domingo, 25 de setembro de 2011

Luz nas lentes de uma máquina refletem seu Sistema #Agentes do Caos

1897, e a prisão em que ele estava queimou; correndo enquanto a confusão se dava na cidade fria e cheia de pinheiros, ele conseguiu fugir...
 Agora, meu suspiro à vapor se dá ao mesmo tempo que olho a sua face, ele me vê e teme: treze anos depois, está de frente para um ser de metal com canos de exaustão, mesmo eu, ficaria com medo. Diz ele:
 -Por que esta aqui, Nomoté?
 -Por que você roubou aquilo, Bento? -Minhas lentes estão ofuscadas pela luz das lamparinas elétricas da rua... Não o enxergo, é uma questão de tempo até que descubra.
 -O Coração do Panda não é tão importante... É só uma pedra velha e empoeirada, pensei que não nos importássemos com este tipo de coisa, pensei que quiséssemos liberar o caos no mundo... A Contra-Arte, foi o que busquei... Meus livros, meus negócios com a Máfia Polaca, tudo isto e ainda quer me matar?
 -Você não entende... As colinas dos campos não têm mais flores, apenas olhos que nos espreitam... Há muitas coisas envolvidas, a Crise dos Orwell, a Grande Guerra no norte... Há ainda alguém querendo este Coração... Alguém que pode levantar os corpos, alguém que...
 -Quer trair? É isto? Sou seu amigo... Instalei você aqui... Me ajudou a muito tempo... E agora a traição pra mim... Não adianta, não? Nós somos apenas formigas, e você são elefantes... Defende a Liberdade, mas é só outro grupo que quer Criar um Sistema! Malditos sejam!
 -Não fale assim... Ainda há chance... Sua mulher se foi há treze anos, teu filho também, não pode fechar a mão só porque quer mais alguns trocados... -Minha voz mecânica presente algo, treme, escuto algo, pela luz, nada vejo
 A 22 canta, diz meu amigo:
 -Morte a ti! Malditos sejam os Agentes do Caos!
 A 22 canta novamente, meu antigo amigo corre, um acertou um gato que por uma cerca passava -ouvi seu "miau"- o outro, em meu braço, na parte de metal nada fez... Estava preparado. Ouço os paços, retiro o cano do bolso do casaco, a escopeta cortada sai do dispositivo da mão direita, monto, calmo, atiro
 Pá! na perna do meu outrora amigo, outro em sua bacia... Ele cambaleia... Meus tiros foram favorecidos pela minha troca de posição, sai da luz, mas vi chegar  a sua ajuda mafiosa, o carro para e sai dois, pistola e metralhadora, droga!
 "...Podemos realmente estar criando Algum Controle...", penso ao imaginar como o Novo Século nos deu poder, o Caos do Progresso nos fortaleceu, mas, alguns querem mandar... Eu recebera uma carta sem nome outro dia... Dizia que "eu devo continuar", mas, o quê? Por que o Caos e não a Paz? Será que eles são diferentes? Não somo disciplinados desde pequenos a pensar "na paz" que não nos acostumamos a "parar a guerra" quando nas portas de nossas casas ela mata nosso companheiro de colégio? Preferimos matar para que outros não nos incomodem... Temos que manter por sangue nossa própria paz... Aceitar isto, bem, acho que talvez eu tenha aceitado, enquanto levava aquela rajada de metralhadora e morria um pouco mais... Só por dentro, naquilo que minha mãe crente chamava de alma
 Desviando para uma marquise, para não levar mais tiros, vi o meu alvo entrar no carro de seus "amigos"; em um momento de fuga, os outros dois pararam, eu sai e corri, atirei naquele da pistola... Tinha que parar o carro, ele saia, mesmo acertando ainda o pescoço daquele com metralhadora... Não pararam, saíram e quase os peguei:
 -Parado! -Berrou o da pistola, mirando para a minha cabeça... Ele sangrava pela boca, me movi rápido e tirei como uma espada uma escopeta de dois canos, a faca na ponta corta a face do capanga, talvez ele tivesse filhos, mas isto não era da minha conta. O caro sai com os dois ferido e atiro... A fumaça toma conta, mas apenas destruí a parte traseira, ele ainda anda... Assim como a vigília-de-rua. Minha resposta é sair correndo.
