domingo, 25 de setembro de 2011

Luz nas lentes de uma máquina refletem seu Sistema #Agentes do Caos

1897, e a prisão em que ele estava queimou; correndo enquanto a confusão se dava na cidade fria e cheia de pinheiros, ele conseguiu fugir...
 Agora, meu suspiro à vapor se dá ao mesmo tempo que olho a sua face, ele me vê e teme: treze anos depois, está de frente para um ser de metal com canos de exaustão, mesmo eu, ficaria com medo. Diz ele:
 -Por que esta aqui, Nomoté?
 -Por que você roubou aquilo, Bento? -Minhas lentes estão ofuscadas pela luz das lamparinas elétricas da rua... Não o enxergo, é uma questão de tempo até que descubra.
 -O Coração do Panda não é tão importante... É só uma pedra velha e empoeirada, pensei que não nos importássemos com este tipo de coisa, pensei que quiséssemos liberar o caos no mundo... A Contra-Arte, foi o que busquei... Meus livros, meus negócios com a Máfia Polaca, tudo isto e ainda quer me matar?
 -Você não entende... As colinas dos campos não têm mais flores, apenas olhos que nos espreitam... Há muitas coisas envolvidas, a Crise dos Orwell, a Grande Guerra no norte... Há ainda alguém querendo este Coração... Alguém que pode levantar os corpos, alguém que...
 -Quer trair? É isto? Sou seu amigo... Instalei você aqui... Me ajudou a muito tempo... E agora a traição pra mim... Não adianta, não? Nós somos apenas formigas, e você são elefantes... Defende a Liberdade, mas é só outro grupo que quer Criar um Sistema! Malditos sejam!
 -Não fale assim... Ainda há chance... Sua mulher se foi há treze anos, teu filho também, não pode fechar a mão só porque quer mais alguns trocados... -Minha voz mecânica presente algo, treme, escuto algo, pela luz, nada vejo
 A 22 canta, diz meu amigo:
 -Morte a ti! Malditos sejam os Agentes do Caos!
 A 22 canta novamente, meu antigo amigo corre, um acertou um gato que por uma cerca passava -ouvi seu "miau"- o outro, em meu braço, na parte de metal nada fez... Estava preparado. Ouço os paços, retiro o cano do bolso do casaco, a escopeta cortada sai do dispositivo da mão direita, monto, calmo, atiro
 Pá! na perna do meu outrora amigo, outro em sua bacia... Ele cambaleia... Meus tiros foram favorecidos pela minha troca de posição, sai da luz, mas vi chegar  a sua ajuda mafiosa, o carro para e sai dois, pistola e metralhadora, droga!
 "...Podemos realmente estar criando Algum Controle...", penso ao imaginar como o Novo Século nos deu poder, o Caos do Progresso nos fortaleceu, mas, alguns querem mandar... Eu recebera uma carta sem nome outro dia... Dizia que "eu devo continuar", mas, o quê? Por que o Caos e não a Paz? Será que eles são diferentes? Não somo disciplinados desde pequenos a pensar "na paz" que não nos acostumamos a "parar a guerra" quando nas portas de nossas casas ela mata nosso companheiro de colégio? Preferimos matar para que outros não nos incomodem... Temos que manter por sangue nossa própria paz... Aceitar isto, bem, acho que talvez eu tenha aceitado, enquanto levava aquela rajada de metralhadora e morria um pouco mais... Só por dentro, naquilo que minha mãe crente chamava de alma
 Desviando para uma marquise, para não levar mais tiros, vi o meu alvo entrar no carro de seus "amigos"; em um momento de fuga, os outros dois pararam, eu sai e corri, atirei naquele da pistola... Tinha que parar o carro, ele saia, mesmo acertando ainda o pescoço daquele com metralhadora... Não pararam, saíram e quase os peguei:
