quarta-feira, 25 de julho de 2018

Quarta feira depressiva nos vales de minha alguma alma

Olho para gente ao meu redor
Vejo montanhas e oceanos
Mas, vejo apenas
Não sinto
Há apenas matéria nessa gente
Essa modernidade evoluída
Foi do fora, pra dentro e diz que dentro
Não há nada
Não mais motivos para ser você
Apenas mais um
Não apenas aceitar ser pequeno
Mas, ficar sendo pequeno
Mínimo, calado. Em seu lugar
Aceitar o que te dizem e revoltar-se
Do jeito correto, naquele ou outro
Caminho
Te chamam de burro, vagabundo
Ou romântico
E deve ficar quieto
Não existe eu, não há fora e dentro é aparente
Tudo um jogo de espelhos, prisão ou depressão
E no vale de lágrimas, a maior parte
Das mesmas coisas, do mais do mesmo
Você se aquieta, você apaga. Morre
No deserto do que os outros dizem ser correto
Errado, injusto ou até mesmo... Real
Mas, o real te bate as tripas
Te aparece nos momentos chave
Em que heróis do cotidiano
Dos feitos de pequena escala, mas de profundo toque
Dependerão de você
Então, o mundo cala
Ele não ajuda, envergonha.
O nada não serve a nada
Apenas a si mesmo
O falatório do meio, dos doutores, televisores
Alguns amores
Nada te ajudará quando o Real te demandar:
-Seja agora, ou cale-se para sempre!




Pois, quanto falatório seu espírito aguenta
Antes de virar um calado
Pó de sapato
De alguma montanha agorenta?


"A sorte favorece os audazes", li uma vez
Enquanto atravessava de navio, um canal
Perdido no tempo dos meus pensamentos.


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Um Quixote sem escudeiro
Um homem num deserto de gente
Coberto de poeira, sua preguiça do mundo
Seus mestres, apenas trouxe decepção ou ranger de dentes
É poeta, porém ruim
É artista, porém frustrado em outros caminhos
Nada tem de muito valor
Nada fez de muita coisa
Nada fora do mundo do básico, do discreto e até fácil
Serei nada?
Talvez
Mas, sua obra pode ser apenas estender a mão
Apenas ouvir
Apenas falar o que tem de ser dito
E isto, meu caro, seus diplomas e fariseus não darão
A paciência
O silêncio respeitoso, numa modernidade que apenas
Valoriza o grito, o militar e o reagir
A ajuda é necessária e a estrutura se faz
Resistindo
Resistindo a si mesmo, ao maremoto do mundo
A fúria de si mesmo
Ao abraço que aquieta a dor do outro, mesmo que por segundos
Um cavaleiro não se faz apenas de espadas
Mas, em andar e errar
Aceitar ser errante
Lutar em combate quando mesmo o espírito se fragmenta
Em lágrimas
Em injúrias de si contra si
Continue, continue a viver
Segure mais um pouco
Sustente mais alguém, levante mais um caído
Caia, mas, ajude
Do jeito que for
Se apenas puder escutar, se apenas puder caminhar com outro
Faço-o
E seu existir, fará sentido pra ele
"Abster-se de si, enxergar o outro"
Li em um escudo uma vez, num campo de batalha
Sempre vindouro
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Se eu pudesse dar um pequeno conselho de escrita, diria: não mate o seu narrador interior. Não permita que coisas como a escola (universalizada, ou em raros casos, em grupos fechados), os amigos ou pseudo-amigos, os jornais e especialistas - falsos ídolos de idoneidade, destruam a sua capacidade de ler e escrever o próprio mundo, seja por imagens ou figurinhas, cantando com a família ou discutindo com humor numa mesa de domingo, nos causos intermináveis. Sua vida será sua, ela pode ser uma prisão ou um castelo, pode viajar ou lutar em cada minuto, mas, é sua e responsabilidade sua, ser capaz de narrar a si mesmo e não escapar e deixar-se levar pelo falatório, demoníaco, de quem não tem nada haver contigo, mas, pensa saber mais ou que tem o direito de ordenar a vida, não te dar conselhos, mas, ordens.
Escrever um texto decente ou minimamente comunicativo, algo que nunca fiz direito, ou que evito reler por sempre achar incompleto - a vida é incompleta, e é bom que seja assim -, passa por esta capacidade de criar o que existe em uma dimensão nova, diferente. Não é pensamento, nem crença ou fé, é transmissão, é palavra, imagem, é agir no papel passivo para criar um despertar em quem lê. É contar a história ou estória viva, lançar das palavras todo o sangue e ossos, arrasar pelas frases sua ideia, suas memórias contidas e trabalhadas. Lutar, escrever é uma épica aventura de si mesmo para o outro.
E se você não observa ou sente o outro, nunca poderá escrever algo decente ou, até mesmo, falar algo que preste. Poderá fazer outra coisa, várias coisas, o mundo é diverso e pleno de várias atividades, porém, narrar algo, não serás capaz de fazer, talvez em outro momento, quem sabe? Quando seus olhos abrem e você vê aquilo que está fora, poderá escrever sobre o que está dentro e narrar a mínima folha caindo entre o Céu de infinitos grãos de estrelas, como a mais fantástica coisa contida do abraço de seus pais até o tempo de abraçar seus filhos, da ida a escola até a ida para o túmulo, do ver aquela pessoa até beijá-la, naquele dia, na chuva.
Escrever é narrar outro, sabendo que é você, o responsável por aquele mundo, de frases, suspiros e, quem sabe, bocejos. Narração sua, guarde-a, lute-a, faça-a.

