sábado, 23 de abril de 2011

O Aliado em GranPinus #Agentes do Caos

 O Barão está apreensivo, suas moedas e notas de réis estão nos bolsos dos rebeldes, eles guardam eles em seus bolsos e pagam as senhoras de vida fácil nas cidades ao sul, no outro estado já... Ele salvara o lugar onde vive, salvou a capital de GranPinus, Nossa Senhora Curtiba, era seu nome na época. Seu nome já ninguém lembra, sabe-se que tinha a alcunha de Barão do Cerro Azul, nem sabem -assim como eu não sabia- que ele deu todo o seu tesouro, vindo de anos de acumulação da família para os Pergattos e Woodys do sul, de Gauchia, o estado dos gaúchos, para que estes não tomassem a capital de assalto e liquidassem os poucos moradores que ainda não fugiram de lá... Grande gesto, pena ele ser um poder aqui, o governador Pitágoras quer sua cabeça, o presidente de San Paul, Jorge Véio, também...
 Ele não sabe, só lembra de sua família em Curtiba, podem estar bem ou não... Ele, só olha pra Serra do Mar, enquanto passeia pelos seu trilhos em direção ao porto... Cortam as montanhas, a força do humano, porém as maiores forças não estariam em cortar a rocha... Mas, em fazer, no pensar.
 Muitas ideias, muitas balelas correm na mente do nobre de título comprado... O trem fretado para... Eles descem, há estranheza na pequena comitiva, o Barão mais três empregados, todos pegos em casa três dias depois de terem "salvado" pagado as três tropas de rebelados. Descem do trem, há névoa pelas montanhas... Paisagem bonita, como sempre, o humano vê as montanhas e as respeita, há solenidade no local, como um sepulcro...
                Será mesmo.
                -... Traidor... -É a última palavra de Faisão Autores,
                um secretário do governador Pitágoras lera
                numa carta; ele falava não sobre um acordo com os rebeldes,
                mas sobre uma estratégia, falava de golpe...
 O Barão até que queria, mas sempre foi meio lento, não queria luta, mas, era um daqueles que poderia fazer coisas ruins para manter seus sonhos de "Igualdade e Fraternidade" (alguns humanos hoje ainda sonham assim, enfim, é um jeito de deixar as coisas boas, não?), entretanto, numa pequena casinha na Serra, seus sonhos acabaram: um, dois, as pistolas disparavam no máximo dois tiros, só faltava ele e mais um empregado, Matheus, um antigo escravo liberto... Ele estava confiante, e não era fé...
 Os olhos azuis do Barão olharam os guardas armarem mais uma pistola, uma apontava para Matheus, velho amigo de infância... O velho pensou até em reagir, porém, tinha medo... Poderia pegar a espada de um dos guardas, tentar reagir, era bom de esgrima, ele poderia pegar a pistola, ele... Bem, não há heróis no final... Não pode fazer nada...
                                   Pá!
                                   Seu amigo se vai, o velho Barão vai ao encontro dele,
                                   consola-se em sua morte na poça de sangue
                                   de seu amigo morto...
                                   Ele sorri, diz: "-Confia! Chamamos quem precisávamos!
                                   Ele é um Deles, tem um corvo consigo"
 O Barão se lembra...
 *Dois meses atrás, os rebeldes sobem para o estado de Santa Maria Catarina, divisa ao sul de GranPinus*
 Escritório do Barão, N.S. Curtiba, no que viria a ser o Colégio Estadual, vinte anos depois... Um lugar de madeira, cheio de pompa, peso e cheiro de velho... Sim, o autor deste texto estudou lá e sabe como é um lugar sonolento! Porém, naquela manhã fria, há 130 anos, não era...
 -Como assim Matheus? Um bruxo? é isto? Vamos pedir ajuda de tais coisas?
 -Sim, sim Barão! É o jeito!
 -Mas, você viu o que aconteceu a Nassau, ele tentou usar a força das máquinas dos goblins, há cem anos... Acabou traído por eles, e hoje os Senhores de Engenho possuem as máquinas Leviatãs, com as quais dominam o norte! Não podemos arriscar!
 -Meu sinhô, sei que você não quer isto... Mas, este ser era um padre... Em tempo muito remotos... Quando as bandeiras destruíram o Guaíra, mataram índios e jesuítas... Ele fugiu, sabia coisas dos índios, conviveu na floresta, viveu lá... Se tornou parte dela! E com o perdão da ousadia... Já lhe mandei chamar... Tropeiros irão pra lá, em uma missão difícil, impossível, mas, já foram!
 -Como assim? O que estás a falar? -Os olhos azuis do Barão esbugalharam-se, sua vontade era mandá-lo pro lugar onde as vacas soltam estrume...
 A raiva durou um dia, noutro, ele esqueceu... Era uma falsa esperança, nada havia, só os rebeldes subindo...
 Falsa esperanças se tornam as vezes a única coisa...
 *E na poça de sangue de Matheus, voltamos naquele momento, na Serra do Mar*
 A arma aponta para o Barão, ele lembra da conversa de dois meses atrás, agora está perplexo...
 Faisão Autores aponta a arma pra ele... PÁ!
 ...
 Há medo, coisas voam, soldados sobem ao alto, as árvores estão vivas!!!
 ...O tiro sangra, apenas um casco de árvore, pois a bala foi desviada, um galho bateu na mão do atirador, logo depois, outro atravessa-lhe o peito, o barulho e a loucura fazem o Barão correr... Ele corre loucamente para dentro da floresta, na loucura, no sentido da sobrevivência, como se hoje, agora, ao seu lado, uma bombinha estourasse e você, na inércia do medo, corre-se, pra salvar-se... E danem-se os outros!
 ...Dez minutos depois...
 Uma sombra cai sobre o Barão, tem uma veste de padre, um chapéu de palha... Ele o vê, tem medo...
 -Você é o Barão? -Diz a voz com sotaque de guarani com português...
 -Sim, sou! -O velho diz, depois de momentos de medo... Na verdade, uns dois minutos de silêncio
 A pele dele é verde, ele sorri não com dentes, mas espinhos de árvore! Mostra seu braço, tem um corvo tatuado nele... Como Matheus avisara... Mal sabia o velho, este era um Deles, um de Nós, um Agente.
                             Dois dias depois, já em Curtiba, ele reencontra
                             com a família, nunca mais seria o mesmo...
                             Agora, há mais coisa em jogo, o Barão perdera
                             algo mais que o amigo naquele dia...
                             Todo o dia ficamos cada vez mais vazios...
                             talvez, isto seja envelhecer, ficar vazio
                             E não deve ser tão ruim... Ao menos, no caso deles
 O Barão de Cerro Azul agora possui um aliado, seu nome é apenas Padre... Ele tem muito mais que vinhas e poder sobre galhos, representa algo, representa quando um homem que tem apenas desejos e era levado para a inércia para uma morte da qual não vale nada, apenas para ficar em livros de História, decide fazer a sua História.
 Mesmo que este conto não seja aceito por algum purista, que vale é que ele ficou na minha gaveta, por anos, desde que sai do Estadual... E agora, conto como surgiu a força do Barão em Brasilis. O nosso Aliado.
 Tomar seu próprio destino, seu caminho.


 MUSIQUETA DA POSTAGEM

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