 -Parado! -Berrou o da pistola, mirando para a minha cabeça... Ele sangrava pela boca, me movi rápido e tirei como uma espada uma escopeta de dois canos, a faca na ponta corta a face do capanga, talvez ele tivesse filhos, mas isto não era da minha conta. O caro sai com os dois ferido e atiro... A fumaça toma conta, mas apenas destruí a parte traseira, ele ainda anda... Assim como a vigília-de-rua. Minha resposta é sair correndo.
 A corrida foi por dias, de uma pequena pensão para outra, sempre com entrada pela janela, pagando para uma prostituta alugar o quarto. Mas, não poderia deixar o tal Coração nas mãos quem me odeia, é como deixar que a ex-mulher dê o beijo por sua namorada, ou pedir pra uma gato dar comida a seu cão, porém... O por quê de meu desejo de protegê-lo era estranho... Apenas uma pedra desejada por outro, apenas um símbolo para que alguém revivesse um antigo guerreiro, eu, sendo um ser de metal e sangue por mim mesmo revivido, poderia muito bem me acostumar com alguém que compartilhasse a imortalidade comigo... Porém, não sou imortal, ao que parece, sou só mais um número no sistema...
 Em um domingo, chega uma carta sem nome que me diz: "Você é apenas um número, para outros, para quem você teme que exista... Pra que se sub julgar a um Sistema, quando ele apenas existe na sua cabeça? Pode ser um número para o seu temor, mas não o precisa ser para você mesmo". Saí do quarto, desci as escadas da vazia pensão e fui me escondendo pela rua, a algum tempo tinha o endereço, faltava-me... Faltava-me o eu.
 Entrar e subir as escadas do domingo em que todos vão pela manhã na missa... Alguém tenta me receber com alguma pistola, logo, vejo que não consegue, o que levara um tiro no pescoço n'outro dia estava com uma sacola de pão, ao qual seu sangue se misturou...
 -O que?!... -Entrei e chutei as bolas, ele caiu, meu velho amigo, jogado num canto...
 -Então... -Fala com dor, meu pé tem chapas de metal - Você quer acabar comigo? Por uma droga de pedra?!! Trair-me por Eles?!!
 -Não, não por Eles... Por mim...
 Ele viu que nada poderia fazer, apontou para uma gaveta em um móvel velho, lá estava seu Coração, num velho móvel... Abri, nada havia... Só outro entrou na sala, tirei a pistola e o recebi com uma balaço no rosto... Meu amigo foge, a única fuga que poderia:
                      Tenta voar... Mas, não é ideia, nem pássaro que caga na cabeça
 Cai de maduro, no paralelepípedo duro da cidade grossa... O frio entra em minha mente... Não consegui.
 ...
 A porta abre novamente, minha mão poderia atirar, mas não, ele tem uma máscara alongada e vermelha, se diz Um de Nós, eu acredito, ele mostra no pulso um sinal de corvo...
 -Eu falhei, veio me buscar pela minha traição?
 -Acha mesmo que Ele queria ter o Coração? Ele quer mais que Sam o leve...
 Sam, um aliado nosso estranho... Não sabia que era ele... Mas, ainda não entendia...
 -Por que matei meu amigo? Um capricho?
 -Ele não foi morto, ele quis se libertar... Sua mão parou no gatilho antes de fazer qualquer coisa...
 -Então, o que eu procuro?
 -Bem, o Coração já está ali, no espelho, veja que ele é apenas uma fina folha de prata, quebre-o e terá a pedra... -olhei para a velha peça refletora, fui até ela, ouvindo os gritos de passantes que olhavam meu amigo morto na calçada... -Achou o que queria? O que queríamos era isto...
 Por momentos, vi o rosto com a máscara refletido, virei para trás e ouvi o bater de asas de um corvo...
 O veneno da dúvida me corroeu e eu quis ser um dos que morrem anonimamente de novo, logo, percebi que, como meu amigo, apenas alguns poucos se importavam pelo que eu fazia... No fundo, estávamos todos numa Enorme Rede... Mas, e daí? Seria que o quê vi no espelho era apenas uma chapa de metal e carne, ou a minha chapa de metal e carne...
 Talvez os dois.
 Escuto o subir das escadas.



