe sabe, aqueles dois também e o futuro nestas páginas...
Sinto uma mão robô me apertar o ombro. O Caçador-vermelho

---
Mensagem enviada.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Coração Fechado


Meu coração está fechado
Na ponta dos dedos
De outro
Enlaçado, agoniado, temendo-lhe
Afago. Fechado em si mesmo
Ulisses nunca saiu da praia
Ele nunca viajou
Foi tudo crise, disse seu analista
Na mesa do bar.


Meu coração está fechado
E eu de punhos cerrados
Luto contra o ar
Mas, que eu respiro
Meu coração está fechado...
E eu aceito isto
Pois, dentro do baú cadeado
Só há tesouro vazio, ar

De fechado em fechado eu tento
Navegar o mundo, que é preciso
Porém, é tudo muito pouco
Precioso
Fechado pra todos, trancando-me de mim

Liberto num coração, cerrado


Fragmentos 4



O que tenho é pouco. O que ofereço é muito
Não tenho nada que valha a pena
Pois, a alma não é pequena;
Não a tenho
Não tenho alma
Tenho espírito.

Move o real, não a ideia, não o verbo.


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O que o gato Tobias mais desejava era beijar a luz da lua. Pena a luz não ser dela, mas emprestado de outra. Ah, vis astronomias! Pobre Tobias, este poeta empobrecido de amor


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Astronauta de prata, escondeu o coração de ouro
Entre seus cachos
E voa entre as galáxias, cheias de medo, esperança
E estrelas

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

erro

Não confio em alguém sem arrependimentos
Ou sofre do mal da juventude em se achar potente
Ou é intolerante aos mais fracos, caídos e arruinados
Não se conserta com mera vontade as antigas feridas
cicatrizes impossíveis
Tempo, paciência e esforço talvez, mas, apenas isto
Aceitar a possibilidade de falhar é algo que vem com o tempo
Não existe esperança sem horrível
E considero corajoso aquele que observa e cala
Naquele momento que escolhe - e será o certo?
Não confio em ninguém sem arrependimentos,
Pois, finge não tê-los, colocando motivos que forem
Pois, se coloca acima do erro
E erra é humano, o que somos, até que eu saiba.

domingo, 21 de janeiro de 2018

Fragmentos de domingo 2

Tacos
Fazendo barulho, vejo eles, naquele ambiente estéril
Naquela casa velha, vejo aquela velha senhora
E seus tacos
Madeira que range, olhos que rangem
Ossos que flexionam
Da velha, que observo atentamente
Na casa cheia de tacos
Ir no altarzinho
Pac, pac, pac
Fazem os passos
Acende uma velha, eu, na poltrona do lado observo
Abaixo a cabeça e lembro apenas dos tacos
Na cama ao meu lado, vazio
Olha a velha para ela, eu olho pra velha, na casa de tacos
Pac pac pac
Ela ora o que crê
Eu ando novamente, naqueles tacos
Desde a infância lembro-me deles, agora não durmo mais trancado
Naquela cama
Ando sobre os tacos, pac pac pac
E a velha apaga a vela
Meu filho, ela diz, descansa no outro mundo
Paro sobre os tacos, viro-me
E saio para o ambiente estéril
Pac pac pac

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Sua visão inflaciona meus pulmões de vil vida
Olho aos Céus clamando-te perdão que jamais tive
Clamo por mim mesmo nesta vida
Sua visão, vejo a ti
Busco penhasco próximo, me jogo.

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Os passos do amante, cantando poemas de Oasis, Iron e Los Hermanos
Ele, judiado gemendo e chorando, observo
O pombo fazendo prupru
Jaz atropelado em concreto
A pomba voa com outro
Pruprupru

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Sinceridade é hidratante, mas o oceano é também mortal e imprevisível. Não busque na verdade a sua vontade, geração melindrosa.

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Grampo

Você já olhou atrás de suas orelhas hoje?
Procurando pelos grampos que seguram este seu sorriso
Que te obriga a ser feliz
Viciando seus sonhos numa palavra cheia de significado
Chamada Felicidade?
Viva seu ópio de buscar ser diferente, num mundo insolente
Que quer ser jovem
Sendo doente
Fiscal de cada um em seu grampo da vida bucólica
Das metrópoles cheias de gente
Veja este seu grampo
Segurando o sorrisos
E te dizendo ser gente

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Fragmentos 5

O que é um amigo pra você? Uma mão caridosa? Uma espada justa que usa das palavras pra te mostrar a Verdade das coisas? O que é um verdadeiro amigo, além daquela companhia que te faz ver um pouco mais com clareza as treva do mundo, mostrando que, as vezes, é apenas uma noite esperando pelo sol nascente

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Existem tesouros que não estão escondidos em ilhas, mas, no coração das pessoas. Quando encontro com eles, posso chamá-los de amigos, amores ou mesmo, de colegas de uma conversa na hora certa. Não perca a oportunidade de amá-los na medida que precisam, não deixe de cantar sons para eles ou admirar suas pinturas, pois, uma vida vendo a beleza neles já vale a pena


====


A alegria maior do mundo é estar contigo, pequena
Gigante é o mundo escondido entre
Você e eu
Porém, nele cabe apenas a distância de um abraço
De um olá
De um tudo o mais que está
entre aqui e lá
Pois, se um espírito está perdido
Cabe algum guia ajudar


Pode se perder mais, podemos
Pode terminar por completo, é o que acontece com o que começa
Pode queimar o sol e apagar as estrelas? Talvez, isto a Física explica
Mas, não fique na potência do quase
Pois, do quase a vida está cheia de pequenas coisas
E desculpas, e restos de nós mesmos
Com 30 anos você olha pra trás
Com 60 você olha pra trás
Com 18 você olha pra trás
Finge olhar pra frente?
Pra que, olhe para o lado.
Faça das montanhas de pedras no caminho
Seu castelo

Se os bárbaros vierem, lute
===

A paz está naquilo que se está fazendo
No que completa, não repleta
Nem repete
Naquilo que está, que firma meus pés no chão
E me deixa navegar pelas Universos dos outros



Um abraço



O corpo de um abraço
mal-acabado, daquilo talvez que dá sobrando
Um abraço, terminado
Parece carregar o mundo consigo
enquanto dura, carrega tudo consigo
terminou o abraço, o sentido do corpo
a lembrança daquela pessoa
indo, caminhando no horizonte
de alguma luz


"Um abraço", saudação misteriosa
Mais forte que o beijo, mais quente que apenas rosas
Mais dura que a mensagem de adeus no celular
Ou aquela palavra não dita
"Um abraço", traduzido quando bem dado
Quando mesmo que restante, acumulado
A memória das boas coisas ou momentos

Sinto sua falta
Abraço
Com todos os problemas
Abraço
Com alegrias
Abraço
Mesmo não vendo a face daqueles que os damos
Cuide bem daquilo que você dá
E pra quem você dá
Pois, cultivar uma lembrança
Carrega a vida