quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Pós-Guerra de Rosa #Agentes do Caos

 Cheguei lá depois de umas sete horas de viagem e estava acabado, pernas e dedos querendo pular das luvas e tênis, mas, enfim estava lá: A-Lexandria, ou, agora, República da Diânia. Tinha fumado alguns cigarros no voo, não por mim, mas pelos drogados infelizes ao meu lado, isto me deixava muito mal... Assim como ter visto que meu cão Rufus não tinha sido alimentado. Enfim, relevei o cheiro na minha calça boca de sino e fui até a alfândega, tudo era estranho, apenas alguns novos guardas e os mais velhos eram mulheres...
 No táxi, pedi à choffer que me levasse para o Hotel Continental, fomos. Nas ruas, podia ver alguns reflexos da recente batalha campal na capital Kulona, agora Margarettegrado, algumas guardas com fuzis faziam rondas nos centros comerciais, alguns andavam desconfiados, havia guardas e muita segurança, porém, nenhum sinal de trânsito ou o metrô funcionavam, ainda as sombras de algum general macho e louco faziam com que fosse muito arriscado qualquer tomada de posição.
 Dormi bem, cheguei às 5 da tarde, cansado, dormi numa suíte aonde na janela estava amarado um dos cabos de uma bandeira enorme do Partido Feminista. Era incrível, mas o dono do hotel realmente as apoiava, assim como hospedou o General Esteves, que fuzilara muitas das líderes de um grupo ligado ao partido agora no poder... Apenas algumas marés que mudavam, assim como a bandeira na janela, e iam sobrevivendo.
 Minha reunião era ás 4 do outro dia, tive que tomar café lá no saguão do hotel, pois não havia muitos funcionários de serviço num dia como aquele: era a Festa de Rosa, haviam já três anos... Incrível o que houvera ali, não via nada de mais no meu café mal coado e nas torradas com pouca geléia, Rufus também não viu nada de mais na comida -se não me engano, era a mesma que era dada aos soldados da Resistência-; nossa grande surpresa foi ao ligar a tv e ver que poucos programas esportivos passavam, apenas novelas e tudo mais... Busquei o canal fechado, sim, o XXX, mas nada achei... Desliguei a tv com os programas cabeça e filmes antigos e românticos e tentei ler o jornal apenas receitas, nem uma boa crônica ou quadrinhos tinham... Achei estranho... Pensara que elas fossem mais abertas, falo das Donas do Partido, mas, enfim... Já eram 2 e meia e logo vieram me buscar, deixei Rufus dormindo e acariciei sua barriga, fiz um pequeno dedilhar, programando-o, seus olhos piscaram constantes até eu sair e fechar a porta
 Taparam meu rosto como haviam dito que fariam... Depois da primeira esquina, de nada lembro, só sei que foi longo. Paramos, vi o relógio: fora da cidade e uma hora e meia depois. As guardas me levaram pela grande Casa Vermelha, quadros antigos e figuras religiosas estavam pela casa... Era estranho, tudo contrastava com a figura icônica do Partido Feminista, diziam que naquela bandeira rosa havia um cinto de castidade quebrado ao meio, porém, pra mim parecia um pinguim... Mas, nunca fui bom em desenho mesmo, nem em nenhuma das Artes, apenas aquela que mais fazia -a Confusão
 ...
 -Então, o senhor se formou na Federal de Sud-East, não? -Perguntou a senhora, com roupas sóbrias e róseas
 -Sim, a senhora também?
 -Evidente que aqui não tínhamos muitas opções, porém, pude me formar muito bem e ir para seu país para meu doutorado, como creio que saiba...
 -Olhe só, evidente que sei! Fiz Artes Plásticas como graduação enquanto a senhora deveria estar por lá...
 -Coincidências, não? E agora é repórter! -Rimos, contidamente, claro. A ocasião era uma entrevista para alguma revista famosa que nem me lembro mais o nome, tinha credenciais, assim como olhos... Eu os usei para ver que as comandantes -tanto militar como da inteligência-, haviam ficado num quarto reservado, e blindado.