MUSIQUETA DA POSTAGEM
http://letras.terra.com.br/iggy-pop/406114/#traducao

sábado, 17 de setembro de 2011

Um último voar de borboleta #Agentes do Caos

 Ela me olhou com seus olhos de maré, novamente, estava perdido entre o ali e o aqui. Apenas os lençóis revirados e lenços cobrindo as faces na cidade Borboleta. Apenas uma chama azul corria no centro dos prédios, Azulli, a pequena com cabelos negros e franja, alguma altura, pouca massa no corpo, nada de mais, ela não soube a sua importância, nem ela, nem a nossa ciência Patafísica
 Nada como um dos dias mais escuros que já vi, um dia estranho em que a cidade de Allan Poe escurecia as suas vistas e os fluxos contínuos de carros e máquinas humanas, as pessoas da megalópole, eram as únicas que davam um pouco de lanternas àquela situação... Azulli andava por pedras lisas da grande cidade do continente sul-americano, seus pés brancos tocavam descalços o chão escuro... Tudo parecia um gigantesca globo em tons de cinza que saía do chão até o chão, logo, a única que vi foi ela, toda muito confusa, aquela era um dos seres mais impressionantes que os Agentes do Caos haviam visto, ela era um deles, talvez um dos maiores, mas não sabia disto -acabava por não conhecer a nós mesmos, como é comum-, apesar deste "erro" comum, eu não liguei, pois minha arma feita com ossos do Antigo Tubarão me deixavam invulnerável, os olhos delas em sua franja, idioticamente imortal
 Ela andava pelos subúrbios, pois pelas ruas sujas da cidade que cresceu pelo trigo, ela não tinha um quinhão do pão; sozinha, cheguei por trás, minha espada estava guardada, dentro da calça, como um pequeno alfinete... Meus dedos foram como cordas de violão tocadas em seu corpo...
     Um pequeno chamar e ela se assustou, me conhecia de algum lugar... A Máscara de Dopp, o doppelganger, me disfarçou e eu cheguei perto dela, meu nome era Denis Raven, um amigo de escola. Ela me abraçou e falou que era muito bom encontrar-me... Eu, por dentro da máscara, sorri quando ela me tocou com seu corpo branco e com alguns pontos de pelos pretos...
 Levei-a para um pequeno hotel na cidade velha, a Casbah, os tons cinzas misturavam com o amarelo e eu via sua face pálida se misturar com o vermelho cada vez que com um gracejo lançava meus tentáculos sobre Azulli. Logo, cheguei em um ponto, no 3º andar, quarto trancado e algum tempo de conversa... O ponto era aquele, chegava a hora de consumar o ato!
     Lancei minhas mãos grandes sobre ela e a coloquei de costas para mim, peguei um tubo de borracha que guardava no osso da perna direita e cravei atravessando seu corpo, saquei outro do outro membro e coloquei na outra direção, sua dor parecia não me incomodar... Fui até a cozinha e peguei uma panela, colocava alguns fios para poder gerar um transferidor, pois precisava curar ela, a garota havia explodido um bairro inteiro -foi divulgado no jornal que havia sido uma explosão de gás, um bueiro que voava pelo céu e desencadeou a situação... Eu sabia que não... Ela era um ser que em meus estudos de patafísica e de filosofia, descobri que se chamava Copo, um ser que acumulava seus sentimentos em uma timidez e um silêncio tão perturbadores, que apenas o amor - paixão poderia fazer com que fosse possível capturar sua força... Sua expressão, seu Sentir, a capacidade mais poderosa que encontrei...
           Eu, uma máquina, apenas via que nela eu poderia capturar o meu poder, mas nunca imaginei aquilo: "Ela era bela"; sou uma máquina do século XIX, sou Mach III, não deveria sentir nada... Não tinha mais que metade do meu rosto de carne que implantei dos mortos, os esquecidos por todos, ao quais os seres humanos pregam que devemos temer em tornar-se um, e igualmente tentam amar seus parentes mortos, em um contrassenso que me faz duvidar de uma das duas atitudes humanas sobre os falecidos...Eu, uma máquina, não morria, apenas continuei minha caminhada até o começo de um novo século e, novamente, começo outro...
                        Olhava pra ela no entanto, para Azulli, ela olhou com ódio por um espelho, logo, percebi que minha máscara caiu, ela já não mais parecia o que ela queria ver... Senti um arrepio... As luzes ligaram sozinhas e era dia, começou o quarto a dar saltos, rápidos, e sedentos, não sabendo eu se eram meus olhos ou algo assim, retirei a escopeta portátil de meu braço... Mirei nela, ouvi apenas em minha cabeça, como se eu dissesse a mim mesmo:
 -Não pode derrotá-la, ela acredita em você, sua crença o destrói, robô e Ser Racional, o Ser Humano Máquina.
 De repente, quatro sombras saíram de seu corpo e cresceram a minha altura, que não era pouco... Eles tinham caras de corvo e pegaram minha arma. Minhas tentativas de soltar-me foram inúteis... A mão desceu sobre minha face... Desativei
                             Desativei por um tempo, havia apenas algumas horas eu planejava conquistar a menina e conseguir sua força... Conseguir me tornar humano... Mas, a Fada Azul não recompensou esta marionete, pois, sentada em um banco, com quatro sombras ao seu lado e no seu olho a cor de dentro branco estava... Estava meu sonho... Manda a sentença a garota:
 -Você viveu para enganar, enganar-se... Viveu achando que em algum momento da vida iria se tornar um ser poderoso, pensou que poderia conseguir realizar seus sonhos... Não pode, pois ninguém sonha na verdade... São apenas memórias organizadas em sua mente... O que ocorre é o que faz com mãos e pedras, durante o tempo que esta acordado... -Ela chegou perto do meu ouvido:
                                          -Eu, Azillis, sou teu fim, pois você e suas pedras param por aqui... Sonhou mais que agiu, não usou nem a proporção 3/4 dos camundongos... Como ratinho na ratoeira, te liberto!
 O golpe na costela e eu senti o cabo de borracha entrar, o outro, eu conseguia sentir... EU SENTIA!!! Porém, estava beira da morte, não me adianta nada agora, se por fios eu tenho sangue, se por circuitos, tenho nervos... Tudo se resumi a um pequeno momento tolo...
 Os peças explodiram, quando por alguns segundos não vi mais que minha cabeça voando em um explosão... Girou, girou e girou... Havia um Parque Verde lá, olhei para cima e vi uma pequena borboleta azul voando... A Morte me beijou ali... Com sua boca fria, havia por um momento, sonhado e agido
         Agora é tarde, pois a borboleta continuou a voar e nada mais vi, a não ser sonhos.



MUSIQUETA DA POSTAGEM
http://pt.wikipedia.org/wiki/Pataf%C3%ADsica

http://www.youtube.com/watch?v=kAjl21R7yBM&feature=fvsr

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Pílulas de Vida #Agentes do Caos

 "Quando você cai de um penhasco com as asas de Ícaro, de cera, se acha a maioral, não?"