quarta-feira, 18 de julho de 2018

Sábado de luz opaca cor de nada nata

Um leão enjaulado por si
Agora, fraco e pálido em algo que nunca foi
Enforcar-se na corrente em sua pata, má ideia seria?
Menor vergonha de si para quem importa
Maior paz por achar destino rápido
Olhos de uma profundidade anímica


Vejo um leão em si, enjaulando-se num circo

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"A experiência que tenho mais próxima do articulável através de palavras com a música é a da sintonia. Não compreendo muitas línguas em seu sentido e significado estrito, mas, sinto que existe, através da música, sua sinestesia ou capacidade cinematizar os sons, uma ligação, uma sintonia. A partir do momento em que se domina várias línguas, sinto que esta capacidade vai diminuindo ou se estreitando, parece ir direto à instrumental, eletrônica ou concreta. O homem comum parece ter mais sintonia com o som que o douto, talvez."
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"Uma pessoa que entrou em guerra consigo, com sua própria mente. A batalha que não termina com a consciência de si"

sábado, 7 de julho de 2018

Segunda Dor nas Costas d Nervoso

A poesia está no silêncio
Do olhar perdido de um horizonte
Aflito, apaixonado ou
Na ironia de cada dia
Em seus braços nos levando
A vida
E cada esquina que passo
Cada cheiro, toque que tenho
Estou lá
Na minha presença de si
Consciente em algum nível
De minha estrofe interna
Meu verso amarrado, atado ao peito
Minha âncora fixa entre a palavra não dizível
E toda a estrada entre eu e você
Que me lê
Pequeno leitor, de um mínimo escritor


A poesia está no silêncio do grito
Sufocado do silogismo, lógica épica
Canção de março, água de abril
Frio do inverno, amor de verão
No seu abraço, ah, naquele mesmo
Na memória, na lembrança
Que é calada
Mas, que guarda
O mundo inteiro


A minha presença, agora velho
Enrugado e sereno
Entre as rabugices, entre as fúrias juvenis
Vai apagando uma ou outra coisa
Vai deixando
A memória, eu
Minha presença vai ficando quieta
Me torno poesia
Me tornarei estrofe dos outros
Alguns me amando, outros me odiando
Mas, eu, enquanto a um velho cão neste mundo
Abarco ele inteiro
Observando-o, de revesgueio, canto de olho
Silêncio
Da poesia
À memória
À história
E filosofias

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Cada homem vive em contar sua história. Se não pode resgatá-la, se você simplesmente a odeia, se coloca-a sobre a esfinge de sistemas ou condições simplesmente materiais, alheias a você e sua responsabilidade, já não está mais neste mundo, mas, apenas grita e chora nele, em um amor pelo desespero. Busca matar deuses, pois você em si já não reconheceria nada ou nenhum deles, sua história é meramente um dado, uma estatística, um verbete de enciclopédia ou alguém que poderia ser lembrando apenas num momento sem emoção, ao lermos algum obituário antigo.
-Morreu hoje, fulano de tal, uma boa pessoa
Não tente mudar o mundo, não é necessário ou possível e apenas te representa o ego que alguma ideia lhe pôs e você acredita que elas estão fora de sua cabeça, na fala dos outros. Busque contar sua história e ser uma pessoa que tenha medos, arrependimentos, algum carinho e virtudes que possa guardar em seu tesouro.
Pois, talvez o que se chama espírito apenas seja a arca que abarca meu mundo. Indizível, mas, que conto, ponto a ponto, nas minhas histórias

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