 A senhora estava na minha frente e discorri as perguntas de praxe, com meu gravado ao lado e quatro seguranças na sala. Sentada e imponente, Margarette Estel nem demonstrava a vida difícil que teve, o olho de vidro esquerdo parecia não existir, era mesmo uma grande mulher... Suas ideias, como ela dissera: "-...Estavam mais amenas, eu mesmo estou mais amena com o tempo... Antes era radical, mataria todos do Partido Chauvinista se vinte anos tivesse, com mesmo corpo e 'saúde'...", a mim me pareceram magníficas estas palavras, continuou: "-...Hoje em dia não poderíamos mais suportar guerras e batalhas como as que no passado fizemos... Não só eu estou velha demais, como nosso povo também... Digo que não aprovo como esta se dando as condutas de nosso país, acho que dar o nome da capital com minha alcunha, assim como o de criar o Departamento Rosa Para a Informação são mais como epitáfios do que qualquer coisa!"
 Eu ri disto, ela riu também
 Passamos um tempo em silêncio, ela pareceu que esquecera as questões que lhe coloquei -sobre novas leis, mais duras com os homens em relação aos salários, assim como na vestimenta, etc-, repeti e ela, com certa demora, respondeu... Depois, me perguntou:
 -Estranho... O senhor disse que estudou Artes... Porém, como não há nada disto na ficha de sua revista?
 -A senhora é perspicaz... -Sorri
 Ela apertou levemente o alarme embaixo da mesa que eu sabia que existia, ninguém veio... Silêncio na sala que ficamos quase uma hora... Houve, para os presentes, menos para mim, uma cena bizarra:
 A porta se abre e vem entrando Rufus... Há em suas patinhas peludas garras de metal ensanguentadas, a porta ruge e ele fica ao meu lado... Levanto calmamente e uma das agentes faz um movimento, eu a derrubo -uma parte se abre em Rufus, como uma mala, tudo é muito rápido: há ali uma escopeta, saltitante, cato ela no ar e acerto o nariz daquela outra atrás de mim, disparo contra uma ao lado esquerdo, a do lado direito saca, mas leva antes de qualquer coisa. Lá estou eu e ela, Margarette Estel. Duas mortas ao seu lado, duas caídas atrás de mim, meu cão aberto como uma mala...
                     Seu silêncio é perturbador, mesmo pra mim
 -É assim, não?
 -Sim, é!
 -Acho que morrer como heroína é meu último epitáfio... -A velha dama olha para a janela, ela esta em pé, a luz a abraça calmamente- ...Que elas não façam mal o uso de tamanho poder que é o Coração das Pessoas
 Ela corre, em uma tentativa, pega embaixo de uma pasta uma pequena pistola. Um, ela cai, dois, enquanto ela estava caída...
 -Amém, Dona!
 ...
 Deixo a antes forte guerreira, há ali muitos corpos de meu silencioso Rufus, porém, duas estão atrás de uma viga, abaixo sob um móvel, saco a pistola de meu cão, o fiel amigo se desmonta em um boneco parecido com uma marionete e prendesse a mim em forma de mochila. Disparo e derrubo as duas, corro até um carro vazio e sigo pela estrada, existia uma máquina em meu amigo que vai me narrando o caminho...
 No hotel o velho traidor que agora é amigo daquelas que acabaram de subir ao Trono me diz no saguão:
 -Esta tudo pronto e...
 Não houve tempo, dois jipes de fiéis a velha dama carregam soldadas -que foram avisadas pelas minhas contratantes como vim saber depois, para assim montar uma "tragédia" para os canais da tv controlada-, entram e os disparos seguem do careca dono do hotel, diz o velho com a arma:
 -Malditas mulheres! Deveriam tê-las dado uma cinta e uma ripa quando moças!
 Fuzilado, o sempre em cima do muro morreu como a senhora: defendendo algo, mesmo que isto custe-lhes a vida
 Algo tolo isto
 Sigo com minha mochila até um banheiro, corri no começo do tiroteio e agora parecia meu fim
 Pego o relógio de bolso, giro três vezes
 Taco-o na privada, dou adeus a meu cão dizendo que não poderei levá-lo, mas tentarei buscá-lo, mesmo se for para alguma Zona Franca de vendas pelo mundo afora
 Zumbido, zonzo novamente, o corpo desmaia, mas não estou mais nele
 Eu, antes com bigode negro e de nome Alfredo Lexan, agora novamente Nick Charlie
 Disto só lembro que enfrentei grande Dama, porém, neste Pós-Guerra de Rosa, apenas um xeque se deu naquela que por suas próprias ideias morreu
 Nada como um bate-e-volta da vida.

 MUSIQUETA DA POSTAGEM

http://www.youtube.com/watch?v=HzHNUsnN6u4&feature=player_embedded#!

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