Mesmo que ela não quisesse, já sentia-se ligada ao cara, ao tal do Ulisses Joyce
 Porém, não havia muito sentido isto, pois ela voava com suas asas de metal ainda, em movimentos constantes de uma borboleta flamejante. A chama azul que emitia a sua alma infante não condizia com aquele lorde que esbanjava opulência e nunca, jamais, tinha vertido uma única lágrima de alegria... Havendo apenas conduzido seus líquidos dos olhos por motivos tristes, ou ainda, de ira. Tinha uma pele de bronze ele, ela gostava de sua barba ao sol... O que naquele tempo havia muito, pois ainda não se falava dos buracos no céu, nem dos grades tubos que vomitavam a fumaça negra que copulava com as nuvens e nos dava como infante o câncer em nossos pulmões.
 Ela, em um dia de paixão exacerbada, ao andar numa rua de Julgamento -viela suja e suada de proletários de uma fábrica próxima de barris e de piche-, cai no chão... Ela parece desorientada... Sente o cheiro do perigo e tentando correr, é agarrada por homem franzino e muito estropiado, ele a joga no chão e logo mais três se juntam a ele... Ele esta com uma cara triste, mas ainda assim, tira o pequeno vestido branco da moça e, os quatro carrascos tiram dela aquilo que ela nem ligava muito... Algo que por sua ignorância de nunca frequentar uma Escola ou Oficina de Ensino, nunca lhe fora revelado ser preciso guardar para que o marido -disposto de toda tradição e pompa deplorável- "fizesse o serviço"... Mas, nada destes Valores que sempre xingamos em tudo e todos e depois, em época próxima, acostumamos e aceitamos estava ali em discussão com aquele moça... Dor, apenas isto, dor visceral e por dentro das dobrinhas da pobre ex-moça...
 LEMBROU UMA VEZ
 ...A menina de franja cospe a pílula branca que a dei... Esta mais pálida que a fórmula que a dei, ou mesmo um céu de setembro... Os olhos negros e brilhantes me fitam, nunca percebi como eles eram profundos e me tomavam por completo... Não pensei em mais nada, peguei outra pequena pílula, agora vermelha, e dei a ela...
          *
 Passou-se alguns meses depois, logo, era uma pessoa muito magra aquela que um dia parecia um ser alado e brilhante. Quieta, a idade não correspondente em um número de anos, mas de peso das tristezas e perdas, caiu seu belo corpo em um monte de ossos e carne parca.
 Ulysses a encontra, tem um óculos redondo e uma careca crescente, porém, ainda admira a coragem dela... Ela, tentava arrumar o cabelo embaraçado, o vestido de bolinhas sujo, fora de moda... Nada tirava a sua cara de tola...
 O Maior Amor dela diz:
 -Minha querida, fora eu.
 -... - A mudez dela é profunda... O silêncio que fez assustou até mesmo a este narrador; quieto, sofrido, cada costela do corpo magro que uma vez fora belo foi pegando fogo, a pele parecia querer que o resto fosse vomitado... Porém, não foi... Ela, em silêncio
 -O que acha que podes fazer, além do ódio e a sua cobiça de Vingança? -O homem baixo e de chapéu de coco a assusta
 -Por quê?
 -Você me pergunta razões? Bem, eu deitaria com você... Entretanto, queria terminar uma história, você seria uma personagem perfeita... Acompanho teus passos e escrevi grosso romance sobre tua vida... Desculpe, nunca tive muita imaginação, logo, usei você... Fora uma simples e tão boba personagem...
 LEMBROU DUAS VEZES
 ...Ela me olhava e chorava, não aguentava mais ficar sentada naquela cadeira... Pensei em parar com aquilo, não dar a 3ª pílula, a verde e comprida... Minha instabilidade passou e ela percebeu minhas mãos suando por fora do terno... Ela aperta minha mão, com olhos ainda em lágrimas... Diz:
 -Um beijo em sua face pelos seus pensamentos... Um beijo em sua boca, para que me deixe ser o que preciso ser...
 Dei a pílula
                  *