 A corrida foi por dias, de uma pequena pensão para outra, sempre com entrada pela janela, pagando para uma prostituta alugar o quarto. Mas, não poderia deixar o tal Coração nas mãos quem me odeia, é como deixar que a ex-mulher dê o beijo por sua namorada, ou pedir pra uma gato dar comida a seu cão, porém... O por quê de meu desejo de protegê-lo era estranho... Apenas uma pedra desejada por outro, apenas um símbolo para que alguém revivesse um antigo guerreiro, eu, sendo um ser de metal e sangue por mim mesmo revivido, poderia muito bem me acostumar com alguém que compartilhasse a imortalidade comigo... Porém, não sou imortal, ao que parece, sou só mais um número no sistema...
 Em um domingo, chega uma carta sem nome que me diz: "Você é apenas um número, para outros, para quem você teme que exista... Pra que se sub julgar a um Sistema, quando ele apenas existe na sua cabeça? Pode ser um número para o seu temor, mas não o precisa ser para você mesmo". Saí do quarto, desci as escadas da vazia pensão e fui me escondendo pela rua, a algum tempo tinha o endereço, faltava-me... Faltava-me o eu.
 Entrar e subir as escadas do domingo em que todos vão pela manhã na missa... Alguém tenta me receber com alguma pistola, logo, vejo que não consegue, o que levara um tiro no pescoço n'outro dia estava com uma sacola de pão, ao qual seu sangue se misturou...
 -O que?!... -Entrei e chutei as bolas, ele caiu, meu velho amigo, jogado num canto...
 -Então... -Fala com dor, meu pé tem chapas de metal - Você quer acabar comigo? Por uma droga de pedra?!! Trair-me por Eles?!!
 -Não, não por Eles... Por mim...
 Ele viu que nada poderia fazer, apontou para uma gaveta em um móvel velho, lá estava seu Coração, num velho móvel... Abri, nada havia... Só outro entrou na sala, tirei a pistola e o recebi com uma balaço no rosto... Meu amigo foge, a única fuga que poderia:
                      Tenta voar... Mas, não é ideia, nem pássaro que caga na cabeça
 Cai de maduro, no paralelepípedo duro da cidade grossa... O frio entra em minha mente... Não consegui.
 ...
 A porta abre novamente, minha mão poderia atirar, mas não, ele tem uma máscara alongada e vermelha, se diz Um de Nós, eu acredito, ele mostra no pulso um sinal de corvo...
 -Eu falhei, veio me buscar pela minha traição?
 -Acha mesmo que Ele queria ter o Coração? Ele quer mais que Sam o leve...
 Sam, um aliado nosso estranho... Não sabia que era ele... Mas, ainda não entendia...
 -Por que matei meu amigo? Um capricho?
 -Ele não foi morto, ele quis se libertar... Sua mão parou no gatilho antes de fazer qualquer coisa...
 -Então, o que eu procuro?
 -Bem, o Coração já está ali, no espelho, veja que ele é apenas uma fina folha de prata, quebre-o e terá a pedra... -olhei para a velha peça refletora, fui até ela, ouvindo os gritos de passantes que olhavam meu amigo morto na calçada... -Achou o que queria? O que queríamos era isto...
 Por momentos, vi o rosto com a máscara refletido, virei para trás e ouvi o bater de asas de um corvo...
 O veneno da dúvida me corroeu e eu quis ser um dos que morrem anonimamente de novo, logo, percebi que, como meu amigo, apenas alguns poucos se importavam pelo que eu fazia... No fundo, estávamos todos numa Enorme Rede... Mas, e daí? Seria que o quê vi no espelho era apenas uma chapa de metal e carne, ou a minha chapa de metal e carne...
 Talvez os dois.
 Escuto o subir das escadas.



MUSIQUETA DA POSTAGEM
http://letras.terra.com.br/iggy-pop/406114/#traducao

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