 Dois meses, parcos dois meses num início de século em que as máquinas substituíram os homens, as ferramentas da Rede de Cobre, os cérebros, os cães, as crianças... Apesar d'eu ter um cão chamado Rufus. Neste impressionante sistema gangrenado e que parecido mal distribuído para uns, muito pouco para outros e nada pra alguns, nada como uma Prisão Municipal, e lá a ex-moça, ex-velha e agora destruída residia... Sobre as cinzas paredes e o sol escaldante de um verão chato, ela reflete sobre como acabara ali... Ela não sabe... Só lembra que uma vez tentou voar quando criança... Pois, pensava que era uma borboleta...
 Houve uma visita, no início de setembro, era o governador... Homem magro, um pouco alto, óculos redondos... Imagens que se formam, novamente, algo que se diz como esperança se alia as lembranças de uma amor rubro e sanguíneo, assim como faz suas bases sobre uma pureza branca a muito perdida... Ela o olha, sorri, o velho não a reconhece... Ela nada mais é que um farrapo humano em tempos de Terceira Peste, porém, Ulisses Joyce tem medo, algo tão visceral como fora aquele irromper da proteção do feminino dela forçadamente para o seu puro prazer... Ele não sabia o por quê, mas, tratou de fugir dali e ficou num hotel naquela noite...
 A prisão era protegida, porém, não tanto como deveria ser... Uma faca improvisada, uma pequena distração - uma presa em chamas -, tudo para que o leão saia da jaula e pegue seu domador, aquele que criara a sua Fúria.
 Descobrir o Hotel, fácil, apenas um era 5 estrelas na pequena Julgamento, algo para o crime... As mãos, os dentes, os joelhos, apenas o corpo que o demônio caído havia maculado com um plano de escrita... Um escritor que usou uma vida para ascender a altos céus e discursos para  ascender à altas cadeiras não mereceria mais que isto... "Um corpo e alma por corpo e alma, um dente por dente, literalmente", foi com este pensamento que ela achou e entrou no quarto.
 Escuro, um recinto escuro, um careca dorme e acorda... Vê um fantasma de seu passado... Este ser pavoroso a luz uma vela, diz:
 -Por quê? Porque eu te amei demais, te odiei demais... Logo, minha paixão deve ser respondida com este último beijo...
 Ela salta sobre o homem, ele, em pânico, tenta alcançar uma mesa, aonde na gaveta, um 22 pode salvá-lo, ela o abraça e beija mortalmente, mais e mais sangue se espalha... Abre-se a gaveta, a garganta já pedindo arrego... Ouve-se um estrondo
 LEMBROU TRÊS VEZES
 -...
 Fiquei sem palavras... Olhava para ela, em estado catatônico... Repeti seu nome muitas vezes:
 -Karmem! Karmem! Mily? Pode me ouvir?
 O terno suado me fazia parecer um pinguim... Nunca deveríamos ter tentado aquilo... Eu quase chorei sobre as asas de Ícaro de minha maior criação... Presas, as grandes fagulhas de metais brilhantes, nada ali fora feito por mim... O que fiz foi fabricar com ela uma grande coisa, sem nome ainda, mas que me fez lutar em diversas batalhas... Nada demais seria se ficássemos cada um com suas memórias, mas, ela me mostrou o que tinha por dentro, por cada pílula que dei, cada coisa que lembrou... Não sabia se eram dela, ela era uma criação, uma máquina que voava pelas ideias de muitos e que esbarrara por acaso com um louco.
 -Estou bem... -Ela sorri e me beija
 -O quê, ou o que é aquela mulher? Quem é Ulisses?
 -Ele, ele é o que cada um de nós poderia ter sido... Ele é o que esta em nós, muitos nomes, para a mulher e para Joyce nós temos... Os mais comuns, damos muitos valor, os mais complicados, são esquecidos...
 -Então, só foi um sonho?
 -Nada é um sonho quando se acredita que ele existiu... Assim se fez com sua vida, assim eu fiz com a minha...
 -O que existe além do que nós vemos?
 -Ora, tome a pílula e veja... Cada uma te leva a um lugar e vida específica...
 -E por que tudo pareceu com a tal mulher e o tal Ulisses?
 -Hm... -Ela sorriu e se espreguiçou, lindo e com um bom corpo, completou - Tudo as vezes é um sonho, e os sonhos não tem regras...
 Um beijo e eu tentei dormir, tentei sonhar aquela noite... Ou acordar de um sonho



MUSIQUETA DA POSTAGEM

http://www.youtube.com/watch?v=0t5nJsH9rM4&feature=player_embedded

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Futebol, Justas e o Amante #Agentes do Caos

 Era uma triste insólita tarde de chuva em Alex-Andria, uma terra cinza em que o Partido Chauvinista tinha deixado as paredes cheias de citações anti-governamentais, o governo deles.
 Andou por alguns metros o garoto magro, sujo e cinza, nada mais se fazia naquela terra que não fosse xingar um governo ou com ele bate nos domingos nas cabeças dos membros do Partido Feminista, ou de outras coligações proibidas... Era estranho, mas o garoto de echarpe azul nada tinha a ver com aquilo... Ele sabia somente que às 11 horas da manhã o "mundo pararia"... Uma Justa entre os Lancelotes e Amadeus de Gaula se daria -um jogo muito violento e monótono, dado com onze homens (ainda havia a questão sexual nestes tempos, sendo imprópria a participação de mulheres) correndo atrás de uma bola, aonde sua meta era atingir outro defensor, que com uma espada, tentava cortar o objeto duro de couro com uma espada; era o esporte mais popular de toda a região, sendo que muitos parariam e ele poderia andar pelos becos da cidade tranquilamente, poderia buscar algo que precisava fazer... Precisava encontrar Mila...
 Ouvimos todos os gritos e gaitas... A grande final nacional aconteceria... Tudo parou, por quase uma hora e meia o mundo daquele país parou em tudo para acompanhar algo mais que um jogo, era suas vidas que estavam nos pés e mãos daqueles jogadores... O jovem cinza, porém, não se vestiu com nenhuma das cores dos times, ele até achava tudo "meio besta", mas toda a sua família, não. A jovem Mila, metida e de cabelos loiros frescos, também amava as bolas mais que o jovem cinza... Ele só caminhava para a casa dela, ele precisava mudar isto...
 O silêncio sepulcral de uma cidade, aonde, sem bares com tvs para a transmissão dos jogos naquele bairro, fazia o cinza andar e ouvir, dentro de um túmulo, as trombetas de um povo que acompanhava firmemente o balé que se dava dentro do Estádio Metropolitano... Eles amavam aquilo por aqueles 90 minutos, eles amavam e se matavam por aquela bola mal jogada, o juiz do jogo que parecia roubar pelo outro, pela cor da roupa que um torcedor usava... Era legítimo, era entendido...
                                                                  "Estava certo", a mente do  menino estava coerente a todo a massa que assiste aquela partida... Ele estava cansado como estavam os outros, ele estava querendo se libertar por um dia de sua cela diária, como eles queriam... Só que havia uma 22 em seu bolso, naquele secreto do paletó...
 Abre a porta, há um murmurinho na sala, um amigo velho levara a família ao estádio... Ela, sozinha, era "pra ele"... Aquele objeto duro e mortal era pra isto, o homem cinza queria acabar com aquilo, ele queria se libertar aprisionando ela ao seu corpo...
 Abre a porta, depois de mulo pulado, o barulho na sala se mostra... Eram gemidos, de vermelho, ela que era para estar doente pelo remedinho que o amigo, o jovem cinza, colocara em sua comida no dia anterior... Mas, ela estava bem... Ela estava bem em cima de um velho, um cara mais velho que levanta ainda com as vergonhas de fora... Ele esta assustado, o nosso protagonista, com a arma na mão, porém, parece até rir o outro, o "Ricardão"
 -QUEM É ELE?!!! -Solta o grito mais alto de sua vida, o jovem cinza armado
 -Sou um noivo, meu bem...
 -Sua puta!!! -Ele descarrega um tiro no sofá, não acerta e ela se assusta... Seu berro é de terror... O do jovem cinza se mistura a cólera... Lá fora, ouve-se uma torcida indo contra a outra
                                                   O jogo acabou, um dos times do Futebol -o nome do esporte- acabara e alguns não conseguiram aguentar a dor e resolverem descarregar sua fúria sobre outros... Da mesma forma que o jovem iria descarregar sobre o "Noivo" e Mila as balas da arminha...
 "Eu que deveria estar sobre ela... Ela é minha!", pensava antes de atirar. O movimento em direção ao homem era certeiro, porém, algo o atingiu... Nada o jovem viu... Era um violão, ele era ainda um violeiro! Isto deixou o garoto mais decepcionado... Mas, o Noivo lhe perguntou:
 -Você quer sobreviver? Você foi testado por mim... Sou um ser que "casa" almas ao qual gosto, sou um ser do caos e quero que você me responda:
 O Ela, ou você?
 A resposta seria difícil... Ouvia-se lá fora os torcedores urrando, ouvia-se o peito do jovem cinza tomando cada vez mais cor e urrando... Seu coração revivia e tomava a cor vermelha, ele saíra do feitiço que ele mesmo deu com seu amor por aquela jovem que nunca lhe respondeu... Diz ele:
 -Quero a minha vida... Por favor...
 -Ok... Porém, isto não é romântico, não sei se sabes?
 -Eu não ligo... Eu por muito fui ligado a ela, eu deveria ter gostado de um time, não sei, eu poderia ter sido mais feliz e... -Ele levanta e começaria a descrever sua sina... Entretanto, o Noivo saca um 38 e fulmina na cabeça a jovem...
                       O garoto em silêncio, engole seco... Ele teme...  Não, não é isto... Ele esta só confuso...
 O Noivo, próximo a ele, o acerta com seu instrumento, ele cai, acerta de novo e mais algumas vezes... Diz assim o ser:
 -Eu te pouparia, pois sou romântico... Admiro os fanáticos, pois deles é o Reino...
 Com o pé, ele virou o jovem, ele demorou algum tempo e foi se arrastando... Para a porta que dava para a rua... O outro se vestiu, sentou e olhou...
 O jovem chegou ao meio da rua, em uma esquina e da cada lado, as duas torcidas chegavam naquele lugar...
 -Encontro interessante, você vai encontrar com outros...
 O sangue escorria do amante... Ele tinha uma vez acreditado neste amor platônico que falam os poetas e torcedores, assim como o Noivo acreditava...
 O Agente saiu, na direção sul, sumiu num beco; o jovem cinzento se misturou a paisagem com o vermelho vivo de seu sangue... Os dois grupos, tanto do Lancelotes quanto do Amadeus de Gaula, pintaram com suas cores a rua ao qual havia sido combinada uma "batalha", ou, uma "Justa na rua"...
 Foram passando e nem viram o corpo, o jovem ficava frio, a chuva parou
 Nada de novo, só algumas paixões


 MUSIQUETA DA POSTAGEM
Pelo título...
http://www.youtube.com/watch?v=9KDmN-SiMu0&feature=related


sábado, 3 de setembro de 2011

Um Homem Comum #Agentes do Caos

 O homem comum caminha pela rua de pavimento escorregadio em passo constante, vivendo cada segundo em respiração ofegante; uma falta de ar de quem nada tem no fazer a não ser uma ou duas coisas interessantes na vida inteira. Ele, Jonas, ou Jorge, acho que talvez até se chamasse Machado, ele não tinha mais este crédito, gastara em uma viagem para o interior em busca de um amor ao qual ele perdeu... Não porque não pode pagar mais o serviço da Rede de Cobre, não porque ela o traiu, nada disto... Ele desistiu no meio da viagem pois esquecera de comprar seu remédio para asma, estava achando que com isto morreria, e morreu, pois nunca para lá fora.
 Eu o vi passeando pelas ruas sujas e baixei em forma constrita, pequeno serzinho verde que pousou sobre seu ombro... Eu sempre estive nele, ele que não percebera... Apenas um ser desafortunado de sonhos -um homem comum-, poderia me abrigar, eu morava nele, meu nome é Voudrais.
 Sobre este dia de folga incomum e ensolarado, ele caminhou para o fundo de uma praça com um grande prédio que parecia com os dos velhos e libidinosos gregos... Sacou um pequeno saco de plástico e... Sem que ninguém lhe desse bola, pois estavam todos descansando ou se atracando em suas casas em uma fornicação de realizarem seus tormentos -ao qual o homem comum pensava ser a Felicidade-, ele pega o coloca na cabeça... Vai respirando, respirando, até que todo o saco se sele em vácuo constante, vácuo de ideias e vida
 Ele cai
 Eu me levanto
 Nada mais é naqueles últimos momentos de vida de um desgraçado pífio de 40 anos que nada fez na vida a não ser passar alguns dias coçando o saco, filosofando na faculdade, cheirando mulheres alheias e bebendo como um porco para esquecer que não fizera na verdade muita coisa a não ser viver nas costas e sonhos de alguns malditos que conseguiram realizar o que queriam
 Realmente, eu surgi para ele, em uma de suas últimas ilusões vivo, eu estava de preto e era de pele verde. Me chamou o cara de Esperança, eu não liguei... Ele deveria espalhar sua vontade por aí... Tentar viver... Mas, o retardado não queria...
 Disse que era um Agente, do tipo especial, que segue e faz por nenhuma companhia... Pareceria até uma de seguros, mas não era... Ele nada compreendeu, eu, em retribuição, levantei seu corpo caído no meio da praça e o coloquei na escadaria do prédio, numa questão de segundos, percebi que ele sentira que seus dedos e pés estavam novamente vivos, "vivos"
 Ele estava de saco plástico na cabeça e olhava pra mim com espanto... Estava com medo, um suicida com medo... É estranho, mas ri dele...
 Por cada polegada de suas juntas saíram alguns fios de nylon, ele estava como uma marionete, sobre meu controle... Lhe disse:
 -Cada fio aqui é um destino teu, meu nome é Flautista, toco uma melodia para cada desesperado que encontro... Você, é meu último retumbar de pratos, estou no fim da sinfonia final de minha vida, a mais bela e triste sobre esta nossa vida...
 -O que quer? -Pergunta o Ensacado
 -Quero que vá até a sua vida e a derrube com as mãos, ela é estranha e frágil, simples e que sempre se olha como um ser complexo e difícil... Pare de chorar, você está isolado nesta trincheira de lobos e ninguém é babá de ninguém!
 -Então... Eu disse que é a Esperança, você é o Verde da Esperança!
 -...
 O sol batia em nossa cara, era um fim de semana de folga para muitos e eu ali, conversando com um detonado, um simples homem...
 -Eu mudarei minha vida... -Falou o cara com voz de plástico, pois ela estava trancada em seu instrumento de tentativa de suicídio... - Poderia conquistar tudo que quisesse! Eu posso! Eu VOU
 -...... -Eu o olhei... A muito tempo, quando não havia sido preso em masmorras, nem matava fadas com o meu ceticismo nos meus filhos pequenos, quando tentei viajar para o interior para conhecer uma conhecida, eu já fui igual a ele... Estranho, um isolamento de anos nos separava, uma questão de vivências nos aproximava...
 Dei-lhe um tapa, enquanto ele sorria para mim... Ele ficou sorrindo, pois peguei os fios que sustentavam sua sobrevida e os rasguei... Todos de uma vez... Todos juntos
 O corpo caiu sozinho, e rindo, na escadaria do velho prédio em estilo de gregos libidinosos...
 "Uma morte bizarra", dizia a Tribuna da Caveira no Domingo de Ramos...
 Andei pela praça e o sol atrás de mim...
 Andei quieto, pensativo
 Eu tentara achar algo que fosse eu, eu falhara como falharia aquele cara
 Aquele zé, aquele homem comum
 Nada mais tinha que fazer a não ser refletir de mim mesmo por aquele tolo
 Ao menos, um tolo que morreu sorrindo
 O homem comum que sorriu.


 MUSIQUETA DA POSTAGEM

http://www.youtube.com/watch?v=sb-4LDMpdp4&feature=fvst

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

O mar que urra #Agentes do Caos

 A princesa negra no seu barquinho vigia seus fiéis sempre pois, como Senhora Nossa, sempre deve vigiar tudo aquilo que a pode tirar dali e por aqui
 Ela esta ali, sempre ali. Eu lembro como se fosse hoje de vê-la naquele barco à vapor, a besta de metal vomitava fumaça e cuspia muito suor dos marinheiros que levantavam a ancora e levavam o barco pela costa até Senhor do Bonfim, capital de Bahia; batalhas por todo o mar e piratas francos derrubavam todos que não respondiam A Legação, uma cria do Eixo, o suor dos piratas banhavam a todos com o sangue, ao qual o mar tragava e se alimentava disto
 Ficava olhando o mar e olhava pra ela, tinha esperança que ela estaria bem... Porém, eu tinha o Símbolo, era um Deles. O nome era Flektícia, um nome muito difícil, acho que só eu conseguia falar corretamente... Flávia, era como ela se chamava aqui, Dona Flávia.
 Vimos fumaça sobre a água, logo, fogo cortava o céu
                       *
 O ataque foi rápido, Flávia salvou dez de nós, nos levando à costa; ela ficou ali, em pé, na frente da praia... Mais um veio, lá, do fundo d'água, um torpedo; ela segura o tiro, com a mão, em agilidade e cuidado que não fazem detonar a obus, seu cotovelo é uma mola, assim como seu ombro, ela o lança, novamente, há uma explosão... Talvez eles tenham fugido! Ou mais algum fora tragado pelo mar, alimentando sua sede
 -Olá amigo!
 -Olá, amiga! -Respondo ela, enquanto ela tira os longos cabelos negros da face; queria que ela estivesse encabulada, porém, acho que ela só esta irritada, terá que fazer o caminho à pé
 Lá fomos nós, para a cidade
 Lá estava a cidade de Vicente, uma velha fonte, muitos morros, e a polícia olhava para o grupo com desconfiança e armas em mãos
 Ouvimos histórias terríveis, forasteiros viriam para lá, eles estavam fazendo muitos reféns e assustando famílias com seus urros terríveis, eles eram mutantes, desajustados que estavam caçando alguns de nós... Flektícia me enchia com seu temor, dizia que eu tinha que cuidar muito bem de suas engrenagens e ia eu colocar óleo nela à noite, no quarto; dizer "tudo bem" ou concordar não era uma opção pra ela, era sempre o que ela queria... Mas, eu não ligava, estava ali por causa dela...
 Baixa a noite e escutamos alguns urros vindos da floresta. Numa choupana de barro na periferia nos protegemos da polícia que estava numa ronda protetora apenas no Centro, "os da vila" se protegiam como podiam, ou nem isto, só colocavam paus e pedras à mão e dormiam num sono pesado de preocupação
 Porém, minha preocupação era mantê-la bem, cuidei de todos os seus mecanismos e peças... Apenas no meio de seu peito era que Flávia tinha alguma semelhança física comigo... De resto, complexo de molas e força do bronze e ferro... Ela era forte, e eu, fraco.
 Ela me pede o último copo de água, eu, alucinado por um "boa noite" dela, vou para fora no perigo de urros e berros... Levo a cuia, apenas o vazio de um pote oco, talvez fosse eu
 Veio uma luz enquanto estava perto da fonte, ela me beijou
 Ela me beijou e eu desmaiei em acordar constante, eu pulsava todo
 A fagulha que me tocara me fez desmaiar e logo acordei
 N'outro dia...
 Fléktícia e alguns dos nossos vieram a mim, ela estava a reclamar de como eu tinha demorado... Contei a todos sobre uma bola de fogo que veio perto de mim... Embaçada a visão, ela parecia com a silhueta de uma moça... De alguém que conhecia...
 A moça que liderava me repreendeu, eu a respondi... Nunca havia feito isto, mas me pareceu o certo, ela não deveria me condicionar ao que ela queria... Um tapa ela me deu, todos olhando... Eu sai de perto, na floresta próxima as vilas eu fui passar horas... Agachado, nada vi que os outros, calados, foram procurar a mim e a algo nas árvores e matagais, algo que explicasse as mortes e os ataques... Nada acharam, nem eu...
 Não fui beijá-la, não deitei com ela aquela noite
 N'outro dia, fui com o frio em meus ossos e cabelo molhado de sereno
 Nesta madrugada havia percorrido todo o caminho que tinha feito para sair de perto dela
 Refiz para me encontrar com ela, e ver se em suas engrenagens havia algum problema
 -O que faz aqui? -A princesa negra olha para seu maior fiel, ele esta só e outros estão dormindo... O fogo havia tocado em seu coração, algo que ela também tinha, em carne somente, pois nunca vira nele algo mais que um súdito... Porém, naquela pequena visão, ela vira tudo, o vira por inteiro... Mas, não o queria... Nada encontrara nele a não ser um amigo
 -Eu... -Ela tentou argumentar, ele nada ouviu... Aquele torpedo que quase matara a todos, aquelas mortes que nada vira semelhante em nenhum lugar; nada nela ou no mundo o fariam mudar de ideia, o fogo havia tocado nele. Caminhou, olhou para ela, sua amada ficou dentro de seus olhos em ressaca do mar, ele a tragou
 A arma foi fria
 O sangue escorreu
 A força dela nos braços em engrenagens tentou matar e revidar lembrando a fúria com que ela tratava ele
 Não podia, ele não havia passado óleo e o sereno havia travado o mover
 Sereno de lágrima dele
 O Agente foi saindo de perto com a faca na mão e correu, pela floresta foi andando o libertado. O mar verde o tragou e foi sumindo toda a sua lembrança...
 Alguns acudiram a mestre Flávia, ou Flékticia, tanto faz... Eu estava correndo pelo interior de Vicente, eu não ligava... Estava só, algo me matou quando o fogo me tocou... Eu urrei por isto, urrava a partir dali todas as noites
 E os berros continuaram, os urros do mar que tragavam a todos que deixaram seus sonhos, os mataram, e buscaram por multidões o silêncio da profundeza de si mesmos... Aquele período pequeno e terno em que perdemos tudo e aquilo -ou aquela- e ao mesmo tempo ganhamos tudo, ganhamos a capacidade/necessidade de procurar, procurar as vezes tudo de volta; no mar que nos traga em urros



MUSIQUETA DA POSTAGEM
http://www.youtube.com/watch?v=unZYqNYuRxc&feature=related